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58% dos alunos saem do Ensino Médio sem saber matemática em SP

Um exemplo simples, tem professores de geografia que não ensinam cartografia por não saber calcular fuso horário ou as mudanças entre Km, cm e mm. E na hora de fazer a conta é uma negação. Conheço muita gente assim, e olha que são cálculos básicos.
 
Eu acho estranho vocês culparem a Matemática como sendo ensinada na forma de decoreba, sendo que português e tantas outras matérias são ensinadas da mesma forma. A grande maioria das fórmulas são deduzidas, ou seja, você as decora se quiser. Você consegue chegar nelas de uma outra forma, mas decorar a fórmula ajuda apenas para agilizar o cálculo. Sem contar que se você fizer exercícios sobre a matéria, você acaba decorando facilmente as fórmulas a serem empregadas em determinados casos.

E ninguém sai na rua falando que a frase que a pessoa acabou de dizer é uma oração subordinada substantiva objetiva direta. Porque só culpam as fórmulas matemáticas de decoreba?


No seu cotidiano.

Porque a oração subordinada substantiva objetiva direta é pura decoreba. Uma coisa é saber falar/escrever corretamente, outra saber os nomes de cada coisa. Honestamente, se a pessoa não errar, de que importa saber o nome da bagaça? Honestamente, é por isso que nas provas de matemática, ninguem pergunta como se chama a fórmula usada para resolver equações quadráticas, mas pede-se para resolvê-las.

Na verdade, a galera só culpa a matemática pela decoreba porque é uma das matérias em que se a pessoa não entende, vai se dar mal mais cedo ou mais tarde. Por isso, se não ensinam a entender, vira caca =P

E não, as fórmulas não são deduzidas do jeito correto. Sim, elas são deduzidas, só que num momento em que o aluno já não desenvolveu a capacidade de compreender a dedução, fora o caso de pessoas acima da média. Como estamos falando do aluno mediano...

Quanto aos 5%, concordo que foi algo extremamente otimista. A ponta do iceberg que participa do cotidiano deve ser menor ainda =(
 
Porque a oração subordinada substantiva objetiva direta é pura decoreba. Uma coisa é saber falar/escrever corretamente, outra saber os nomes de cada coisa. Honestamente, se a pessoa não errar, de que importa saber o nome da bagaça?
Mas se não soubesse o nome correto e as classificações de cada frase, ao menos na minha escola a pessoa não se formaria. Então não basta saber falar e escrever em muitos casos. Sem contar que isso cai nos vestibulares, mesmo que em menor número de questões hoje em dia.

Lu Meyn disse:
Honestamente, é por isso que nas provas de matemática, ninguem pergunta como se chama a fórmula usada para resolver equações quadráticas, mas pede-se para resolvê-las.
Contas básicas você pode até resolver com fórmulas dadas na hora, mas se não souber usá-las, não adianta nada tê-las. Já vi casos de pessoas que não conseguem analisar o problema e encaixar o que é dito nas fórmulas. Isso eu não acho que seja culpa da matemática em si.
 
Veda, para mim, é diferente... Matemática é 5% aplicação direta no cotidiano, e 95% arte =) Eu ensinaria como arte ^^
No seu cotidiano.

Concordo com o Turgon.

Eu acho estranho vocês culparem a Matemática como sendo ensinada na forma de decoreba, sendo que português e tantas outras matérias são ensinadas da mesma forma. A grande maioria das fórmulas são deduzidas, ou seja, você as decora se quiser. Você consegue chegar nelas de uma outra forma, mas decorar a fórmula ajuda apenas para agilizar o cálculo. Sem contar que se você fizer exercícios sobre a matéria, você acaba decorando facilmente as fórmulas a serem empregadas em determinados casos.

E ninguém sai na rua falando que a frase que a pessoa acabou de dizer é uma oração subordinada substantiva objetiva direta. Porque só culpam as fórmulas matemáticas de decoreba?

Eu realmente não lembro nada das decorebas da escola, seja português, matemática, química (um terror no meu segundo ano de ensino médio, mas a culpa era minha que tinha preguiça de estudar), física ou qualquer outra.

O problema do sistema de ensino hoje é a falta de habilidade (ou talvez de liberdade) dos professores pra colocarem tudo num contexto cotidiano. Ninguém vai se interessar em aprender algo que pensa ser inútil pra sua vida.
 
O problema do sistema de ensino hoje é a falta de habilidade (ou talvez de liberdade) dos professores pra colocarem tudo num contexto cotidiano. Ninguém vai se interessar em aprender algo que pensa ser inútil pra sua vida.
Sim. É por isso que eu acho interessante o curso técnico. Praticamente tudo que você aprende no curso técnico, você aprende voltado a utilizar no mercado de trabalho. O que você aprende nas aulas teóricas é depois demonstrado nas aulas práticas. Você vê uma aplicação para aquele conceito todo e ajuda no aprendizado.

