A Ilha (Island, em inglês) foi o último romance escrito por Aldous Huxley, famoso por obras como Admirável Mundo Novo e Contraponto. Retrata a existência de uma sociedade que buscava unir o melhor dos dois mundos - Oriente e Ocidente -, ou seja, espiritualidade e progresso, em um único lugar. Em Pala, a ilha idealizada onde Will Farnaby, o protagonista do livro, vai parar após ter seu pequeno veleiro destruído por uma tempestade quando velejava próximo à costa, os habitantes negam o "progresso pelo progresso", buscando algo que o autor já havia mentalizado e discutido anteriormente: uma forma de "utilitarismo superior". Em tal estilo de vida, cada habitante pergunta-se como suas ações podem contribuir para o seu desenvolvimento e o dos outros, e tudo na ilha é feito tendo a meditação - ponto central do livro, na minha opinião - como base. Existe, assim, uma mensagem muito importante que o autor procura transmitir, que é a de que devemos prestar atenção naquilo que estamos fazendo, o que pode parecer simples, mas na prática é difícil de ser aplicado, já que vivemos na geração das torrentes de informações e formas de entretenimento superficiais, momentâneas e insatisfatórias. É o parar para pensar por conta própria, fundamental, na visão de Huxley, para que, entre outras coisas, não vivamos "docilizados como poodles", à mercê de ditaduras disfarçadas.
O artigo sobre o livro na Wikipédia em português é ridiculamente pequeno e superficial, então aqui vai o link para o que está em inglês:
http://en.wikipedia.org/wiki/Island_(novel)
O artigo sobre o livro na Wikipédia em português é ridiculamente pequeno e superficial, então aqui vai o link para o que está em inglês:
http://en.wikipedia.org/wiki/Island_(novel)
Bom, agora desejo falar de algo que me deixou coçando a cabeça, assim como deve ter sido motivo de reflexões para cada um que leu a versão da Editora Globo do livro: o famoso e controverso prefácio de Olavo de Carvalho. Pra quem já leu o livro em outra edição, recomendo a leitura de tal prefácio em uma livraria qualquer. Em resumo, o autor diz que a verdadeira mensagem do livro passou despercebida por gerações inteiras, que, no clima de otimismo da Contracultura hippie dos anos sessenta, não poderiam tê-lo compreendido a fundo. Segundo Olavo de Carvalho, o livro não seria a idealização de uma sociedade, mas sim um aviso, contido nas entrelinhas, do perigo contido na formulação de utopias, utilizando, para embasar tal lógica, o argumento de que transformações culturais como a materializada em Woodstock não teriam produzido uma sociedade melhor, mas sim um bando de viciados em drogas como o LSD. Nas palavras que encerram o prefácio, "Aldous Huxley escreveu este livro para nos advertir da culpa monstruosa que se oculta por trás da inocência dos idealistas." Para Olavo de Carvalho, é de enorme importância o fato de a destruição de Pala ter sido causada por um de seus próprios cidadãos, mais especificamente o futuro Rajá, o jovem Murugan, o que demonstraria a inviabilidade da sociedade idealizada como resposta aos problemas pelos quais passava o mundo na época da guerra fria.
Minhas opiniões sobre o assunto:
1) Não possuo educação especial em literatura nem técnicas de redação, mas creio que o final de uma obra jamais deva ser revelado em um prefácio. Descobrir, antes de iniciar a leitura do livro propriamente dito, que Pala seria enfim destruída causou-me consideráveis aborrecimentos. A discussão, assim, deveria aparecer em um posfácio.
2) Vi em alguns blogs e fóruns muitos concordando com a opinião de Olavo de Carvalho, pois Murugan era de fato um palanense. Há, entretanto, um problema em tal lógica: o fato de o futuro Rajá compartilhar da nacionalidade dos demais habitantes da ilha é, se prestarmos um pouco de atenção, a única semelhança existente entre eles. Huxley nos adverte de que Murugan, ainda quando pequeno, foi levado embora de Pala por sua mãe, a Rani Fátima, chocada com a educação sexual fornecida às crianças na ilha. A governante de Pala, que, como Huxley deixa bem claro, possuía uma falsa espiritualidade, misturada a ideais materiais como o progresso por meio da exploração petrolífera em conjunto com sua vizinha, a ilha de Rendang-Lobo (submetida a um regime ditatorial), só foi trazer Murugan de volta a Pala quando este já tinha sua personalidade formada. Falando da Rani Fátima, a comparação com Denis Burlap, pra quem já leu Contraponto, é inevitável...
