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Clube de Leitura 4º Livro: Admirável Mundo Novo – Aldous Huxley

Correndo na leitura dos primeiros capítulos pra alcançar vocês. Só vejo spoilers brotando em todos os cantos... :ahhh:
 
Não pensem que morri, só estou sem internet... Mas hoje vou a uma lanhouse e coloco aqui as minhas impressões sobre a leitura...
 
Outra sequência muito interessante do livro, pelo menos para mim, é a narrativa da viagem de Bernard e Lenina à terra dos selvagens.
 
ADMIRAVEL-MUNDO-NOVO.jpg

Que legal essa capa! *-*

Bernard Marx não detesta tudo isso, o que ele detesta, ao meu ver, é o fato de ser diferente fisicamente, o que o faz se sentir inferiorizado, não conseguindo por isso se encaixar adequadamente na esfera social a que pertence.

Isso que você disse faz sentido mesmo. Destaco uma passagem do capítulo 4:

Uma limitação física podia produzir uma espécie de excesso mental. Parece que o processo era reversível. O excesso mental podia produzir, por sua vez, a cegueira e a surdez da solidão deliberada, a impotência artificial do ascetismo.

A crítica que o Huxley faz à condição feminina é também sempre gritante... O momento anterior a essa cena que citei, quando mulheres e mulheres seguem o Helmholtz, é muito significativo também.

Outra passagem que queria destacar é essa, no capítulo 5, comecinho:

--Todos os homens são físico-quimicamente iguais, disse Henry sentenciosamente. Além disso, mesmo os Ipsilones realizam serviços indispensáveis.

É uma retórica que lembra muito a retórica feudal, não acham? Mas tem muito disso hoje em dia também... As pessoas reconhecem que um pedreiro, por exemplo, realiza um serviço indispensável; mas isso não as impede de marginalizar, na maior parte das vezes, essa profissão. Pra não dizer quando dizem algo parecido com o que a Lenina diz:

-- Suponho que os Ipsilones realmente não se importem de serem Ipsilones, disse em voz alta.

Indo um pouco pra frente no capítulo 5... Gente, que diabos são aqueles Sexofones? :lol:

Outra coisa, nessa esteira de nomes:

A última a chegar foi Sarojini Engels.

-- Você está atrasada, disse com severidade o Presidente do Grupo. Que isso não torne a suceder.

Sarojini pediu desculpas e sentou-se entre Jim Bokanovsky e Herbert Bakunin.

Engels se sentando com Bakunin? Os anarquistas e os comunistas faziam o maior arranca-rabo no século XIX haha

A parte do ritual eu achei bela e moral. Mas achei interessante a parte que eles tomam um ice-cream soma. Achei esse detalhe do Huxley genial! :D

No capítulo 6 tem o encontro entre o Bernard e a Lenina... O sacrifício da individualidade em prol de um corpo social é interessante. Claro que Huxley criticava com veemência a URSS, mas é também de se notar que ele também fazia críticas pesadas ao capitalismo. Era um escritor lúcido, assim como Orwell. O simples ritual do capítulo passado, numa exaltação mística a Ford regrada a drogas misturadas no sorvete...

-- [Marx] Quero sentir alguma coisa com violência.

-- Quando o indivíduo sente, a comunicação vacila, pronunciou Lenina.

E aí, no próximo capítulo:

Um rosto desfigurado e em lágrimas a fitava [Lenina]; a criatura estava chorando.

E aqui quero destacar a técnica do Huxley, que é impecável: um rosto desfigurado e em lágrimas. Depois, diz que ele estava chorando. Mas não deveria ser óbvio? Se está em lágrimas, está chorando...

Pois é. Só que não é tão óbvio no Admirável Mundo Novo. Não é tão óbvio depois de termos passado todo esse tempo numa realidade em que as formas de emoção estão condicionadas a drogas... A face desfigurada de uma pessoa e as razões daquela face desfigurada estão muito distantes entre si.

Aliás, o contraponto entre esses dois capítulos é fabuloso!

Me direcionando à Clara:

E os selvagens, hein?

Alguém tem alguma teoria do porque eles ainda existem naquele mundo?

Eu sou da opinião de que eles sobrevivem daquela maneira primitiva (propositadamente na pobreza, doença e imundície) para mostrar às pessoas do novo mundo como a vida era ruim e impedi-los de ter "ideias" pra tentar, de alguma maneira, mudar a sociedade.
"Agora sim somos todos felizes".

É possível também que, com o passar dos tempos, algumas pessoas fossem ficando marginalizadas das mudanças sociais profundas. Então, se antigamente a população era X, a partir de uma data é possível que esse X tenha se dividido em Y e Z, e que só Y tenha se tornado no Admirável Mundo Novo... Enquanto Z viveria como espécie de "náufragos" desse barco do progresso, digamos assim.

Mas ainda preciso ler o 8 direitinho.
 
Última edição:
A primeira vez que li esse livro foi por indicação de uma ex. Ela recomendou tanto que chegou até a me dar um exemplar, com aquela dedicatória doce que é muito possível num começo de namoro ou depois, bem depois do término, quando a memória seletiva e traiçoeira só lembra das tardes de chuva debaixo do edredom e se esquece das picuinhas de cada dia. Rapaz, deu uma saudade! E junto da saudade, uma vontade de se embebedar ouvindo Fábio Jr... Mas isso não vem ao caso.

