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Valinor entrevista Helge Kåre Fauskanger

O Ardalambion (com versão em português aqui) é o site mais completo sobre as línguas tolkienianas encontrado na Internet. O responsável por ele é Helge Kåre Fauskanger, filólogo norueguês e entusiasta das línguas de Tolkien, que nos concedeu uma entrevista onde fala, entre outras coisas, sobre sua paixão por idiomas, tolkienianos ou não, as desavenças que ocorrem entre dois grupos de lingüistas e o recém publicado livro de seu Curso de Quenya.

Colaboradores Fórum Valinor (CV) - Vamos começar com uma apresentação: quem é Helge Kåre Fauskanger e qual a sua profissão?

Helge Kåre Fauskanger (HKF) - HKF é melhor descrito como um norueguês de 33 anos com tempo disponível além da conta. Assim que eu terminei a universidade (onde estudei línguas nórdicas), meu pai sofreu um derrame. Embora ele esteja melhor, ele sente que precisa de alguém que cuide dele, então nosso famoso estado escandinavo de bem-estar social me paga uma pequena quantia para ficar em casa com ele. (Sou filho único, e minha mãe e avós já faleceram, então não há mais ninguém a quem recorrer.) É claro que esse arranjo não pode durar indefinidamente. Pretendo ser escritor algum dia, mas talvez não como minha única profissão.

CV - Como e quando você conheceu a obra de Tolkien?

HKF - No final da minha adolescência. Simplesmente aconteceu de eu pegar o Senhor dos Anéis na biblioteca local.

CV - Os idiomas do mundo tolkieniano despertaram a sua curiosidade desde o início de sua leitura dos livros?

HKF - Sim. Eu lembro de ficar instantaneamente cativado pela escrita em Tengwar na página do título, e consultei as descrições lingüísticas nos Apêndices antes de sequer ler a história do SdA em si!

CV - O aprendizado das línguas tolkienianas, ou pelo menos um conhecimento básico das mesmas, ajuda na compreensão da obra de Tolkien, principalmente em sutilezas como o significado dos nomes de certos personagens?

HKF - Eu sinto que isso me dá um prazer a mais na leitura, se é isso que você quer dizer. Mesmo quando os nomes de personagens ou lugares são traduzidos no texto, é legal ser capaz de reconhecer os elementos dos nomes élficos.

CV - Como surgiu a idéia de criar o Ardalambion? Você tinha em mente um possível auxílio à obra de Tolkien ou foi por motivos particularmente filológicos?

HKF - Quando entrei na internet pela primeira vez, no meio dos anos noventa, me inscrevi na lista TolkLang, mas logo descobri que não havia uma fonte online que fornecesse descrições detalhadas dos idiomas. Os novatos não tinham aonde ir. Na verdade, mesmo as fontes disponíveis em livro estavam muito desatualizadas, já que muitas informações novas estavam aparecendo na série HoMe. Então me preparei para preencher aquela lacuna.

CV - Como surgiu essa paixão por línguas, do mundo real” ou não, e o desejo de estudá-las?

HKF - Provavelmente Tolkien contribuiu de modo considerável para despertar meu interesse no estudo de lingüística, embora eu já fosse desde a infância interessado em escritas e símbolos misteriosos.

CV - No Ardalambion você menciona ter escrito sobre as traduções norueguesas da Bíblia, seu interesse em religiões e o aprendizado de hebraico, tanto relacionado com a lingüística como com a satisfação pessoal. Você é uma pessoa religiosa ou mais propriamente um estudante de teologia?

HKF - Minha própria filosofia provavelmente é bastante "agnóstica"; não creio que possamos, estrita ou cientificamente falando, "saber" algo sobre questões metafísicas. Então, eu provavelmente sou mais um estudante de teologia, mas não no sentido acadêmico. De fato, cada sistema de crenças forma um "mito" em si mesmo, que pode ser avaliado e apreciado independente de crenças ou descrenças pessoais.

CV - O aprendizado de hebraico por “satisfação pessoal”, estando relacionado ou não de algum modo com suas crenças, serve para se ter, por exemplo, uma compreensão maior da própria Bíblia?

HKF - Tenho muitos motivos para estudar o hebraico. Claro, como um aspirante a lingüista eu gosto de estudar um idioma não-indo-europeu. E sim, eu também gosto de avaliar os textos bíblicos conforme foram originalmente escritos (o que não é, porém, uma indicação de "fé" no sentido fundamentalista ou evangélico). Mas o hebraico também é um idioma especial "mitologicamente" falando, uma vez que certas tradições o vêem como o "idioma do Éden", o "idioma perfeito" original ou mesmo a "língua dos anjos". Eu realmente não "acredito" nisso com minha mente racional, é claro, mas eu ainda posso "apreciar" tal cenário mitológico, assim como eu posso apreciar a história do Silmarillion sem acreditar que os verdadeiros sol e lua foram criados a partir dos últimos frutos das Duas Árvores de Valinor!

