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A tradução, essa faminta quimera

Bruce Torres

Let's be alone together.
A tradução, essa faminta quimera

Para quem escreve o autor local?

LUCIANA VILLAS-BOAS

RESUMO Propelida por programas de apoio à tradução, obsessão do autor nacional por reconhecimento no exterior mascara desprestígio da ficção brasileira no mercado local. Pouco e mal editados no país, escritores que não venham de carreiras de sucesso em jornal ou TV dependem em larga medida de compras do governo.

O autor brasileiro é vidrado numa tradução. Tradução de sua própria obra, bem entendido. Não há prêmio, elogio de leitor nem sequer boas vendas no Brasil que se comparem à validação de seu texto por uma editora estrangeira. Se possível, a tradução para o inglês, mas servem versões exóticas, como para o sérvio ou o romeno, edições sem significado monetário e que atingem uns 300 leitores. Dão a impressão que se está chegando longe.

Por isso, passado quase meio ano da homenagem ao Brasil na Feira do Livro de Frankfurt, percebe-se uma amargura entre muitos escritores: "Não disseram que a homenagem iria escancarar as portas do mercado internacional para o autor brasileiro?", perguntam. Que eu saiba, ninguém disse isso. Se disse, era um ingênuo falando do que não conhece.

Este artigo não quer criticar ou ridicularizar a participação do Brasil em Frankfurt. Nem elevá-la a momento de gala da nossa literatura. A homenagem se ressente por não ser pensada como uma instância da política do Ministério da Cultura visando à exportação da criação literária brasileira. Avaliar o projeto do governo é relevante porque ajuda a elucidar a situação da literatura no Brasil e põe em perspectiva a quimera da tradução, que tanto persegue e é perseguida pelos escritores.

Não existe tabulação do número de autores brasileiros hoje traduzidos no exterior em comparação com dez anos atrás. Mas o multiplicador é altíssimo. Naquela época, até nossos clássicos estavam em baixa, como Jorge Amado, tão popular nos EUA e Europa na década de 70 do século passado. Hoje, além de estarem aparecendo novas traduções de Amado, Clarice e Machado, muitos escritores não canônicos podem ser lidos em inglês, francês, alemão, espanhol, italiano, em alguns desses idiomas, ou em todos eles e outros.

Essa relativa capilarização da literatura brasileira no exterior é resultado quase exclusivo do programa de tradução da Biblioteca Nacional reinventado em 2011. O programa já existia, mas não honrava seus compromissos, as bolsas prometidas não eram pagas, e sua credibilidade era zero. Foi difícil recuperar a confiança do editor estrangeiro. Fábio Lima, da Biblioteca Nacional, informa que, entre 2011 e 2013, foram concedidas 390 bolsas de tradução para 181 autores.

POMPA Além de cumprir o combinado, o programa deslanchou graças ao pacote que foi montado: anúncio com pompas em Paraty e gancho com homenagens em várias feiras, não só a de Frankfurt --mas esta sempre mencionada com destaque. Foi naquele momento e com essa função que a homenagem na Alemanha teve importância. A crise econômica prestou sua contribuição: até editoras internacionais da primeira divisão viram com ótimos olhos a possibilidade de publicar autores de qualidade pagando adiantamentos baixos e recebendo uma injeção de grana antes de incorrer nos custos do processo editorial.

Diante das planilhas da BN, fica difícil compreender por que nossa literatura não ganhou mais impulso. Mesmo considerando as bolsas que foram para a não ficção, é muito livro brasileiro no panorama internacional. Mas, sem cobrar do pessoal da Biblioteca o que eles não podem saber, os profissionais do mercado entendem que esse número deve ser ponderado.

O primeiro problema que se pode supor é a concentração de bolsas beneficiando poucos ficcionistas. O segundo problema é que a maioria delas foi para editoras mínimas em mercados insignificantes --países africanos ou do Leste europeu. Não vamos defender que não se contemplem essas editoras, porque a lógica do Estado é outra e, para o Brasil, pode ser estratégico ter sua literatura na África ou entre vizinhos sul-americanos. Mas houve casos de gente com o olho só no dinheiro da Biblioteca, sem intenção de lançar dignamente os livros contratados. O problema mais grave é o terceiro, que escapa ao controle do ministério.

Se os gastos do governo em Frankfurt foram excessivos, ou se a delegação não era representativa, não importa agora. A discussão aqui é mais ampla. Seria desejável que o programa continuasse, talvez com mais atenção ao detalhe, mas que não fosse ameaçado por novas administrações. A literatura nacional ainda não anda com as próprias pernas no mercado internacional; e, depois dos escritores, o principal interessado numa imagem literária da nossa cultura é o Estado brasileiro. Não se leva a sério um país que se reduz a samba e futebol; espera-se que sejamos alfabetizados, e a literatura seria nosso melhor testemunho.

Comparado com outros programas de projeção da imagem do Brasil, o da BN parece apresentar boa relação custo x benefício. O governo só não pode gastar mais do que gasta, e o programa não deve ser ampliado enquanto o setor editorial não somar esforços. Há dois anos, o governo faz a sua parte, e está de bom tamanho.