Essa foi minha segunda vez com Admirável Mundo Novo. E posso afirmar que o impacto só não foi o mesmo porque o tempo é o diabo e faz a gente perder um monte de ilusão. No fim, são as distopias de Huxley, Orwell e Bradbury que vão se realizando. Lembro até da tirinha, pela saída apontada:

tirinha1528.jpg



Mas, deixando o pessimismo de lado, vamos ao que interessa. Entre os muitos pontos, quero ressaltar que Admirável Mundo Novo é da década de 30, ou seja, do entre-guerras. Então, muito do que Huxley usa na composição passa pelos fatos objetivos e dimensões da mentalidade de seu tempo, tudo elevada à outras potências.

Nos primeiros capítulos, uma das coisas que me chamaram a atenção foram as colocações acerca da família feita pelo Administrador Mundial. Após as críticas aos laços sanguíneos e os atritos da vida doméstica, ele diz como tudo foi se desconstruindo, entre massacres violentos e propagandas sedutoras, persuasivas.

Lembrei, então, do Manual da Família Alemã, que as autoridades nazistas distribuíam aos jovens casais. O decálogo inicial era o seguinte:

01 - Lembre-se de que você é alemão.
02 - Se é de boa cepa, não deixe de casar-se.
03 - Mantenha o corpo puro.
04 - Mantenha espírito e alma puros.
05 - Como alemão, escolha para cônjuge alguém de sangue germânico ou nórdico.
06 - Aos escolher o cônjuge, pesquise sua linhagem.
07 - A saúde é uma condução prévia da beleza exterior.
08 - Só se case por amor.
09 - No casamento procure um sócio, não um companheiro para brincar.
10 - Queira ter tantos filhos quanto possível.


Aqui está a tentativa da disciplinação através do seio familiar. Alardeando o modo de ser, o Estado invade o ambiente secreto e sigiloso, roçando os dedos no que antes era privado, fugidio e, portanto, conspiratório. Se a família é a célula marter da sociedade, ao doutriná-la, por consequência, uniformiza-se o público e efetiva-se o controle. Admirável Mundo Novo vai além, pois sabe o quão escorregadio são os lares. A solução passa pela destruição da família, eliminando assim os intermediários no processo de comando dos indivíduos, que só é pleno se atingir com o mesmo impacto corpo e mente. Sagaz, muito sagaz esse Huxley.

Vemos nos mandamentos as castas, a eugenia e o culto ao corpo, cujos desdobramentos também estão em Admirável Mundo Novo.
 
Última edição:
Isso que você disse faz sentido mesmo. Destaco uma passagem do capítulo 4:

Uma limitação física podia produzir uma espécie de excesso mental. Parece que o processo era reversível. O excesso mental podia produzir, por sua vez, a cegueira e a surdez da solidão deliberada, a impotência artificial do ascetismo.

Talvez seja isso o que aquele amigo dele, Helmholtz, vê no Bernard Marx e se irrita tanto. =/

No fundo ele (Bernard) só quer se igual aos outros, não está preocupado de fato com as coisas, não pensa que tudo poderia ser diferente, que é como parece o Helmholtz vê.

Ainda sobre o Helmholtz, me pareceu o mais sensato daquele povo todo.
Parece que ele vê, ou está em vias de ver, abaixo da superfície da sociedade.
Talvez não seja por acaso que (voltando ao tema dos nomes) ele tenha o mesmo nome de Hermann von Helmholtz, que era físico, médico e filósofo e um dos homens mais inteligentes do século XIX.


A primeira vez que li esse livro foi por indicação de uma ex. Ela recomendou tanto que chegou até a me dar um exemplar, com aquela dedicatória doce que é muito possível num começo de namoro ou depois, bem depois do término, quando a memória seletiva e traiçoeira só lembra das tardes de chuva debaixo do edredom e se esquece das picuinhas de cada dia. Rapaz, deu uma saudade! E junto da saudade, uma vontade de se embebedar ouvindo Fábio Jr... Mas isso não vem ao caso.

:rofl:
 
Primeiro: é impossível ler e não lembrar de 1984 e inconscientemente (ou não) fazer comparações.
Achei o livro denso, repugnante, e de certa forma mais pesado porque muitas coisas ali descritas acontecem conosco (de forma mais velada) como os colegas já comentaram nos seus posts....

Inicialmente acreditei que Bernard e Lenina seriam o casal que causariam alguma inquietação naquele mundo, que se inconformariam e talz.... achei isso por Bernard se sentir "deslocado" e Lenina me passou essa sensação quando, em conversa com Fanny ela diz que estava bem saindo com um cara só, me passou a impressão de que ela gostaria disso: de uma pessoa só, de ser diferente, só que não....


No terceiro capítulo achei muito interessante a maneira como Huxley apresenta várias cenas acontecendo ao mesmo tempo, a troca de confidências entre Lenina e sua amiga Fanny, Bernard Marx conversando com seu colega, Sua Fordeza Mustafá Mond com os estudantes, etc.

Não sei se os demais foristas gostaram desse jeito de narração.