O problema é que alguns professores são "obrigados" a seguir um plano de aula mais decoreba para seus alunos, o que acaba tornando sua aula mais chata e deixando muitos alunos desinteressados com o conteúdo. Nisso muitos acham que matemática é apenas substituição de fórmula.
 
Enfim, é esse o problema da escola: não se ensina matemática. Por isso que se fala de pessoas sem raciocínio lógico e piriri, porque isso não é ensinado. O pensamento matemático não é construido. E é isso que torna o ensino da matemática falho.

Porque ficar repetindo a matéria na frente da sala qualquer um consegue, não precisa ser professor, botar uma pessoa qualquer pra ler o livro didático e já era. Veda, para mim, é diferente... Matemática é 5% aplicação direta no cotidiano, e 95% arte =) Eu ensinaria como arte ^^
Só que a criança teria que ser ensinada a pensar em termos matemáticos desde pequena, algo que não acontece.

Eu me lembro de ter aprendido tabuada com palitos de picolé e canudinhos. Achava totalmente lógico descobrir que 3X2 era formado por três montes de dois palitinhos e 2X3 era só fazer o contrário até que a associação mental se instalava e depois tu fazias automaticamente. Tornava a coisa mais viva e a matemática visualizável. Mas não sei se ainda se ensina matemática assim ou se parte logo pra decoreba. Eu particularmente sou péssimo para decorar
 
Ah, pra mim, tentaram empurrar decoreba mesmo na hora da tabuada =)

E acho que esse negócio de TER QUE relacionar as coisas ao cotidiano para que os alunos aprendam é, em si, um grande problema. É a curiosidade, onde fica? ou os alunos só aprendem porque sabem que vão precisar disso, disso e daquilo para fazer contas no supermercado ou o que for? Sei lá, tenho a impressão de que esta é a mais grave falha do ensino de tudo: os alunos não sabem mais aprender coisas por aprender coisas. E matemática é uma coisa que a pessoa definitivamente deve aprender por gostar de aprender e de pensar.

Se a escola e a família não ensina o aluno a gostar de aprender o que quer que seja... Não acho que devemos procurar uma forma de adequar o que queremos ensinar ao aluno, mas adequar o aluno ao que queremos ensinar. No caso de matemática, trata-se de pensar e de querer sempre amprender e entender.

Enfim, esse tópico e as opiniões do pessoal definitivamente me deprimem.
 
EU concordo com isso: aprender por aprender. Não é eruditismo não, mas existe toda uma gama de saberes que não se focam no empírico, não se aplicam de forma direta na vida cotidiana e e são extremamente úteis. Por isso o ensino de filosofia me deprime tanto no Brasil.
 
Mas Turgon:
a grande diferença entre os dois é que você não consegue munir o aluno de conceitos matemáticos com os mesmos métodos que usou para muni-lo dos conceitos linguísticos.
Concordo quando vc diz que dá pra agilizar certas atividades ao "decorar" fórmulas, mas e entende-las? isso é ensinado? normalmente não. quer dizer, pra manipular uma fórmula de forma inteligente no lugar de simplesmente alimentar umas variáveis e ver o resultado, vc precisa ir além da decoreba. o grande problema é que, seja lá qual for a tua atividade, se vc unicamente reproduz um cálculo de forma "chapliniana" (tempos modernos, oi), o que impede que vc seja substituído por um ingenuo sistema computacional? claro, to enxergando sob uma ótica capitalista / imperialista / eu_protesto_contra_a_grana_do_meu_pai / etc, mas ainda assim esse racioncínio é válido.

to indo um pouco além do assunto do tópico, mas acho importante lembrar esses fatos, já que a formação fundamental pressupõe te preparar, tipo, pra vida.
 
Eu me lembro de ter aprendido tabuada com palitos de picolé e canudinhos. Achava totalmente lógico descobrir que 3X2 era formado por três montes de dois palitinhos e 2X3 era só fazer o contrário até que a associação mental se instalava e depois tu fazias automaticamente. Tornava a coisa mais viva e a matemática visualizável. Mas não sei se ainda se ensina matemática assim ou se parte logo pra decoreba. Eu particularmente sou péssimo para decorar

Eu aprendi assim também. Estudei numa escola por 7 anos e meio e o ensino da matemática era bem dinâmico, com ábaco, palitinho, casinha. Ainda assim (vai soar ridículo, mas é a verdade), eu emburreço com a matemática do ensino médio. Não tenho raciocínio pra isso, não sei decifrar problemas. Me dou até melhor com equações prontas, de achar x. Em geometria, minha situação é sofrível. Tenho professores ótimos, tento aprender, mas eu não consigo mesmo.
E também em física e química, que usam e muito a matemática, meu desempenho é mediano, pra passar de ano. Mas em outras matérias, é o oposto. O raciocínio que me falta pra decifrar o problema está 100% em interpretação de texto, análise sintática, entender fatos históricos, linhas do tempo de geografia política.