CV - Você já traduziu para o quenya os dois primeiros capítulos do Gênesis e o nascimento de Jesus segundo o Evangelho de Mateus. Você pretende dar continuidade a essa tradução de trechos da Bíblia? Se sim, quais você teria em mente?

HKF - Sim, eu posso vir a traduzir outras seções também. Seria interessante tentar traduzir o livro inteiro do Gênesis ou um evangelho inteiro (provavelmente Mateus). Eu não faria isso por achar que alguém precise ler a Bíblia em quenya para alcançar a salvação eterna, mas sim para descobrir até que ponto o idioma é realmente utilizável: com quanto de "neo-quenya" eu teria que me munir para completar o trabalho? Mas posso esperar alguns anos antes de me engajar em tais projetos minuciosos de tradução, uma vez que eu gostaria de ver antes mais dos escritos gramaticais inéditos de Tolkien publicados.

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CV - Você assistiu ao filme A Paixão de Cristo? Caso tenha assistido, o que você achou do uso dos idiomas originais (hebraico, aramaico e latim) no filme? Eles contribuíram para um sentido de veracidade maior para os eventos ali descritos? E quanto ao hebraico: seu conhecimento da língua foi suficiente para entender os trechos falados nela?

HKF - Sim, assisti. Quanto à cena que vi na TV (Satã tentando Jesus no jardim antes de ser preso), eu a gravei e me diverti escutando o diálogo repetidamente, até que eu pudesse compreender muitas das palavras. É claro, isso é aramaico e não o hebraico bíblico que estudei, mas os idiomas ainda são intimamente relacionados e compartilham muito da gramática e vocabulário.

Obviamente que o uso dos idiomas originais coloca esse filme em uma classe própria. Você pode brincar com a idéia de que esse filme é realmente uma vitrine para a Jerusalém do primeiro século, o que é um tanto mais difícil quando os personagens falam inglês ou algum outro idioma europeu – como em praticamente todos os outros filmes "bíblicos". Devemos supor então que os personagens "realmente" falam aramaico ou hebraico, mas que por conveniência os "escutamos" como inglês (mais ou menos da forma como os personagens da trilogia de Jackson "realmente" falam westron, mas nós misteriosamente o escutamos como uma língua moderna – em teoria, mesmo a versão original em inglês, de certa forma, é dublada!)

CV - Voltando às línguas tolkienianas, como surgiu a idéia de um Curso de Quenya? Já haviam-no procurado para ensinar alguma língua de Tolkien?

HKF - Eu recebia inúmeros pedidos de pessoas que perguntavam "como eu posso aprender quenya?". Então, por fim, decidi escrever um curso completo.

CV - Existe a possibilidade de você criar um Curso de Sindarin nos moldes do Curso de Quenya ou do Curso de Sindarin de Thorsten Renk?

HKF - Em condições ideais, eu gostaria de oferecer um curso de sindarin completo como a contraparte do curso de quenya. Mas o sindarin é muito mais pobremente atestado do que o quenya. Além disso, o idioma tem suas próprias complexidades. Eu posso escrever um texto em quenya e me sentir razoavelmente seguro de que Tolkien o teria reconhecido como, no mínimo, alto-élfico aproximadamente "correto", mas eu não posso escrever um texto substancial em sindarin com a mesma confiança. Seria mais como "isto PODE estar correto, mas eu de modo algum tenho certeza de que reconstruímos as intenções de Tolkien corretamente". Então, basicamente, espero a publicação de mais escritos de Tolkien sobre o sindarin. Dada a quantidade de tempo que desejo gastar nestas questões, escrever um curso completo para um dos principais idiomas tolkienianos é algo como um projeto de dois anos. Se eu for embarcar em tal megaprojeto pela segunda vez, devo ter fontes tão completas com as quais trabalhar para que eu possa ter certeza de que o resultado seja merecedor de uma leitura, ou mesmo de escrevê-lo.

CV - Como você viu o uso das línguas tolkienianas, élficas ou não, nas recentes adaptações cinematográficas de O Senhor dos Anéis?

HKF - Dada a importância dos idiomas para o próprio Tolkien, estou feliz pelos realizadores dos filmes terem também tentado dar-lhes um lugar nos filmes.

CV - Você foi capaz de compreender os diálogos nessas línguas quando eram falados nos filmes sem ter a necessidade de ler as legendas?

