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Clube de Leitura 22º Livro: O Processo (Franz Kafka)

Já estavam pela metade muito antes! haha.
Agora infelizmente tenho me ocupado com as apostilas dos cursos à distância que inventei de fazer.
Um bacharelado e mais uma especialização e um cursinho de produção editorial, tutti insieme. :dente:
Mas o Kafka está ali na sala de casa, embaixo do abajur; vejo-o todo dia. Uma hora o pego e retomo.
O @Spartaco também morreu na praia, né? Tamo junto. :highfive:
 
Já estavam pela metade muito antes! haha.
Agora infelizmente tenho me ocupado com as apostilas dos cursos à distância que inventei de fazer.
Um bacharelado e mais uma especialização e um cursinho de produção editorial, tutti insieme. :dente:
Mas o Kafka está ali na sala de casa, embaixo do abajur; vejo-o todo dia. Uma hora o pego e retomo.
O @Spartaco também morreu na praia, né? Tamo junto. :highfive:

@Béla van Tesma está correto, pois também acabei parando antes da metade, uma vez que estou lendo alguns outros livros agora, entre eles Doutor Sono do Stephen King; como já tinha lido um tempo atrás essa obra do Kafka, não me senti "negligente". Além disso, ainda pretendo retornar a leitura também.
 
Eu assisti ao filme do Welles e recomendo...

Claro que nada substitui a leitura da obra, e aquele sentimento de asfixia nem é transposto no longa, mas os espaços que a cenografia produz são interessantes, os aparelhos burocráticos e corporativos, as atuações (inclusive do próprio Orson como o advogado lá). É muito fiel à obra, exceto pelas partes finais....
 
Uhuuuuuul não sabia deste tópico!

Nossa, eu fiquei muito animada com esse livro. Tantas entrelinhas! Tanta discussão possível!

Vocês aí nem aguentaram ler até o final e eu estou pensando em reler logo depois de terminar, hahaha

Vou jogar algumas ideias aqui e depois em algum momento, algum dia, eu desenvolvo:

Sim, o sistema é opressor, corrupto e injusto. MAS o Josef K é um fdp e muito provavelmente um narrador não confiável. Além do fato de que o que ele faz no início é estupro sim (contra a Fraulein burstner, a locataria do quarto vizinho).

Da para separar mais ou menos o livro em 3 momentos: um em que ele é totalmente "rei na barriga", um em que a coisa começa a dar os sinais de ser "o buraco é mais embaixo", e a parte final em que é desespero total e tu percebe que ok, o Josef é um babava total mas mesmo se ele tivesse sido correto ao longo da história ele teria se dado mal também.

E claro tem n camadas de discussões sobre poder do Estado, autoritarismo /totalitarismo, criminologia, processo penal...
 
Última edição:
Eu cheguei a concluir a releitura na época (deve estar constando no meu censo kkk), mas já tinha perdido o bonde do cronograma e acabei não vindo aqui pra requentar o debate. Agora a Mellime toma as rédeas e se diverte. Daqui a pouco o Paganus descobre o tópico. E depois o Cide Hamete e... :timido:
 
Aliás ontem tive uma bela conversa com o Greg sobre o livro, que ele já havia lido antes. Como ele não é do direito, tivemos o papo focado em: como é no livro / como é hoje no caso específico do Brasil, o que desembocou em uma longa fala minha (para variar) que eu puxei o Beccaria para concluir (TLDR) que é por isso que a gente <IRONIA> "protege bandido".
 