Quanto à curiosidade. Poucas pessoas vão se interessar por áreas em que tem dificuldade. Claro que há exceções, gente que procura estudar o que tem mais dificuldade por ser desafiador, mas o mais provável é que sendo dificil, logo será descartado. Eu até gosto de saber certas coisas de física e química, EM TEORIA. Se passar pra cálculo, viro a página.
 
Eu gostaria de comparar os 58% de sampa com de outro lugar qualquer! Será que se em outra cidade/estado do Brasil que emprega a mesma metodologia não obteria números melhores? Se sim! Por que? Acho dizer que em duas populações a capacidade de aprendizado dos alunos sejam muito diferentes complicado.

E no caso da matemática especificamente é o único ramo que eu vejo que existe método diferente de aprendizado disponível, como por exemplo, o método kumon. Eu sei que é particular, mas em outros ramos nem particular eu ouço falar.

Outro ponto colocado no tópico e eu nem sei o quanto ou se ele se aplica sobre esses 58% é a questão que a Ana colocou, a complexidade da inteligencia que pode se manisfestar em diversas habilidades não necessariamente matemática. Tem gente que condena a forma de ensino que privilegia a matemática e a linguagem.

Tem um vídeo que eu acho muito interessante a respeito. Daria até para fazer um tópico dele:

 
Última edição por um moderador:
Eu aprendi assim também. Estudei numa escola por 7 anos e meio e o ensino da matemática era bem dinâmico, com ábaco, palitinho, casinha. Ainda assim (vai soar ridículo, mas é a verdade), eu emburreço com a matemática do ensino médio. Não tenho raciocínio pra isso, não sei decifrar problemas. Me dou até melhor com equações prontas, de achar x. Em geometria, minha situação é sofrível. Tenho professores ótimos, tento aprender, mas eu não consigo mesmo.
E também em física e química, que usam e muito a matemática, meu desempenho é mediano, pra passar de ano. Mas em outras matérias, é o oposto. O raciocínio que me falta pra decifrar o problema está 100% em interpretação de texto, análise sintática, entender fatos históricos, linhas do tempo de geografia política.

Quanto à curiosidade. Poucas pessoas vão se interessar por áreas em que tem dificuldade. Claro que há exceções, gente que procura estudar o que tem mais dificuldade por ser desafiador, mas o mais provável é que sendo dificil, logo será descartado. Eu até gosto de saber certas coisas de física e química, EM TEORIA. Se passar pra cálculo, viro a página.

Então, o pessoal até sabe ensinar os rudimentos. Justamente, palitinhos, ábaco e bla bla bla... Só que as coisas mais avançadas precisam de pensamento matemático que não é desenvolvido com coisas relacionadas a cotidiano, pois você precisa operar com categorias abstratas. Sim, é possível exemplificar essas muitas dessas coisas com exemplos concretos da vida e do dia a dia do aluno, só que se a criança não domina a parte abstrata, fica dificil de compreender como e porque, as demonstrações e tudo.

Quanto a dificuldade... Ué, lembre-se que a pessoa gosta de aprender, do processo, não do resultado de adquirir um conhecimento (não necessariamente bem sucedido). Logo, as únicas dificuldades que podem existir é a falta de acesso aos conhecimentos.

Não sei... Tenho uma certa dificuldade em explicar essa coisa de matemática para o pessoal que não tem muito contato com a teoria... Enfim, parece não ter nada a ver, mas acho que afinal das contas tem. Um dos momentos mais marcantes da minha vida escolar foi quando eu descobri como a fórmula de Bhaskara é derivada. Os professores tinham mostrado a fórmula, tinham mostrado a dedução, mas passou batido. Aí um dia na sétima série eu sentei e completei os quadrados. E vi que aquilo não era uma coisa bizarra que eu tinha que decorar, mas uma coisa simples que fazia todo o sentido. Foi meio que uma revelação sobre a natureza das ciências exatas.

É isso que não é ensinado: compreender a simplicidade da coisa.
 
Quanto a dificuldade... Ué, lembre-se que a pessoa gosta de aprender, do processo, não do resultado de adquirir um conhecimento (não necessariamente bem sucedido). Logo, as únicas dificuldades que podem existir é a falta de acesso aos conhecimentos.

