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A divina comédia - Dante

Breno C.

Usuário
Levei quase dois mesês para acabar de ler O inferno, por pura falta de tempo, visto que esse livro é um pouco complicado (pelo menos para mim). O que entendi é basicamente: Dante usa o livro para falar dos atos que para "ele" fazem com que o uma pessoa vá para o inferno, além de política, religião e sentimentos. Não achei uma grande obra, como todos dizem, acabou nem me impressionando, mas ainda falta ler os dois outros livros.

Alguém já leu O inferno? Alguma opinião? Deve ler O purgatório e O céu?
 
RE: O inferno - A divina comédia - Dante.

Quando se conhece a História por trás da história o livro fica mais charmoso, dizem. De qualquer forma, eu achei que o Inferno é melhor do que os outros dois. A leitura fluiu mais fácil, não sei se pela curiosidade das descrições, e mesmo pelo fato de muitas das imagens representadas na obra do Dante fazerem de certa forma parte de nosso imaginário.
 
RE: O inferno - A divina comédia - Dante.

O Inferno é realmente mais interessante do que o Purgatório e o Paraíso. As imagens retratadas lá sobre o que acontece em cada círculo, as torturas e as pessoas que lá se encontram despertam mais a curiosidade de quem lê (de um modo geral) do que as outras duas partes, que são mais de contemplação e reverência religiosa.

E ler A Divina Comédia sem ser em uma boa edição com notas (a da Editora 34 é a melhor no mercado, pelo que me consta) é perder dezenas de referências, visto que Dante faz questão de colocar várias pessoas que eram suas contemporâneas nos seus "devidos lugares" no decorrer da obra, tanto como crítica social e política como por prazer e mera vingança pessoal também.
 
RE: O inferno - A divina comédia - Dante.

Li apenas numa versão tosca em prosa, mas algum dia pretendo lê-la como poesia. Achei interessante os "níveis" de detenção para cada ato muito bacanas! Quanto às referências feitas por Dante, vou ficar devendo algum comentário na época que li era muito novo e não ligava para isso.
 
RE: O inferno - A divina comédia - Dante.

Acho que na verdade ele é um grande sacana, assim como o Da Vinci, que colocava alegorias e icones anti-catolicos nas suas obras encomendadas pela igreja...
 
RE: O inferno - A divina comédia - Dante.

Eu tb achei muita pretenção de Dante, colocar certas personalidades no inferno...um numero de padres e papas... mas eu gostei muito de ler A divina comédia toda. O inferno , sem dúvidas é mais polêmico, o purgatório , sendo uma zona de transição é bem morno e entrar no céu foi muito gostoso, a primeira visão poética eu adorei. Só imaginava um final mais romantico....xD
 
RE: O inferno - A divina comédia - Dante.

Anica disse:
Quando se conhece a História por trás da história o livro fica mais charmoso, dizem.
É verdade, na introdução da edição que tenho tem uma breve biografia da vida dele, e aí pode-se ver quais as motivações que o fizeram escrever a obra, a função que ela tinha pra ele.

Tilion disse:
E ler A Divina Comédia sem ser em uma boa edição com notas (a da Editora 34 é a melhor no mercado, pelo que me consta) é perder dezenas de referências, visto que Dante faz questão de colocar várias pessoas que eram suas contemporâneas nos seus "devidos lugares" no decorrer da obra, tanto como crítica social e política como por prazer e mera vingança pessoal também.
Felizmente a edição que estou lendo tem essas notas, e isso realmente ajuda muito a compreensão, não só das figuras contemporâneas a ele mas também citações de outras mitologias.
 
RE: O inferno - A divina comédia - Dante.

Estou lendo a edição da 34. Linda!
Infelizmente estou tendo que andar depressa demais com a leitura, o que não é, de jeito nenhum, apropriado pro livro... não que eu esteja lendo correndo, mas sinceramente, acho que pra entender completamente eu teria que ficar voltando as páginas e relendo os versos várias vezes... e não estou fazendo isso, não tanto quanto gostaria pelo menos.

Até o meio do livro eu ainda estava empolgada, mas foi ficando cansatiivo... se não fossem as notas de rodapé eu já teria desistido de ler. Afinal qual a graça de ler sem saber quem são as pessoas mencionadas por Dante no livro? Se eu já fico boiando em algumas referências a personagens mitológicos, imagina aos contemporâneos dele...
Mas enfim, é cansativo, MUITO, mas vale a pena. A descrição de cada circulo, das almas, das penas que sofrem, é muito interessante...
Achei legal o canto que fala do Paolo e da Francesca... e as personalidades do limbo também são interessantes...
E, é claro, os portões do inferno:

Vai-se por mim à cidade dolente,
vai-se por mim à sempiterna dor,
vai-se por mim entre a perdida gente.

