QUEM FOI QUE DISSE QUE "ALEXANDRE"É RUIM ?
Por Thiago "El Cid" Cardim, da Redação A ARCA
Definitivamente, não dá para botar tanta fé assim nos críticos. Tudo bem que talvez esta frase não tenha o impacto merecido por estar sendo escrita por... er... bem... por um crítico. Mas não deixa de ser o mais puro retrato da verdade. Senão, vejamos: há semanas da estréia de "Alexandre" – épico do diretor Oliver Stone sobre o rei e conquistador macedônio Alexandre, o Grande – nas telonas americanas, a imprensa especializada tratou de malhar o filme até não poder mais.
Até alguns gatos pingados nos veículos tupiniquins ecoaram o que os críticos ianques alardearam sem sequer ter assistido ao filme. Tsc, tsc... Muitos poderiam justificar seu acerto ao taxar a obra como "superficial, tola, pueril e decepcionante" com o péssimo desempenho que a película teve nas bilheterias gringas – estreando num amargo sexto lugar.
Saibam, portanto, que isso não quer dizer absolutamente nada. Se excelentes resultados nas bilheterias significassem realmente alguma coisa, "Titanic" seria sem sombras de dúvidas o melhor filme da história da humanidade. E não é bem por aí, não é mesmo? Verdade seja dita: "Alexandre" é um ótimo filme. Um épico poderoso e intenso como há muito não se via no cinema americano, muitíssimo superior ao acovardado "Tróia" e melhor até do que o superestimado "Gladiador". E, com certeza, uma obra que não é feita para o gosto do americano médio, aquele viciado em refrigerante, sitcoms e que passa mais tempo no sofá vendo TV do que na companhia de outros seres humanos. Talvez isso explique o fracasso de "Alexandre" no box office.
A principal marca do filme é mesmo a mão do diretor. Com o talento costumeiro – que, é claro, divide opiniões –, Oliver Stone usa e abusa da bela fotografia e consegue, de uma vez por todas, desvincilhar-se da receita de bolo de Peter Jackson em "O Senhor dos Anéis", seguida à risca por Wolfgang Petersen em "Tróia". As sequências de batalha são radicalmente diferentes – sufocantes, trepidantes e, em muitos momentos, nauseantes. Prepare o estômago para muito derramamento de sangue e membros cortados voando pra lá e pra cá.
Mas o maior mérito de "Alexandre" é se focar não nestes intermináveis enfrentamentos entre tropas de milhares de soldados armados até os dentes e sim no personagem principal. É graças a competente interpretação de Colin Farrell como o homem que quis chegar ao fim-do-mundo e acabou enlouquecendo em seus planos de conquista que a
história caminha. De maneira um tanto lenta, admito: para o público da geração MTV, "Alexandre" pode parecer um tanto maçante, com diálogos demais e ação de menos. Cá entre nós: ufa, ainda bem.
Apesar de lenta, a narrativa de Stone caiu como uma luva para o tipo de história que ele se pretendeu contar. Para quem passou a maior parte de suas aulas de História rabiscando super-heróis nos cadernos ao invés de prestar atenção no professor, vai aí um resumo do que se trata o filme: nascido na Macedônia, Alexandre foi treinado para ser o melhor desde a infância. Filho do rei, ele assumiu o trono aos 25 anos, logo depois da conquista da Grécia.
Batizado como herdeiro de Aquiles e filho de Zeus, conquistou mais de 15 mil km de territórios ao leste, chegando até a Índia e estabelecendo o maior império conhecido da história antiga. Antes de morrer, aos 33 anos, o monarca passou a vida em busca de seu verdadeiro lar, cercado de traidores e muitos amores – incluindo aí sua bela esposa Roxana (a sensual Rosario Dawson) e o amigo de infância e amante Hefaísto (Jared Leto) – chamado nas legendas de Hefeiston –, o único que o acompanhou quase cegamente por toda a vida.
Ah, sim. Agora toquei num assunto delicado. A tal bissexualidade de Alexandre, que chegou a render inclusive um pedido de retratação do povo grego ao diretor do filme. Ai, ai.
Bom, o que é possível dizer sobre o assunto é que tanto bafafá sobre este detalhe é realmente exagerado. Coisa para encher as revistas de fofocas. Porque, cá entre nós, é meramente um detalhe. É fato que, na época, os gregos tinham uma vida sexual muito ativa e não tinham qualquer preconceito quanto ao sexo de seus parceiros. Onde diabos você acha que surgiram as bacanais? Assim sendo, nada mais apropriado.
Se é historicamente correto ou não no que concerne a vida de Alexandre, isso são outros quinhentos – mas faz completo sentido para a trama do filme, retratando um homem perturbado que se entregava aos seus amores de maneira tão insensata, como se querendo preencher uma lacuna em sua vida, que quase colocava suas impressionantes conquistas a perder. Destes amores, Hefaísto teria sido o maior e mais duradouro.
Voltando ao filme e deixando os fuxicos de lado: além de Farrell, o restante do elenco estelar cuida muito bem do riscado. Apesar do sotaque britânico um tanto forçado, Angelina Jolie está ótima como Olympia, a super-protetora mãe de Alexandre, acusada de ser bárbara (leia-se "oriunda dos povos considerados não-civilizados pelos gregos
na época") e também feiticeira pelo marido, o beberrão Filipe, o Caolho – vivido de maneira assustadoramente interessante por Val Kilmer, conhecido por sua canastrice lendária. O excelente Anthony Hopkins está irreconhecível como o envelhecido Ptolomeu, amigo de Alexandre e narrador da história.
Uma única ressalva: a batalha entre os gregos e os persas acabou ficando com um cheiro muito estranho no ar. Quando Alexandre cavalga na linha de frente de seus homens enfileirados, fazendo aquele discurso básico antes do sanguinolento enfrentamento que se dará a seguir, tudo soa "americanista" demais. O líder afirma que os persas (vejam só, um povo barbudo e com lenços enrolados na cabeça, morando no meio do deserto. Te lembra de alguém?) lutam por ter medo de seu rei e também pela ganância, enquanto os macedônios e gregos lutam pela...liberdade!
Um tanto quanto George W.Bush demais, embora se enquadre de certa maneira no contexto do filme, conforme é possível conferir mais adiante. Crítica velada? Puxa-saquismo? Nenhum dos dois? Só Oliver Stone poderia responder.
No mais, resta sugerir que o leitor evite estas unanimidades burras e arrisque assistir a "Alexandre". Você pode se surpreender. E descobrir que, no final das contas, certos críticos adoram fazer muito barulho por nada. Tire suas próprias conclusões.
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Para conferir um pouco da trilha sonora do filme, basta visitar o site:
www.alexandersoundtrack.com
E, cá entre nós, a trilha do Vangelis está FENOMENAL!!!!!!!!!!!! Basta conferir os trechos de Young Alexander e Titans, por exemplo, q conseguem até arrepiar. Resta saber se Stone fez bom proveito dessa preciosa trilha no seu épico.
P.S: Arrisco dizer q é a melhor trilha sonora desde SdA.