Eu gosto, e ainda assim, não aprendo. É como um bloqueio mental involuntário que, não só eu, mas muitas outras pessoas tem, e não só com matemática. Meu colega, que me ajuda com matemática e física, não consegue de jeito nenhum fazer uma interpretação de texto ou uma redação direito, mas decifra problemas muito rápido, é bom em raciocínio lógico. A curiosidade tem que partir de um ponto de interesse, estudar algum assunto ou matéria que a pessoa se sinta atraída. Mas quando se tem um bloqueio ou algo assim, fica complicado demais sentir atração por conhecer tal matéria ou assunto.

É isso que não é ensinado: compreender a simplicidade da coisa.

Pra quem tem dificuldade, não é simples. Pra mim, não é. Pros que estão nas estatísticas, também não.
 
Lissa, eu falei que era simples, não que era fácil =)

Então, teoricamente, é possível "adestrar" a pessoa até um certo nível. Se a pessoa não domina noções básicas de alguma área, isso significa que ela ou não teve oportunidade de aprender, ou não foi ensinada. A escola não ensina pensamento matemático: é possível ver isso até mesmo neste tópico, com um várias pessoas clamando por uma abordagem mais próxima do cotidiano.

Só que isso não funciona, porque a matemática opera com o geral e com o abstrato. Cada caso concreto é um caso particular de alguma teoria, e de nada adianta ensinar 500 casos concretos se a passagem para a teoria, a generalização não for feita. MAS as crianças não são ensinadas a pensar nos moldes teóricos e abstratos.

Na verdade, não quero ser chata, mas tenho uma suspeita. O grande problema do ensino de matemática é que a educação escolar é gerida por pessoas de humanas (formados em educação, por exemplo). Não me levem a mal, mas cada área tem uma mentalidade e uma visão própria do ensino, e em particular com a matemática, que é a disciplina menos relacionada a humanas do currículo escolar, o esquema começa a falhar. Não, não é de reaciocínio lógico e bla bla bla, é de mentalidade. Por exemplo, faz uns dias, vi um rapaz da matemática aplicada conversando com um rapaz da filosofia sobre otimização. O matemático queria resolver o problema e o filósofo buscava experiências e vivências, simplificando a coisa. Mas é só uma hipótese, inspirada pelo fato de todos os estatísticos da Unicamp abominarem a forma como o vestibular é feito (ex: questões de exatas que envolviam interpretação de texto, vestibular antigo: muitas pessoas capazes de resolver o problema matemático proposto erravam por problemas de interpretação de texto. Porque o vestibular não é feito por pessoas de exatas.)

Não me batam.
 
Lissa, eu falei que era simples, não que era fácil =)

Simples pode até ser, em alguns casos. Fórmulas e geometria analítica, não são nem uma coisa nem outra, pelo menos pra minha mente.

Então, teoricamente, é possível "adestrar" a pessoa até um certo nível. Se a pessoa não domina noções básicas de alguma área, isso significa que ela ou não teve oportunidade de aprender, ou não foi ensinada. A escola não ensina pensamento matemático: é possível ver isso até mesmo neste tópico, com um várias pessoas clamando por uma abordagem mais próxima do cotidiano.

Pensamente matemático não pode ser simplesmente passado. É uma coisa complexa, um processo de aprendizado que requer tempo e dedicação e deveria ser aplicado individualmente com quem não o tem naturalmente. E no caso de abordagem próxima do cotidiano, não acho que o problema seja esse, porque o que mais vemos em ENEM e provas escolares são situações-problema bem recentes e do dia-a-dia: a clássica questão da mamãe querer dividir quatro laranjas para 6 filhos. Qualquer um pode se imaginar nessa situação. Ou análise de gráficos do rendimento anual da Coca cola, por exemplo.

Só que isso não funciona, porque a matemática opera com o geral e com o abstrato. Cada caso concreto é um caso particular de alguma teoria, e de nada adianta ensinar 500 casos concretos se a passagem para a teoria, a generalização não for feita. MAS as crianças não são ensinadas a pensar nos moldes teóricos e abstratos.