FARRA Em sua coluna da Folha, às vésperas da inauguração da Feira de Frankfurt, Elio Gaspari afirmou que a homenagem era uma "farra" com o dinheiro da Viúva para beneficiar os editores brasileiros. "Se os empresários do mercado editorial precisassem de homenagem na feira poderiam recebê-la com o dinheiro deles."

A verdade é que os editores jamais investiriam um centavo na participação do Brasil em Frankfurt não porque contassem com tirar vantagem do governo, mas porque a maioria estava se lixando para a homenagem, não tinha o menor interesse nela, assim como, com raríssimas e notáveis exceções, se lixa para a literatura brasileira. Se houve farra, não foi promovida por ou para eles, estão inteiramente inocentes. Mas o desinteresse dos editores é mais de se lamentar do que de elogiar.

Não há dados da porcentagem de livros brasileiros entre o que se publica de ficção no país. No perspicaz artigo "Tendências do mercado de livros no Brasil: um panorama e os best-sellers de ficção nacional 2000-2009" (revista "MATRIZes", 2012), Sandra Reimão não divulga esse número, mas consegue denunciar a inexpressividade do ficcionista brasileiro nas listas de mais vendidos.

Na primeira década do século, os autores que conseguiram furar o bloqueio estrangeiro foram: Luis Fernando Verissimo, Jô Soares, Chico Buarque, Paulo Coelho, João Ubaldo Ribeiro, Letícia Wierzchowski, Luiz Eduardo Soares e Orlando Paes Filho.

À exceção de Paes Filho, autor do gênero fantasia, todos são nomes que vinham de carreira de sucesso em jornal, TV ou música (Verissimo, Jô e Chico), ou que se consagraram como escritores antes da última década do século 20, chegando ao novo milênio já com ampla presença na mídia (João Ubaldo e Paulo Coelho), ou que tiveram o apoio de TV ou cinema para seus seus romances (Wierzchowski com "A Casa das Sete Mulheres" e Luiz Eduardo Soares com "Elite da Tropa"/"Tropa de Elite").

Há exemplos recentes que ilustram a tese da professora: textos ótimos que, assinados por um autor desconhecido, estariam longe das listas. E esses autores e mais todos os outros brasileiros publicados não representam 5% das obras de ficção lançadas anualmente --essa é minha chocante projeção do alto de 20 anos de trabalho no meio editorial, acompanhando carteiras de lançamento das editoras, como jornalista, editora ou agente.

MULETAS Esse é o grande obstáculo para a internacionalização da ficção brasileira: nossa literatura não anda com as próprias pernas em seu país. Precisa das muletas de outro veículo ou forma de comunicação. Não temos volume ou variedade. Entre os autores traduzidos nos últimos dois/três anos, alguns tiveram desempenho razoável no exterior, foram reeditados, mas nenhum causou impacto semelhante ao do sueco Stieg Larsson, que expôs para o mundo a literatura de toda a Escandinávia.

Principalmente, nenhum autor brasileiro chegou a terras estrangeiras com um histórico inequívoco de consagração nacional. A não ser Paulo Coelho, cuja literatura não foi percebida lá fora como brasileira, ao mesmo tempo que o Brasil tolamente não a reivindicou, incluindo aí a crítica e os colegas escritores. Sua popularidade intercontinental não teve como abrir portas para outras obras brasileiras --um caso excepcional.

O divórcio entre literatura nacional e sociedade é uma vergonha para o Brasil. Não é preciso recorrer a parâmetros de mundo desenvolvido; fiquemos na América Latina. Argentina, Chile, México e Colômbia consomem a ficção local muito mais do que nós. Comparemos a literatura brasileira à do Chile, que tem menos habitantes do que a Grande São Paulo.

Em viagens pela Europa, ou em Nova York, eu costumava fazer de brincadeira uma pesquisa sobre a presença brasileira e de outros países nas livrarias que visitava. Aconteceu na Fnac, na Feltrinelli, Bertrand, na livraria do El Corte Inglés, Barnes & Nobles, La Hune. Pegava um atendente de jeito e perguntava se saberia me dar, sem recorrer ao computador, um nome de escritor brasileiro.

Quando ele conhecia a nacionalidade de Paulo Coelho, era o que vinha. Se não conhecesse, não vinha nada. Tenho curiosidade de fazer a brincadeira este ano. Algo pode ter mudado na Alemanha, mas o quadro não deve ter se alterado significativamente.

A mesma brincadeira feita com o Chile era uma humilhação. Em 100% das vezes o nome que primeiro saiu foi de Isabel Allende, mas, se esse fosse "hors-concours", os atendentes ofereciam como segunda opção Roberto Bolaño, Marcela Serrano, Jorge Sepúlveda, Hernán Rivera Lettelier e Alberto Fuguet: autores reconhecidos como chilenos, que alcançaram sucesso nos Estados Unidos e Europa por iniciarem carreiras internacionais com o lastro da popularidade primeiro no Chile e depois na América Hispânica, para então ganhar o mundo.