Achei muito boa essa narração, parece uma ópera que vai crescendo, crescendo até chegar no seu ápice...

Então, como Bernard Marx é parecido com a gente, não?

Sabe que algo está errado no mundo em que vive mas não exatamente o quê, e mesmo que soubesse, teria coragem de abandonar aquilo tudo em troca de uma vida "mais verdadeira"?

Também tive essa impressão dele e achei que ele fosse agitar as coisas por ali... Mas ele só estava se sentindo distante por sua diferença estética
É engraçado ver o quanto ele se adaptou bem a sua nova realidade quando trouxe o selvagem consigo. O que antes o 'perturbava' como o fato da Lenina se mostrar como um pedaço de carne é exatamente o que ele faz depois e tem muito orgulho dessa postura, afinal, ele finalmente conseguiu ser um Alfa como deveria....


E, que engraçado, eu imaginava que aquela moça havia deliberadamente "se perdido" no mundo dos selvagens.
Tipo alguém que havia se cansado da vida artificial e, a contrário do bunda mole do Bernard Marx, resolveu viver com os selvagens e ser um ser humano verdadeiro.

Mas não foi nada disso.
Como é triste a vida daquela mulher, Linda, e seu filho, John. =(

E eu achei que ela havia se perdido mas se dado bem entre os selvagens, se tornando um deles, se conformando e vivendo da melhor maneira possível, ficando alegre de ter um filho...

Bernard Marx não detesta tudo isso, o que ele detesta, ao meu ver, é o fato de ser diferente fisicamente, o que o faz se sentir inferiorizado, não conseguindo por isso se encaixar adequadamente na esfera social a que pertence.
Com a volta de Bernard do mundo dos selvagens é justamente isso que se observa, ele não queria fazer algo diferente, ele queria ser igual aos outros...
 
Inicialmente acreditei que Bernard e Lenina seriam o casal que causariam alguma inquietação naquele mundo, que se inconformariam e talz.... achei isso por Bernard se sentir "deslocado" e Lenina me passou essa sensação quando, em conversa com Fanny ela diz que estava bem saindo com um cara só, me passou a impressão de que ela gostaria disso: de uma pessoa só, de ser diferente, só que não....

Estou achando o máximo esse negócio de o aAldous Huxley fazer o contrário do que a gente espera. :lol:

Tive exatamente a mesma impressão que você, Marci. :yep:
Depois que vi que não era nada disso foi me dando uma raiva desse casal.

Já na primeira semana estava detestando os dois, solenemente, mas agora acho que os compreendo melhor, porque vejo neles muita coisa em comum comigo mesma.

Por exemplo, não gostar de muitas coisas, de inúmeras convenções que existem na nossa sociedade, mas ao mesmo tempo não conseguir ficar sem tantas outras e de vez em quando se flagrar pensando/agindo exatamente como algumas dessas pessoas que tanto desprezo.

É triste admitir, mas acho que detesto tanto o Bernard Marx por causa disso. =/
 
Estou achando o máximo esse negócio de o aAldous Huxley fazer o contrário do que a gente espera. :lol:

Tive exatamente a mesma impressão que você, Marci. :yep:
Depois que vi que não era nada disso foi me dando uma raiva desse casal.

Já na primeira semana estava detestando os dois, solenemente, mas agora acho que os compreendo melhor, porque vejo neles muita coisa em comum comigo mesma.

Por exemplo, não gostar de muitas coisas, de inúmeras convenções que existem na nossa sociedade, mas ao mesmo tempo não conseguir ficar sem tantas outras e de vez em quando se flagrar pensando/agindo exatamente como algumas dessas pessoas que tanto desprezo.

É triste admitir, mas acho que detesto tanto o Bernard Marx por causa disso. =/

Também me vejo neles dois, inclusive o que citei do Bernard de mudar as atitudes conforme mudou a situação dele e achar agradável o que antes era detestável, também acontece comigo; quantas vezes pensei não gostar de determinada situação ou coisa e quando ver estar super sentindo/usando como se sempre tivesse sido assim...



PS. Alguém sabe se tem filme inspirado nesse livro???
 
PS. Alguém sabe se tem filme inspirado nesse livro???

Marci, há dois filmes baseados nesse livro, um de 1980 e outro de 1998:

Brave New World de Burt Brinckerhoff (1980) com Kristoffer Tabori (John), Bud Cort (Bernard Marx), Julie Cobb (Linda), Ron O'Neal (Mustapha Mond) e Marcia Strassman (Lenina);

Brave New World de Leslie Libman e Larry Williams com Tim Guinee (John), Peter Gallagher (Bernard Marx), Leonard Nimoy (Mustapha Mond), Sally Kirkland (Linda) e Rya Kihlstedt (Lenina Crowne).
 
Marci, há dois filmes baseados nesse livro, um de 1980 e outro de 1998:

Brave New World de Burt Brinckerhoff (1980) com Kristoffer Tabori (John), Bud Cort (Bernard Marx), Julie Cobb (Linda), Ron O'Neal (Mustapha Mond) e Marcia Strassman (Lenina);

Brave New World de Leslie Libman e Larry Williams com Tim Guinee (John), Peter Gallagher (Bernard Marx), Leonard Nimoy (Mustapha Mond), Sally Kirkland (Linda) e Rya Kihlstedt (Lenina Crowne).

já viu algum deles Spartaco?
 