Na verdade, não quero ser chata, mas tenho uma suspeita. O grande problema do ensino de matemática é que a educação escolar é gerida por pessoas de humanas (formados em educação, por exemplo). Não me levem a mal, mas cada área tem uma mentalidade e uma visão própria do ensino, e em particular com a matemática, que é a disciplina menos relacionada a humanas do currículo escolar, o esquema começa a falhar. Não, não é de reaciocínio lógico e bla bla bla, é de mentalidade. Por exemplo, faz uns dias, vi um rapaz da matemática aplicada conversando com um rapaz da filosofia sobre otimização. O matemático queria resolver o problema e o filósofo buscava experiências e vivências, simplificando a coisa. Mas é só uma hipótese, inspirada pelo fato de todos os estatísticos da Unicamp abominarem a forma como o vestibular é feito (ex: questões de exatas que envolviam interpretação de texto, vestibular antigo: muitas pessoas capazes de resolver o problema matemático proposto erravam por problemas de interpretação de texto. Porque o vestibular não é feito por pessoas de exatas.)

Não me batam.

Então você sugere que os problemas sejam abolidos? Ou no caso, só a situação-problema, onde ele está sendo ambientado? Expor a equação ou o desenho ou seja lá o que for de maneira objetiva e sem rodeios? Nesse caso, concordo plenamente.
 
Até faz sentido essa ideia de profissionais de humanas interferirem nisso, basta ver a instrumentalização ideológica presente em livros didáticos de história e geografia e suas interpretações tendenciosas, por exemplo. Isso parece ocorrer na pedagogia também, onde as matérias exatas são encaixadas no mesmo bolo pedagógico que as humanas, como se a pedagogia fosse um tipo de metaciência do saber quando não é muita coisas, muitas vezes, que uma pseudo-filosofia.

Agora não confundamos: filosofia não é humanas. Nem é ciência. E quando o filósofo fala de vivências e experiências, ele fala de UM lado da realidade, não do todo. Basta ler filosofia da matemática, filosofia da ciência etc. Eu discordo que uma abordagem do ensino de forma puramente vivencial seja o ideal, mesmo porque o aluno tem de estar basicamente formado em um tipo de conhecimento que ele pode usar de base em futuras profissões. Precisamos é que esse conhecimento não seja buscado por motivos futeis, como a ideologia do sucesso profissional e da vida prática querem, mas como formação total de um saber básico, necessário à vida.

Veja que necessário à vida não se reduz ao cotidiano puro e simples. E não foge do que a filosofia chama de mundo da vida, das experiências e vivências.
 
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Trágico... Enquanto este país não der prioridade ao ensino de ciências exatas e naturais (provavelmente nunca) o Brasil não deixará de ser o país do "quase". E pensar que estamos importando engenheiros de Portugal... Mas, certamente, temos fartura de filósofos e sociólogos. Somos um país ao contrário, primeiro relatamos, depois tentamos construir. Azar o nosso e sorte do bando de europeus desempregados de elevada capacitação técnica.

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Amon_Gwareth disse:
Concordo quando vc diz que dá pra agilizar certas atividades ao "decorar" fórmulas, mas e entende-las? isso é ensinado? normalmente não. quer dizer, pra manipular uma fórmula de forma inteligente no lugar de simplesmente alimentar umas variáveis e ver o resultado, vc precisa ir além da decoreba. o grande problema é que, seja lá qual for a tua atividade, se vc unicamente reproduz um cálculo de forma "chapliniana" (tempos modernos, oi), o que impede que vc seja substituído por um ingenuo sistema computacional? claro, to enxergando sob uma ótica capitalista / imperialista / eu_protesto_contra_a_grana_do_meu_pai / etc, mas ainda assim esse racioncínio é válido.
O entender as questões é ensinado sim e muitas vezes não na aula de matemática, mas na aula de interpretação de texto. Se você não tiver uma boa compreensão do que o problema está pedindo, dificilmente você irá começá-lo ou tentar encaixar os dados em alguma fórmula decorada. O próprio Enem se vale muito disso, aonde muitas questões de matemática não são simples aplicações de fórmulas, mas você precisa entender o que ele está solicitando.

Mas pode ser substituído sim. Tanto que muitos trabalhos braçais foram substituídos por máquinas hoje. Os próprios cobradores de ônibus praticamente quase desapareceram com a criação das máquinas de bilhete. Não há hoje necessidade deles estarem ali para dar um troco para o passageiro. Só que para fazer isso acontecer, precisam de cabeças programando e desenvolvendo essas máquinas. Elas não são criadas do nada.

