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A importância da linha clara e do estilo atômico

Azagthoth

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A evolução das HQs franco-belgas passa pela saudável rivalidade entre Hergé (Tintim) e Jijé e Franquin (Spirou). Ou seja, entre a Escola de Bruxelas e a Escola de Marcinelle. É este núcleo de artistas que influenciou uma grande parte da Europa, indo da Espanha aos Países Baixos, por mais de 50 anos, transformando tanto a linha clara quanto o estilo atômico numa estética mundial, um reflexo da sociedade globalizada.



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O Estilo Atômico está de novo em evidência.

Enquanto Warren Ellis escreve verborragicamente sobre Joost Swarte, a linha clara e o estilo atômico em duas de suas colunas recentes (Do Anything 08 e 09), do outro lado do Mar do Norte, a Bélgica realiza no Atomium, em Bruxelas, duas exposições sobre o assunto: 14 Visões do Atomium e Em Busca do Estilo Atômico.

O Atoomstijl, termo em holandês para "Estilo Atômico", é basicamente uma reinterpretação conceitual e estética de valores existentes nos quadrinhos belgas da década de 1950, aliada ao espírito futurista do pós-guerra e seu poder atômico, ambos tão bem representados pelo Atomium, um dos monumentos nacionais da Bélgica.

Atomium
O termo foi usado pelo holandês Joost Swarte, na década de 1980, para definir seu trabalho e o de alguns de seus colegas do underground dos Países Baixos.

Construído por André Waterkeyn para a Feira Mundial de 1958 (Expo 1958), em Bruxelas, o Atomium é uma estrutura metálica de 102 metros de altura, com nove esferas interligadas por tubos, representando a estrutura de uma célula de cristal de ferro ampliada 165 bilhões de vezes.

É significativo que um símbolo de algo tão minúsculo e básico como a estrutura atômica, transformado numa construção grandiosa e monumental, está tão intimamente ligada aos quadrinhos belgas. Os quadrinhos são uma parte intrínseca da cultura da Bélgica.

Arte de Vittorio Giardino
Para entender melhor as questões de estilos e tendências nos quadrinhos franco-belgas é preciso voltar no tempo. Mas, antes disso, também é necessária uma explicação geográfica e linguística.

A Bélgica é hoje um país com três línguas oficiais: o francês (falado na Valônia, ao sul), o neerlandês (dos flamengos da região de Flandres, ao norte) e o alemão (usado numa pequena região do leste da Valônia); e vários dialetos (como o Valão, o Luxemburguês etc.), que faz fronteira com a França, Luxemburgo, Alemanha e os Países Baixos (costumeira e erroneamente chamados de Holanda, embora as Holandas - do norte e do sul - sejam duas províncias dos Países Baixos).

Tintim
As questões regionais e linguísticas sempre foram importantes para a Bélgica e continuam, até hoje, a influenciar os quadrinhos.

No início da década de 1920, os quadrinhos publicados nos jornais e suplementos juvenis da Europa eram, em grande parte, tiras importadas dos Estados Unidos, que influenciavam autores e competiam agressivamente com o material criado originalmente no Velho Continente, como, por exemplo, o Tintim, de Hergé.

Hergé, possivelmente o mais importante autor de quadrinhos da Europa em termos históricos, descobriu as tiras americanas, no final dos anos 1920, por intermédio do correspondente mexicano do jornal Vingtième Siècle, Léon Degrelle.

Dentre as tiras famosas dessa época estavam Krazy Kat, de George Herriman; Pafúncio e Marocas, de George McManus; e o Sobrinhos do Capitão, de Rudolph Dirks.

Tintim
A grande novidade da época era o uso generalizado dos balões, usados pelos artistas americanos para apresentar os diálogos dos personagens. O recurso já havia sido adotado na França por Alain St. Ogan (criador de Zig et Puce).

Inspirado nisso, Hergé publica no semanário satírico Le Sifflet (de 30 de dezembro de 1928), a HQ de sete páginas La Noël, na qual ele usa pela primeira vez os balões.

Hergé criou Tintim, seu maior personagem, em 10 de janeiro de 1929, que logo se tornou um grande sucesso popular. O autor publicou regularmente as aventuras do repórter até a Segunda Guerra Mundial, quando a Alemanha nazista invadiu e ocupou a Bélgica (10 de maio de 1940) e a França.