DIVÓRCIO Quando ocorreu o divórcio entre literatura e sociedade no Brasil? Nos anos 1960, Erico Verissimo, Rachel de Queiroz, Dinah Silveira de Queiroz, Jorge Amado, Guimarães Rosa, Nelson Rodrigues, José Mauro de Vasconcelos e outros escritores, caídos ou não no esquecimento (quem se lembra de Amando Fontes?), constavam do cardápio de assuntos da classe média como hoje só figuram os atores da TV Globo. Os personagens de romances, e não os das telenovelas, inspiravam os pais na hora de dar nome aos filhos. Quantos Rodrigos com mais de 45 anos não se chamam assim por causa do capitão de Erico?

Era uma sociedade polarizada politicamente e muito mais literária. De minha infância no seio de uma família politizada mas não de intelectuais --o pai jornalista, leitor de marxismo e reportagens, a mãe dona de casa com boa leitura dos clássicos e de tudo que lhe caísse nas mãos--, lembro de discussões furiosas com as tias lacerdistas sobre a posição de Rachel de Queiroz frente ao golpe de 64, ou sobre a conveniência de Guimarães Rosa assumir a cadeira da Academia Brasileira de Letras quando a ditadura fechava o cerco sobre a instituição.

Os pais não problematizavam como incutir nos filhos o hábito da leitura. Ler era "default". Sem priorização consciente do nacional (eu adorava Mark Twain e Laura Ingalls Wilder), antes dos dez anos, minha irmã e eu lêramos, com gosto, todo Monteiro Lobato, Viriato Corrêa, muito José Lins do Rego, José Mauro de Vasconcelos, José de Alencar, o jovem Machado, "A Moreninha", "A Bagaceira", "Os Corumbas", "Capitães da Areia", "O Cortiço". Era literalmente o que caísse nas mãos, e o que caía era muito mais brasileiro do que tradução. Os pais problematizavam a idade adequada para ler "Dona Flor e seus Dois Maridos", licença que penei para ter.

Chegaram os anos de chumbo, e a competição estrangeira se fez sentir, mas nada que impedisse o brasileiro de devorar "Bar Don Juan", de Antonio Callado, e "Sargento Getúlio", de João Ubaldo, de 1971. O primeiro romance de Rubem Fonseca, "O Caso Morel", chocou em 1973, mesmo ano em que "Água Viva", de Clarice, intrigou e deslumbrou; "Galvez, o Imperador do Acre", de Márcio Souza, e "Essa Terra", de Antônio Torres, encantaram os leitores em 1976; e "Zero", de Ignácio de Loyola Brandão, publicado primeiro na Itália, provocou ondas de indignação quando foi recolhido pela censura, para retornar em 1979.

Diga-se que na década de 70 não era só Jorge Amado que conquistava edições no exterior. O trabalho de José J. Veiga angariou tal respeito e admiração no Brasil que chegou ao inglês pela prestigiosa Knopf, com a publicação de "A Hora dos Ruminantes" e "A Estranha Máquina Extraviada". "Galvez" e "Zero" foram muito traduzidos, assim como, na primeira metade dos anos 80, "Viva o Povo Brasileiro", de João Ubaldo, consagração crítica e estouro de vendas do autor.

DÉCADA PERDIDA Os 80, a notória "década perdida", viram o reconhecimento da autoficção de Marcelo Rubens Paiva e Fernando Gabeira, e dos romances de Caio Fernando Abreu e Ana Miranda, mas a relação entre sociedade e literatura já estava esgarçada. Em 1987, saiu "O Diário de um Mago", mas vimos a excepcionalidade de Coelho. Para a ficção brasileira, a década perdida foram os anos 90.

O que permitiu que o imaginário brasileiro fosse tão absolutamente sequestrado pela televisão? A ditadura começou solapando o sistema de ensino e a rede escolar; desvalorizando a crítica, o saber humanístico, o hábito da leitura, e agigantando a TV Globo. Mas o fator determinante foi a inflação, pondo desafios incomensuráveis à atividade do editor e fazendo com que ele buscasse a facilidade da literatura traduzida.

Ao estrangeiro, em geral, só se presta contas uma vez por ano, algo inviável no tratamento com o escritor brasileiro, diante do quadro inflacionário. Os investimentos em marketing eram mais difíceis de recuperar quando se tratava de revelar um talento nacional; o autor estrangeiro chegava consagrado, bastando mandar para as redações fotocópias da crítica no país de origem para garantir o destaque da imprensa.

A oferta anglo-saxônica era ampla e variada bastante para abastecer as editoras em atividade --baixa concorrência que permitia, até a virada do milênio, a aquisição dos direitos por somas razoáveis. E a literatura americana desenvolvera largamente um tipo de ficção deglutível por um leitor menos contumaz e sofisticado do que aquele da geração anterior --e viciado na linguagem televisiva. Uma ficção que não havia no Brasil.