HKF - Bem, quando a Liv Tyler aparece pela primeira vez e diz "Im Arwen", decifrar isso como "Eu [sou] Arwen" não é muito difícil... Na primeira vez que assisti, acho que reconheci na mesma hora muitas palavras soltas, mas não posso dizer que compreendi frases inteiras.

CV - Muitas pessoas entram em contato com você pedindo a tradução de alguma coisa, como por exemplo inscrições de anéis de noivado? Você atende tais pedidos?

HKF - Sim, recebo um bom número de pedidos desse tipo, e geralmente tento dar algum tipo de resposta.

CV - Há dois grupos de “lingüistas” tolkienianos que defendem pontos de vista diferentes em relação às línguas de Tolkien e que frequentemente entram em algum atrito: aqueles interessados no estudo acadêmico das línguas (representados principalmente pelo jornal Vinyar Tengwar e pelo seu editor, Carl F. Hostetter) e aqueles interessados em usar as línguas de algum modo prático (onde você estaria incluído); os primeiros são contra a criação de novas palavras, mesmo quando baseadas no material já existente, enquanto que os últimos praticam essa criação constantemente. Qual a sua opinião sobre esses dois modos de se lidar com as línguas de Tolkien? E como você vê os atritos que surgem entre esses dois grupos de tempos em tempos? O motivo de tais desentendimentos seria mais um problema de egos do que do uso das línguas em si?

HKF - Muitas perguntas em uma...

É claro, o estudo dos idiomas de Tolkien deve começar a partir do material do próprio Tolkien, embora os estudantes iniciantes talvez não devessem ir direto às fontes primárias (isso pode parecer desanimadoramente complexo para pessoas que não conhecem nada de antemão... "As Etimologias" pode ser um documento original de valor imenso, mas entregá-lo a um novato insistindo que "isso vai te dizer muita coisa sobre os idiomas de Tolkien" dificilmente é o melhor modo de tratar novos estudantes).

Alguns nós querem cultivar ativamente o quenya e o sindarin, ensinar formas padronizadas deles e compor novos textos nesses idiomas. Algumas das pessoas de mentalidade "acadêmica" aparentemente têm muito medo de que os idiomas afastem-se das intenções originais de Tolkien e de que as fontes primárias sejam tratadas com desdém com novos estudantes estudando preferencialmente fontes secundárias como meu site. Claro, a maioria dos acadêmicos barulhentos estão eles mesmos engajados na publicação do material linguístico de Tolkien, e talvez seja simplesmente natural que eles queiram tantos leitores quanto possível para o material que eles têm meticulosamente editado e explicado. Sites como o meu possivelmente são vistos como "competição" indesejada!

Na sua aparente ânsia de eliminar tal "competição", algumas das pessoas de mentalidade "acadêmica" tornaram-se muito ávidas em rejeitar a Línüística Tolkieniana Aplicada ou Prática, insistindo que nenhum texto pós-Tolkien em quenya ou sindarin jamais poderá estar em quenya ou sindarin "autênticos". Levando isso ao seu extremo lógico, essa visão implica que, enquanto o artigo i "o(s), a(s)" e o substantivo Elda "elfo" podem estar em quenya autêntico se considerados separadamente, a combinação i Elda deve ser rejeitada como não autêntica, a menos que esse modo de expressar "o elfo" seja explicitamente atestado em algum manuscrito de Tolkien. Pessoalmente, acho isso absurdo.

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CV - Quanto ao material lingüístico ainda inédito, baseado nas informações de edições do Vinyar Tengwar, Parma Eldalamberon (jornais que ainda publicam tais materiais) e nos comentários da Equipe Editorial, podemos esperar a publicação de mais material “tardio” ou estaremos restritos à publicação de fragmentos primitivos das línguas? Caso possamos ter mais materiais “tardios”, quanto ainda restaria para ser publicado? Algo que mude significantemente nosso conhecimento atual de quenya e sindarin “maduros”?

HKF - De acordo com o que Christopher Gilson [um dos membros da Equipe Editorial] me contou alguns anos atrás, a maioria dos escritos lingüísticos de Tolkien data do período anterior à composição do Senhor dos Anéis, e é apenas desse período que existem escritos gramaticais detalhados. Mesmo se pudéssemos ter apenas o material anterior a 1950, ele já seria de grande valor, uma vez que saberíamos então como Tolkien via os idiomas quando de fato escreveu O Senhor dos Anéis.