Para se ter uma ideia do impacto da primeira aventura do personagem, em 8 de maio 1930, o Petit Vingtième encena o retorno do jornalista Tintim (interpretado ao vivo por Lucien Pepermans) de suas aventuras na Rússia, na Gare du Nord, em Bruxelas (na prática, o ator-mirim foi embarcado num trem que voltava da Alemanha para Bruxelas) e foi recebido triunfalmente por milhares de crianças, jovens e adultos.

Henri Dendoncker
A prática foi tão bem-sucedida que o jornal reprisou essa estratégia em outras três oportunidades. Em 9 de julho de 1931, Bruxelas saúda Tintim, interpretado por Henri Dendoncker, retornando do Congo (Tintim na África); em 13 de novembro de 1932, René Boey interpreta o personagem voltando de sua aventura na América; e em outubro de 1935, Charles Stie faz o papel do jovem repórter retornando de Xangai (Tintim - O Lótus Azul).

Curiosamente, seguindo os passos de Tintim, Henri Dendoncker tornou-se um herói durante a Segunda Guerra Mundial, agindo como espião para os aliados contra os nazistas na Bélgica ocupada.

Em 1934, surge na França o semanário Le Journal de Mickey, que trazia as aventuras de Mickey Mouse e outros personagens de Walt Disney. A seguir vieram Robinson e Hurrah, em 1936; e Hop-lú, em 1937. Todos publicando tiras americanas. O sucesso desses periódicos levou à criação de uma importante publicação belga.

Spirou
Em 21 de abril de 1938, Jean Dupuis criava Le Journal de Spirou, um jornalzinho de oito páginas que trazia tiras americanas (Superman, Brick Bradford, Red Ryder) e algumas histórias locais. Foi nesse veículo que surgiu Spirou, o garoto ascensorista do Hotel Moustique, que seria, durante anos, o grande rival de Tintim.

Spirou, que significa "arteiro" em valão, foi criado pelo francês Robert Velter, mais conhecido como Rob-Vel, e suas aventuras no Le Journal de Spirou foram publicadas, durante os primeiros meses, apenas em francês, e distribuídas somente na Valônia (região do sul da Bélgica cujas principais línguas são o francês e o dialeto valão).

Arte de Philippe Berthet
Em 27 de setembro de 1938, surgia Robbedoes, a versão holandesa do Journal de Spirou, distribuída na região de Flandres, da Bélgica, e nos Países Baixos. A publicação circulou até 1995. De 1938 a 1955, o Journal de Spirou foi editado por Jean Doisy.

Com a o inicio da Segunda Guerra, as HQs americanas pararam de ser publicadas nos jornais belgas e franceses, criando um enorme espaço para os artistas locais. Mas esse também é um período difícil e conturbado. A ocupação cancela a publicação do jornal Vingtième Siècle e seu suplemento, Petit Vingtième, no qual saíam as aventuras de Tintim.

Hergé é forçado a abandonar a aventura Tintim no País do Ouro Negro, que só seria retomada depois da guerra, oito anos mais tarde, e passa a publicar, no jornal Le Soir (um dos poucos veículos autorizados a circular na Bélgica pelos nazistas), Tintim e o Caranguejo das Pinças de Ouro.

Arte de Jean-Claude Floch
O fato de ter publicado num jornal que compactuava com os aliados de Hitler levou Hergé a ser acusado de também ter colaborado com os nazistas, e ele foi forçado a parar de publicar suas histórias em setembro de 1944.

Foi no Le Soir que Hergé conheceu o artista Jacques Van Melkebeke (1904-1983), que mais tarde lhe apresentaria a Edgar Félix Pierre Jacobs (1904-1987), que se tornaria um de seus colaboradores e criaria, em 1946, a série Blake e Mortimer. Melkebeke foi o primeiro editor-chefe do Journal de Tintin.

Na época da guerra, Jacobs desenhava as tiras de Flash Gordon, uma vez que os originais de Alex Raymond não podiam mais ser importados pela revista Bravo (distribuída na Bélgica e nos Países Baixos).

Arte de Ted Benoît
Na década de 1940, Hergé passou a contar com a colaboração de alguns artistas (como Edgar Félix Pierre Jacobs e Alice Devos) para lhe ajudar com tarefas como o desenho de alguns cenários e a produção do guia de cores usado para a impressão de cada página.

Nessa época, o estilo Hergé - traço limpo, sem grande diferenciação das linhas na arte-final, com cenários detalhados, personagens cartunescos e histórias de narrativa direta - já estava definido e consagrado. No pós-guerra, o autor seria o sinônimo das HQs europeias...



 
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