Lendo as impressões dos(as) camaradas do Clube sobre Bernard Marx e refletindo sobre o prefácio de Huxley e Admirável Mundo Novo, cheguei a conclusão de que o nosso amigo, a despeito da covardia e oscilações de caráter, é tão revolucionário e subversivo quanto Helmholtz ou o Selvagem.

Partindo da relação com o saber: um pesquisador e educador francês chamado Bernard Charlot, diz que o homem nasce incompleto. Ao contrário dos demais seres vivos, que chegam ao mundo dotado de instintos que os fazem rapidamente se adaptarem às condições postas pelo seu habitat, o homem vem desarmado. Porém, antes de ser um defeito, é uma capacidade, pois tudo que é incompleto traz em si a possibilidade de preenchimento, que se fará através da apropriação de tudo o que a humanidade produziu ao longo de sua história. É através dessa apropriação (educação), que o homem se torna humano. Portanto, “educação é hominização”. Ocorre que é impossível beber de todas as fontes criadas. O desejo de se satisfazer, de ser humano, depende do momento histórico, do ambiente social, da localização geográfica. O homem se torna humano absorvendo a produção de seu ambiente “socioculturalmente determinado”. E, como cada homem é um, cada ser humano se fará individualmente, “absolutamente original”. Nesse aspecto, a educação é singularização. O processo de se completar, de se apropriar dos saberes, em suma, de se educar, é triplo. É “indissociavelmente hominização, socialização e singularização”.

Indo para Admirável Mundo Novo, temos que educação é condicionamento e este, por sua vez, é incompleto, já que nos tempos de Ford o mecanismo se baseia na "hominização" e na "socialização" - esta delimitada, e bem, pelo Estado. A característica da "singularização" é descartada, gerando padrões mentais uniformes em cada casta, refletidas também em portes físicos, nos múltiplos gêmeos e nas vestimentas.

Então, sendo Bernard Marx um Alfa Mais, ele é condicionado a agir e pensar com tal. Porém, por deficiência, retrai-se. E essa sensação de não-pertencimento, num meio de contatos, é o que o singulariza e, portanto, completa o processo educacional, dando-lhe a doída consciência de ser único. O não-acomodamento físico em meio aos Alfas acaba por torná-lo subversivo, construindo sua individualidade pela diferença. Daí a insatisfação, tão combatida pelo Mundo Novo, ser-lhe companheira e despertar sentimentos como a vergonha diante de Lenina, a inveja de Helmholtz e de John, a baixa-estima, o ciúmes, a vontade de pertercer, a covardia, o interesse. Características moralmente questionáveis, mas inegavelmente humanas. Num meio pasteurizado, ele se liberta. E o faz como indivíduo. Ainda que dado as orgias: estas como resultado de lacunas sentidas, dolorosas e infelizes; além do mais, há que se considerar que o homem, mesmo que rebelde deliberado ou fruto de acasos, nunca foge totalmente a ideologia hegemônica de sua época.

Citei o prefácio de Huxley, pois nele o autor considera a Revolução do Marquês de Sade (a despeito da loucura) superior a da guilhotinagem de Robespierre, pois o primeiro atuou no corpo, no indivíduo, e o segundo em estruturas políticas que, de esquerda ou de direita, aprisionam. Bernard Marx, mesmo que inconscientemente, num sentido foi mais Sade que Robespierre.

E lendo algumas passagens, como as que seguem, automaticamente me lembrei de Socorro, de Arnaldo Antunes:

Como não posso? Não, o verdadeiro problema é este: como é que não posso; ou antes, pois sei perfeitamente porque é que não posso, o que eu sentiria se pudesse, se fosse livre, se não estivesse escravizado pelo meu condicionamento?

(...) para experimentar o efeito produzido pela repressão dos meus impulsos.


Pra finalizar: A gente tem Bernard Marx e seus conflitos. Igualmente, vemos paixão e rejeição em Lenina; uma certa nostalgia no Diretor ao falar de sua ida à Reserva dos Selvagens; a inquietação inominável de Helmholtz; os instintos maternos em Linda. Tenho a impressão de que, pelos exemplos, é impossível a doutrinação completa do ser humano. Mesmo com todo condicionamento, cerceamento, drogas, o homem conserva em algum lugar sua indocilidade. (Chupa, Sistema!).

O que vocês acham dessa "revolução" de Bernard e da insubmissão intrínseca no homem?
 
Última edição por um moderador:
Admirável Mundo Novo é um dos meus livros favoritos, acho que vou reler para poder participar mais ativamente. Até porque gostaria de discutir do meio para o final, quando chega a parte do "selvagem".
Achei interessantíssimo essa questão dos nomes, nunca havia me ocorrido.
[...]
Lenina ainda é o padrão feminino ideal em nossa própria sociedade. Um caso recente que serve de exemplo: Mulheres aprendem a "desmunhecar" em curso para "atrair partidão"

A mulher se ver como um produto pra consumo, não há inovação, concordam? Exceto se por lá, naquele tempo, 1931... Estamos tão acostumados com esse comportamento que se a menina naturalmente não se identificar com a "feminilidade", a gente dá um empurrãozinho.