Moveu justiça o meu alto feitor,
fez-me a divina potestade, mais
o supremo saber e o primo amor.

Antes de mim não foi criado mais
nada senão eterno, e eterna eu duro.
Deixai toda esperança, ó vós que entrais.

Assustador...
 
RE: O inferno - A divina comédia - Dante.

A parte do Inferno,quando a leitura começa fluir,é genial.Já li as tês partes faz algum tempo,não lembro de muitos detalhes
mas a entrada no paraíso me impressionou muito,com as analogias sobre a degeneração da igreja(claro,que na opnião de Dante)e o papa,tudo isso regado a seres mitólogicos e luzes de anjo.
Me lembro que parecia carro alegórico de desfile de escola de samba :mrpurple:
 
RE: O inferno - A divina comédia - Dante.

Eu li a edição da 34, linda linda linda...Talvez hoje a gente não se impressione tanto, pois possuimos referenciais demais para o inferno, mas em pleno século XIII escrever coisas como o inferno gelado e NÃO escrever em latim, dando todas as bases para o italiano atual, esse florentino deu o que falar...

O que mais me fascina é a imaginação dele, o modo como descreve inferno, purgatório e céu como se lá realmente estivesse, e como organiza o céu de acordo com a cosmogonia de Ptolomeu, como ele resolveu o paradoxo do lugar no além mundo para aqueles que não acreditavam em Cristo porque vieram antes dele, ele escreveu há quase 800 anos imagens que nós ainda usamos (ainda que sem entender) e criou uma mitologia bem fora dos padrões da época

Mas digo que aproveitei muito mais o livro por causa das anotações..e viajei junto com Dante e Virgílio (e depois Beatriz)..

Vcs já ouviram dizer que o livro em que vc para de ler a Divina Comédia é o seu lugar na além vida?
 
RE: O inferno - A divina comédia - Dante.

Os 3.

Se for assim, Kika, eu vou parar no Purgatório. Ainda bem que escapei do Inferno! :rofl:

Parei de ler na época por ter achado muito difícil e um pouco chato. Pretendo adquirir essa edição da 34 no futuro e tentar de novo.
 
RE: O inferno - A divina comédia - Dante.

Tilion disse:
E ler A Divina Comédia sem ser em uma boa edição com notas (a da Editora 34 é a melhor no mercado, pelo que me consta) é perder dezenas de referências

A edição da 34 está longe de ser a melhor :sim:

A edição da Divina Comédia com mais notas é a da Itatiaia, traduzida pelo Cristiano Martins e com notas do mesmo. Possui também um estudo biográfico e político da vida do Dante Aighieri. É de longe a edição brasileira mais completa do ponto de vista elucidativo. Possui todas as ilustraões do Gustave Doré que ajudam bastante na hora de se entender os aspectos fisiológicos e geográficos do Inferno: a linguagem cinematográfica (ou melhor, o cinema é uma cópia descarada do Florentino) de Dante não deixa escapar nada...

A melhor tradução, por sua vez, é a do Vasco de Graça Moura publicada no Brasil pela editora Landmark. Ele foi um dos poucos tradutores que preservou a variação linguística da Divina Comédia, além de ter criado um texto metrificado e rimado. A edição da Landmark possui o texto bilíngue e um estudo inicial falando da tradução textual.

A segunda melhor tradução é incompleta e foi feita por Jorge Wanderley, publicada pela Editora Record e também pela Abril Cultural, naquela coleção dela pseudo-de-luxo. Ele traduziu apenas o Inferno pois infelizmente morreu antes de concluir o hercúleo trabalho, mas a tradução dele do Inferno é de primazia grande, preservando também a linguagem chula e os circunlóquios infernais.

As outras edições são inteiramente complementares. Uma mescla de traduções medianas e ruins: Wanderley e Graça Moura suplantam em todos os aspectos as outras traduções existentes no mercado.

