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A (sub)criação

Nossa, eu vou encher muito vocês, podem me mandar parar se eu tiver passando dos limites.
O que vim dizer agora é que, depois de quase surtar várias vezes com o "Sobre histórias de fadas" (tive que lê-lo umas 25 vezes no último ano), pecebi uma coisa muito bonita. Claro que muita gente já deve ter percebido isso antes de mim, mas eu sou lerdinha mesmo.
No Silmarillion, quando Eru e os Ainur vão "criar" o mundo, a criação não se dá por meio da palavra, como na Bíblia, mas sim por meio da arte, da música. Tolkien mais uma vez mostrando como conseguia expressar magnificamente em sua obra seu pensamento teórico, nesse caso, o da subcriação.
 
Não li o livro das Fadas ainda, embora esteja na minha lista básica de desejos...
Quanto a ele usar a música dos ainur pra dar vida a um mundo todo é algo que me fascinou desde a primeira vez que li o Silma.
Achei algo interessante ele usar a beleza da canção para gerar tudo o que nasceu com Eä. É algo diferente, uma idéia interessante. Mas o que me encantou é que costumo acreditar que quem realmente gosta de música sempre estará "um gral mais elevado" que quem não gosta, por acreditar que a música eleva o homem... então o uso dela pra mim foi algo fabuloso!
 
Acredito que a palavra faz parte das artes, assim como a música, mas a segunda consegue ser mais delicada, mais profunda quando "sentida" por todo e qualquer ser. Afinal, dizem que todos os seres (humanos ou não) são tocados pela música/som e a melhoria disso pode ser vista a todo momento. As artes são canais para a felicidade, creio.
 
Uma das partes mais bonitas do Silmarillion, pra mim, é a canção dos ainur e como a partir dela um mundo é criado. Acredito que uma música toque mais fundo o coração dos seres que apenas palavras e essa idéia de criar algo concreto a partir da música torna a coisa toda mais encantada e cheia de magia, e isso nos envolve e fascina de uma forma inexplicável...
 
Última edição:
Também fiquei fascinado pelo conceito de o mundo ser criado pela música, e não pela palavra.
Gostei muito. A palavra é demasiadamente exata, mensuravel demais. A música te convida mais a sentir que a entender, parece mais adequado, mais bonito, para a criação de um belo mundo.
 
A criação do mundo através da música foi algo genial. A palavra tem o poder de ser "mal interpretadas", usadas a favor ou contra, penso que tudo que se diz não é o suficiente para expressar o que se dejesa, e isso se aplica a criação. Já com a música o que se pode contra compassos, ritmos? Acho que ela integra todas as formas de beleza e o oposto também; ela envolve, eleva, até o próprio silêncio possui um ritmo. Não consigo achar arte melhor.
 
A música traduz melhor os sentimentos, os pensamentos, os desejos e os sonhos [imaginação]. Mexe com nosso emocional de forma que mal conseguimos explicar. Ela é mais completa que apenas a palavra: ela se ultiliza da palavra e acrescenta sons e tons de forma a exprimir melhor a intenção de cada sílaba proferida, ou seja, dramatiza.

Eu li O Mundo de Tolkien antes de ler qualquer um dos livros, pois o encontrei numa excelente promoção e queria saber mais sobre os filmes que eu tanto já amava. Só que eu ainda não tinha conhecimento de que o legendarium se estendia para além da Trilogia. Claro que eu levei um baita susto logo no começo de O Mundo de Tolkien. Pois ele já começa falando do que inspirou Tolkien a iniciar os trabalhos desse legendarium [um intrigante poema que levou à criação de Eärendil] e como segue, de certa forma, uma ordem cronológica, David Day fala logo em seguida da criação de Eä através da música: explicando de onde 'saiu' essa idéia. O que só serviu para me deixar ainda mais louca de vontade de ler todos os livros do Professor.

Aqui vai uma parte do que é dito a respeito em O Mundo de Tolkien para quem se interessar:

DEUSES E DIVINDADES

A Música da Criação


(...)

Definitivamente no universo de Tolkien, a música é o princípio organizador por trás de toda criação. A concepção mística de Tolkien sobre o mundo como uma manifestação da grande composição musical parece pressupor um cosmo musical que seja um sistema eternamente harmonioso criado por uma Inteligência Suprema. Também pressupõe que, codificada na "Grande Música" nas "Esferas do Mundo", está tudo o que foi, é ou será - incluindo o destino de cada homem e cada ser vivo na criação.

Com isso, Tolkien não está sendo tão inventivo, mas inteiramente consistente com uma antiga tradição metafísica. A "Grande Música" de Tolkien tem seus precedentes históricos na "Música das Esferas", o mais velho e constante tema na vida intelectual européia. A "Música das Esferas" é um sistema abrangente de tom e número que confere ao universo uma estrutura lógica e supre a estrutura metafísica da maioria das principais religiões do mundo, desde o cristianismo até o islamismo, desde o budismo até o hinduísmo.

Na maioria das civilizações antigas, o estudo da música era reconhecido como o meio primário de compreensão do universo. Universal entre os humanos é a habilidade de reconhecer notas musicais harmônicas. No som de uma oitava (dois "dós" sucessivos em uma escala musical) existe um evento abstrato e matemático que é ligado precisamente a uma percepção sensorial física. Mesmo sem treinamento intelectual - sem interrupção de pensamento, imagem ou conceito - reconhecemos imediatamente a recorrência do tom inicial de uma oitava. É a mesma nota, ainda que diferente. Está em um nível diferente. Nossa resposta intuitiva e emocional ao som coincide com um sistema exato, intelectual e abstrato de medidas.

A essência da percepção de harmonia está no fato de ser o único momento no universo criado em que os mundos intelectual e físico são um só. Como o filósofo racionalista e matemático do Iluminismo Gottdried Wilhelm von Leibniz (1646 - 1716) afirmaria dois milênios após sua descoberta, "a música é um exercício aritmético oculto de uma alma que não tem consciência de que está calculando". A codificação da base aritmética da música feita pela irmandade dos pitagorianos na Grécia Antiga foi o verdadeiro início da ciência. Pela primeira vez, o homem descobriu que verdades universais podiam ser explicadas por meio de investigação sistemática e do uso de símbolos lógicos como os encontrados na matemática.

Assim, o homem interno e o cosmo podiam ser unidos por meio de uma música universal. A mente do homem podia relacionar-se à estrutura do universo, e isso levou Platão à concepção de "alma do mundo" baseada na estrutura músico-aritmética da oitava. Essa conclusão filosoficamente verossímil foi transferida posteriormente a uma crença absoluta no universo musical fundamentado nos princípios de harmonia matemáticos. E esse foi o início da pretensa ciência da astrologia.

[páginas 20 e 21]

[grifo meu]
 

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