O Stalin apagava o Trotsky até das fotos, o safado! :lol:
[...]

Eu fiquei sabendo desta estratégia pelo filme: O sol da meia noite fiquei chocada. Depois soube que isso já era utilizado costumeiramente na história mundial. Sempre contam com a pouca memória do povo. Eu pensava que era o motivo do povo judeu ser tão odiado. Eles tinham a tradição de manter o conhecimento de memória e adaptá-lo para a vivência atual. Embora os registros oficiais fossem destruídos pelo colonizador o aprendizado não se perdia. Inclusive escrever não era considerado "nobre" para os gregos, "nobre" era memorizar tudo. Hoje queremos nossas mentes disponíveis para tomadas de decisões.

O livro Vigiar e punir, de Foucault, descreve como aceitamos ou introspectamos o modelo de vida atual. Foi brutal e em um segundo momento toda a inteligência montou essa engenharia de funcionamentos que hoje achamos natural. É um livro forte, não é fácil de ler.

Estou lendo a parte em que eles se deslocam em direção aos selvagens. O debate se desenrolou tão bonito, eu perdi. Estou de volta.

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Lendo as impressões dos(as) camaradas do Clube sobre Bernard Marx e refletindo sobre o prefácio de Huxley e Admirável Mundo Novo, cheguei a conclusão de que o nosso amigo, a despeito da covardia e oscilações de caráter, é tão revolucionário e subversivo quanto Helmholtz ou o Selvagem.

Partindo da relação com o saber: um pesquisador e educador francês chamado Bernard Charlot, diz que o homem nasce incompleto. Ao contrário dos demais seres vivos, que chegam ao mundo dotado de instintos que os fazem rapidamente se adaptarem às condições postas pelo seu habitat, o homem vem desarmado. Porém, antes de ser um defeito, é uma capacidade [...]

Pra finalizar: A gente tem Bernard Marx e seus conflitos. Igualmente, vemos paixão e rejeição em Lenina; uma certa nostalgia no Diretor ao falar de sua ida à Reserva dos Selvagens; a inquietação inominável de Helmholtz; os instintos maternos em Linda. Tenho a impressão de que, pelos exemplos, é impossível a doutrinação completa do ser humano. Mesmo com todo condicionamento, cerceamento, drogas, o homem conserva em algum lugar sua indocilidade. (Chupa, Sistema!).

O que vocês acham dessa "revolução" de Bernard e da insubmissão intrínseca no homem?

Não avancei muito, mas a impressão atual que tenho, é que todos eles tem questionamentos, e resolvem com soma. Com todo o trabalho que o sistema teve, mesmo assim surge de algum lugar "mal lavado" insatisfações, que também tem sua solução (soma). É isso que também me parece muito com a atualidade. O jeito que as pessoas dão para sua consciência. Ela incomoda, ou seja, não se acomoda ao sistema? Temos álcool e pílulas, ainda pode ser falta de mulher ou falta de homem. Êta... ainda bem que não vivemos no sistema FORD T :roll:

Ford T Model_launch_Geelong.jpg
 
Última edição:
Não avancei muito, mas a impressão atual que tenho, é que todos eles tem questionamentos, e resolvem com soma. Com todo o trabalho que o sistema teve, mesmo assim surge de algum lugar "mal lavado" insatisfações, que também tem sua solução (soma). É isso que também me parece muito com a atualidade. O jeito que as pessoas dão para sua consciência. Ela incomoda, ou seja, não se acomoda ao sistema? Temos álcool e pílulas, ainda pode ser falta de mulher ou falta de homem. Êta... ainda bem que não vivemos no sistema FORD T :roll:

Ver anexo 52273

É verdade, kuinzytao, elas resolvem os "impasses" com o soma. Mas todos os sentimentos "desagradáveis" são condicionados nos bocais e não brotam de insatisfações, já que o meio social foi construído para satisfazer desejos. Vejamos Lenina, por exemplo: ela se desespera de estar sozinha com Bernard sobre o mar escuro, no silêncio, numa sensação originada pelas repetições a que todos foram submetidos durante o sono; ela detesta e sente aversão aos Deltas e Ípsilons, porém como resultado da doutrinação. Outros sentimentos - igualmente sanados com soma - emergem do seu lado que escapou ao condicionamento.
 
Última edição:
Talvez seja isso o que aquele amigo dele, Helmholtz, vê no Bernard Marx e se irrita tanto. =/

No fundo ele (Bernard) só quer se igual aos outros, não está preocupado de fato com as coisas, não pensa que tudo poderia ser diferente, que é como parece o Helmholtz vê.

