Tenho que confessar: Terminei de ler o livro quinta, mas fiquei pensando demais nele. Vou resumir alguns pontos relevantes:
-Primeiramente, devo destacar uma coisa: a existência ou não de fantasmas não é o cerne do livro, mas sim como a narradora lida com eles - que acabam "atuando" conforme seus interesses. É ela que dá um grau de malignidade aos fantasmas, já que ninguém os vê, de modo que temos um grande viés - se eles existem, são realmente malignos ou isto é uma projeção da governanta para criar um objetivo a ser cumprido para a sua paixão reprimida (o tio das crianças)? A meu ver essa malignidade cria uma oportunidade para tirá-los da danação eterna e quem sabe ficar com o tio - mas para isso, ela acaba torturando as crianças sem se dar conta - ela que na verdade é a única possuída da história.
-Outro fator extremamente importante: ela é filha de um pároco do interior, moralista e puritana. Isto é essencial, tanto em relação à Miles como Flora. O primeiro fantasma aparece depois da narradora conhecer Flora, a garota mais cute e tal - e para a governanta é essencial a existência de um dualismo: para um ser bom, há a necessidade do mal. E na relação com Miles, a carta inicial já possibilita a narradora deduzir que o garoto foi expulso devido a falar algo de caráter sexual com seus amigos. Tendo isto, já se forma na mente dela um preconceito contra o guri, algo que desaparece no consciente dela ao conhecê-lo, mas que fica no subconsciente e se sublima quando se cria a ideia de que o Miles é um lobo em pele de cordeiro - alguém quem esconde o que faz.
-A obsessão chega ao extremo no lago: A falta de provas para a governanta é uma prova em si - não há nada que estabeleça que as crianças de fato vejam algo. Nem a sra. Grose as vê, e na verdade ela só acredita no mal possuindo as crianças quando ela dorme com a Flora, que supostamente falou algo "mal", mas há de se ver que a criança estava sobre forte pressão psicológica. Ademais, anteriormente ela já vê um significado do capeta em coisas básicas, quando o Miles escapa a noite (sim, é estranho, mas não sobrenatural em si) e quando ele pergunta pra onde vai no caminho da igreja (é algo meio óbvio, ele teria que voltar pra escola eventualmente).
Ademais, a mesma obsessão dá um sinal forte de uma tendência patológica quando a governanta mente sobre os fantasmas, de modo a justificar que eles são o cão chupando manga: diz que a Ms. Jessel falou que queria compartilhar a danação. Aqui é uma clara projeção de si própria: a danação é autoinflingida ao "ver" os fantasmas, o que supostamente protege as crianças e lhe alcança o objetivo supremo: o autossacrifício.
-A governanta prevê a vinda dos fantasmas - talvez porque sua mente os cria?
-A relação submissa e ao mesmo tempo independente com o tio é um pilar do livro: ela não o chama pra nada, sente vergonha de fazê-lo. É um amor platônico e que rege a relação com as crianças: é o seu dever, e se abandoná-lo, abandonará a ideia de algum dia rever o tio.
-Por último, o final. Para mim ela matou o guri, pura e simplesmente. Foi exatamente quando ela perguntou o porquê dele ter sido expulso (sendo que ela já presumia a razão sexual) que Quint "aparece" - uma forma reprimida da paixão pelo tio - e ela pula sobre o piá e o assusta, matando-o.
RÉPLICA À INEXISTÊNCIA DE FANTASMAS: Como diabos a mulher poderia saber como era o Sr. Quint? Ela poderia muito bem ter ouvido falar no vilarejo - lembre-se que a narradora é ela própria, de forma que "pular" essa parte é essencial para dar um grau de veracidade à loucura e lhe tirar a culpa. Ademais, a descrição da antiga governanta se não me engano nunca é feita.