Destarte, a Editora Thesaurus publicou uma edição da Comédia donde ouvi dizer possuir mapas e um bom guia de notas e comentários. Não checado ainda, pretendo um dia, pois: "Além de ter uma ampla "Introdução" e uma breve análise da terza rima, o esquema poético adotado por Dante no poema, esta versão contém vários mapas, ilustrações e gráficos que ajudam o leitor a visualizar a jornada do protagonista pelas três regiões do mundo post mortem católico-medieval (Inferno, Purgatório e Paraíso). "

(agora se você quer uma edição realmente completa.... Procure por edições italianas. Referências que o Alighieri fez geram discussões infinitas, como por exemplo quem é o Veltro...)

========

Fora isso, posso dizer que a Divina Comédia é um dos maiores poemas que já foram escritos, de uma natureza enciclopédica que pouquíssimos conseguiram. Minha parte preferida é o Paraíso, pois, como disse T.S. Eliot, é de fato o ponto mais alto que a poesia alcançou e que muito provavelmente nunca alcançará novamente...

========

E ah, sim, claro... O mais importante... Falar que leu Dante e não leu nada de Virgílio é a mesma coisa de falar que leu Camões, Milton, Ariosto (...) e não leu nada de Virgílio.
[size=xx-small]Resenha, cof cof, minha das Bucólicas[/size]
Ler Virgílio é imprescindível para se entender a genialidade da obra do Alighieri...

Recomendo inclusive lerem esse link:
http://ericonogueira.blogspot.com/2009/11/inhians-spirantia-consulit-exta.html
para compreender o porque do Virgílio ser frequentemente aclamado como o maior de todos os poetas (opinião imperialista e errônea, diga-se de passagem: o oriente também produziu bons poetas) -- e para quem abriu a Divina Comédia, entender o porque da devoção do Dante pelo mesmo...
 
Q

Mavericco disse:
Tilion disse:
E ler A Divina Comédia sem ser em uma boa edição com notas (a da Editora 34 é a melhor no mercado, pelo que me consta) é perder dezenas de referências

A edição da 34 está longe de ser a melhor :sim:

A edição da Divina Comédia com mais notas é a da Itatiaia, traduzida pelo Cristiano Martins e com notas do mesmo. Possui também um estudo biográfico e político da vida do Dante Aighieri. É de longe a edição brasileira mais completa do ponto de vista elucidativo. Possui todas as ilustraões do Gustave Doré que ajudam bastante na hora de se entender os aspectos fisiológicos e geográficos do Inferno: a linguagem cinematográfica (ou melhor, o cinema é uma cópia descarada do Florentino) de Dante não deixa escapar nada...
[...]
Faz muito... Muito tempo que eu tento ler Dante. Comecei umas vinte vezes e não passei do Canto XV do Inferno. Cheguei à conclusão que eu era desprovido de conhecimento para ler esta obra. Na época detestava teologia, Mitologia e História; também não era muito de ler. Dois anos atrás comecei a gostar de livros de história e conheci Heródoto; Heródoto me apresentou a Mitologia; comprei alguns livros e comecei a me interessar pelos escritores Gregos. Dos gregos para filosofia. A Filosofia me obrigou a ler teologia e espiritualidade ( pois não acredito que exista filósfosos materialistas - materialistas não exergam além da matéria) e esse circulo que eu criei me fez crer que eu estava pronto para ler Dante.

Que nada! Não consigo ler livros em forma de cantos/poemas; acho muito bonito e acredito que Dante me fez gostar mais desse estilo e ja comecei a tentar ler algumas obras de Virgílio, mas ainda não consigo. Ja li muitas outras obras poeticas, no entanto, somente como narração, como as novelas de Shakespeare, Eurípedes, Sófocles e outros; mas, poema... por mais que eu tente, não consigo. Cheguei até pensar que seria impossível ler A Divina Comédia.

Semana passada descobrir este site http://www.stelle.com.br/index.html e descobrir esta tradução em forma de narração ou prosa (como quiser chamar) e era a forma que eu sempre sonhei para a Divina Comédia. Li o livro com tanto gosto que quando terminei peguei para ler novamente e ja estou na metade.

O Tradutor é Helder. Acredito que é o melhor tradutor português da Divina Comédia e acho difícil alguém supera-lo, porque o cara tem um vasto conheciemnto em Dante, filosofia, línguas estrangeira, história, poética, teatro, teologia e adora traduzir livros. Isso fez d'ele o cara perfeito para traduzir este livro.

