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A Ilha (Aldous Huxley)

Ricardo87

Usuário
A Ilha (Island, em inglês) foi o último romance escrito por Aldous Huxley, famoso por obras como Admirável Mundo Novo e Contraponto. Retrata a existência de uma sociedade que buscava unir o melhor dos dois mundos - Oriente e Ocidente -, ou seja, espiritualidade e progresso, em um único lugar. Em Pala, a ilha idealizada onde Will Farnaby, o protagonista do livro, vai parar após ter seu pequeno veleiro destruído por uma tempestade quando velejava próximo à costa, os habitantes negam o "progresso pelo progresso", buscando algo que o autor já havia mentalizado e discutido anteriormente: uma forma de "utilitarismo superior". Em tal estilo de vida, cada habitante pergunta-se como suas ações podem contribuir para o seu desenvolvimento e o dos outros, e tudo na ilha é feito tendo a meditação - ponto central do livro, na minha opinião - como base. Existe, assim, uma mensagem muito importante que o autor procura transmitir, que é a de que devemos prestar atenção naquilo que estamos fazendo, o que pode parecer simples, mas na prática é difícil de ser aplicado, já que vivemos na geração das torrentes de informações e formas de entretenimento superficiais, momentâneas e insatisfatórias. É o parar para pensar por conta própria, fundamental, na visão de Huxley, para que, entre outras coisas, não vivamos "docilizados como poodles", à mercê de ditaduras disfarçadas.

O artigo sobre o livro na Wikipédia em português é ridiculamente pequeno e superficial, então aqui vai o link para o que está em inglês:

http://en.wikipedia.org/wiki/Island_(novel)

Bom, agora desejo falar de algo que me deixou coçando a cabeça, assim como deve ter sido motivo de reflexões para cada um que leu a versão da Editora Globo do livro: o famoso e controverso prefácio de Olavo de Carvalho. Pra quem já leu o livro em outra edição, recomendo a leitura de tal prefácio em uma livraria qualquer. Em resumo, o autor diz que a verdadeira mensagem do livro passou despercebida por gerações inteiras, que, no clima de otimismo da Contracultura hippie dos anos sessenta, não poderiam tê-lo compreendido a fundo. Segundo Olavo de Carvalho, o livro não seria a idealização de uma sociedade, mas sim um aviso, contido nas entrelinhas, do perigo contido na formulação de utopias, utilizando, para embasar tal lógica, o argumento de que transformações culturais como a materializada em Woodstock não teriam produzido uma sociedade melhor, mas sim um bando de viciados em drogas como o LSD. Nas palavras que encerram o prefácio, "Aldous Huxley escreveu este livro para nos advertir da culpa monstruosa que se oculta por trás da inocência dos idealistas." Para Olavo de Carvalho, é de enorme importância o fato de a destruição de Pala ter sido causada por um de seus próprios cidadãos, mais especificamente o futuro Rajá, o jovem Murugan, o que demonstraria a inviabilidade da sociedade idealizada como resposta aos problemas pelos quais passava o mundo na época da guerra fria.

Minhas opiniões sobre o assunto:
1) Não possuo educação especial em literatura nem técnicas de redação, mas creio que o final de uma obra jamais deva ser revelado em um prefácio. Descobrir, antes de iniciar a leitura do livro propriamente dito, que Pala seria enfim destruída causou-me consideráveis aborrecimentos. A discussão, assim, deveria aparecer em um posfácio.
2) Vi em alguns blogs e fóruns muitos concordando com a opinião de Olavo de Carvalho, pois Murugan era de fato um palanense. Há, entretanto, um problema em tal lógica: o fato de o futuro Rajá compartilhar da nacionalidade dos demais habitantes da ilha é, se prestarmos um pouco de atenção, a única semelhança existente entre eles. Huxley nos adverte de que Murugan, ainda quando pequeno, foi levado embora de Pala por sua mãe, a Rani Fátima, chocada com a educação sexual fornecida às crianças na ilha. A governante de Pala, que, como Huxley deixa bem claro, possuía uma falsa espiritualidade, misturada a ideais materiais como o progresso por meio da exploração petrolífera em conjunto com sua vizinha, a ilha de Rendang-Lobo (submetida a um regime ditatorial), só foi trazer Murugan de volta a Pala quando este já tinha sua personalidade formada. Falando da Rani Fátima, a comparação com Denis Burlap, pra quem já leu Contraponto, é inevitável...
3) Não creio que um autor como Huxley tenha tido o intento de passar uma mensagem tão escondida a ponto de permanecer décadas sem ser descoberta. Embora, ao escrever o livro, estivesse em uma fase de sua vida mais voltada ao espiritualismo, já havia feito críticas ácidas anteriormente, como em Contraponto e Admirável Mundo Novo, o que indica que suas lições nunca vieram tão escondidas como Olavo de Carvalho pretende demonstrar.
4) Já que estou aqui, aproveito pra dizer que a capa do livro é péssima, de dar vergonha a quem o leu, mesmo. Aí está ela:

34869.jpg


Não dá pra ver bem, mas nas pílulas está escrito Moksha, que não tinha nada a ver com uma pílula e com essa imagem pejorativa, sendo, na verdade, o extrato de uma planta que os palaneses inseriam de vez em quando (segundo Huxley, a frequência variava de poucos meses em poucos meses a mais de um ano entre uma e outra ingestão) para obter autoconhecimento, ao contrário do Soma de Admirável Mundo Novo, que era utilizado por aqueles que desejavam fugir da realidade e com muito mais frequência (esse sim parecido com as pílulas da capa do livro)...
 
Quando entrei nesse tópico, por um momento achei que esse romance era a base do filme A Ilha do Michael Bay, hehe.

Poxa, fiquei com uma vontade desgraçada de ler esse livro, hein Ricardo? Ao lado do Orwell, Huxley "profetizou" uma série de coisas que estão mais do que presentes não só no nosso dia-a-dia como desde que ele escreveu até hoje. É até meio assustador.
 
Lucas, já li em algum lugar que o filme do Michael Bay é, sim, baseado no livro do Huxley, mas é algo muito vago. De fato, a única semelhança que existe entre as duas obras é a menção a uma ilha, já que no filme ela sequer existe. É uma leitura que recomendo muito, pois como você disse, Huxley, assim como Orwell, profetizou diversas coisas presentes no nosso cotidiano. Sem contar que é, juntamente com Admirável Mundo Novo, Contraponto e As Portas da Percepção, uma das obras principais dele.
 

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