3) Não creio que um autor como Huxley tenha tido o intento de passar uma mensagem tão escondida a ponto de permanecer décadas sem ser descoberta. Embora, ao escrever o livro, estivesse em uma fase de sua vida mais voltada ao espiritualismo, já havia feito críticas ácidas anteriormente, como em Contraponto e Admirável Mundo Novo, o que indica que suas lições nunca vieram tão escondidas como Olavo de Carvalho pretende demonstrar.
4) Já que estou aqui, aproveito pra dizer que a capa do livro é péssima, de dar vergonha a quem o leu, mesmo. Aí está ela:
Não dá pra ver bem, mas nas pílulas está escrito Moksha, que não tinha nada a ver com uma pílula e com essa imagem pejorativa, sendo, na verdade, o extrato de uma planta que os palaneses inseriam de vez em quando (segundo Huxley, a frequência variava de poucos meses em poucos meses a mais de um ano entre uma e outra ingestão) para obter autoconhecimento, ao contrário do Soma de Admirável Mundo Novo, que era utilizado por aqueles que desejavam fugir da realidade e com muito mais frequência (esse sim parecido com as pílulas da capa do livro)...
Minhas opiniões sobre o assunto:
1) Não possuo educação especial em literatura nem técnicas de redação, mas creio que o final de uma obra jamais deva ser revelado em um prefácio. Descobrir, antes de iniciar a leitura do livro propriamente dito, que Pala seria enfim destruída causou-me consideráveis aborrecimentos. A discussão, assim, deveria aparecer em um posfácio.
2) Vi em alguns blogs e fóruns muitos concordando com a opinião de Olavo de Carvalho, pois Murugan era de fato um palanense. Há, entretanto, um problema em tal lógica: o fato de o futuro Rajá compartilhar da nacionalidade dos demais habitantes da ilha é, se prestarmos um pouco de atenção, a única semelhança existente entre eles. Huxley nos adverte de que Murugan, ainda quando pequeno, foi levado embora de Pala por sua mãe, a Rani Fátima, chocada com a educação sexual fornecida às crianças na ilha. A governante de Pala, que, como Huxley deixa bem claro, possuía uma falsa espiritualidade, misturada a ideais materiais como o progresso por meio da exploração petrolífera em conjunto com sua vizinha, a ilha de Rendang-Lobo (submetida a um regime ditatorial), só foi trazer Murugan de volta a Pala quando este já tinha sua personalidade formada. Falando da Rani Fátima, a comparação com Denis Burlap, pra quem já leu Contraponto, é inevitável...
3) Não creio que um autor como Huxley tenha tido o intento de passar uma mensagem tão escondida a ponto de permanecer décadas sem ser descoberta. Embora, ao escrever o livro, estivesse em uma fase de sua vida mais voltada ao espiritualismo, já havia feito críticas ácidas anteriormente, como em Contraponto e Admirável Mundo Novo, o que indica que suas lições nunca vieram tão escondidas como Olavo de Carvalho pretende demonstrar.
4) Já que estou aqui, aproveito pra dizer que a capa do livro é péssima, de dar vergonha a quem o leu, mesmo. Aí está ela:
Não dá pra ver bem, mas nas pílulas está escrito Moksha, que não tinha nada a ver com uma pílula e com essa imagem pejorativa, sendo, na verdade, o extrato de uma planta que os palaneses inseriam de vez em quando (segundo Huxley, a frequência variava de poucos meses em poucos meses a mais de um ano entre uma e outra ingestão) para obter autoconhecimento, ao contrário do Soma de Admirável Mundo Novo, que era utilizado por aqueles que desejavam fugir da realidade e com muito mais frequência (esse sim parecido com as pílulas da capa do livro)...