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2666 (Roberto Bolaño)

Anica

Usuário
A tradução de Eduardo Brandão para 2666 do escritor chileno Roberto Bolaño é, sem dúvida, um dos maiores lançamentos literários aqui no Brasil em 2010. E por maiores não falo apenas da importância do acesso ao texto em português, mas também ao tamanho do catatau publicado pela Companhia das Letras: 856 páginas, adotando a decisão da família de Bolaño em não dividir 2666 em cinco partes como sugerido pelo escritor para facilitar o sustento dos filhos quando morresse. A obra foi publicada mais de um ano após sua morte, mas, como garante Ignacio Echevarría em nota à primeira edição, “o romance se aproxima muito do objetivo que ele traçou”.

E eu sei que para muitos fãs de Bolaño (e de 2666) eu provavelmente estarei cometendo uma heresia, mas decidi seguir o caminho oposto da família, e comentar o livro por partes, publicando os comentários sempre antes de iniciar a leitura da parte seguinte. E para começar, vamos de A parte dos críticos, primeira parte de 2666. Acredito ser importante destacar aqui que estou tentando ler o mínimo possível sobre o livro para não estragar a experiência, e que muito do que falar agora eu posso contrariar em textos futuros. Mas bem, qual é a graça de se ler uma obra sem participar da brincadeira da adivinhação do que está por vir?

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Eu ainda não comecei a minha jornada pelo 2666, preciso de mais tempo. Geralmente quando leio Bolaño vou numa tacada só e não gostaria de ter pausas imensas na leitura.
 
né? eu comprei o 2666 já tem um tempo, só comecei a ler qdo entrei em licença, pq sabia que poderia ler sem ficar parando (e não é bem o tipo de livro que vc lê de boa no ônibus, né. eu só consigo ler no sofá ou na cama, hehehe)
 
a folha.com fez uma entrevista recente com o tradutor, eduardo brandão.

13/07/2010 - 15h19
[size=x-large]Tradutor brasileiro de Bolaño defende que narrativa do autor é anti-heróica[/size]
PAULA DUME
colaboração para a Livraria da Folha

"Não sei qual deles é melhor: "Os Detetives Selvagens" ou "2666" ", questiona-se Eduardo Brandão, 64, tradutor brasileiro do autor chileno Roberto Bolaño (1953-2003).

O primeiro livro foi o mais difícil para traduzir. Já o segundo, tomou mais tempo, ou melhor, mais de um ano para finalizar o volume.

Lançado um ano após a morte do autor, "2666" é composto por cinco romances, interligados por duas tramas --a busca por um autor recluso e uma série de assassinatos na fronteira México-EUA. Explicado por que a obra conviveu mais de um ano com Brandão.

Em entrevista à Livraria da Folha, ele descreveu como trabalha na tradução de uma obra, comentou sobre o processo narrativo de Bolaño, "que é mais anti-herói do que qualquer outra coisa", entre outros aspectos. Com cerca de 140 obras traduzidas para a Companhia das Letras, o carioca começou a se dedicar à tradução de obras literárias e de ciências humanas, a partir da década de 1970.

Chegou a trabalhar como repórter do "Correio da Manhã" entre 1966 e 1968. Hoje, tem apreço especialmente pelas literaturas espanhola e hispano-americana contemporâneas.

Leia abaixo a íntegra da conversa.

*

Livraria da Folha: Bolaño faz com que o leitor sinta-se, em alguns momentos, agoniado com o desaparecimento dos personagens e surpreso com o retorno deles. No "2666", vários personagens mal se cruzam nas histórias. Enquanto traduzia, você se sentiu perdido ou surpreso com o retorno de algum deles?

Eduardo Brandão: Não, porque eu já tinha traduzido outros romances dele como "Os Detetives Selvagens" (2006) e ele usa esse mesmo recurso. De certa maneira, ele [Bolaño] reproduz muitas vezes o que acontece na vida da gente. Você cruza com uma pessoa, conversa, conhece, de repente você nunca mais a vê, e talvez ela apareça lá na frente novamente em outras circunstâncias. Desse ponto de vista, o procedimento narrativo do personagem que vai, some e nunca mais volta a aparecer, é bem calcado na nossa realidade.

