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Água Negra (Dark Water, 2005)

  • Criador do tópico Silenzio
  • Data de Criação
Bump.

É a vitória do formalismo sobre a narrativa, o suspense e a emoção -- a atmosfera é construída de forma competente, mas não causa nenhum efeito (eu, pelo menos, não senti nada). Filmes de terror não deviam ser assustadores? Alô, Walter Salles, qual é o problema com você, etc. Ridiculamente previsível também (qual é o sentido de perder tempo criando um mistério se é tão óbvio o que aconteceu, e o que vai acontecer?), e cheio de reciclagem de idéias que já não eram novidade em O CHAMADO (aqui, elas soam totalmente ridículas, não porque esperam que a gente acredite no sobrenatural, mas porque esperam que a gente acredite que há algum motivo pra se envolver numa situação já exaustivamente explorada no cinema). Se tem alguma coisa boa, é a prova de que a Jennifer Connely realmente tem um talento incrível pra representar personagens sofridas, mas era realmente necessário mais um filme (ou melhor, era necessário esse filme) pra confirmar isso? Medíocre.


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Água Negra está em uma das primeiras posições porque ele é um dos melhores dramas do ano. Acho engraçado que fizeram de tudo para divulgá-lo como um mega terror, um novo "O Chamado", mas vendo o filme fica claro que a intenção de Salles era outra. As situações clássicas e clichês desse gênero (a criança que divaga sozinha; as torneiras que abrem sozinhas; a lavadeira que liga sozinha; etc) são momentos incômodos e aprentemente burocráticos, parecem que estão lá porque a produtora mandou (o que possivelmente é verdade, já que o próprio Salles disse que a experiência de fazer o filme sob comando de uma grande produtora foi ruim).

Mas se por um lado o roteiro tem esses clichês (além de ser previsível, muito embora eu devo ser meio burro porque não imaginei aquele final), por outro ele apresenta uma protagonista totalmente real e humana. Ela não é a batida heroína dos filmes de terror que são bizarramente determinadas e solucionar um mistério bizarro. É uma mulher comum, lidando com algo maior que ela. Como seria na vida real, ela não se convence facilmente, não acredita em espíritos, e quando as coisas vão ficando mais inexplicáveis, ela vai ficando mais perturbada, porque ela não consegue dar uma explicação lógica pros acontecimentos; mas, ao contrário do que aconteceria num típico terror americano, ela nunca deixa de ser uma mulher racional, nunca tira o pé do chão, continua sempre verossímil.

Isso a deixa desamparada e confusa, e aí entra parte do drama. Pra piorar, ela tem problemas mentais, o que a deixa ainda mais perturbada. E eu achei que Salles explora muito bem essa parte psicológica - tem uma cena maravilhosa em que ela chega em casa e, sozinha, começa a chorar desesperadamente, reconhecendo que ela não é uma boa mãe, ao mesmo tempo que solta frases desconexas a respeito do ódio reprimido que sente pela mãe: é uma torrente de conflitos e emoções explodindo dentro dela, é impossível não se desesperar junto, ao mesmo tempo que você sente pena.

Esse tipo de coisa tá presente durante quase todo o filme. Obviamente o mérito não é só do roteiro mas da Connelly que representa perfeitamente uma mulher simples e frágil (e não, repito, uma mulher moldada nas conveniências hollywoodyanas, incrivelmente determinada, pronta e enfrentar os pesadelos e desmascarar todos os mistérios). Se por um lado isso tira a essência de um suspense, por outro constrói um drama real, crível, plausível, com que dê para se identificar e tudo. Não sei por que foi só comigo, mas eu tava em frente e um dos melhores personagens já visto este ano.

Além disso, outro fator determinante é a atmosfera do prédio, úmido, cores escura, etc. Não ficou assustador, mas por que devia ser assustador?, pois na verdade é bem triste, e essa característica combina muito bem com a melancolia da personagem. É um drama, e comove muito mais do que assusta, e por isso eu gostei.
 
Ristow disse:
Água Negra está em uma das primeiras posições porque ele é um dos melhores dramas do ano. Acho engraçado que fizeram de tudo para divulgá-lo como um mega terror, um novo "O Chamado", mas vendo o filme fica claro que a intenção de Salles era outra.