Motivos suficientes para o editor se acomodar na publicação de estrangeiros. Os brasileiros sumiram das carteiras de lançamento. Quando havia lugar para o nacional, era uma tiragem de 2.000 exemplares, sem visibilidade, que não vendia nem arranhava a lista de mais vendidos. A perfeita profecia autorrealizável: leitor gosta mesmo é da literatura americana.

EXPANSÃO Veio o real, e a moeda estabilizada permitiu a expansão do negócio editorial. Dezenas de novas editoras se somaram à indústria do livro; a concorrência por direitos de publicação e espaço na livraria profissionalizou as práticas do mercado.

O baixo nível educacional da mão de obra já consternava até o meio empresarial. Com a democracia consolidada, setores do empresariado e opinião pública (por exemplo, novelas da Globo) e campanhas do governo começaram a valorizar o hábito de leitura.

A distribuição da renda permitiu a entrada de novos leitores no mercado, nem sempre apreciadores da melhor literatura, mas leitores. Os números de vendas de Dan Brown, J.K. Rowling, Khaled Hosseini, E.L. James e Suzanne Collins --alguns milhões no mercado nacional-- documentam isso de maneira lapidar.

Só não foi convidado para a festa o escritor brasileiro. Nem de longe se beneficiou da nova conjuntura do mercado mais simpática ao livro. (Exceção feita àqueles voltados para o leitor jovem, que souberam usar os recursos da internet para construir seu público e se impor às casas editoriais.)

O editor se esquecera de por que não publicava literatura brasileira e não via por que mudar de atitude. Nem a explosão de feiras literárias projetando autores locais (secundariamente aos estrangeiros) o impressionou muito.

Quem veio em socorro do autor foi o bom e velho Estado brasileiro, a quem os escritores devem infinitamente. Se no século 20 o Estado os sustentava com sinecuras, nos últimos anos garantiu a sobrevivência da categoria aumentando as compras dos governos federal e estaduais para bibliotecas e escolas, nas quais a literatura nacional ainda compete com vantagem em relação às obras traduzidas.

As compras do governo permitiram que as editoras mantivessem uma fresta de porta aberta à ficção local. A preferência voltou-se para os clássicos, depois de alguns terem atravessado longo ostracismo, mas vêm sendo feitas apostas em autores menos consagrados na esperança de que os prêmios literários que também surgiram desde a virada do século possam ungi-los com a boa crítica que conduz à rampa das aquisições governamentais.

No entanto, já ouvi de muito editor estrangeiro e de "scouts", os olheiros do mercado editorial, a queixa quanto a certa mesmice no que apresentamos, um "mais do mesmo" que inviabiliza apostas ousadas nos lançamentos. E, sem apostas ousadas, pode-se dar adeus ao sonho de um grande estouro de vendas e popularidade. Sem estouro de vendas ou clara consagração com prêmios internacionais, "bye-bye" ao nosso sonho de visibilidade global.

EIXO Uma possibilidade de ação editorial seria tentar diluir o poder cultural concentrado no eixo Rio-São Paulo, com esporádicas esticadas ao Rio Grande do Sul, buscando originais em um espectro mais amplo do país.

Um livro médio de autor que trabalhou no jornal "O Globo" ou na Folha, que fez estágio no Instituto Moreira Salles ou no Itaú Cultural, que atuou em editoras do eixo, que já entrevistou escritores renomados e conhece as pessoas certas tem muito mais possibilidade de encontrar uma casa que o publique do que um original novo, diferente e excelente de um profissional liberal sem esse capital social e que esteja escrevendo de alguma cidade média ou grande desse Brasil, que não Rio, São Paulo ou Porto Alegre.

É compreensível que a ideia de separar joio do trigo nas pilhas de originais não solicitados chegados de todo o país desanime o editor. Encontram-se textos de valor, mas há muito joio. Desanima até o agente literário, em si figura escassa no mercado. Os profissionais da edição andam sobrecarregados, o trabalho com livro é infinito.

Mas é um desperdício. O Brasil hoje é uma sociedade complexa, e há talentos literários de norte a sul, da fronteira continental à costa atlântica, recriando experiências mais diversificadas do que as que temos mostrado ao exterior.

Editores no exterior buscam autores consagrados em seus países de origem, cujos livros sejam objeto de escolha dos leitores, não que tenham sido comprados para bibliotecas. Se o Brasil quer que sua ficção seja reconhecida, o escritor brasileiro precisa urgentemente reocupar o seu espaço na livraria.

O editor precisa buscar os novos autores e publicá-los com esse objetivo: a vitrine da livraria. O jornalista literário tem que se aliar ao editor e --além de ler e priorizar o autor brasileiro-- deve jogar fora as muletas teóricas da faculdade e desenvolver parâmetros críticos mais próximos do gosto do bom leitor médio, que os professores e acadêmicos não têm por que reconhecer. O crítico não universitário tem que aprender a apreciar um texto por sua qualidade intrínseca, pelo seu poder encantatório, e não pelo charme intelectual da editora ou de quem apresenta o autor. E o leitor tem que se despir de preconceitos tolos, como está fazendo quanto ao cinema nacional.