Livraria da Folha: O "2666" assemelha-se a uma matriuska --a cada "abrir" de histórias, outras aparentemente menores saltam à vista. Qual história do livro mais lhe impressionou?

Brandão: O que mais me chocou foram as histórias dos crimes no México, onde ele [Bolaño] faz uma espécie de "romance-reportagem". Achava que era invenção, depois descobri que aquilo é pura verdade e continua existindo. Saiu outro dia no jornal.

Livraria da Folha: Você levou quanto tempo para traduzir o "2666"?

Brandão: Levei ao todo mais de um ano, mas houve algumas interrupções para fazer outras coisas não tão grandes. Não lembro exatamente quando comecei. Entreguei no começo do ano.

Livraria da Folha: A próxima tradução que você fará do Bolaño será a do "O Terceiro Reich"? Quando será lançado pela Companhia?

Brandão: Já traduzi. Vai ser lançado no ano que vem, mas não tenho certeza da programação.

Livraria da Folha: Como é seu ritmo de trabalho durante uma tradução? Você dedica quantas horas por dia? Tem uma disciplina, digamos assim?

Brandão: Sim, começo por volta das 10h e acabo lá pelas 23h30. De trabalho, deve dar umas 8h, contando as interrupções.

Livraria da Folha: Você também traduziu "Amuleto" (2008) , "Noturno do Chile" (2004), "A Pista de Gelo" (2007) e "Putas Assassinas" (2008), todos do Bolaño. Em qual deles, sentiu mais dificuldade em manter o estilo do chileno no português?

Brandão: O mais difícil de todos foi "Os Detetives Selvagens".

Livraria da Folha: Por que?

Brandão: Porque são várias narrativas, há mais de cem narradores. Isso é mais complicado, porque ele consegue dar a cada um deles uma fala própria. Você tem que tentar reproduzir o jeito daquelas pessoas falarem. O mais complicado deles foi o Amadeu, um velho que queria bancar um jovem. Ele usa umas gírias jovens, mas bem defasadas. O jeito de falar dele, empolado, informal, criou um estilo.

Livraria da Folha: Você traduziu 140 obras para a Companhia das Letras. De literatura infantojuvenil à livros de história e filosofia. Qual tradução foi a mais complicada de ser realizada e por que?

Brandão: Os infantojuvenis me distraem mais. Foi "Os Detetives Selvagens" mesmo, inclusive pelo uso dos "mexicanismos".

Livraria da Folha: Você recorreu a dicionários?

Brandão: Eu tive uma sorte danada com esse livro, porque acabei encontrando uma pessoa que me ajudou. Mandei um e-mail para essa moça. Ela conheceu o Bolaño lá no México e era da região onde passava boa parte das histórias do livro. Aquelas gírias "barra-pesada" que tinha ali [livro] só com ela mesmo.

Livraria da Folha: Cada parte do romance pode ser lida de forma independente. Você concorda com Bolaño ao defender que a obra fosse publicada em cinco volumes?

Brandão: Um volume foi a decisão mais sensata, inclusive foi a da viúva. Ele fez aquilo com uma preocupação não literária, vamos dizer assim, preocupado com os filhos e com a mulher. Apesar de ter histórias meio soltas, nenhuma é solta ali. Elas têm um ponto de contato.

Livraria da Folha: Na trama de "2666", Archimboldi morreu em 2003. Em parte, ele mimetiza o que foi o século 20 e o que seria o 21. Na sua opinião, qual dos dois séculos ou nenhum deles o livro representa?

Brandão: Acho que ele está mais com o pé no 21, principalmente por toda essa questão do narcotráfico. Claro que isso já existia no século 20, de certa forma ele [Bolaño] anteviu.

Livraria da Folha: Bolaño gosta de adotar em seus romances heróis fracassados pela própria realidade na qual sobrevivem ou simplesmente anular a existência deles. Você acredita que a narrativa de Bolaño faz as vezes de herói de seus personagens e até do próprio escritor?