Lu Meyn disse:
Não sei... Tenho uma certa dificuldade em explicar essa coisa de matemática para o pessoal que não tem muito contato com a teoria... Enfim, parece não ter nada a ver, mas acho que afinal das contas tem. Um dos momentos mais marcantes da minha vida escolar foi quando eu descobri como a fórmula de Bhaskara é derivada. Os professores tinham mostrado a fórmula, tinham mostrado a dedução, mas passou batido. Aí um dia na sétima série eu sentei e completei os quadrados. E vi que aquilo não era uma coisa bizarra que eu tinha que decorar, mas uma coisa simples que fazia todo o sentido. Foi meio que uma revelação sobre a natureza das ciências exatas.
Mas nem tudo é ensinado realmente. O problema é que muitos professores "jogam" a fórmula na losa e dizem que não sei quem as deduziu através de um postulado a tantos anos atrás ou algo parecido. São raros os professores que demonstram como elas foram descobertas, o que é muito legal de se saber. Eles meio que deixam em aberto sua curiosidade para procurar, mas praticamente ninguém as procura.
 
Exatamente Turgon.
Eu só descobri porque era vespera de feriado eu eu fui a única aluna da turma que veio para a escola no dia, então tive aulas diferenciadas e personalizadas =P
 
E o post vai ficar grande.

Ensino de matemática é uma coisa muito problemática até nas escolas elitizadas. Não vejo nenhuma abordagem no sentido de ensinar a compreensão da matemática, mas sim somente a decoreba sobre como funciona o processo básico.

Nada mais natural do que a consequencia que é essa várzea em que vivemos; conceitos simples não são entendidos pois nada disso faz parte do currículo educacional do aluno brasileiro - seja de escola pública, seja de escola particular. a maior parte obviamente não se interessa por essa decoreba aparentemente desproposital (fora os que não tem facilidade em decorar)

Por exemplo: o que deve ser básico dentro das determinações do SARESP?
Prova: "quanto é o seno de 60 graus?"
Aluno dedicado: "ah, de acordo com a tabelinha que o professor me passou, é raiz(3)/2"

Mesmo os que respondem corretamente tão numa posição bem triste =/

Ó, eu acho que todo mundo fala muito sem saber. Generalizamos com razão que educação no país (e especificamente em SP, de acordo com o tópico) é uma porcaria. MAS, o Saresp não é vestibular antigo que fica pedindo questões objetivas, decorebas e notas de rodapé. São todas questões envolvendo situações cotidianas, que envolvem o raciocínio de se entender o que diz a questão e de se saber quais ferramentas mentais utilizar pra resolvê-la. É como num problema do mundo real, no qual não vai pipocar uma plaquinha dizendo "essa é uma questão de trigonometria!".

Só pra ficar num exemplo, foi feita uma prova diagnóstica de português e matemática com primeiros e segundos anos do ensino médio em todas as escolas estaduais paulistas. Essa prova, assim como o SARESP, está seguindo o Currículo do Estado de São Paulo atual, o qual também é seguido pelas apostilas (caderno do aluno) distribuídas na rede em cada bimestre. Uma de nossas turmas de 1º ano noturno teve 100% dos alunos com desempenho abaixo do básico para a série.
Uma das questões: "Uma pessoa foi ao médico, que lhe receitou 1 comprimido de remédio a cada 6 horas. Ao final de 1 dia, quantos comprimidos terá tomado?" Complicada? Decoreba? Fora da realidade? Eu acho que não, né. E mesmo assim, apesar de ter sido a questão que a maior parte acertou, tivemos aí uns 40% de erro. Isso é normal? Não. É culpa do ensino ser decoreba? Também não, porque não é mais assim.

Tá faltando BASE. Interesse em aprender. Interesse em fazer uma prova decentemente que vai avaliar seu conhecimento e dificuldade e não correndo e de qualquer jeito pra sair mais cedo da aula e porque não vai valer nota mesmo. O povo tá ruim por completo desinteresse. E o problema é grande demais pra jogar nas costas invisíveis do "ensinam tudo na decoreba".

A culpa disso aí é o método de ensino que não sofreu nenhuma alteração desde os tempos em que minha mãe era criança (a única alteração foi abolirem a palmatória :lol:).

Os alunos estão acostumados com um mundo interativo graças à tecnologia e ficar parado tentando captar o que a professora fala é um verdadeiro martírio que faz com que os alunos prefiram pensar na mijada que deram durante o recreio do que prestar atenção na aula.

Então, vamos primeiro levar em conta que temos todos aqui, na média, 20 anos. Então querer avaliar a escola que acontece HOJE com os dados da escola que vivenciamos há 10 anos é meio irreal. O método de ensino mudou, e estudamos isso nos cursos de licenciatura. Muita, muita coisa mudou. O currículo mudou, a ordem em que os assuntos são abordados mudou, a profundidade dessa abordagem mudou. Ok?