PRIORIDADES Para o escritor, sobram tarefas? A primeira é refazer sua lista de prioridades, percebendo que o importante é passar a ser bem publicado no Brasil e que 20 leitores locais são mais preciosos que uma edição na Bulgária. Estou farta de ser abordada por autores mal publicados, com vendas na ordem de mil exemplares, que, após uma conversa sobre expectativas de carreira, dizem: "Mas meu sonho mesmo é ser traduzido para o inglês ou para o francês".

Em qual lugar do mundo um autor de mil leitores sonha com tradução? Qual autor americano chegou ao Brasil (que traduz quase toda e qualquer porcaria publicada nos EUA) com esse histórico de vendas? Vá cuidar de seus leitores aqui, caro escritor, vá para a internet falar com eles, vá cobrar distribuição dos seus editores, vá conversar com jornalistas, vá ver se o que você está escrevendo é realmente bom --antes de cultivar o sonho colonizado e aprisionador do "sucesso no Primeiro Mundo".

A prioridade da literatura brasileira é sua valorização no Brasil. É preciso retomar o espaço perdido no imaginário das pessoas. Nunca mais será como antes, mas TV e cinema jogam hoje a favor da literatura, bebendo cada vez mais em contos e romances para compor suas dramaturgias. Tradução é importante, mas vem depois.

Vamos continuar a batalhar por nossos autores no exterior, sabendo que o próximo livro brasileiro a ganhar espaço nas estantes das casas e livrarias, nas listas de mais vendidos, nas páginas da internet, nas conversas dos leitores --pela qualidade, força e magia de seu texto-- é que será o principal responsável pela entrada do Brasil no mapa literário internacional.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrissima/153448-a-traducao-essa-faminta-quimera.shtml
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Meu comentário: confesso que às vezes fico com o pé atrás em relação a subsídios para divulgação da nossa literatura no exterior, principalmente pela falta de interesse do próprio público nacional - como almejar a internacionalização assim? E com essa onda de autoficção, então... que estamos oferecendo de novo ao mercado literário internacional que eles já não tenham?
 
Resposta do Cuenca à Luciana:

O ornitorrinco e a agente literária
Por J. P. Cuenca em 11/03/2014 na edição nº 789

Reproduzido do suplemento “Ilustríssima” da Folha de S.Paulo, 9/3/2014

Foi numa sala de embarque que li “A Tradução, essa Faminta Quimera – Para Quem Escreve o Autor Local?“, artigo de Luciana Villas-Boas publicado nesta “Ilustríssima” há dois domingos. Estava nos Estados Unidos para divulgar a tradução de um romance, convidado pelas universidades de Stanford, UCLA, Princeton, Yale, Brown, Illinois, Indiana e NYU. Apesar da lista elegante, foram leituras de alcance restrito, para turmas de pós-graduação. Ainda não cheguei ao sofá da Oprah ou à lista de mais vendidos do “New York Times”.

Foram necessários três anos e meio para que se esgotasse a primeira fornada, de 3.000 exemplares, de meu livro mais recente, que agora terá nova edição. Embora não seja um estrondo comercial, “O Único Final Feliz para uma História de Amor É um Acidente” (Companhia das Letras, 2010) já chegou às livrarias de Portugal, Espanha, Alemanha, Argentina, França e EUA, ainda que em distribuição restrita. Até junho, será editado na Finlândia e na Romênia.

O mérito é de cada um dos tradutores que se apaixonou pelo livro, normalmente propondo a tradução e antecipando-se a acordos editoriais. É da agência e dos editores estrangeiros que acreditaram nas excentricidades deste escritor. Mas nada disso seria possível sem o programa de traduções da Fundação Biblioteca Nacional. Sua retomada foi fundamental para a difusão da nossa literatura no exterior nos últimos anos. (Importante lembrar que não se trata de invenção brasileira. Muitas das traduções que consumimos no Brasil são fruto de iniciativas similares, já bastante tradicionais em mercados como a Europa.)

Diferentemente de Villas-Boas e de Raquel Cozer, que também publicou texto na penúltima edição deste caderno, não sou grande conhecedor dos números de exemplares vendidos meus ou dos meus colegas de geração –numa mesa de literatos brasileiros dos anos 10, falar disso é tabu maior do que teorizar sobre a própria produção (ou do que confessar a inveja que temos dos escritores gaúchos).

Por isso não tenho o número total de vendas do meu livro fora do Brasil, mas desconfio que seja maior que o doméstico. Se contarmos pelas tiragens, ele foi impresso três ou quatro vezes mais no exterior. Também foi mais resenhado fora. Agora a imprensa argentina e francesa começam a falar dele, apontando aspectos que a crítica brasileira, portuguesa ou alemã não tinham levantado. E o romance começa a ser lido com atenção por alguns estudantes estrangeiros. Essas novas camadas de leitura jogam luzes diferentes à obra e oxigenam o seu autor.

Em termos absolutos, são números ainda pequenos. É um começo e uma aposta. Deixo, no entanto, ao departamento comercial das editoras e agências o papel de julgar produção literária e sua repercussão ao longo da história por desempenho das vendas.