Brandão: Herói não, propriamente, é mais anti-herói do que qualquer outra coisa. A narrativa dele surge de uma maneira tão espontânea. Existe ali uma catarse.

Livraria da Folha: As histórias não se fecham, são deixadas no ar. Se pudesse escolher uma delas para finalizar, qual seria e por que?

Brandão: Eu não concluiria, adorei o livro assim.

Livraria da Folha: Você conhecia o Bolaño antes de traduzi-lo?

Brandão: Confesso que nunca tinha ouvido falar. O primeiro que traduzi foi "Noturno do Chile", que achei meio estranho. Depois peguei "Os Detetives Selvagens", adorei e virei bolañista. Quando traduzi "Os Detetives Selvagens", não existia ainda a "bolañomania". Agora está começando a sair um monte de coisa [refere-se às cartas e manuscritos que serão publicados], embora ele fosse reservado sobre sua vida.
 
que foi publicada ontem aqui no meia -> http://www.meiapalavra.com.br/showthread.php?tid=5007 e comentada/linkada no artigo que abre o tópico...
 
Também quero ler Bolaño, e espero começar com 2666 também huhuhu

Tava meio com o pé atrás, porque teve gente dizendo que outros livros poderiam ser mais "tranquilos", mas se o livro chegar pra mim vou ler sem medo =D
 
Anica disse:
que foi publicada ontem aqui no meia -> http://www.meiapalavra.com.br/showthread.php?tid=5007 e comentada/linkada no artigo que abre o tópico...

o legal é q este tópico não aparece pra mim no fórum. só entrando no teu link.
 
.Izze. disse:
Também quero ler Bolaño, e espero começar com 2666 também huhuhu

Tava meio com o pé atrás, porque teve gente dizendo que outros livros poderiam ser mais "tranquilos", mas se o livro chegar pra mim vou ler sem medo =D

Não tem pq ter medo mesmo, Izze. Aquela coisa, não dá para dizer que não é uma narrativa complexa, até pelo tamanho dela (mais eventos interligados, digamos assim). Mas não tem nada de hermético, que só quem estude o cara pode tirar algum prazer da leitura. É o primeiro dele que estou lendo e estou me divertindo um monte.

JLM disse:
Anica disse:
que foi publicada ontem aqui no meia -> http://www.meiapalavra.com.br/showthread.php?tid=5007 e comentada/linkada no artigo que abre o tópico...

o legal é q este tópico não aparece pra mim no fórum. só entrando no teu link.

é, deve ser um bug.
 
Tô lendo, mas tô bem no começo ainda, lá pela página 100. Até agora não me empolguei o suficiente pra ler o livro sem parar. Tô intercalando com mais duas leituras, e devo começar mais duas amanhã, então devo terminar lá por setembro. A não ser que emplaque.
 
Comentário/Crítica de 2666 de Daniel Piza, do Estadão.

Bolaño em demasia

Na literatura, um dos maiores sucessos de crítica na última década é o chileno Roberto Bolaño, morto prematuramente em 2003, aos 50 anos. Ele começou a publicar aos 40 anos fazendo uma média de um livro por ano, entre contos, novelas, ensaios e romances. A edição póstuma de suas obras em países como EUA e França lhe deu uma reputação intelectual que havia muito um intelectual latino-americano não desfrutava. Gosto muito de livros como Noturno do Chile e Putas Assassinas, mas suas obras mais festejadas nos círculos intelectuais são os romances, Os Detetives Selvagens e 2666. Levei este para a África do Sul e ao longo do mês atravessei suas 850 páginas.

Soube que Bolaño pretendia provar com eles que era capaz de fazer ficção de fôlego, de grande dimensão, não apenas contos e novelas. Deixou instruções para que 2666 fosse publicado em cinco partes, e o fato de ter dado um título ao conjunto justificou que sua família o publicasse num único volume. Mas confesso que achei chato. Bolaño ora assume um tom secamente objetivo, quase relatorial, ora solta sua conhecida verve, sobretudo contra “círculos intelectuais”, como fizera em Detetives Selvagens. Mas a energia de sua imaginação crítica se perde na infinidade de referências e em frases sem cor como “Lia um gibi e tinha alguma coisa na boca, provavelmente uma bala” e no abuso de “então” como locução.

