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A Estrela do Jordão Órgão dos Anjos, da Côrte de Santa Dica

JLM

mata o branquelo detta walker
[size=x-large]A Estrela do Jordão Órgão dos Anjos, da Côrte de Santa Dica[/size]
Por Jefferson Luiz Maleski



Perto da venda, na beira da estrada empoeirada, debaixo de uma gameleira o velho observava os meninos chutarem uma velha bola de couro tentando marcar gols entre as traves de um colchete aberto. Era uma correria só e apesar do calor seco de agosto os meninos não paravam. Foi assim a tarde toda, pois era sábado e não tinham aula, até que o dono da bola montou em sua bicicleta e se foi embora, faceiro por ter marcado quatro gols. Sem a bola de couro no chão e com a bola de fogo no céu indo embora também, Bento, o último dos peladeiros, aproximou-se e sentou em frente ao velho. Observou calado ele enrolar o fumo grosso na palha fina com cuidado até a perfeição para depois acender com um palito de fósforo o cigarro quase artesanal. O cheiro forte entrou nas narinas de Bento quando o velho deu a primeira baforada e olhou para ele. Não era preciso dizer palavra, ambos sabiam que havia chegado a hora.

- Qual causo o sinhô vai contá hoje, vô?

- Quar ocê quer que eu conte: o do romãozinho, o do negro d’água ou o do pé-de-garrafa?

- Essas não vô, conta uma diferente. Uma de verdade.

- Todas elas são verdade, meu fii. – respondeu o velho antes de dar outra baforada.

- Tá, mas conta uma história que alguém daqui viu e não uma que contaram que outro contou que outro contou e não dá pra saber donde veio.

O velho enfiou a mão no bolso e tirou a boceta onde guardava o fumo. Em um compartimento à parte, pegou um caroço de milho e mostrou à frente dos olhos do garoto.

- Tudo bom então vô contá a história desse caroço de milho que trago comigo faz muito tempo e de como ele prova um milagre que eu vi acontecer.

- Mesmo?

- Sim, com estes olhos que a terra há de comer. Você já ouviu a história da santa guerreira?

- O senhor fala da Santa Dica? Só escutei a professora falando que ela era muito conhecida antigamente. Ela era santa mesmo, vô? Você conheceu ela?

- Ê, meu fii, seu avô fez bem mais que conhecer a Benedita, o seu avô foi o principal capataz dela na época em que gente do Brasil inteiro vinha em romaria pedir milagre. Era um mundão de gente que não acabava mais. Todos tinham ficado sabendo da menina que voltou dos mortos depois de três dias, igual o Nosso Senhor. Eu era um mulecote como ôce naquela época mas lembro ainda de tudo. Chegava gente doente e saía gente curada. O pai da Dica era cumpadre do meu pai e prometeu que eu ajudaria a cuidar dela quando ela ficou mocinha. E eu aceitei, senão seria só pegar na enxada o tempo todo. Assim, eu mudei pra casa da Dica ainda novo, como muita gente fez, chegava de longe e ficava por estas bandas. Tudo ia bem até os coroner começar a ter ciúmes da Santa, Bento. Ela tinha umas ideias boas até, dizia que a terra era de Deus e que deveria ser repartida igual pra todo mundo. Queria criar uma cidade só com gente que iria esperar a volta do Redentor, mas os chefão da época não gostou disso nem um pouco. Os padre também não gostava quando ela fazia milagres, rezava as missa e conversava com os espírito do Doutor Fritz, da Princesa Silveira e do Comandante. Diziam que ela tava endemoniada. Não demorou muito tempo pro Governador mandar as tropas prenderem a Santa e acabarem com o movimento que eles chamavam de insurreição contra a República.

- E o que aconteceu, vô, eles mataram a Santa?

- Mas o quê, meninu! A Santa não podia morrer de morte matada não. Eu mesmo vi com esses olhos quando o pelotão todo disparou contra a casa da Dica, as balas que acertavam ela, enrolavam nos seus cabelos compridos e rolavam por ela até chegarem ao chão. E ela sorria naquela noite como se o próprio Pai estivesse segurando a sua mão. Mesmo assim, acabaram acertando três dos nossos. Quando ela viu que não conseguia proteger todo mundo dos soldados, mandou o povo todo atravessar o Rio do Peixe, que passava atrás da casa. Depois, pegou uma sucuri enorme e amarrou no banhado perto do rio pros soldados não atravessassem o rio tamém. Os soldados ficaram bestas vendo aquilo e não teve um fii de Deus com coragem de pisar no banhado. E ficaram mais bobos ainda quando viram ela atravessando o rio andando em cima das águas, igualzim Nosso Senhor fez.

- Então todo mundo escapou dos sordado?

- Infelizmente não, tinha outro tanto do outro lado do rio só esperando a gente chegá. A Dica foi presa, mas não durou muito tempo na cadeia porque o povo quis ela solta.

- E aí acaba a história, vô?

- Acaba não, meu fii, ainda tem as guerra que a gente lutou pra Santa em Sumpaulo e em Minas, contra a Revolução de 32, depois contra a Coluna Prestes. Eu era um dos soldados da Santinha que o povo chamava de “pé com palha e pé sem palha”. Graças as bênçãos dela nenhum homem que lutava nas guerra por ela morreu. A gente atravessava ponte cheia de mina de olhos vendados e nada acontecia. E quando as bala dos inimigos batiam na gente, advinha no que elas viravam?

O menino arregalou os olhos enquanto olhava para aquilo que o velho ainda segurava na mão.
 
Opa! Se Antônio Conselheiro tivesse nascido em Minas ele seria sua Santa Dica. E você, JLM, seria Euclides da Cunha. Ok, em Sertões tem um tratado geológico. E Doutor Fritz, putz! Viagem! Jesus Maria José! Não sei por que, mas quando li sobre Santa Dica me lembrei da garota do O Chamado. Não tem nada a ver.

E nunca ouvi ninguém dizer caroço de milho na minha vida. Já ouvi sabugo de milho. Mais exatamente "sabugo de mi".
 
vc só confundiu os estados, lhrodovalho, apesar de eu ñ citar, a santa dica é personagem histórica de goiás. e sim, o movimento dela lembra mto o de conselheiro.
 

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