Lorelei nasceu nobre, filha do Marquês Moldor. Ela cresceu nas terras de seu pai, que era viúvo. Filha única, ela não tinha com quem brincar quando criança, oque a tornou uma garota muito solitária, até que conheceu Jason, o filho de um aldeão das terras de seu pai. Diferente das outras crianças, Jason nãos e sentiu intimidado pelo fato de ela ser nobre, e eles rapidamente se tornaram amigos, tendo apenas um ao outro pela maior parte da infância.
Para não correr o risco de irritar seu pai por ser amiga de um plebeu, Lorelei manteve essa amizade em segredo, e fingia que saía para brincar sozinha. Cnforme os anos passaram, eles foram tendo menos tempo juntos, pois coisas estranhas iam acontecendo no feudo. Pessoas desapareciam na calada da noite, para nunca serem vistas denovo, e os soldados e guardas não pareciam ser capazes de resolver esse misterio. Com os anos, o povo foi se acostumando até mesmo a essa estranheza, mas evitava sair à noite.
A vida de Lorelei era boa e alegre, até que um dia, quando tinha 12 anos, ela saiu do castelo para ver Jason e não o encontrou em lugar algum. Indo à casa do menino, descobriu que ele havia sumido na noite anterior, e seus pais estavam muito preocupados. Por todo o dia Lorelei procurou pelo amigo, o medo crescendo cada vez mais em seu coração, até que, já com a noite começando, decidiu contar toda a história de sua amizade a seu pai, e pedir sua ajuda para achar o menino.
Nas portas do castelo, Lorelei avistou seu pai, envolto numa capa negra e andando a passos apressados, com um ar preocupado. Ela teve um palpite de que não deveria ser vista, então decidiu segui-lo e ver aonde ele estava indo. Após alguns minutos caminhando por partes estranhas e vazias do castelo, ele chegou a uma espécie de alçapão, escondido num velho estoque abandonado. Seu pai abriu o alçapão e entrou, e a menina entoru atras, chegando ao que parecia ser algum tipo de catacumba. Um corredor longo deu algumas voltas, sempre descendo, um cheiro de podridão e morte, misturado com algo pungente e que lhe queimava as narinas permeava o ar. Anos depois, viria a descobrir que era o cheiro de amônia e enxofre, mas na época sabia pouco demais das coisas.
O corredor acabou por desenbocar num amplo cômodo de pedra negra, que parecia vindo de um pesadelo. A sala estava repleta de gaiolas, no chão ou penduradas no teto, contendo pessoas deformadas e multiladas, parecendo apenas meio vivas, e algumas mal pareciam humanos mais, pervertidos em algo terrível e inominável. Em alguns cantos, ganchos grossos como os de alçougue desciam do teto, atravessando corpos morts e em estado de semi-decomposição, pendurando-os, e haviam bancadas co vários tipode de frascos co líquidos estranhos, e tomos negros e velhos. E um canto, um enorme caixote transbordava com ossos, e um raque ao lado deixava á mostra instrumentos estranhos e assustadores, para os quais poucas mentes seriam doentias o bastante para conceber uma função. E no centro da sala, em uma espécia de mesa de pedra, estava deitado Jason, branco como cal, quase inerte, como se estivesse drogado. Do lado da mesa, seu pai mexia em alguns instrumentos e líquidos, consultando um livro estranho. Parte do tronco de Jason estava coberto por um pano branco enxarcado de sangue, que pingava em gotas negras no chão.
Tudo deixou a mente de Lorelei. Apenas medo e desespero existiam. E ela correu. Correu até deixar o castelo para trás. Correu até deixar o vilarejo para trás. E quando as sombras das árvores a cobriram, ela chorou. Chorou até que o cansaço e a tristeza e levasem ao sono. Ao acorddar, de manhã, sua mente estava mais clara. Lorelei notou que havia deixado Jason para trás. Ela o abandonara, mas talvez não fosse tarde demais, então a garota correu devolta para o castelo.
Lá, encontrou seu pai, como olhando para ela preocupado com sua aparencia e seu desaparecimento na noite anterior, como se nada houvesse feito, como se nunca houvesse estado naquela sala negra. Lorelei perguntou a ele oque ele fizera lá, e porque estava afzendo aquelas coisas horríveis. Assustado com a filha ter descoberto, o Marquês tentou explicar. "Você não entende" ele dizia, "Eu estou tão perto, nós vamos ter ela devolta". Mas Lorelei não queria ouvir. Havia uma vassoura perto, e antes que seu pai notasse, ela pegou o cabo em mãos e o quebrou na cabeça dele, fazendo-o desmaiar.
Ela correu até a sala escura, na esperança de encontrar seu amigo, mas essa esperança veio a morrer quando viu o corpo destruído, reduzido a um quebra-cabeças humano. E o mundo de Lorelei caiu. Lentamente, com um passo contínou e meio desacordado, ela andou até o vilarejo, e procurou o representante. Com o mínimo possível de palavras, lhe explicou tudo oque havia descoberto, e que a culpa era do Marquês. Deixou que os aldeões decidissem oque fazer do castelo e de Moldor. Ela não queria maisesse sobrenome. Ela não tinha mais pai.
Juntou em seu quarto e na cozinha do castelo o mínimo necessário para sobreviver na estrada, e partiu sem dizer nada a ninguém. Dias ficou an estrada, até encontrar um estranho mercador viajante. Ele lhe perguntou porque uma menina caminhava sozinha daquele jeito. Ela não queria falar, não pretendia falar, mas algo nos olhos daquelhe homem velho e gordo tocou fundo na sua alma. Alguma luz estranha e fraca, dos olhos de quem já viu coisas terríveis, olhos como os seus. Ela desabou em prantos, e lhe contou tudo. Foi a ultima vez que Lorelei contou sua história.
Vendo o desespero da menina, e a dor que ela tinha por não ter agido para ajudar o amigo quando podia, o mercador não resistiu, e contou que ele havia sido no passado um grande aventureiro, um paladino da bondade, que destruíra muitas coisas vís e salvara povos, mas quando a dor do que viu tornou-se grande demais, abandonara sua vida de luta, e decidiu viver do comércio. Disse que jamais desejaria aquela vida a alguém, mas que com uma dor como a dela, aquilo podia ser o único modo de ela se perdoar, ou redimir sua falha.
Pelos cinco anos seguintes, Lorelei viveu com o mercador, trabalhou com ele, e treinou sob sua tutela. Aprendeu sobre magia, sobre os deuses e sobre a fé, aprendeu sobre a espada e a armadura, o aço e o sangue, e muito sangrou, e muita dor teve seu aprendizado, até que ela terminou, e o mercador (cujo nome nunca veio a descobrir, pois ele usava um diferente em cada cidade que passava) lhe disse que nada lhe restava para ensiná-la, e ela deveria aprender o resto sozinha. Abriu um baú, e de lá tirou uma armadura e uma espada, dizendo que as comprara para quando ela fosse viajar sozinha. Com um adeus e esse presente eles se separaram, e nunca mais tornaram a se ver.
Por mais dois anos Lorelei lutou, viajou e explorou. Criaturas negras foram destruídas, vidas foram salvas e erros desfeitos, mas jamais ela se curou de sua ferida, jamais se perdoou pelo que aconteceu a Jason, jamais foi capais de se afeiçoar verdadeiramente a alguém, e jamais conseguiu completar uma noite de sono sem acordar algumas vezes, sob pesadelos de sangue, ossos, amônia e enxofre.