Ainda sobre o Helmholtz, me pareceu o mais sensato daquele povo todo.
Parece que ele vê, ou está em vias de ver, abaixo da superfície da sociedade.
Talvez não seja por acaso que (voltando ao tema dos nomes) ele tenha o mesmo nome de Hermann von Helmholtz, que era físico, médico e filósofo e um dos homens mais inteligentes do século XIX.
:rofl:

Esse cara, me escapou. Fala sobre percepção / sensação / leis da percepção

Helmholtz escreveu sobre assuntos diversos, desde a idade da terra até a formação do sistema solar:
* na fisiologia e na psicologia fisiológica, contribuiu com teorias da visão, da percepção visual, percepção espacial, visão a cores, sensação de tom sonoro, percepção do som, etc
* na física, é conhecido pelas suas teorias da conservação da energia, trabalhos em eletrodinâmica, termodinâmica química e numa fundação mecânica para a termodinâmica
* na filosofia, é conhecido por sua filosofia da ciência, idéias sobre a relação entre as leis da percepção e as leis da natureza, sobre a estética e idéias sobre o poder civilizador da ciência

Foi o criador da teoria da Panspermia Cósmica.

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É verdade, kuinzytao, elas resolvem os "impasses" com o soma. Mas todos os sentimentos "desagradáveis" são condicionados nos bocais e não brotam de insatisfações, já que o meio social foi construído para satisfazer desejos. Vejamos Lenina, por exemplo: ela se desespera de estar sozinha com Bernard sobre o mar escuro, no silêncio, numa sensação originada pelas repetições a que todos foram submetidos durante o sono; ela detesta e sente aversão aos Deltas e Ípsilons, porém como resultado da doutrinação. Outros sentimentos - igualmente sanados com soma - emergem do seu lado que escapou ao condicionamento.

A zona de conforto que se cria quando temos sucesso é difícil de abrir mão para algumas pessoas, a Lenina é um exemplo. Mas, tem os condicionamentos, que imagino são iguais aos dele.

Como sou muito curiosa, o conforto não é minha prioridade. O que mais me perturba neste sistema é o tédio de sempre fazer a mesma coisa e se conhecem os resultados, qual é a experiência mesmo? Ah, consumir. G-zuis como podem pensar nisto como felicidade.

Pensei que parece a vida brasileira dos domingos. Todo mundo espera o domingo para uma vida familiar e sabe o que fazem no domingo? – Comida!
Dá pra beber até encher, também. E desde que eu nasci, até agora (isso não é tanto tempo assim, só meio século), isto é assim. Eu sonhava em poder ser anti-social no domingo. E o livro me fez pensar que todo dia é domingo lá 8-O
 
Aproveitando que a kuinzytao tocou no Ford T, e que é o modo de produção "fordista" o aplicado na reprodução humana em Admirável Mundo Novo, achei esse vídeo que mostra os operários na linha de montagem do automóvel:


E também um texto que elucida bem o processo:


american-cities-108.jpg

Washington, 1937​

Há exatamente um século, os primeiros Ford T começavam a soltar fuligem, gases e partículas tóxicas nas ruas dos EUA. O primeiro “carro do povo” da história humana foi oficialmente concluído em 27 de setembro de 1908, mas as primeiras unidades só foram vendidas em 1 de outubro daquele ano.
Apelidado no Brasil de “Ford bigode”, o modelo produzido inicialmente em Detroit pode ser considerado não apenas um marco na história da hegemonia do automóvel sobre as cidades, mas também o início de uma das maiores falácias do capitalismo moderno: o mito de que todos podem (ou devem) ter um carro.
A grande inovação do Ford T não aconteceu no interior do bólido, na aerodinâmica, na velocidade máxima alcançada ou no consumo de combustível. Aliás, o Ford T gastava um litro de gasolina a cada 7 km, média muito parecida com a dos Stupid User Vehicles que destroem as cidades contemporâneas 100 anos depois.
A “revolução” do Ford T aconteceu dentro das fábricas. Foi com este modelo que a empresa de Henry Ford consolidou o sistema de produção que marcaria o século XX: a linha de montagem.
Usando a racionalidade capitalista da época, Ford descobriu que a produtividade de sua indústria seria alavancada se os operários permanecessem parados enquanto uma esteira movimentava o produto pelos diversos setores da fábrica. Se antes um mesmo operário montava o chassi, instalava a lanterna e colocava o estofamento, na linha de produção fordista cada operário era responsável por uma única função ou estágio da produção.
A divisão de trabalhos complexos (a produção de um carro) em diversos estágios simples (o apertar de um parafuso) permitiu a utilização de mão-de-obra menos qualificada e, principalmente, o aumento exponencial da produção e dos lucros da empresa.
O conceito da linha de montagem, junto com outras práticas capitalistas do início do século passado, foi chamado de “fordismo”, servindo como base para toda a indústria durante o século XX. Serviu também de inspiração para Charles Chaplin no clássico “Tempos modernos”, que conta a história de um angustiado “apertador de parafusos” em busca da felicidade para além das engrenagens.