Sei que o efeito é intencional, mas os fatos vão se encadeando e os personagens se acumulando, entre cenas de sexo e violência, mas são poucas as recompensas, quer linguísticas, quer existenciais. A história gira em torno da busca de quatro intelectuais por um autor recluso, com o pomposo nome Benno von Archimboldi. A última parte, que se passa na Segunda Guerra, ganha do tema uma força maior, apesar de frases como “o amor é a aparência da paz”. Desconfio que boa parte do prestígio de Bolaño venha dessas tramas sobre escritores, desse pós-modernismo sem muito artifício. Prefiro muito mais o Bolaño dos livros curtos ou, para ir atrás, Borges e Onetti, cada um em seu estilo.

[spoiler/]
 
Comentário/Crítica de 2666 de Daniel Piza, do Estadão.

O artigo não chega a conter um "spoiler", mas acho justo colocar oculto para evitar contaminações na leitura, ainda mais que tem um povo já lendo a "Bíblia"... E eu acho que todo mundo tem que ter direito à sua leitura. Eu sinceramente estou curioso, mas prefiro ler outras coisas no momento e esperar passar a "onda" ou ficar com suas histórias menores...

Bolaño em demasia

Na literatura, um dos maiores sucessos de crítica na última década é o chileno Roberto Bolaño, morto prematuramente em 2003, aos 50 anos. Ele começou a publicar aos 40 anos fazendo uma média de um livro por ano, entre contos, novelas, ensaios e romances. A edição póstuma de suas obras em países como EUA e França lhe deu uma reputação intelectual que havia muito um intelectual latino-americano não desfrutava. Gosto muito de livros como Noturno do Chile e Putas Assassinas, mas suas obras mais festejadas nos círculos intelectuais são os romances, Os Detetives Selvagens e 2666. Levei este para a África do Sul e ao longo do mês atravessei suas 850 páginas.

Soube que Bolaño pretendia provar com eles que era capaz de fazer ficção de fôlego, de grande dimensão, não apenas contos e novelas. Deixou instruções para que 2666 fosse publicado em cinco partes, e o fato de ter dado um título ao conjunto justificou que sua família o publicasse num único volume. Mas confesso que achei chato. Bolaño ora assume um tom secamente objetivo, quase relatorial, ora solta sua conhecida verve, sobretudo contra “círculos intelectuais”, como fizera em Detetives Selvagens. Mas a energia de sua imaginação crítica se perde na infinidade de referências e em frases sem cor como “Lia um gibi e tinha alguma coisa na boca, provavelmente uma bala” e no abuso de “então” como locução.

Sei que o efeito é intencional, mas os fatos vão se encadeando e os personagens se acumulando, entre cenas de sexo e violência, mas são poucas as recompensas, quer linguísticas, quer existenciais. A história gira em torno da busca de quatro intelectuais por um autor recluso, com o pomposo nome Benno von Archimboldi. A última parte, que se passa na Segunda Guerra, ganha do tema uma força maior, apesar de frases como “o amor é a aparência da paz”. Desconfio que boa parte do prestígio de Bolaño venha dessas tramas sobre escritores, desse pós-modernismo sem muito artifício. Prefiro muito mais o Bolaño dos livros curtos ou, para ir atrás, Borges e Onetti, cada um em seu estilo.
 
uia, só 3 parágrafos para falar de uma obra daquele tamanho ele realmente não se empolgou muito. anyway, sobre isso aqui que ele comenta:

e no abuso de “então” como locução.

eu acho um comentário meio perigoso quando você está falando de uma tradução (o que parece ser o caso). o vício de linguagem pode ser do brandão, e não do bolaño. não estou querendo justificar nem nada, até pq não li o bolaño no original (e na verdade nem senti qualquer incômodo sobre abuso de "entãos"), mas acho interessante ter um pouco mais de cuidado na hora de criticar quando não estamos falando de uma leitura a partir do original. :think:
 
Anica, parabéns pelo seu comentário sobre a primeira parte de 2666. Eu a estou terminando e concordo plenamente com tudo o que você disse. O ritmo da narrativa é lento e com passagens aparentemente irrelevantes para o desenrolar da trama, porém, já é possível notar que cada trecho funciona como uma pequena peça para um quebra-cabeça gigantesco. Por enquanto, é impossível dizer onde tudo isso vai dar.