Segunda questão: "Os alunos estão acostumados com um mundo interativo graças à tecnologia". É uma meia verdade. Falamos de alunos de escola pública que muitas vezes não têm sequer acesso à internet em casa ou no trabalho. Então, que fosse pedir um trabalho digitado pra eles, algumas vezes fica inviável e ele não sabe lidar com isso. Outro ponto nesse quesito é que mesmo os que dispõe de um computador com internet não sabem fazer pesquisas. Sério, mal sabem usar a wikipédia, que é o básico do básico na pesquisa online. Ao ponto de perguntarem "o que eu digito no google pra pesquisar sobre isso?". Não consigo chamar isso de jovens imersos na tecnologia. Ter um smartphone com acesso a internet e tv, que possibilite assistir aos jogos do Santos durante a aula não caem na minha categorização de "jovens acostumados com um mundo interativo". Interação pra eles, talvez, só no msn e no "face".

O último ponto cai de novo na questão do interesse. Eu posso levar um experimento de química pra dentro da aula, que é só a mesma meia dúzia que já presta atenção nas aulas giz-lousa-voz que vai se interessar. A professora de matemática já fez uma aula super diversificada, mostrando programas de edição de gráficos e funções (tipo MatLab) pra demonstrar a teoria e os que se interessaram em perguntar algo queriam saber a marca do laptop dela. :roll:
Tecnologia pra eles é só o ter, não o saber usar ao máximo.

Quanto a aluno não querer aprender... Honestamente, para mim, esse foi sempre o papel principal do professor, fazer com que o aluno queira aprender, tenha interesse, e também aprenda a aprender, e depois somente auxiliar no processo. Porque ficar repetindo a matéria na frente da sala qualquer um consegue, não precisa ser professor, botar uma pessoa qualquer pra ler o livro didático e já era.

Como eu disse, lecionar hoje não é sentar na frente da sala e ler o livro didático. Não pode estar mais longe que isso, aliás. O papel do professor é mediar e orientar a aquisição de conhecimentos, dando as ferramentas básicas para que cada um expanda-os à sua maneira. Uns vão se dedicar mais às exatas, outros às humanas, alguns ainda às artes, etc., mas todos deverão ter o básico de cada uma. Junto a isso, o professor tem missão, junto com a família, de formar cidadãos. Ensinar a viver em sociedade, a respeitar, a aceitar as diferenças, a ser solidário. Agora, por mais boa vontade que eu tenha, não vou conseguir socar conhecimento e vontade de aprender numa criatura que está ali obrigada e sequer vê o motivo dessa obrigação existir. Se o problema é dos pais desde a mais tenra idade, da sociedade que não valoriza o aprendizado ou da própria escola em níveis mais fundamentais, aí é outra questão a ser debatida. Mas não há possibilidade real de um professor diante de 40 alunos fazer um a um querer aprender. Ou eles sabem o motivo pelo qual estão na escola, ou serão mais alguns nas estatísticas ruins.

E acho que esse negócio de TER QUE relacionar as coisas ao cotidiano para que os alunos aprendam é, em si, um grande problema. É a curiosidade, onde fica? ou os alunos só aprendem porque sabem que vão precisar disso, disso e daquilo para fazer contas no supermercado ou o que for? Sei lá, tenho a impressão de que esta é a mais grave falha do ensino de tudo: os alunos não sabem mais aprender coisas por aprender coisas. E matemática é uma coisa que a pessoa definitivamente deve aprender por gostar de aprender e de pensar.

A gente TEM QUE relacionar tudo ao cotidiano pois é isso que faz sentido na hora de ensinar. Algumas coisas mais básicas e necessárias para construção de um raciocínio talvez possam soar como decoreba, pois para explicar como foram desenvolvidas iria requerer um conhecimento muito maior. Por isso é tudo simplificado na hora de passar durante os poucos 50 minutos de uma aula. Mas tendo essa ferramenta básica, tem sim que relacionar ao cotidiano. E não é simplesmente para atrair atenção do aluno, mas pra mostrar que aquilo que ele vê na escola faz parte do mundo em que ele vive, e não somente da redoma da academia, dos laboratórios, dos cientistas, dos estudiosos. E fazendo parte do mundo dele, ele tem condições de usar isso em seu favor, pra ser um cidadão mais crítico, que raciocina.
Só pra ficar num exemplo, que mostra como o ensino está deturpado e precisa melhorar no aspecto da contextualização, fiz um pequeno questionário com meus alunos de primeiro ano, na primeira aula. Eles, a maioria vindo da 8ª série/9º ano, nunca tinham tido aula de Química formalmente. O pouco conteúdo estava diluído sob o nome Ciências. A partir disso, uma das perguntas era a respeito da importância de se aprender Química. Uma alternativa bastante assinalada era que "A Química é obrigatória na escola apenas para aprendermos um pouco sobre ela, pois somente os cientistas possuem conhecimento suficiente para utilizá-la". Alguém aqui é capaz de não ver onde a Química está inserida no nosso dia a dia?

