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A Torre

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Eu subo as escadas sem ver onde estou pisando, esse lugar é extremamente pequeno, claustrofóbico, não consigo imaginar que anos e anos atrás pessoas subiam e desciam aqui todos os dias a trabalho. Já é difícil imaginar este local como um ponto turístico, ainda mais se pensar que irei morrer em mais alguns degraus, porém como somos animais estúpidos a esperança preenche todo vazio que sentimos diante da morte, como uma luz cintilante numa noite coberta de nuvens carregadas.

A subida nessas escadas são totalmente paradoxal. Se parece muito com a própria vida. Não agüento mais subir sem chegar a um ponto satisfatório, mas tão pouco quero chegar ao fim, pois o fim de todos esses lances significa também o meu próprio fim. Um grão de areia diante de tantos fins que se dão a todo o momento nesse mundo de histórias emaranhadas com farpas.

Enquanto subo todos os lances tento me lembrar o motivo da subida, mas a adrenalina não me deixa recordar nada consistente, apenas flashes aliados ao sino desta torre que já marca meia-noite. O sino toca. Estou diante de uma pessoa. O sino toca. Faz-se um disparo. O sino toca. Gritos do corpo caído. O sino toca. Meu sorriso. O sino toca. Gritos do lado de fora. O sino toca. Eu corro. O sino toca. Carta. O sino toca. Torre. O sino toca. Subo as escadas. O sino toca. Tropeço ainda no início. O sino toca. Eu vejo minha filha. O sino toca. Um céu estrelado.

Essa amnésia não me permite ao menos saber o porquê da minha morte, quem sabe talvez eu seja inocente? Ou sou tão culpado que os Deuses me concederam o dom da ignorância para pelo menos sorrir em meus minutos finais. Eu sorrio. Realmente diante da morte somos tão idiotas que inventamos coisas para nos tornar mais leves.

A morte se parece muito com uma música com suas texturas próprias, ritmos e harmonias. De forma muitas vezes “invisível” suas mãos tocam em nossos cabelos, bem de leve apenas para mostrar sua presença. Um passaro morto. Um fruto podre. Um Natimorto. Normalmente ao vermos isso egoisticamente damos graças a Deus por não ter sido conosco. É, merecemos tudo isso.

Sinto que já estou chegando ao final das escadas, ouço barulhos lá fora, começo a suar frio ainda que meu corpo já anuncie que não quer brincar mais, que aceitar a morte é ser sábio nesse momento. Apesar de todos esses questionamentos, cheguei ao final, abro a porta e saio. Percebo que aonde cheguei não é tão pequeno quanto a própria extensão dos degraus, não para onde correr, tento ainda inutilmente conhecer o outro lado, mas nada de novo. A porta por onde passei se abre de novo, me desespero, tento correr, mas apenas consigo ver o rosto daquele que vai me tirar a vida. A morte personificada. Um som, que não é o sino.

E estou morto.

Já morto eu percebo que estou de novo correndo, no início das escadas da torre, essa maldita torre. Começo a perceber que o início desta já se fez há muito tempo talvez antes de minha própria consciência. Talvez antes de meu próprio pecado.[/align]

Texto: Daniel Faleiro
Foto: Daniel Faleiro
in: www.figuinho.blogspot.com
 
Bem legal o conto!
A crença "nietzchiana" (se é que pode, algum dia, existir algo que se chame "nietzchiano", ainda mais uma "crença"... o cara foi o filósofo do martelo, pô. Mas enfim, na falta de palavra, vai crença mesmo) do eterno retorno bem explorada. O lugar apertado, escuro, feio.

Tem um ou outra frase que estão complicadinhas aí, mas de resto, tá legal.

Eu não gostei muito da parte do sino. Repetiu bastante. Mas aí é questão de gosto =P

Abraços
 
Sorel disse:
Bem legal o conto!
A crença "nietzchiana" (se é que pode, algum dia, existir algo que se chame "nietzchiano", ainda mais uma "crença"... o cara foi o filósofo do martelo, pô. Mas enfim, na falta de palavra, vai crença mesmo) do eterno retorno bem explorada. O lugar apertado, escuro, feio.

Tem um ou outra frase que estão complicadinhas aí, mas de resto, tá legal.

Eu não gostei muito da parte do sino. Repetiu bastante. Mas aí é questão de gosto =P

Abraços


Muito obrigado pelo comentário e pela interpretação...gostei bastante...no meu blog houveram várias distintas isso é super...


A idéia do sino foi proposital mesmo, tentando trazer a tona a sensação dele, marcando a hora do momento, a sua hora, foi tentando utilizar outras sensações....


Abraços
 
A vida como sendo uma escada e a morte quando acabam-se os degraus. Gostei dessa parte. Realmente, dá para fazer várias interpretações. Acho que entendi bem a repetição do sino.

Passa o link do post do teu blog, para a gente ler as interpretações de outras pessoas!
 
www.figuinho.blogspot.com

tem vários textos...mt obrigado clover!

O que gostei é que teve amigo meu que achou algo triste...e outro algo alegre por ser renovador eheheh
 
Eu acho que a parte do sino ficou muito boa, pois ele quis passar pra gente um momento meio que de desespero, onde o sino tocava, juntamente com os pensamentos, aí cria aquele negócio de adrenalina. Foi isso o que me passou pelo menos, tô certo Daniel? Gostei muito mesmo cara, a relação entre degraus e angústia ficou ótima, dá pra se sentir o peso da leitura à medida com que você subia a torre.
 
É... essa foi a minha intenção mesmo. Que bom que gostou....

Olha quando puder dê uma olhada no outro conto "Globo de Vidro"... espero que goste também!

Abs
 
Daniel Cowman disse:
É... essa foi a minha intenção mesmo. Que bom que gostou....

Olha quando puder dê uma olhada no outro conto "Globo de Vidro"... espero que goste também!

Abs
Na verdade eu começei a ler ele aqui, mas parei pra fazer algumas coisas, mas pode deixar que eu vou ler, e postar um comentário sobre o que eu achei :g:.
 
Muito bom mesmo cara!
A imagem que eu tive foi a de um fantasma assombrando a torre , pra sempre condenado a subir aquelas escadas XD
 
Eheheeh... legal Gostei dessa também....


Nessa época estava muito louco por Borges. Tive uma afinidade muito forte pelo Borges por termos as mesmas obsessões: como o tempo e espaço.


Abs
 
Olá amigo...

Gostei muito da sua estória... ela é do tipo ( se é que há alguma que não o seja...) que exige bastante concentração e compromisso para visualizar bem suas imagens...
Quanto à repetição que há no trecho do sino percebi que as varias imagens que o condenado via em seus pensamentos eram interrompidas pelas batidas do sino para logo ele se ver numa outra e numa outra... uma mistura de adrenalina e desespero... Será que há algum recurso, mesmo que gráfico, para deixar isso mais claro?

TKS
 
Não sei mesmo, este foi o recurso que veio a mente para utilizar, eu gosto de tentar inspirar outros sentidos, embora esteja longe disso ainda eheheh

muito obrigado!
 
Daniel Cowman disse:
Não sei mesmo, este foi o recurso que veio a mente para utilizar, eu gosto de tentar inspirar outros sentidos, embora esteja longe disso ainda eheheh

muito obrigado!

E ficou legal assim... mas quando faço fica meio maçante, dá sono até em mim.
 

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