moderntimes.jpg


Para enteder melhor o impacto da linha de produção: em 1913, a Ford tinha 13 mil empregados e produziu cerca de 260 mil carros. No mesmo ano, os 65 mil empregados das demais fábricas de automóveis produziram 286 mil unidades. Ou seja, com 5 vezes menos operários, a linha de montagem fordista garantia a mesma produção que os concorrentes.
Com a redução da folha de pagamento e o aumento da produção, a Ford pôde vender carros mais baratos que a concorrência e consolidou seu modelo como o primeiro carro “popular” da história, atingindo a marca de 15 milhões de unidades vendidas entre 1908 e 1927. Ou seja, em 19 anos a Ford colocou pouco menos do que três frotas paulistanas de 2008 para competir com bondes, trens, pedestres, ciclistas, praças e áreas de convivência. Não é preciso dizer quem venceu a disputa ao final do século XX.
A racionalidade fordista daquele início de século XX, tão eficiente para aumentar lucro e produção, só não contemplava uma variável: a finitude dos recursos. E não se trata apenas de combustíveis fósseis, aço ou ar limpo, mas também (e principalmente) de um recurso que se tornou cada vez mais precioso à medida em que a humanidade abandonou o campo e passou a viver majoritariamente em cidades: o espaço.
Números e lucros são infinitos. A submissão humana a trabalhos degradantes ou a desesperada luta pela sobrevivência também provaram ser bastante elásticas ao longo dos séculos. Mas a falácia fordista não considerou que é absolutamente impossível cada ser humano adulto possuir um automóvel, simplesmente porque não existe espaço para que todos estes carros sejam acomodados junto com as pessoas (isso para não falar dos recursos para produzir e alimentar a máquina).
A consolidação do automóvel como o símbolo maior do Ocidente fez com que boa parte dos países e cidades passassem boa parte do século XX em uma insana e degradante corrida em busca de recursos, idéias e espaço (muito espaço) para acomodar e alimentar os carros (...)

(Fonte)
 
Última edição por um moderador:
Quero só comentar uma coisa mesmo, sobre o decálogo que o Cantona colocou:

08 - Só se case por amor.

Isso me deixou em parafuso... Claro que a gente sabe que não é bem assim, que você só pode se casar por amor depois de cumprir algumas coisinhas aqui e acolá, como o 06. Mas e se fosse apenas isso: e se o governo te obrigasse a casar por amor?

O que quero dizer é: casar por amor é sinônimo de liberdade. Mas se o governo te obriga a ter liberdade, paradoxalmente isso não anula totalmente essa mesma liberdade?

N'O Admirável Mundo Novo, a coisa não seria parecida com isso? Ou não seria análoga? Não estou nem tanto falando dos Alfas, Ipsilones e tal e coisa, mas e se olharmos para os selvagens? A gênese deles talvez esteja em algo parecido com isso: o governo os obrigou a ficar em liberdade.
 
Aproveitando que a kuinzytao tocou no Ford T, e que é o modo de produção "fordista" o aplicado na reprodução humana em Admirável Mundo Novo, achei esse vídeo que mostra os operários na linha de montagem do automóvel:
[...] E também um texto que elucida bem o processo: ... A submissão humana a trabalhos degradantes ou a desesperada luta pela sobrevivência também provaram ser bastante elásticas ao longo dos séculos. Mas a falácia fordista não considerou que é absolutamente impossível cada ser humano adulto possuir um automóvel, simplesmente porque não existe espaço para que todos estes carros sejam acomodados junto com as pessoas (isso para não falar dos recursos para produzir e alimentar a máquina).
A consolidação do automóvel como o símbolo maior do Ocidente fez com que boa parte dos países e cidades passassem boa parte do século XX em uma insana e degradante corrida em busca de recursos, idéias e espaço (muito espaço) para acomodar e alimentar os carros (...)

(Fonte)

O condicionamento, nesse caso, considera uma pessoa como uma espécie e máquina mecânica e basta descobrir suas engrenagens e em que local devemos conectar, pra pilotar quem acreditamos que deveria fazer algo, que nós não estamos dispostos a fazer.

A ideia mais simples e mais antiga que é a do comercio de corpos, foi lembrada na época de Ford.
As pessoas começavam a ter direito a seus corpos. Então, se o sistema se alimenta da mão-de-obra barata e não somos "os horríveis comunistas" que obrigam as pessoas à..., como motivá-las à..., resolvido! quer comer, procura um trabalho?, quer um teto, procura um trabalho?, e ainda: você pode e qualquer um pode (todos não) ter a nova máquina maravilhosa.

Quero só comentar uma coisa mesmo, sobre o decálogo que o Cantona colocou:

... Manual da Família Alemã, que as autoridades nazistas distribuíam aos jovens casais. O decálogo inicial era o seguinte:
...
08 - Só se case por amor.
... Isso me deixou em parafuso... Claro que a gente sabe que não é bem assim, que você só pode se casar por amor depois de cumprir algumas coisinhas aqui e acolá, como o 06. Mas e se fosse apenas isso: e se o governo te obrigasse a casar por amor?

O que quero dizer é: casar por amor é sinônimo de liberdade. Mas se o governo te obriga a ter liberdade, paradoxalmente isso não anula totalmente essa mesma liberdade?

N'O Admirável Mundo Novo, a coisa não seria parecida com isso? Ou não seria análoga? Não estou nem tanto falando dos Alfas, Ipsilones e tal e coisa, mas e se olharmos para os selvagens? A gênese deles talvez esteja em algo parecido com isso: o governo os obrigou a ficar em liberdade.