O mesmo vale para matemática: claro que a chance de eu precisar resolver uma equação de segundo grau num dia comum é praticamente nula. Mas, dentro de um contexto, explicando onde esse tipo de raciocínio é usado e visando a formação de ligações entre conteúdos de forma a solucionar situações-problema, ela é incrivelmente importante.

A curiosidade do aluno vai entrar no momento em que ele descobrir o que, de tudo aquilo que ele vê na escola, interessa mais. É muito bom, após uma aula, vir um aluno perguntando algo levemente relacionado, mas do que ele lembrou de ter visto ou sobre o que ele tem alguma dúvida e queria saber mais. Aí sim a gente tem condição de indicar fontes de pesquisa, explicar um pouco sobre o assunto e atiçar ainda mais essa curiosidade necessária.
Mas não dá pra esperar que todos irão sentir curiosidade por todas as áreas por alguma mágica que os professores descubram como fazer. Nas áreas em que há dificuldade ou menor interesse, o esforço será mínimo mesmo e não dá pra exigir mais que isso.

Enfim, esse tópico e as opiniões do pessoal definitivamente me deprimem.

Que tipo de opiniões te deprimem?

Na verdade, não quero ser chata, mas tenho uma suspeita. O grande problema do ensino de matemática é que a educação escolar é gerida por pessoas de humanas (formados em educação, por exemplo). Não me levem a mal, mas cada área tem uma mentalidade e uma visão própria do ensino, e em particular com a matemática, que é a disciplina menos relacionada a humanas do currículo escolar, o esquema começa a falhar. Não, não é de reaciocínio lógico e bla bla bla, é de mentalidade. Por exemplo, faz uns dias, vi um rapaz da matemática aplicada conversando com um rapaz da filosofia sobre otimização. O matemático queria resolver o problema e o filósofo buscava experiências e vivências, simplificando a coisa. Mas é só uma hipótese, inspirada pelo fato de todos os estatísticos da Unicamp abominarem a forma como o vestibular é feito (ex: questões de exatas que envolviam interpretação de texto, vestibular antigo: muitas pessoas capazes de resolver o problema matemático proposto erravam por problemas de interpretação de texto. Porque o vestibular não é feito por pessoas de exatas.)

Eu achava o vestibular antigo da Unicamp excelente exatamente porque priorizava a interpretação de texto, que é o BÁSICO DO BÁSICO que um aluno dessa Universidade precisa apresentar. Se nego erra porque não leu direito ou não entendeu o que pediam, então não está apto a estudar lá, porque isso faz parte do raciocínio. Se ele leu e entendeu, mas não sabe as ferramentas matemáticas pra resolver, idem. Como já mencionei, no dia a dia não vai ninguém chegar e falar "é pra usar esse tipo de conta pra resolver esse probleminha que apareceu na sua empresa, viu?". Tem que saber interpretar os dados e ver a melhor maneira de se chegar num resultado, que nem sempre precisa ser um jeito só.

E o vestibular é feito e corrigido por pessoas de todas as áreas. Cada área tem seus próprios professores que elaboram as questões. Até parece que iam largar na mão dos pedagogos a determinação delas. Da mesma maneira, o pessoal das exatas não tem a menor noção de como avaliar um aluno nos pré-requisitos das humanas, então dizer que só os das humanas desenvolvem esse tipo de prova é bobagem.

Fugindo do vestibular, que o foco é matemática e português do ensino básico, o que o Saresp constata é: nossos alunos saem do Ensino Médio sem saber ler, escrever ou fazer contas mínimas. E eu coloco a culpa primeiro na família, que pelos motivos que sejam não dão pros filhos os valores necessários. Não existe respeito, não existe interesse, não existe cobrança, não existem regras. Em segundo, na sociedade em geral que não valoriza o conhecimento. É mais fácil tentar levar a vida com o mínimo esforço e ridicularizar os nerds (desconsiderando todas as notícias atuais de que temos empregos de sobra, mas nada de gente qualificada pra exercer os cargos). E por último na escola/professores, que, se escondendo atrás do escudo do salário baixo, não atualizam seus conhecimentos, faltam até não poder mais, e acabam por desestimular as poucas cabeças que se sobressaem, nivelando tudo por baixo. Como se tudo isso fosse justificável somente por conta de um salário inadequado. É fato que hoje, em qualquer tipo de escola de ensino básico, não existe nenhum tipo de trabalho que estimule os alunos que são mais interessados e aprendem mais depressa. Isso também mina qualquer vontade de aprender e acaba eventualmente destruindo um futuro que podia ser brilhante.
 
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