Bom, fica ai a dica. Ele não terminou de traduzir o paraíso porque não encontrou editoras para publicar a obra, então ele disponibilozou gratuitamente na net. Construiu um ótimo site onde é possível ler na íntegra, marcando o texto e tudo mais. Além disso, há um acervo enorme de notas, imagens etc. O cara também é fera em programação.

Quem baixar a obra, se possível, compra um livro dele - no site tem um link para o blog e todas as informações - e manda algumas mensagens pedindo para dar mais atenção à esta obra para não deixa-la inacabada.




Abraços
 
RE: O inferno - A divina comédia - Dante.

A maioria desiste de ler e/ou não é tocado por não dar a devida atenção ao trabalho intenso e minucioso de Dante. Mesmo em tradução, percebe-se que as figuras são belíssimas e os versos construídos com primazia.

É genial. Não é qualquer um que tem fôlego e talento pra escrever uma obra de tal magnitude. Deve ser por isso, inclusive, que temos poucas poesias épicas na história literária.
 
RE: Q

Vercingetórix disse:
Mavericco disse:
Tilion disse:
E ler A Divina Comédia sem ser em uma boa edição com notas (a da Editora 34 é a melhor no mercado, pelo que me consta) é perder dezenas de referências

A edição da 34 está longe de ser a melhor :sim:

A edição da Divina Comédia com mais notas é a da Itatiaia, traduzida pelo Cristiano Martins e com notas do mesmo. Possui também um estudo biográfico e político da vida do Dante Aighieri. É de longe a edição brasileira mais completa do ponto de vista elucidativo. Possui todas as ilustraões do Gustave Doré que ajudam bastante na hora de se entender os aspectos fisiológicos e geográficos do Inferno: a linguagem cinematográfica (ou melhor, o cinema é uma cópia descarada do Florentino) de Dante não deixa escapar nada...
[...]
O Tradutor é Helder. Acredito que é o melhor tradutor português da Divina Comédia e acho difícil alguém supera-lo, porque o cara tem um vasto conheciemnto em Dante, filosofia, línguas estrangeira, história, poética, teatro, teologia e adora traduzir livros. Isso fez d'ele o cara perfeito para traduzir este livro.

Tradução em prosa?...
O Dante fala disso no Canto XXVIII:

"Chi poria mai pur con parole sciolte
dicer del sangue e de le piaghe a pieno
ch'i' ora vidi, per narrar più volte?"


Traduzido por Vasco Graça Moura por:

"Podia, alguém, só por palavras soltas
dizer do sangue e chagas que tão plenos
então lá vi, por mais que desse voltas?"


Palavras soltas quer dizer em prosa; ou seja, Dante pergunta se alguém, com palavras soltas, seria capaz de descrever o que se passava no inferno naquela ocasião, pois as palavras soltas eram dadas como menos artísticas e mais livres.
Essa sobrepujança do verso em relação à prosa é retratada no final do Purgatorio, canto XXXIII:

"S'io avessi, lettor, più lungo spazio
da scrivere, i' pur cantere' in parte
lo dolce ber che mai non m'avrìa sazio;

ma perché piene son tutte le carte
ordite a questa cantica seconda,
non mi lascia più ir lo fren de l'arte."


Que Vasco de Graça Moura traduz como:

"Se eu tivesse, leitor, mais longo espaço
para escrever, só lá cantava em parte
doce beber de que jamais sou lasso;

mas porque meu papel cheio se farte
que este segundo cântico se arredonda,
não me deixa mais ir o freio da arte."


E para checar a tradução de qualquer tradutor da Comédia, gosto sempre de tomar como exemplo o final do canto XXI do Inferno:

"ed elli avea del cul fatto trombetta.

O tradutor colocou como:

"O demônio então, os respondeu de volta com o ânus em som de trombeta."

O correto, como Vasco de Graça Moura traduz, é:

"e ele tinha do cu feito trombeta"

Onde a palavra cul empregada por Dante deve ser traduzida para cu; e não para ânus como o Cristiano Martins ou o tradutor do link em questão o fez: essa linguagem chula é comum no Inferno, pois, como Dante diz no canto XXXII, ele quer ter "le rime aspre e chiocce": uma rima áspera e roufenha para caracterizar o Inferno.

Outro teste consiste em ver o final do canto XVIII do Inferno, onde fala dos aduladores. O tradutor do link coloca:

"Lá vimos gente imersa no esgoto asqueroso. Não era fácil reconhecer os condenados, todos cobertos de merda."

