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A leitura do mundo precede a leitura da palavra

  • Criador do tópico Criador do tópico Melian
  • Data de Criação Data de Criação

Melian

Período composto por insubordinação.
Peguei emprestada uma conhecida frase do meu querido Paulo Freire para título deste tópico, porque quero que, inspirados por ela, possamos tentar delinear as influências que levamos conosco para o ato de leitura. E falo aqui, especificamente, embora não somente, da leitura de obras literárias.

Acredito que por mais que uma pessoa tente 'limpar a mente' durante o ato da leitura, ela não está livre de influências. Ler não é questão de apenas juntar as letras e formar palavras. Juntar os símbolos é o processo de decodificação. E a leitura passa pela decodificação, mas vai muito além dela.

O ato da leitura contextualiza palavras, faz com que possamos construir significado para as palavras, mas o quê faz com que ao lermos çapatu não imaginemos uma 'maçã'? Porque o nosso conhecimento de mundo, a nossa leitura de mundo, nos dá bagagem para que possamos associar a palavra sapato (mesmo que grafada erroneamente) ao objeto sapato. O mesmo acontece com maçã.

Seria um equívoco dizer que "a leitura do mundo precede a escrita da palavra?" Temos tantos exemplos que nos dizem que não. Tolkien, por exemplo, era declaradamente cristão. E a sua leitura de mundo influenciou, sim, na escrita de suas obras. Como ele mesmo admitiu, em O Senhor dos Anéis, inicialmente, foi uma influência inconsciente, porém, na revisão, a influência religiosa e católica foi consciente.

A ideia para este tópico surgiu há dois dias, quando peguei o livro "Na casa de meu pai", do Kwame Anthony Appiah para ler. Antes de abrir a primeira página do livro, eu sempre completava, mentalmente, o título "Na casa de meu pai" com "... há muitas moradas" ou, então, com "... há unção e há poder". As duas formas de completar o título estão diretamente ligadas ao fato de que eu tive uma criação cristã. E, para minha surpresa, o próprio Appiah dá uma pincelada na citação bíblica "na casa de meu pai há muitas moradas" no prefácio do livro, por ele ter 'herdado' a África (onde há lugar para todo mundo, conforme a visão do autor do livro) e o cristianismo de seu pai.

Certa vez um professora comentou, na faculdade, sobre a dificuldade que os alunos evangélicos (especificamente os das congregações com costumes mais rígidos, como a Assembléia de Deus, por exemplo) tinham para fazerem leituras/interpretações eróticas dos poemas, contos, romances, enfim. Na ocasião eu até comentei como era inadmissível para muitos alunos a leitura que eu fazia de "O Velho Diálogo de Adão e Eva" em Memórias Póstumas de Brás Cubas. :lol: Isso nos leva a refletir sobre como os conhecimentos de mundo (a leitura de mundo) que o leitor faz influenciam, diretamente, na leitura da palavra feita por ele.

Enfim, este é um espaço para refletirmos sobre o processo de leitura. Sobre as influências. É um espaço para comentarnos as diferentes leituras que fazemos e apontar detalhes que acreditamos que nos influenciem muito nessas leituras.
 
Última edição por um moderador:
Concordo com a frase, desde que estajamos falando unicamente em leitura de livros. Caso contrário, o assunto tomaria um rumo muito filosófico.

Acredito que seja inevitável, tanto para os autores famosos como para os escritores de blogs, evitar as influências do mundo. Afinal, somos criaturas sensoriais e reflexivas. Tudo o que nos rodeia chega através de todos os sentidos: calor, frio, seco, molhado, áspero, liso, gostoso, amargo e por aí vai (malditos pré-Socráticos...).

Além destes fatores climáticos, há ainda as convenções e regras sociais a que estamos vinculados, quer a pessoa goste ou não. Sendo assim, o ato de escrever seria uma forma de o indivíduo tentar interpretar o mundo que o cerca (ou sufoca) de uma forma única e tentar transmitir essa informação para uma ou mais pessoas; no começo de forma amadora e apaixonada e, conforme adquire-se um maior leque de conhecimentos, experiências e técnicas, o indivíduo será capaz de valer-se de temas, emoções ou questões universais que acompanham a sociedade em todas as latitudes e longitudes: medos, solidão, morte, amor, angústias, incertezas, juventude, velhice, nascimentos (maldito Heidegger...sobe!) etc.

Enfim, não sou de escrever linhas e linhas em um debate, filosofia não é meu forte e nem sou escritor para colocar mais conteúdo em meu post :dente:
 
Enfim, não sou de escrever linhas e linhas em um debate, filosofia não é meu forte e nem sou escritor para colocar mais conteúdo em meu post :dente:

Seguindo sua linha Elring, também não me arrisco a falar muito sobre filosofia e esse assunto também me faz recordar de muitos conceitos filosóficos que me contaram por ai, os quais não ousarei comentar. Porém, me parece que essa frase é contrária ao pensamento existencialista, certo? Se alguem quiser comentar sobre isso ficaria feliz de ler.


Sobre leitura de textos, concordo. Embora, eu sempre me esforce ao máximo para esvaziar a mente no momento tanto de ler quanto de aprender o que quer que seja.
 

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