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A ciência nas urnas dos EUA

Morfindel Werwulf Rúnarmo

Geofísico entende de terremoto
O resultado das eleições confirmou a entrada de um cientista proeminente e a saída de outro.

Sim. O Candidato preferido dos cientistas venceu, e o meio acadêmico ficou contente com o resultado das eleições presidenciais, mas essa é só metade da história sobre como a política deve afetar a ciência americana nos próximos anos. A disputa legislativa e nos plebiscitos que acompanharam a eleição presidencial também trouxeram várias notícias dignas de nota. Para cientistas que não se importam com política americana, seguem abaixo alguns exemplos de como ela pode afetar assuntos ligados à ciência dos EUA e de terras tropicais também.

Vou começar pela dança das cadeiras no Capitólio. O resultado das eleições confirmou a entrada de um cientista proeminente e a saída de outro. O senador Roscoe Bartlett, republicano de Maryland com atuação histórica na comissão de ciência, perdeu a cadeira para o democrata John Delaney. Roscoe esteve recentemente engajado na causa de proibir o uso de chimpanzés em pesquisas invasivas. Sua campanha perturbou cientistas na área biomédica que pesquisam tratamentos contra vírus da hepatite e bronquiolite, que ainda usam esses animais. Ambientalistas, por outro lado, têm mais boas lembranças sobre o senador, um republicano que apoiava de medidas para o desenvolvimento de tecnologias limpas. Delaney, do lado dos democratas, promete adotar posição semelhante no assunto.

Não é preciso dizer o quanto a redução de emissões de gases do efeito estufa é importante nos EUA e quanto o Congresso e a própria Casa Branca ainda são uma barreira para tal. Quanto ao uso de macacos em pesquisa, afeta toda a indústria farmacêutica mundial, pois diversos pesquisadores e laboratórios procuravam os EUA pela facilidade de se usar grandes primatas em pesquisa. Os Institutos Nacionais de Saúde já baixaram uma medida restringindo o uso dos chimpanzés, mas é improvável que sem a atuação de Bartlet no congresso a pressão por um banimento mais abrangente contra o uso de macacos ganhe força.

Outra mudança digna de nota é a eleição do físico Bill Foster, democrata de Chicago, tomando a cadeira da republicana Judy Biggert. O mais curioso da disputa é que o debate envolveu um bocado de discussão entre os dois sobre quem seria melhor para a pesquisa. Foster venceu, e promete um papel ativo na briga por verbas para a ciência. O orçamento federal para pesquisa, que empacou após a crise de 2008, deve ser um ponto de disputa neste ano, mas cientistas estavam evitando o debate até aqui com medo de prejudicar Obama no pleito presidencial.

Foster também deve ter um papel importante em brigar por verbas para o Laboratório Nacional Fermi, que perdeu sua principal ferramenta de pesquisa, o acelerador de partículas Tevatron, fechado após a inauguração do gigante europeu LHC. Esse é um assunto que deve interessar físicos brasileiros, que frequentemente embarcam em colaborações nesses centros de pesquisa, pois são poucos os países com o privilégio de abrigar experimentos desse porte.

No total, segundo a revista "Science", 10 das 38 cadeiras da comissão de ciência do congresso vão mudar. Apesar de os nomes dos ausentes já serem conhecidos, é preciso esperar a formação da nova comissão antes de sabermos se a mudança tende a ser percebida como positiva pelos cientistas. Republicanos provavelmente manterão a presidência do grupo. A comissão de ciência tem poder limitado, mas pode influenciar a comissão de orçamento sobre o rumo a ser tomado pela Nasa, que equilibra seus gastos em meio a necessidades de pesquisa básica/astronomia e da pressão pública por um renascimento da exploração espacial humana.

Outro resultado que deve gerar algum interesse é a aprovação do uso medicinal da maconha em Massachusetts num plebiscito que acompanhou as eleições. (Sei que todos estão mais interessados na legalização do uso recreativo no Colorado, mas deixo isso para depois.) A ilegalidade do uso da maconha como fármaco burocratizava muito a realização de estudos e ensaios clínicos com a droga no estado. É de se imaginar que pesquisas médicas sobre o tema aumentem agora, já que Boston é um dos pólos mais importantes de pesquisa médica no país.

O que isso importa para o Brasil? Estudos sobre efeitos terapêuticos e efeitos colaterais da maconha direcionam o debate sobre o status da droga em todo o mundo, e isso deve ocorrer em Brasília se alguma hora o assunto entrar em pauta para valer. Difícil imaginar que, no futuro, trabalhos da Escola Médica de Harvard e do Hospital Geral de Massachusetts sobre o assunto venham a ser ignorados.

O último assunto aqui é um que rachou a comunidade científica. Um projeto de lei na Califórnia obrigava alimentos transgênicos a adotarem um rótulo especial, mas a proposta foi derrubada pelo voto popular. A campanha contrária teve o apoio AAAS (Associação Americana para o Avanço da Ciência), que se pronunciou numa carta pública. Para a entidade, a medida causaria um alarmismo desnecessário, pois pesquisas que apontam efeitos colaterais e problemas ambientais sérios dos alimentos geneticamente modificados ainda são controversas. Um grupo independente de cientistas tentou se contrapor ao peso da AAAS na discussão, lançando outro manifesto, mas falhou em seu objetivo. Para o bem ou para o mal, o caso deve virar peça de campanha das empresas de biotecnologia tentando evitar a rotulagem em outros lugares do planeta, incluindo o Brasil. No Brasil a pressão contra a rotulagem falhou.

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