Estou lendo "O poder do Hábito", um estudo científico que foi acompanhado com as mais alta tecnologia para "espiar" o funcionamento do cérebro, no departamento de Ciências Cerebrais e Cognitivas do Massachusetts Institute of Technology.
"O Poder do Hábito: Por que Fazemos o que Fazemos na Vida e nos Negócios" apresenta o resultado de duas décadas de pesquisa ao lado de psicólogos, sociólogos, publicitários e cientistas sobre comportamento. Escrito pelo repórter investigativo Charles Duhigg

Então, no livro os reguladores de hábitos, ou seja, as áreas de estudo especializadas em levar novos (ou necessários) hábitos para uma maioria, estudam todas essas maneira de conduzir, como se não estivessem conduzindo. Ex.: A polícia inglesa utiliza sons (que não se ouve) para que em certas áreas, pessoas sensíveis aquelas vibrações não "gostem" ou não suportem ficar muito tempo naquele local específico. No caso de amor, o amor foi uma invenção recente, não quero com esta informação retirar o valor da invenção e a literatura foi quem a propagou.

Temos como não seguir essas "tendências", mas precisamos crer que observar, analisar e chegar a conclusão sobre um assunto, importa sim. Não ter receio de discutir o que pensa, mesmo que as hipóteses sejam destruídas por especialistas. Se, ainda continuamos pensando da mesma maneira, não deixar pra lá. Ir a fundo para provar a si mesmo se há ou não "valor" em sua hipótese. Um exemplo: as mulheres alemãs fizeram a Revista Brigitte mudar sua estratégia, deixaram de comprar, dizendo que "essa revista não nos representa". Não toleravam a ditadura estética de "mulheres cabides", não queremos ver amontoados de ossos, mulheres anoréxicas e bulímicas, o "Size 0". Mas precisou terem passado por uma propaganda nazista, caírem nela, para perceberem que o que acontece aonde você vive, é de sua responsabilidade. Podemos aprender sem passar por essa barbárie.

A pouco dias eu vi essa notícia: O talibã tenta matar uma menina cujo texto, que fez aos 11 anos, sobre as escolas estarem proibidas para mulheres, foi publicado na internet, chamando a atenção do mundo para o assunto.
http://globotv.globo.com/rede-globo...ofre-atentado-do-taliba-no-paquistao/2181255/
Malala X Talibã.jpg

Tenho feito ironias sobre "não" estarmos no modelo de vida admirável de FORD T, pois vejo ele funcionando o tempo todo.
Nossas crianças aos doze anos, já contam quantas ficadas na festa, e já são aceitas ou discriminadas no grupo por isso. Todos são de todos, e se não for... é ruim.
 
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Isso me deixou em parafuso... Claro que a gente sabe que não é bem assim, que você só pode se casar por amor depois de cumprir algumas coisinhas aqui e acolá, como o 06. Mas e se fosse apenas isso: e se o governo te obrigasse a casar por amor?

O que quero dizer é: casar por amor é sinônimo de liberdade. Mas se o governo te obriga a ter liberdade, paradoxalmente isso não anula totalmente essa mesma liberdade?

N'O Admirável Mundo Novo, a coisa não seria parecida com isso? Ou não seria análoga? Não estou nem tanto falando dos Alfas, Ipsilones e tal e coisa, mas e se olharmos para os selvagens? A gênese deles talvez esteja em algo parecido com isso: o governo os obrigou a ficar em liberdade.

Mavz, é uma forma interessante de se pensar. A obrigação de ser livre, a liberdade vigiada, termos que se repelem nos significados, mas que paradoxalmente desenham o cotidiano das relações.

Eu interpretei a relação entre os Selvagens e a Civilização de Admirável Mundo Novo pela questão histórica do colonizador. Como se os Selvagens pertencessem a um passado remoto e puro, semelhante a visão de espanhóis e portugueses sobre os índios americanos. Num primeiro momento, a inocência acalentada, motivada até pela ideia de Paraíso Terreno, de País da Coconha e outros mitos de pureza e superabundância que povoaram a imaginação à época das Grandes Navegações. Num segundo, a superioridade eurocêntrica diante de um povo pagão e atrasado, como forma de justificar a exploração material e extermínio. No filme 1492 - A Conquista do Paraíso, vemos um Colombo levando índios para a Corte Espanhola, reforçando a imagem do exótico para quem o Ocidente seria uma benção com sua civilização. O mesmo posteriormente, com franceses, ingleses, belgas, holandeses e os escambau em relação ao negro: os utensílios e adereços religiosos, juntamente com os próprios negros, sendo expostos em espetáculos no melhor estilo "as coisas mais bizarras do mundo".

O condicionamento, nesse caso, considera uma pessoa como uma espécie e máquina mecânica e basta descobrir suas engrenagens e em que local devemos conectar, pra pilotar quem acreditamos que deveria fazer algo, que nós não estamos dispostos a fazer.

Exato!

E mais: Marx dizia que na produção capitalista o mundo produzido termina por governar o produtor. Huxley segue a linha, mas bota a coisa em outra dimensão: ao trocar o Ford-T por embriões, produtor e produto se confundem. Perdemos a noção de onde começa um e termina o outro, e a reificação capitalista atinge seu auge.


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Aproveitando a colocação do Mavericco sobre a obrigatoriedade da liberdade, temos a ditadura da felicidade. A mesma que também está presente em outras distopias, como Fahrenheit 451 e 1984.

Felicidade é instrumento de dominação?
 
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