Quanto aos planos de publicação da Equipe Editorial, você deve falar com eles, não comigo. Aparentemente o plano principal deles é publicar o material cronologicamente no Parma Eldalamberon, embora pedaços menores de material tardio possam aparecer no Vinyar Tengwar – especialmente se ele estiver de algum modo relacionado ao material já publicado por Christopher Tolkien na HoMe. O projeto "cronológico" já alcançou por ora o material dos anos vinte. Quando tivermos material dos anos trinta, ele deverá ser no mínimo tão "maduro" quanto o material do Etimologias. Ainda estamos para ver, é claro, até que ponto novos materiais nos forçarão a repensar nossas recontruções atuais dos idiomas. Ainda assim, uma vez que os idiomas de Tolkien são tão mutáveis nas fontes primárias, frequentemente pode ser difícil dizer se uma certa reconstrução está estritamente "errada" ou "certa". Mesmo se isso vier a contradizer as idéias de Tolkien tal como elas apareceram em determinado estágio, é possível que tenhamos reconstruído corretamente as intenções de Tolkien em outro estágio. Verei o que vamos conseguir e vou reescrever meus artigos de algo que escrevi acabar se mostrando obviamente errado.

CV - Você já pensou em transformar suas listas de palavras do quenya (Quettaparma Quenyallo e Quettaparma Quenyanna) em um programa no estilo do Dragon Flame (dicionário de sindarin) de Didier Willis?

HKF - Não, mas eu não me importaria se alguém quisesse colocar minhas listas de palavra em um software desse tipo.

CV - Qual sua língua tolkieniana preferida e por quê?

HKF - Uma vez que alguns idiomas são muito mais completos e melhor atestados do que outros, é difícil fazer uma comparação justa. Quenya é de longe o idioma mais completo, e é em cima dele que passei a maior parte do tempo. Talvez isso o torne meu favorito, de certo modo. Ainda assim, também me sinto atraído pelo estilo celta do sindarin, e espero que eventualmente aprendamos muito mais sobre ele. Os outros idiomas são meramente curiosidades fragmentárias.

CV - Você já estudou português ou teve algum contado com o idioma? Você conhece algo na nossa língua?

HKF - Temo que não. Se eu fosse estudar alguma língua românica, provavelmente seria francês.

CV - Seu Curso de Quenya acabou de ser publicado em livro, em português e no Brasil. Como é ter o seu material publicado em livro e, curiosamente, primeiro em um idioma e país estrangeiros? Você imaginava que tal coisa aconteceria algum dia?

HKF - Não, certamente eu não imaginava. Eu sonhava me tornar um autor publicado (embora não necessariamente na área da lingüística tolkieniana), mas certamente nunca pensei que meu primeiro livro seria publicado em um idioma que não conheço e em um hemisfério que eu nunca visitei! Muitos dos meus artigos no meu site, incluindo o Curso de Quenya, já foram traduzidos para outros idiomas, mas apenas para outros sites. Nenhum deles foi transformado em livro (pelo menos não oficialmente ou com minha permissão: algumas partes de um livro publicado na Alemanha eram "muito" similares a certas passagens dos meus artigos...). Visitar os sites traduzidos, dar uma olhada em um texto que é e não é meu, é uma experiência muito estranha para mim. O livro em português certamente me dará uma sensação semelhante.

CV - Como você vê esse fato: você acha que ele será importante para estimular lançamentos semelhantes no futuro, e também em inglês (ver a Gramática de Sindarin, de David Salo)?

HKF - O meu material está disponível como um livro eletrônico em inglês; realmente, eu não tinha quaisquer planos de publicar esse curso no papel em qualquer idioma (mas quando as pessoas me procuram e me pedem muito, muito gentilmente, eu acho difícil dizer não...). A publicação eletrônica tem suas vantagens e desvantagens, assim como a publicação em papel. A grande vantagem da publicação eletrônica é, claro, que o autor pode revisar o texto quantas vezes ele quiser e, uma vez que muitos dos escritos do próprio Tolkien ainda não foram publicados, é mais do que provável que irei querer fazer revisões se novos materiais aparecerem. Mas os leitores preferem um livro físico, uma vez que a leitura de centenas de páginas na tela de um computador (ou a impressão delas por conta própria) não é muito prática. Porém, uma versão impressa é necessariamente um documento fixo que em alguns anos pode não mais representar minha visão sobre a gramática do quenya. Esse é o dilema enfrentado por todas as pessoas que desejam escrever sobre os idiomas de Tolkien. Devemos tentar estimular tais lançamentos se em alguns anos esses livros poderão ser vistos como parcialmente obsoletos? Ou devemos esperar até que todos os escritos de Tolkien estejam disponíveis, de modo que estudos mais "definidos" possam ser produzidos? Infelizmente não sabemos quando todos os escritos de Tolkien serão publicados; obviamente muitos anos ainda devem se passar, embora o projeto esteja em curso. Não me entenda mal: eu certamente recebo com prazer o livro de David sobre Sindarin, assim como outras publicações. Tem havido uma distinta falta de livros sobre lingüística tolkieniana que leve em consideração a quantidade de informações que apareceram nos anos oitenta e noventa.
 

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