Com relação ao modo de Bolaño narrar a história, tem um pequeno ponto que, em mim, deixou a impressão que qualquer coisa pode acontecer no futuro: o texto segue um ritmo formal por 99% do tempo (adequando-se à natureza acadêmica dos protagonistas), porém, Bolaño acrescenta em alguns palavrões ou expressões pesadas que, no meio do texto, parecem perdidas ou fora do contexto. Por exemplo, quando vai descrever o sexo entre os personagens, inicia a descrição da cena de uma maneira formal, às vezes até fria, para logo após dizer secamente que eles "treparam". É como estivéssemos diante de um animal aparentemente domesticado e que dá o bote sem avisar.

Esses detalhes salpicados no meio do texto, provavelmente, dirão muito sobre a personalidade dos protagonistas no desenrolar da trama. Tenho certeza que a construção será lenta e que muitas reviravoltas acontecerão. Algumas expressas, outras veladas.

Um abraço!
 
Comentário flooder :happyt: Faz alguns posts que o Zeca Camargo tem falado de 2666 no blog dele... quando sair a resenha volto aqui...
 
Tony Belloto escreveu na coluna dele um texto bem humorado sobre o processo de ler 2666:

Não sei vocês, mas ando há algum tempo carregando meu 2666 pra tudo quanto é lado. O volume é pesado como um paralelepípedo, e falo apenas de sua forma — como dizer — externa. Por dentro, é claro, o livro pesa mais que as pontes Estaiada e a Rio-Niterói juntas. Sei que a obra de Bolaño vem sendo comentada e fruida por muitos ultimamente e não cabe a mim tecer críticas, loas ou digressões que sejam sobre o vasto romance. Como um leitor intuitivo e um tanto superficial, desprovido de repertório técnico e acadêmico, me limito a considerações práticas e, por que não, úteis aos que se arriscam pela sua leitura (imperdível, diga-se de passagem).

Por exemplo, não recomendo a leitura de 2666 em sushi-bares. Caso esteja sozinho, e tenha a ótima ideia de jantar no balcão de seu japonês predileto acompanhado de um livro, opte por uma edição de bolso ou algo menos substancial. Seu jantar pode ser comprometido pelo mau-humor do cliente ao lado, inconformado com aquele livrão a disputar espaço com polvos, nabos e atuns, além, claro, do desprazer de ver as tão cuidadosamente diagramadas páginas da edição brasileira manchadas de shoyu. As manchas de chá verde não são tão marcantes, fica aqui a dica.

Outro perigo, ler 2666 antes de dormir, deitado na cama. Não preciso explicar como adquiri um galo na testa e um pequeno corte no supercílio esquerdo. Por outro lado, a presença constante de 2666 pode proporcionar encontros mágicos e papos interessantíssimos, como a da senhora que encontrei outro dia num voo da ponte aérea, que, ao me ver com o Bolañaço nos braços, interpelou-me sem maiores delongas: “Em que parte você está?”. “Na Parte de Fate”, respondi. “Muito boa”, ela disse. “Estou com alguma dificuldade para concluir a Parte dos crimes”, prosseguiu, “mas achei a Parte de Amalfitano ma-ra-vi-lho-sa. Que homem louco, mas profundamente humano e apaixonante!”. Concordo com ela, a Celina, artista plástica, viúva de um aviador, dona de uma pousada em Itaipava e a caminho de São Paulo para a formatura de uma das netas no curso de medicina da USP.