Fala sério, Ristow. O filme tá cheio de momentos que tentam assustar mas não conseguem. Cheio. Eu realmente não imagino o Salles tentando burlar o roteiro pra fazer algo diferente da proposta (primeiro porque não faria sentido, segundo porque ele claramente não é tão esperto assim). O fato de ele não ter conseguido assustar ninguém não significa que o filme não é terror, significa que ele é um terror ruim.

Mas digamos que você esteja certo: o Salles queria fazer um drama e simplesmente não ligava pras partes "assustadoras". Bom, essas partes ainda compõe uma grande fatia do filme, e elas simplesmente não funcionam. Assim sendo, é um filme pela metade, um filme onde os elementos não estão em harmonia, um filme cheio de espaços mortos.

As situações clássicas e clichês desse gênero (a criança que divaga sozinha; as torneiras que abrem sozinhas; a lavadeira que liga sozinha; etc) são momentos incômodos e aprentemente burocráticos, parecem que estão lá porque a produtora mandou (o que possivelmente é verdade, já que o próprio Salles disse que a experiência de fazer o filme sob comando de uma grande produtora foi ruim).

Você acha o que, que ele em algum momento teve a intenção de tirar todas essas coisas do filme? Acorda. Ele leu o roteiro. Ele sabia o que o filme era. Se ele queria explorar os mesmos temas sem o elemento sobrenatural, por que ele aceitou fazer esse filme, então? Grana? Exatamente.

Mas se por um lado o roteiro tem esses clichês (além de ser previsível, muito embora eu devo ser meio burro porque não imaginei aquele final),

A resolução final em si não chega a ser tão previsível, mas tudo que acontece até lá estava bem claro a partir do momento que o filme coloca uma mochila escolar ao lado de uma caixa-d'água. Digo, Jesus.

por outro ele apresenta uma protagonista totalmente real e humana. Ela não é a batida heroína dos filmes de terror que são bizarramente determinadas e solucionar um mistério bizarro. É uma mulher comum, lidando com algo maior que ela. Como seria na vida real, ela não se convence facilmente, não acredita em espíritos, e quando as coisas vão ficando mais inexplicáveis, ela vai ficando mais perturbada, porque ela não consegue dar uma explicação lógica pros acontecimentos; mas, ao contrário do que aconteceria num típico terror americano, ela nunca deixa de ser uma mulher racional, nunca tira o pé do chão, continua sempre verossímil.

Isso a deixa desamparada e confusa, e aí entra parte do drama. Pra piorar, ela tem problemas mentais, o que a deixa ainda mais perturbada. E eu achei que Salles explora muito bem essa parte psicológica - tem uma cena maravilhosa em que ela chega em casa e, sozinha, começa a chorar desesperadamente, reconhecendo que ela não é uma boa mãe, ao mesmo tempo que solta frases desconexas a respeito do ódio reprimido que sente pela mãe: é uma torrente de conflitos e emoções explodindo dentro dela, é impossível não se desesperar junto, ao mesmo tempo que você sente pena.

Esse tipo de coisa tá presente durante quase todo o filme. Obviamente o mérito não é só do roteiro mas da Connelly que representa perfeitamente uma mulher simples e frágil (e não, repito, uma mulher moldada nas conveniências hollywoodyanas, incrivelmente determinada, pronta e enfrentar os pesadelos e desmascarar todos os mistérios). Se por um lado isso tira a essência de um suspense, por outro constrói um drama real, crível, plausível, com que dê para se identificar e tudo. Não sei por que foi só comigo, mas eu tava em frente e um dos melhores personagens já visto este ano.

Se o filme não tivesse acertado nisso, ele seria ruim. Como acertou, é só fraco.

Além disso, outro fator determinante é a atmosfera do prédio, úmido, cores escura, etc. Não ficou assustador, mas por que devia ser assustador?,

Porque é um filme de terror. Ou drama/terror, se preferir. Tanto faz.

Btw, a atmosfera foi nula. A direção de arte e a fotografia são formalmente competentes, mas não chegam nem perto de transmitir as sensações de desespero e melancolia que estão tentando transmitir. Eu, pelo menos, olhava pra tela e pensava "É, isso é bonitinho de se olhar, mas cadê a alma desse filme? Por que eu não estou me importando com essas pessoas?", etc.

pois na verdade é bem triste, e essa característica combina muito bem com a melancolia da personagem. É um drama, e comove muito mais do que assusta, e por isso eu gostei.

Você é louco.
 