Uma tradução correta do original (apesar de ter omitido certas partes, como bastando olhar no original):

"Quivi venimmo; e quindi giù nel fosso
vidi gente attuffata in uno sterco
che da li uman privadi parea mosso.

E mentre ch’ío là giù con l’occhio cerco,
vidi un col capo sì di merda lordo,
che non parëa s’ era laico o cherco."


Vasco de Graça Moura traduz como:

"Lá viemos; e lá no baixo fosso,
vi gente chafurdada em tal esterco
qual de humanas privadas fora grosso.

E enquanto lá ao fundo o olhar acerco,
vi um cheiro de merda até ao bordo
da cabeça, não sei se laico ou clerco."

[size=xx-small]Nota do Tradutor: usa-se clerco ao invés de clérigo.[/size]

Neste mesmo canto, vamos dar uma olhada em seu final, quando Virgílio aponta Thaís:

"di quella sozza e scapigliata fante
che là si graffia con l'unghie merdose,
e or s'accoscia e ora è in piedi stante.

Taide è, la puttana che rispuose
al drudo suo quando disse "Ho io grazie
grandi apo te?": "Anzi maravigliose!"."


O tradutor do link coloca como:

"- Vês aquela rameira suja que se coça de modo asqueroso? Ela é a prostituta Taís. Mas agora vamos, pois já vimos o suficiente."

Vasco graça Moura traduz como:

"dessa suja rameira desgrenhada,
que se está a arranhar de unha merdosa
e ora se agacha, ora ei-la levantada.

É Taís; puta: disse pressurosa,
ao drudo seu que lhe pergunta "Graça
algumas vês em mim?": "Maravilhosa!"


O tradutor do link omite o "merdoso" e abranda o termo puta do original dantesco...

Essa discussão de traduções acaba caindo num contexto parecido com o Ulisses do Joyce, onde o Houaiss emprega palavras sujas e de baixo calão (porra!) na medida em que a Bernardina abranda tais termos (que droga!)... Afinal, para Joyce, em sua estada em Roma (onde ficou bêbado e foi assaltado), a única coisa de boa que a Itália havia produzido fora a Divina Comédia, e que a literatura italiana começou e acabou com Dante: digamos que Joyce não gostou muito de Roma, tendo passado maus bocados por lá...
 
RE: O inferno - A divina comédia - Dante.

Ótimos argumentos Maverícco, mas acho que você não entendeu o que eu disse. Veja que as comparações dos versos que você apresenta não tem diferença quanto ao fundo - somente na forma - e como eu tinha dito, eu não estava preocupado com a forma, ou seja, para mim, a forma era irrelevante. Veja este exemplo que você colocou. Mesmo que a forma correta seja a do Vasco da Graça, o sentido das duas é o mesmo.

Mavericco disse:
Helder L. S. da Rocha
"O demônio então, os respondeu de volta com o ânus em som de trombeta."

O correto, como Vasco de Graça Moura traduz, é:

Vasco de Graça Moura
"e ele tinha do cu feito trombeta"
Sobre isso eu não concordo com os argumentos do tradutor Vasco da Graça quando ele diz que essa linguagem acima é comum no inferno. A linguagem, de fato, é comum no inferno, mas quem teve que dize-las, ou transmiti-las foi Dante, ou seja, cabe a ele a interpretação. Dante não era uma alma do inferno, ele so estava de passagem, portanto o sentido da forma da palavra "cul" teria que ser atribuído pela natureza do espírito de Dante; não pela natureza das almas que estavam no inferno.

Se eu fosse encarregado por um jornal, por exemplo, de escrever uma matéria sobre o que acontece dentro de um presídio, eu não ia dizer ao vivo palavrões, como em Tropa de Elite. :)

A Tradução de Vasco de Graça Moura - como você mesmo mostra - tenta preservar o original, o estilo poético; enquanto que a tradução feita pelo Helder L. S. da Rocha preocupa em mostrar o fundo da história, dos acontecimentos, da narração.

Veja o que ele disse:
Meu objetivo foi contar a história narrada por Dante em seus versos sem preocupação com a forma poética . Procurei usar uma linguagem moderna preservando sempre as intenções do autor. (Helder L. S. da Rocha)

Você fez uma comparação muito boa para mostrar a diferença entre os dois estilos, e ficou claro qual o mais fácil de entender. Eu, como já disse acima, não consigo entender muito o fundo, a essência de A Divina Comédia em forma de poema ou canto, fico totalmente perdido; enquanto que a narração feita pelo Helder L. S. da Rocha me fez entender toda a história de forma muito prazerosa.

