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A vida cheia de enigmas

Anica

Usuário
Artigo interessante sobre mudanças na literatura infanto-juvenil.


[size=x-large]A vida cheia de enigmas[/size]
Editoras e prêmios literários prestam atenção em livros para crianças que falam sobre temas sombrios e não oferecem soluções fáceis nem finais felizes

[align=justify]A menininha arrasta uma bolsa vermelha velha a caminho de não se sabe onde. Sempre que encontra um grupo de pessoas, ela para e grita “Mas por quê??!”, com a ênfase de duas interrogações mais a exclamação.

Um grupo de personagens a segue para tentar descobrir o que se passa: é que a menininha carrega, dentro da bolsa, Elvis, o seu passarinho morto.

Percebendo o sofrimento dela, todos sugerem que a coisa certa a fazer é enterrar o bichinho e organizam tudo, com procissão, vela e coroa de flores. O livro Mas Por Quê??! – A História de Elvis, do alemão Peter Schössow, publicado pela Cosac Naify no ano passado, faz parte da estante de títulos infantis que falam sobre temas sombrios e muitas vezes não oferecem soluções fáceis nem finais coloridos (ao menos não nos moldes clássicos, do “...e foram felizes para sempre”).

Uma olhada nos mercados editoriais brasileiro e estrangeiro e outra nos prêmios internacionais importantes da literatura infanto-juvenil mostram que os livros voltados às crianças – ao menos os que se destacam nas pilhas de lançamentos – têm procurado trabalhar histórias soturnas e ilustrações idem feitas por artistas de renome.

Tome o exemplo de Neil Gaiman, o autor de histórias em quadrinhos que deu novo fôlego ao personagem Sandman e, mais tarde, escreveu romances e contos fantásticos. Em janeiro deste ano, ele recebeu a medalha Newbery, o principal prêmio de livros para crianças nos Estados Unidos.

O motivo da honraria foi The Graveyard Book, ou “Livro do Cemitério”, em que um menino chamado Nobody Owens é criado por fantasmas em meio a túmulos e lápides.

Antes, o mesmo Gaiman escreveu Os Lobos Dentro das Paredes – sobre uma família que é expulsa de casa pelos animais que vivem nas paredes da casa – e Coraline, adaptado para o cinema, sobre uma menina que não suporta os pais e tem a chance de se livrar deles, para tanto precisa aceitar viver em um mundo paralelo, onde os habitantes são obrigados a costurar botões no lugar dos olhos.

“É o nosso lado sombrio”, diz a psicanalista Cláudia Serathiuk, dona da livraria Bisbilhoteca, especializada em publicações infanto-juvenis. As histórias, para Cláudia, são uma forma de vivenciar o perigo, de “lidar com tudo o que rejeitamos dentro de nós”.

Na loja, ela percebe que muitas vezes os pais resistem à ideia de comprar um livro porque sentem dificuldade de abordar determinado assunto com os filhos, ou de ter que explicar um fato como a morte da Vovozinha pelas garras do Lobo Mau – preferem então a versão de Chapeuzinho Vermelho em que ela só está escondida no armário para reaparecer no final.

Recém-lançado também pela Cosac Naify – editora que publica alguns dos livros para crianças mais impressionantes do país seja pelo conteúdo ou pela forma –, Estava Escuro e Estranhamente Calmo, do alemão Einar Turkowski, mostra como os habitantes de uma ilha lidam com a chegada de um forasteiro que passa a ocupar uma casa abandonada.

Vencedor da Bienal de Ilustração de Bratislava em 2007, evento patrocinado pela Unesco e tão importante quanto o prêmio Hans Christian Andersen, o livro é todo em preto-e-branco e têm uma atmosfera surreal fascinante.

O tal estranho, que chega à ilha em um barco bizarro, tem uma maneira incomum de conseguir peixes: ele amarra nuvens sobre sua casa e faz com que os peixes chovam delas. Isso é mais do que suficiente para transformá-lo em uma obsessão dos ilhéus. Ninguém sabe o que fazer dele.

Antiga

A professora Marta Morais da Costa, da Universidade Federal do Paraná, faz a curadoria da coleção Zepelim para a editora Positivo, só de títulos para o público jovem. Ela comenta que essa disposição em tratar de temas sombrios não é nenhuma novidade para literatura – na verdade, ela é tão antiga quanto o impulso de narrar histórias.

“Existem textos clássicos ligados ao medo, ao desafio, à violência, à dor... São as questões que tocam mais o leitor, as mais significativas e marcantes”, diz Marta. “Os adultos acham que as crianças precisam ser poupadas desses temas, mas elas os adoram.”

Nos anos 1970, explica Marta, um movimento dos professores acabou “pasteurizando” a literatura, criando textos que podiam ser levados para a escola sem gerar confrontos, sem conflitos nem sustos. Uma atitude parecida com a dos pais que optam por não entrar em discussões complicadas com os filhos.

O prêmio de Gaiman mostrou que o comitê que atribui a medalha Newbery não foi insensível aos interesses dos leitores. Algo que o mercado havia descoberto muito tempo antes – Gaiman frequenta a lista dos mais vendidos há anos.

“A literatura tem de contemplar o lado sombrio da vida”, diz Marta. Assim as crianças têm a chance de trabalhar com problemas no imaginário e, talvez assim, lidar melhor com eles em suas vidas.

Fico à Espera, de Davide Cali e Serge Bloch, é um exemplo genial. Usando frases breves e desenhos minimalistas feitos em torno de um fio de lã vermelho que representa vários elementos – de um cheirinho de criança até um feto na barriga da mãe –, os autores põem abaixo o enigma da vida.

A simplicidade aparente das ilustrações e dos textos disfarça uma obra acachapante, que fala tanto da alegria de se conviver com as pessoas amadas, quanto da tristeza de perdê-las.[/align]


Estante

Confira alguns livros que foram consultados para essa reportagem:

- As Aventuras de Pinóquio, de Carlo Collodi e ilustrado por Odilon Moraes (Companhia das Letras)

- Balanço, de Keiko Maeo (Cosac Naify)

- Bili com Limão Verde na Mão, de Décio Pignatari e ilustrado por Daniel Bueno (Cosac Naify)

- Coraline, de Neil Gaiman e ilustrado por Dave McKean (Rocco)

- Dentro da Noite, de João do Rio e ilustrado por Andrés Sandoval (Girafinha)

- Estava Escuro e Estranhamente Calmo, de Einar Turkowski (Cosac Naify)

- Fico à Espera, de Davide Cali e ilustrado por Serge Bloch (Cosac Naify)

- Filhote de Cruz-Credo, de Fabrício Carpinejar e ilustrado por Rodrigo Rosa (Girafinha)

- Livro da Primeira Vez, de Otavio Frias Filho e ilustrado por Guto Lacaz (Cosac Naify)

- O Livro dos Medos, de Heloisa Prieto (org.) e ilustrado por Maria Eugênia (Companhia das Letras)

- Os Lobos Dentro das Paredes, de Neil Gaiman e ilustrado por Dave McKean (Rocco)

- Mas Por Quê??!, de Peter Schössow (Cosac Naify)

- O Pequeno Fascista, de Fernando Bonassi e ilustrado por Daniel Bueno (Cosac Naify)

- A Princesinha Medrosa, de Odilon Moraes (Cosac Naify)

- O Triste Fim do Pequeno Menino Ostra e Outras Histórias, de Tim Burton (Girafinha)

Fonte: Gazeta do Povo
 

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