Estouro

Ao contrário do que alguns colegas e editores sugerem, não acredito que um escritor deva moldar sua literatura com o objetivo de ser acessível e virar um “estouro de mercado”. Num país que transformou autores como Guimarães Rosa e Clarice Lispector em cânone, dimensionar pretensão artística sob a demanda do leitor médio seria fruto de uma inversão lógica que, no limite, nos levaria ao grunhido.

Continuo a escrever exatamente o que quero, mas sempre me disponho ao embate. Nos últimos anos tive a sorte de vender livros em vilarejos ao norte da Alemanha, em balneários caribenhos, em Macau e no Meio-Oeste americano. Também o fiz em dezenas de cidades do meu país, de Foz do Iguaçu ao interior do Maranhão.

O trabalho de arregimentar novos leitores –para mim e para a literatura brasileira– é um corpo a corpo ao qual tenho dedicado boa parte do meu tempo na última década, dentro e fora do Brasil. É o foco do meu trabalho? Não. Escrevo para isso? Não. Ganho dinheiro com isso? Aqui, pouco. No exterior, nenhum. Mas esses encontros ajudam a entender o que faço. E, ainda que entre a espetacularização da figura do escritor e uma difusão efetiva do hábito da leitura exista um abismo por trás de uma cortina de fumaça de boas intenções, com sorte ganho um ou outro leitor ao final dessas performances. Por isso, continuo.

Cada leitor é tão importante quanto o próximo. “20 leitores locais são mais preciosos que uma edição na Bulgária”? Não. A não ser que a edição búlgara tenha menos de 20 exemplares vendidos. O “autor local”, como Luciana Villas-Boas gosta de chamar, escreve para o mundo, onde buscará seus leitores. Nem mesmo o seu país irá reconhecê-lo se ele não tiver essa pretensão.

Obsessão

Luciana Villas-Boas começa seu artigo com uma assertiva meio grosseira: “O autor brasileiro é vidrado numa tradução”. Depois, ao traçar com detalhe os motivos do divórcio entre literatura e sociedade nas últimas décadas, dá a dica que poderia explicar nossa estranha obsessão, mas deixa a ponta meio solta.

O autor brasileiro não é vidrado numa tradução por “cultivar o sonho colonizado e aprisionador do sucesso no Primeiro Mundo’”, como o texto diz. Ele é vidrado numa tradução porque quer ser lido. E porque nasceu num país que tem lido muito pouco literatura contemporânea.

A tiragem inicial média de um romance em Portugal é a mesma que aqui, ainda que nossa população seja quase 20 vezes a de lá. Nossos números podem ser ainda mais vergonhosos: em 2011, quase quatro em cada dez universitários não podiam ser considerados plenamente alfabetizados –os dados são do Instituto Paulo Montenegro (IPM). Não há ação editorial que resolva tal problema.

Talvez seja por isso que escritores brasileiros precisem repetir como um mantra: escrevo exatamente o livro que posso e desejo escrever. Se a obra pronta se transformará numa “aposta ousada” ou convidará novos brasileiros ao hábito da leitura é algo que está totalmente fora da minha lista de prioridades quando escrevo. Para a ira de alguns, não apenas escrevemos o que queremos, mas também queremos ser lidos sem nenhum tipo de concessão às necessidades do mercado editorial ou à última onda anglo-saxônica. A lógica por trás do artigo de Villas-Boas sucumbe ao provincianismo que ela credita ao autor brasileiro.

A mesmice não está na produção literária dos contemporâneos. É só ler seus livros com os olhos abertos, o que alguns “scouts” de agência e críticos literários com pedigree não costumam fazer, sempre procurando neles outros que já foram escritos.

O “mais do mesmo” está nesse tom acusatório, vindo de certos editores, acadêmicos e escritores que tentam corresponsabilizar a produção contemporânea por um problema estrutural de educação no país. O desprestígio da ficção brasileira no mercado local é fruto do desprestígio da leitura como um todo no Brasil. Creditá-lo aos livros publicados ou aos interesses dos seus autores é um erro que ajuda a intoxicar ainda mais um ambiente não muito conhecido pela sua lisura.

O editor e escritor Paulo Roberto Pires, num seminário em que estivemos juntos na Universidade Brown no ano passado, terminou seu panorama sobre a literatura brasileira contemporânea com uma imagem arrasadora:

“O crítico marxista Francisco de Oliveira certa vez definiu o capitalismo brasileiro como um ornitorrinco, aquele estranho animal que é ao mesmo tempo da terra e da água, mamífero e ovíparo, uma exceção eterna no conceito da evolução das espécies. Eu acho que é uma boa metáfora para pensar a literatura brasileira hoje. Nós somos ornitorrincos literários: temos público, mas não temos leitores, nós viajamos ao redor do mundo, mas não temos reconhecimento no nosso país, nós somos the next big thing’, mas não ganhamos dinheiro com isso, nós ganhamos a vida falando para muita gente sobre livros lidos por apenas alguns deles. Nós somos, mesmo contra a nossa vontade, um espelho do nosso país.”