Vou jogar algumas ideias aqui e depois em algum momento, algum dia, eu desenvolvo:
Os pássaros geralmente não voltam ao local onde deixam cair a semente das frutas com as quais se banqueteiam. Nem precisam. Elas se desenvolvem sozinhas, com o auxílio de outros ventos. Tentarei a seguir realizar um destes exercícios de ventilação para propiciar o desenvolvimento íntegro de tais
sementes.
Sim, o sistema é opressor, corrupto e injusto. MAS o Josef K é um fdp e muito provavelmente um narrador não confiável.
Suprima o "MAS" desta assertiva. O fato do "sistema" (burocrático?, divino?) configurar-se negativamente (a "utopia negativa" defendidas por alguns críticos) em nenhum momento afasta ou diminui a culpabilidade de K., e seja qual for o atributo meritório alcançado por Josef, ainda assim não será reconhecido nem como atenuante público nem enquanto virtude privada. O K. de o Castelo, que guarda afinidades eletivas com o K. do Processo, empreende sucessivos esforços em vão para tornar-se o agrimensor -- sua função original e natural -- a qual, entretanto, ficará sempre vedada por causa de "forças ocultas" barrando sua efetivação. Lá pelo meio do livro, K. logra um claramente supérfluo e subalterno posto de zelador de escola. Kafka parece querer dizer que o trabalhador moderno perdeu a capacidade de investir-se de uma função na ordem geral da sociedade/mundo, tendo de contentar-se em investir-se de um cargo. A ocupação desvincula-se da função -- esta que é, desde Platão, o termo utilizado para designar o melhor que determinado agente pode oferecer -- e acaba degenerando em ocupação, ou seja, mera contraposição ao ócio e ao estado improdutivo, satanizados pela frenética indústria de consumo.
No Processo, Josef K. aparenta progredir em seu emprego, talvez mesmo suas ocupação na empresa afinem-se com sua função real na vida. E é isto que deve ser processado -- mercê de uma acusação de conteúdo indefinível e de raiz indefinida, K. precisa expiar sua condição auspiciosa demais. O início de O processo apresenta um ambiente espaço-temporal extremamente alegre e pacífico: o clima matinal (signo da esperança e do recomeço) e o habitat familiar (quarto de K.). A invasão deste ambiente caloroso pelos oficiais de justiça qualifica-se não só como absurdo atentado contra a privacidade de K., como também a todo um modo de vida. A primeira cena representa mais que apenas uma nota destoante de uma corda flácida, expressa, isto sim, a incipiente desafinação de todo um
"instrumento" pelo qual K. se relaciona com o mundo.
e muito provavelmente um narrador não confiável.
K. nem narrador é, e "não-confiável" talvez mostre-se inexato para compreendê-lo. K. é um personagem desconfiado e, se enxergarmos por este aspecto, tocaremos o cerne da questão. K., devido ao seu estado de réu ignorante, buscará sempre arrancar abertamente ou extrair sutilmente dos que estão ao seu redor um esclarecimento qualquer sobre sua condição. Advém daí as exegeses feitas por Josef a cada momento, pois todo e qualquer acontecimento/pessoa que surgir na frente dele ou é obstáculo, ou é trampolim para sua plena relação com a máquina informe e absorvedora do judiciário. Poder-se-á descrever o caso de K. como de alguém que perdeu a inocência (formal) e, contudo, continua na ignorância (real).
Além do fato de que o que ele faz no início é estupro sim (contra a Fraulein burstner, a locataria do quarto vizinho).
Um crítico purista ou reacionário torceria o nariz para está observação, julgando-a tola e ideológicamente suspeita.
Mas estes detalhes dão realmente um caldo bem mais adubado do que uma simples constatação indignada por parte de leitores, digamos, tão ativistamentes desconstruídos quanto politicamente simplórios.
Por exemplo.
A Melian forneceu-nos, num outro tópico criado recentemente, uma deixa felicíssima: de que Otelo, o Mouro de Veneza, ao consumar sua tragédia, na verdade está pagando pelo "pecado" de contrair um pacto com uma branca. O tema do racismo como relação conflitante e merecedora de castigo para os brancos e pretos que ousam se unirem, aqui mostra-se prenhe de problematizações, ganhando contornos para além de uma indignação pontual e tacanhamente moral (embora, é bom recordar, "tacanho" não segue "moral" como o rabo segue o cachorro).
Tua observação é também deste naipe, Mellime. Só me limitarei a lançar uma provocação: muito se diz do caráter escorregadio das mulheres nos romances de Kafka. Há quem diga que todas elas, de uma forma ou outra, representam prostitutas.
A mulher na obra de Kafka já dá, no mínimo, matéria para um tópico próprio na Valinor.
Trabalhar partindo deste ponto é tarefa enriquecedora, além de fazer-nos lembrar que Kafka é inesgotável.
 

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