Antes de ter lido por esta tradução eu tinha feito várias comparações entre os tradutores que preservaram o estilo poético para esta feita pelo Helder L. S. da Rocha e não notei diferença entre o fundo da história; foi o que eu levei em conta.

Bom, resumindo, fica assim então: A Tradução do Vasco de Graça Moura fica com o título de a melhor tradução portuguesa em forma poética; enquanto que a tradução feita pelo Helder L. S. da Rocha fica como sendo a melhor em forma de narração ou prosa. :anjo:

Lembrando que a tradução está incompleta e ele não fez uma revisão minuciosa para uma publicação em livro. Ele diz que a falta de editoras o desmotivou. Contém alguns erros que não atrapalha. Mas acredito que quando for publicada (se for) será muito melhor.

Abraços
 
RE: O inferno - A divina comédia - Dante.

Ah, sim... Entendi agora @_@
De fato, a tradução dele prosa é muito boa, se comparada com uma edição em prosa que possuo aqui em casa com erros bem grotescos... Além de ser a única forma de se dar uma checada na Divina Comédia sem ter que abrir um livro e todas essas coisas que dá preguiça só de pensar...

O fundo da Divina Comédia é de fato bastante complexo de ser entendido: além das referências pessoais e mitológicas, Dante cria toda uma topologia dos lugares onde passa, fazendo constantes comparações, dizendo que aquilo é como se fosse aquilo... O Inferno costuma ter essa característica mais presente e marcante, que vigora até mais ou menos a metade do Purgatório e entra em transição para um Paraíso recheado de linguagens muito mais filosóficas do que referenciais ou topológicas (como se o Inferno e o Purgatório fossem superficiais e o Paraíso essencial)

Mas, afinal, oras, a Divina Comédia (inicialmente chamada de "Aqui começa a Comédia escrita por Dante Alighieri, florentino de nascença e não de costumes"; depois apenas de "Comédia" e mais tarde ganhando o epíteto de Divina por Boccaccio, o autor de O Decamerão) é uma obra-prima que, como qualquer outra, merece ser relida e re-re-re-(...)-lida quantas vezes forem impossíveis
 
RE: Q

Mavericco disse:
Neste mesmo canto, vamos dar uma olhada em seu final, quando Virgílio aponta Thaís:

"di quella sozza e scapigliata fante
che là si graffia con l'unghie merdose,
e or s'accoscia e ora è in piedi stante.

Taide è, la puttana che rispuose
al drudo suo quando disse "Ho io grazie
grandi apo te?": "Anzi maravigliose!"."


O tradutor do link coloca como:

"- Vês aquela rameira suja que se coça de modo asqueroso? Ela é a prostituta Taís. Mas agora vamos, pois já vimos o suficiente."

Vasco graça Moura traduz como:

"dessa suja rameira desgrenhada,
que se está a arranhar de unha merdosa
e ora se agacha, ora ei-la levantada.

É Taís; puta: disse pressurosa,
ao drudo seu que lhe pergunta "Graça
algumas vês em mim?": "Maravilhosa!"


O tradutor do link omite o "merdoso" e abranda o termo puta do original dantesco...


Aqui também eu não concordo, além de ter ficado redundante:
"rameira" no dicionário é prostituta. Logo abaixo ele diz a mesma coisa: E Taís, puta: estes pressurosa

Além disso, convenhamos; entre a palavra puta ou prostituta, eu fico com a palavra prostituta. Quem disse para Dante não foi nenhuma alma do inferno; foi seu Guia Virgilio. Virgilo era um poeta maravilhoso e longe de ter uma palavra chula dessas em seu vocabulário. O tradutor errou feio :D

Dante queria passar uma imagem do sentido alegórico da Biblia para uma história narrada.

Em nenhuma bíblia portuguesa aparece a palavra puta; entretanto, a palavra prostituta aparece várias vezes. Isso dar a certeza que a palavra correta era prostutua, como Helder L. S. da Rocha colocou.


Ele não omitiu o "merdoso", ele tinha citado antes para todos os condenados:

Não era fácil reconhecer os condenados, todos cobertos de
merda. Fiquei a olhar lá para o fundo, vendo se reconhecia alguém,
quando uma das almas gritou:
— Por que olhas mais para mim que para as outras almas sujas
desta vala?
(Helder L. S. da Rocha)
 

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