O ornitorrinco não tem culpa de ser ornitorrinco, Luciana. Libertemos o escritor brasileiro de mais essa.

Fonte:
observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed789_o_ornitorrinco_e_a_agente_literaria
 
Penso que o ramo dos livros, igual a todo ramo, depende de um tecido social para ter sucesso mas que não tem sido fortalecido. No Brasil uma quantidade imensa de pessoas só começa a ter alguma consciência da importância de uma rede organizada de contatos profissionais quando entra na internet (facebook).

De modo que por aqui há problemas antigos e contaminam o setor livreiro inteiro porque "viver de escrever livro" em nosso país é complicado e afeta todos os postos de trabalho da cadeia.

O Paulo Coelho, por exemplo, montou um tecido de relações consolidadado pra produzir e vender.

E então ocorre que boa parte dos candidatos a escritores de ficção no Brasil não usa todas as opções de acesso a venda nem consideram nos planos que simples bibliotecários sejam pessoas importantes do ramo e desconhecem que donos de lojas de livros (livrarias que não precisam nem ser franquias e podem até serem bancas de jornal iguais usadas pra vender literatura de cordel) também sejam pessoas alternativas mas que nunca sejam procurados para expôr propagandas de autores novos para um teste do material. Até as editoras subestimam os outros profissionais do ramo e não fazem as campanhas concebidas para penetrar certo igual ocorre com o cinema.

Quer dizer enquanto lá fora o escritor de ficção encontra o máximo possível de profissionais responsáveis do ramo, por exemplo nos catálogos de livros e revistas (impressos e on-line), o nosso autor não cria tecido social nem descobre como fazer para os livros penetrarem nem tem diálogo suficiente com quem gosta de distribuir os livros para a população. O resultado final é ele ficará dependente das iniciativas públicas.

Claro que o governo tem culpa, afinal, qual biblioteca no Brasil possui orçamento para comprar várias edições de um mesmo número de revista com objetivo de conservar edições históricas para um acervo de preservação igual acontece nos EUA?

Nosso autor então se perde no caminho da distribuição e se torna irrelevante antes de ser testado nas vendas. Além do material por vezes sair fraco diante do concorrente estrangeiro o Brasil é um país carente de projetos em todas as áreas e dentre eles, adivinhem, também é carente em projetos que organizem uma proposta de publicação (o texto até informa da raridade da presença de agentes literários que é uma carência que um autor de sucesso não sofre tanto).

As franquias de livrarias conseguem se proteger um pouco dessa defasagem nacional, mas dá para sentir o esforço que fazem para pedir (ou importar) um cartaz diferente de um livro novo ou para combinar uma noite de autógrafos. É quase um ato exótico.

Tem feito muita falta a presença de oficinas específicas sobre a eliminação do amadorismo e a substituição pela profissionalização da visão do autor de ficção. Precisa de atualização. Se não houver injeção de estímulo no ramo inteiro a distribuição no país vai continuar desagradavelmente setorizada (eixo Rio-Sampa), penando no atraso em relação ao mundo e perdendo dinheiro.
 
Última edição:
E por falar em desafios da tradução... Uma amiga da minha irmã a presenteou com um souvenir do Egito. É um papiro cheio de inscrições e desenhos coloridos. Fazia algum tempo que não me sentia tão analfabeto...

Artisticamente é muito bonito, mas fiquei curioso pra saber do conteúdo. A tradução parece ser um pequeno pesadelo. Olhei aqui e o egípcio não é um idioma dos troncos principais indo-europeu + sino tibetano em que mais de 80% das pessoas se comunica. Aparentemente é preciso fazer a primeira "tradução" (romanização ou conversão para caracteres latinos do nosso alfabeto) igual no Japonês. Depois fazer a segunda tradução para algum idioma europeu que não o português. Depois, finalmente, traduzir para o português.

Parece ser um desafio louco. Fui atrás de tradutores on-line e tenho a impressão de que a net imagina que se quebre o galho com árabe ou algum idioma da área, tipo árabe. XD Se fosse japonês seria bem mais fácil porque é só jogar no tradutor.

Dá para ficar pensando se o que o artesão é escreveu é uma benção, uma maldição ou o comercial para visitar o novo cyber-café.
 
Aparentemente é preciso fazer a primeira "tradução" (romanização ou conversão para caracteres latinos do nosso alfabeto) igual no Japonês. Depois fazer a segunda tradução para algum idioma europeu que não o português. Depois, finalmente, traduzir para o português.

Por quê? Se alguém sabe ler um idioma eu lê no idioma, por que tantos passos? E por que tem que traduzir pro português por último? Por que as outras línguas possuem essa preferência? Essa tradução indireta não será tão boa quanto uma direta.
 
Por quê? Se alguém sabe ler um idioma eu lê no idioma, por que tantos passos? E por que tem que traduzir pro português por último? Por que as outras línguas possuem essa preferência? Essa tradução indireta não será tão boa quanto uma direta.

