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A nova estratégia de José Serra...

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O que vocês acharam da nova campanha dele?

Vai aí o comentário de um jornalista do Correio Braziliense, que traduz tudo o que eu sinto e acho, mas como eu não escrevo tão bem...

"O senador José Serra escolheu o pior caminho em sua legítima aspiração eleitoral. Quando alguém apela para o medo, arranhando as glândulas em que ainda se aninha o susto pré-histórico do homem das cavernas, ao ouvir o ruído e sentir o cheiro dos predadores, revela o próprio temor.

Nenhuma sociedade pode erguer-se sobre a argila do medo. Por isso mesmo, em sua histórica mensagem ao Congresso dos Estados Unidos, em janeiro de 1941 — quando Hitler soprava as trombetas da morte —, o presidente Franklin Roosevelt definiu a (então) ideologia da república na conquista de quatro liberdades: a liberdade de pensar e expressar o seu pensamento, a liberdade de cultuar Deus conforme a própria consciência, a liberdade contra a pobreza e a liberdade contra o medo. É certo que, hoje, o presidente Bush não só se esquece das quatro liberdades de Roosevelt, como também não se recorda de outra parte da mesma mensagem, em que o presidente pregava o desarmamento mundial, de tal maneira que nenhuma nação se encontre em situação que lhe permita agredir qualquer vizinho, em nenhuma parte do mundo.

O senador José Serra é sincero, quando se apresenta como alguém que deseja o bem para o seu povo. Ele construiu sua biografia, desde a adolescência, na luta em favor do país. Mas deve afastar a tentação de transformar seu adversário em espantalho, mesmo porque o povo brasileiro não é constituído de aves assustadas. Não entendeu o candidato do PSDB que o confronto não se faz, hoje, entre dois homens, por mais respeitáveis sejam um e outro. Quando o povo votou em Lula, não escolheu entre uma e outra biografia, ambas com seus méritos, mas — e aí reside o erro essencial da pregação de Serra — entre o medo e a esperança. O povo, ao votar em Lula, mostra não temer o futuro, mas, sim, revela o temor de que o passado recente permaneça.

Apelar para o medo é servir ao medo. Amedrontar uma comunidade é fazê-la agachar-se diante dos perigos imaginários, reduzir-lhe a confiança em si mesma, erodir sua auto-estima. Quem quiser liderar um povo deve acenar não com o medo, mas, sim, com a esperança. Daí a força das quatro liberdades de Roosevelt: elas se propõem a livrar os homens da miséria e do medo e lhes dar, com isso, os meios para a sua plena realização humana (‘‘freedom of speech and expression’’ e ‘‘freedom of every person to worship God in his own way’’).

O apelo ao medo é ainda mais danoso quando se associa à delicada situação internacional. O Brasil, em nome dos próprios valores e de seu passado, tem o dever de manter-se lúcido, diante da insensatez que ameaça hoje o mundo. Não podemos ter a pretensão de arbitrar o conflito entre as sociedades industriais consumidoras intensivas de petróleo e os países que o produzem muito e o consomem pouco, mas é de nossa conveniência ficar dentro de nossas próprias fronteiras se o conflito se der. Provavelmente isso significará dificuldades que deverão — como em qualquer situação semelhante — ser compartilhadas entre todos nós. Temos em nosso país os meios para que a sociedade brasileira possa sobreviver com dignidade — e menos desigualdade — se a isso nos obrigarem as circunstâncias históricas. Há situações em que, mais do que escolha ética, a solidariedade se impõe como imperativa para a sobrevivência. A solidariedade é antídoto contra medo e instrumento da esperança.

A candidatura Lula deixa de ser a do sertanejo que se fez metalúrgico e do metalúrgico que se fez líder de ponderável parcela da gente brasileira. Pouco a pouco, ela passou a ser sentida como o grande acordo nacional em busca das mudanças, tantas vezes anunciadas e tantas vezes frustradas. Pouco importam os ataques, estranhos e inúteis, ao candidato do PT — como a ridícula objeção a que ele possa provar um vinho caro, oferecido por um de seus amigos. Se ele se negasse a fazê-lo, seria considerado hipócrita e mal-educado. Como aceitou degustá-lo, juntamente com mais de vinte pessoas, foi tido como elitista.

Entenda-se uma coisa: o povo não é contra a elite. Ele necessita de uma elite. Quando a elite não serve, troca-a. É assim que escolheu, no primeiro turno, um homem da mais legítima aristocracia — a dos que se destacam por seus valores próprios e se tornam, assim, os melhores em qualquer sociedade — para levá-la ao futuro. E por falar nisso: que dizer de Cristo, que transformou a água em melhor vinho, antes de ter multiplicado o pão e o peixe? Não há dúvida de que, sendo Cristo, e querendo o melhor para os que se encontravam no casamento em Caná, o Romanée-Conti não passaria ali de um rascante qualquer. E que dizer da força do povo, que transforma um retirante pobre em seu grande líder? "
Mauro Santayana
Em artigo publicado pelo Correio Braziliense, dia 16/10
 
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