Passadas algumas semanas desse encontro, como direi, bolañesco, também me deparo com alguma dificuldade para atravessar a Parte dos crimes, não sei se pela aridez do tema ou pelo excesso de subtramas e personagens. Talvez seja por puro prazer: diminuo o ritmo para melhor saborear as passagens que me remetem a um de meus autores prediletos, James Ellroy. Sei que cada um há de reconhecer alguém, ou um autor especial, nas inúmeras possibilidades e vias alternativas oferecidas pelo texto de Bolaño, mas tenho certeza de que ao final da leitura muitos farão (ou já fizeram) com o 2666 o que Amalfitano, inspirado por Marcel Duchamp, fez com O testamento geométrico, do escritor galego Rafael Dieste: pendurar o livro num varal. Aviso: embora eu ainda não tenha terminado a leitura, já ensaiei pendurá-lo no varal. Não é fácil, o livro é muito pesado, como se sabe. Resta sempre a possibilidade de atirá-lo à lareira acesa, como faz em momentos de reflexão o detetive catalão Pepe Carvalho, a quem a visão dos livros queimando produz um estranho efeito calmante. O que não posso aceitar é que um livro tão vibrante quanto o 2666 acabe seus dias repousando em silêncio em minha estante — como um velho gordo e aposentado — ainda que acompanhado, na letra B, de pesos pesados como Ballard, Block, Borges, Bowles, Bukowski, Burgess e Burroughs.
 
Pips, achei muito bom o texto.

Passei na livraria ontem procurando pelo Bolañaço (como disse Belloto) mas a bagatela de $56,00 não me permitiu a extravagancia (principalmente no meio do mês XD)
 
Continuando a leitura de 2666 de Roberto Bolaño, terminei ontem à noite a segunda parte (A parte de Amalfitano). Para situar quem acabou de chegar, estou seguindo na direção contrária do que foi adotado pela família do autor (publicação do que seriam cinco livros em um só) e fazendo os comentários aos poucos, sempre antes de iniciar a parte seguinte. Minhas opiniões sobre a primeira parte (A parte dos críticos) você pode encontrar aqui.

Eu sei que em teoria estou lendo o livro tal e qual a qualquer um – até porque mal estou interrompendo a leitura. Por causa disso acho que as sensações que tive sobre A parte de Amalfitano não serão tão diferentes, talvez só os achismos sobre o que as outras três partes podem trazer, o que será até divertido de confirmar depois. A verdade é que se não fosse a já familiar dificuldade para ler o catatau na cama, fiquei em alguns momentos com a impressão que tratava-se de um outro livro.

Leia a continuação do artigo »
 
Dando continuidade à leitura de 2666 de Roberto Bolaño, acabo de terminar A parte de Fate. Para quem chegou aqui agora, vale lembrar que estou escrevendo sobre a obra aos poucos, seguindo a ideia inicial de Bolaño de que cada parte seria um livro. Sobre A parte dos críticos você pode ler o artigo clicando aqui, e sobre A parte de Amalfitano você pode ler clicando aqui. Vamos seguir então aos comentários sobre a terceira parte de 2666.

Leia a continuação do artigo »
 
Eduardo Simantob escreveu um texto sobre Roberto Bolaño que achei bem interessante.

O escritor chileno Roberto Bolaño (1953-2003) era, na juventude, um exímio ladrão de livrarias. Quando lançou o seu primeiro grande romance, Os Detetives Selvagens, em 1998, pediu desculpas aos seus leitores pelo fato de o livro ser, justamente, grande demais. Com mais de 700 páginas, tratava-se - como observou em uma entrevista - de um tijolo difícil de afanar. Para os gatunos das prateleiras, Bolaño deixou um desafio ainda mais ousado no último livro que escreveu, publicado postumamente. Com previsão de lançamento no Brasil neste mês, o inacabado 2666 é um calhamaço de quase mil páginas que - mais que uma dificuldade para cleptomaníacos - ajudou a transformar Bolaño numa lenda do mundo literário. (...)

Fonte: http://bravonline.abril.com.br/cont...to-bola-dificil-roubar-otimo-ler-564223.shtml
 

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