Então, antes de tudo vamos lentamente no raciocínio das conclusões... São muitas perguntas e não precisamos ser afoitos. É mais saudável na vida ter direito tanto a relações rápidas quanto a relações lentas ao invés de eliminar uma ou outra, nós precisamos das duas. Gosto de laços profundos e lentos e também de um encontro fortuito superficial de alguém que encontre no parque ou na rua, gosto dos dois tipos.

Não me refiro a insuflar rebelião contra a fidelidade da tradução (eu sempre preferi filme legendado pra ver) mas sim da aplicação do tópico no cotidiano pelo exemplo da dificuldade de tradução por pessoas comuns de idiomas muito afastados. No trabalho de tradução, igual esse tópico, as interpretações não podem ser estreitas e literais ao ponto de visar apenas o corpo do texto e é obrigação do leitor abordar com exemplos porque todo assunto tem conseqüencias e efeitos inumeráveis. Lidar apenas com letra morta é lidar apenas com uma das causas sem pensar naquilo que motiva o texto ou daquilo que ele pode produzir. Quer dizer, estamos falando de um processo que pode ficar muito complexo e ter que passar por estágios ou etapas.

Também não me refiro a jogar a tecnologia fora ao mesmo tempo em que sou contra deixar de saber fazer alguma coisa do jeito tradicional porque sempre precisamos de alternativas para dias difíceis (além de que tem benefícios que só aparecem por vias lentas). A ideia de que tudo é rápido e fácil sem haver espaço para flexibilidade é um tipo de tirania.

As pessoas que usam softwares passam por cima de muitos pontos em relação a quem traduz com lápis e papel. É como comparar o usuário de RPG de mesa com o usuário de RPG eletrônico, o user do game eletrônico é muito mais rápido porque alguém já fez o trabalho, em compensação sobra bem menos coisas para a pessoa aprender porque estavam intencionalmente ocultas na programação. Enquanto a pessoa não puder entrar numa sessão de RPG ela não vai ver como tem que fazer as fichas, rolar mecanicamente os dados, etc... Que eram coisas que ela tinha como garantidas lá no computador. Ou seja, a comodidade cobra um preço em inteligência.

Tem várias razões para uma pessoa encontrar dificuldades para traduzir um idioma assim. Algumas são gerais outras específicas. Por exemplo:

-Quanto mais distante do nosso ramo idiomático, mais estranhas são as palavras criando cada vez mais barreiras lingüisticas ou etapas na hora de se traduzir sozinho, aumentando a perda de informação no processo. O caso mais agudo ocorre em idiomas que não foram decifrados porque não se descobriu como converter os símbolos para os significados e caracteres das línguas mais populares mundo. Nas línguas mortas e inclassificáveis os estudiosos organizam aquele idioma separadamente "boiando" ao redor da árvore idiomática do mundo porque não se sabe aonde elas se encaixam (precisam encontrar os padrões).

-Mesmo na internet existem bem menos pessoas que falem e escrevam egípcio (ainda mais com qualidade gráfica) ao ponto de haver poucas opções cômodas de tradução (nas prateleiras das lojas o dicionário de egípcio não é um item procurado e as lojas não oferecem). Na minha cidade conheci pessoas que falem árabe, hebraico, grego, japonês... Mas egípcio já tem fama de ser historicamente separado criando isolamento e não a toa que fizeram muita festa quando descobriram a Pedra Roseta, porque se não houvesse a conversão dos hieróglifos não teria como começar a tradução (e não é muito tempo atrás, historicamente faz pouco tempo). Por sinal a imagem do Egito na Europa ganhou uma mística de quem conseguia ler os segredos por trás da mensagem.

-Os dicionários e tradutores on-line são pesadamente voltados para os idiomas que estruturaram a rede (tronco indo-europeu) ou que ganharam importância econômica (tronco sino tibetano, japonês). Hoje em dia existem muitos sites em que basta copiar e colar uma palavra em japonês pra se ter uma tradução em inglês (o programa faz o trabalho de conversão dos kanjis para nosso a alfabeto e do nosso alfabeto para um idioma europeu). Mas para o egípcio as opções são muito mais magras.

Tipo, esse site aqui mostra como é complicado quando lidamos com línguas pouco usadas.:

http://aaew.bbaw.de/tla/servlet/s0?f=0&l=0&ff=14&hc=t&l1=0

O programa do buscador possui as instruções em inglês, porém a lista de palavras em egípcias está traduzida para outro idioma (que não é inglês mas é um idioma europeu pelo menos). O que significa dizer que para usar a lista a pessoa tem que converter primeiro os hieróglifos para um alfabeto graficamente e sonoramente reconhecível. Depois disso dá para pegar o idioma ocidental e traduzir de novo (para o português). É tipo Indiana Jones, explorando uma cultura a qual nossa mídia quase nunca olha a não ser através do óculos do estereótipo (pirâmides, deserto, faraós).

Além disso é preciso haver revisão com falantes locais a qual em línguas populares são bem mais acessíveis e tem ainda a questão de que quando encontramos a palavra não há garantia de que ela tenha apenas um sentido podendo ser uma palavra ambígua, etc... Inclusive poderia ser um bom jogo para exercitar a mente daqueles que curtem traduzir.
 
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