V disse:
Fala sério, Ristow. O filme tá cheio de momentos que tentam assustar mas não conseguem. Cheio. Eu realmente não imagino o Salles tentando burlar o roteiro pra fazer algo diferente da proposta (primeiro porque não faria sentido, segundo porque ele claramente não é tão esperto assim). O fato de ele não ter conseguido assustar ninguém não significa que o filme não é terror, significa que ele é um terror ruim.

Mas digamos que você esteja certo: o Salles queria fazer um drama e simplesmente não ligava pras partes "assustadoras". Bom, essas partes ainda compõe uma grande fatia do filme, e elas simplesmente não funcionam. Assim sendo, é um filme pela metade, um filme onde os elementos não estão em harmonia, um filme cheio de espaços mortos.
Eu não sei o que se passa da cabeça do Salles então nem vou perder meu tempo dizendo o que ele queria ou não queria fazer. Apenas tive certas impressões. Mas, falando das sensaçoes práticas que o filme transmite...

Pra começar, concordo que o filme não assusta. Mas o ponto que você não está entendendo é que, para mim, isso não foi um defeito muito significante. Existem cenas que estavam ali para assustar (sem sucesso) e elas foram incômodas sim, como já até exemplifiquei. Outras, porém, que em tese deveriam assustar, funcionam de outras formas.

Por exemplo: quando a JC entra no apartamento de cima e encontra uma mulher vomitando. Provavelmente era para ser assustadora (cabelo encobrindo o rosto, montagem alternando entre a JC se aproximando e a mulher na privada, trilha sonora crescente, etc), mas não é. Mas veja a reação dela quando vê que é a mãe, o desespero, a confusão que deve estar se passando dentro da cabeça dela. Não lembro de ter sentido um mísero arrepio de medo, mas lembro de sentir uma compaixão enorme pela personagem.

Outra coisa: a própria personagem parece não se assustar com os misteriosos acontecimentos, os quais apenas a irritam. Por mais que vários momentos não assustem, é interessante observar a confusão que vai se formando na mulher, frente a algo que está fora do seu controle. São pequenos fragmentos que, embora não-assustadores, são inexplicáveis, e aos poucos contribuem para dar verossimilhança ao conflito mental dela (qualquer dona de casa normal ficaria louca da vida se nada funcionasse, se houvesse uma goteira eterna do teto, se o andar de cima fosse uma piscina, se a filha falasse com amigos imaginários, etc). Então, perceba que várias dessas cenas funcionam pois têm um segundo efeito, na personagem, por menos assustadoras que sejam.

Até a cena da lavanderia, que eu citei antes como uma cena incômoda, tem um teor interessante por causa de sua ambigüidade, afinal, aquilo pode não ser alucinação? Sinais de que ela está ficando mesmo insana? O que é real? Não dá medo, mas evoca questões assim, você não ficou se perguntando? Eu fiquei.

E agora acabo de perceber uma coisa. Basicamente as cenas que para mim foram incômodas foram aquelas que focam um coadjuvante. A cena da criança divagando pelo prédio, das torneiras abrindo, da criança desenhando círculos no papel como se estivesse possuída, etc etc, não funcionaram para mim porque são direcionadas à figura da filha, que infelizmente não é um bom personagem suscetível a esse tipo de coisa, simplesmente não é interessante. Essas cenas não têm "efeito colateral" na personagem. Aí, sim, soam artificiais, desligadas e descoesas.

Mas essas partes não são metade do filme e não o deixam incompleto. Talvez seja uma questão de como você o observa. Fui ver me concentrando mais no drama, e você foi esperando sentir medo. Já pensou nisso? A minha impressão final foi a de que o filme é sobretudo um drama, com alguns elementos sobrenaturais e uma ou outra cena infeliz. Já pra você a ordem prioritária é justamente contrária.

EDIT:

V disse:
Você acha o que, que ele em algum momento teve a intenção de tirar todas essas coisas do filme? Acorda. Ele leu o roteiro. Ele sabia o que o filme era. Se ele queria explorar os mesmos temas sem o elemento sobrenatural, por que ele aceitou fazer esse filme, então? Grana? Exatamente.
É óbvio que ele não queria explorar os temas sem os elementos sobrenaturais, eu não falei isso. Pelo contrário, eles são essenciais. A diferença é que eles não necessariamente precisam assustar para funcionar: aqui eles são gatilhos dramáticos usados pelo Salles de forma bastante competenete.
 
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