• Caro Visitante, por que não gastar alguns segundos e criar uma Conta no Fórum Valinor? Desta forma, além de não ver este aviso novamente, poderá participar de nossa comunidade, inserir suas opiniões e sugestões, fazendo parte deste que é um maiores Fóruns de Discussão do Brasil! Aproveite e cadastre-se já!

[L] [Melkor & Forfirith] [Crônicas Eróticas] TEMPORADA 2005

vacciniummacrocarponpouchcovemay252002.jpg

Os oxicocos eram assim, Diogo?
 
Capítulo 39 – Um dia no castelo com vista para o Kremlin – Por Melkor

Assim que a sua carruagem chegou, ambos desceram estupefatos ante a visão do magnífico castelo. Ela segura a sua saia com leveza e ele a ajuda a descer. Diogo está magnífico com aqueles trajes, ela parece um constante sonho de tão bela.
O céu azul torna ainda mais incrível o gigante de pedras que os devorará por alguns dias, durante a sua estada no castelo. E, lá embaixo, no vale profundo, o Kremlin. “Nós vamos juntos para a Rússia”, Diogo disse uma vez. Tudo estava se concretizando, afinal!
O mordomo informa-lhes que os outros nobres já chegaram e estão almoçando na sala de almoço, indicando-lhes o caminho. Tâmara vai na frente, olhando para os quadros que enfeitam as excelsas paredes.
Derrepente... Ela acorda.

Maldito despertador. Ele indica que Magda está para chegar, eles precisam arrumar o ninho deles. Ela olha para o lado e vê o livro que deu para Diogo na noite passada. “Ah”, suspira. A viagem... Então por isso...
Diogo está todo amassado, descabelado e sujo. De sua boca escorre um pouco de saliva. Mas, mesmo sem qualquer postura, ele é lindo. Na verdade, extremamente fofo! Ela não agüenta a sua cara de sono, dormindo, todo desarmado...
Entra embaixo dos lençóis e começa a morder o pé dele. E sobe. Quando ele acorda, não sabe o que está acontecendo. Entende logo e eles se amam na velocidade da luz, cientes de que Magda vai chegar. Arrumam a cama, colocam as almofadas de volta, tomam uma ducha juntos....
Sobra tempo e eles resolvem tomar um copo d’água. Ela chega cheia de sacolas, com presentes e mais presentes para Diogo. Os amantes se entreolham e riem. Lembram-se de tudo que já fizeram para engana-la... Todas fantasias, mentiras. Magda não era burra, mas...
Tâmara, num estalo, lembra então de Jorge... Jorge, lá na sua casa, sozinho, babando, todo cheio de sebo, sem ninguém para recolher as latas e garrafas de cerveja, para desentupir a privada, para escovar seus dentes... Jorge não era má pessoa, mas...
O telefone toca. Os três se assustam. Magda atende, sorridente, mas desliga em seguida.

- O que foi, amor? – Diogo pergunta
- Um... Um grunhido horrível! Acho que era uma espécie de brincadeira, não sei.
- Um grunhido? – Tâmara exclama – Mas é exatamente...
- Delírio! – Diogo a corta, com medo que fale demais.
- Não, amor! Eu... – Magda diz, com medo na voz – Eu ouvi a voz dizer “Tâmara”...
- Impossível – Diogo diz, mas começa a ficar com medo também. Será Jorge? Só ele ainda não ouviu a tal voz horripilante, não tem como fazer conjecturas.

Magda fica um tempinho parada, aterrorizada. Depois, decide ir fazer a barba no barbeiro para aliviar o estresse. Ela sai pela porta andando dura, parecendo uma Barbie. Diogo e Tâmara se olham e começam a rir.

Diogo nota uma rosa em cima de uma mesa e pergunta para Tâmara, que fica imediatamente vermelha:

- Mô... O-que-significa-isto?
- Ahn – ela tenta se esquivar – É uma rosa e...
- Não me diga que você a comprou para mim!
- Ah – ela percebe que ele ainda é o mesmo Diogo egocêntrico e inocente e resolve tirar vantagem disso – Claro, mô! Mas, que saco! Você descobriu a surpresa antes!
- Ah, desculpa... Eu só achei que...
- Não achou droga nenhuma... Poxa, eu vou lá, compro uma rosa e basta eu baixar a guarda e esquecer ela aí na mesa que você já vai deitando seus olhos nela e sacando tudo...
- Ah, sério, desculpa – ele caiu direitinho.
- Sabe qual é o problema? Você é muito inteligente! – ela diz, quase rindo – É isso! Você devia ser mais burro!
- Devia? – ele inclina a cabeça para o lado, pensativo. Ela vai para a cozinha tomar um copo d’água.

Ela não quer mais ver Marco... Ele, porém, é meigo demais, lindo demais, musculoso demais, cult demais... Italiano demais! Ele lê em russo! E manda flores... Tâmara sente falta dos romantismos que a sua situação com Diogo (e o tempo) estava começando a fazer sumir. Ele é romântico, extremamente... Mas, desde que se encontraram na Itália, ela não recebeu uma única rosa!
Ela sabe que vai se arrepender. Que, depois de consumar seu desejo mais algumas vezes em russo, ela vai minguar. E o desejo também. Ela vai, então, perceber que é Diogo o homem de sua vida, inevitavelmente. No entanto, hoje, ela quer escapar.
No final das contas, ela sabe que ele também tem uma amante... É extremamente provável. Ele disse que não se importava... Então, que vivessem as suas aventuras. É um passo arriscado na relação, mas...

Bah, hoje Tâmara não quer pensar. Está cansada demais. Sai pela porta e vai encontrar Marco na sua casa, sem avisar Diogo.
 
Capítulo 40 - Quatro pernas, duas rodas.



Era segunda-feira, um dos importantes dias de compra de Magda, que dessa vez, resolveu arrastar Diogo junto dela em seu passeio. Fariam compras, em diversos lugares da cidade - comprariam giletes italianas! - depois, à noite, iriam à ópera. Diogo estava tão animado com aquilo tudo que se apoiava em cada parede que pudesse; Magda tinha que puxá-lo sempre, para que não ficasse para trás e se perdesse.

Passado o dia e metade da noite, o casal voltou. Magda alegava que a gota mal a deixava respirar, então fio Diogo quem levou todas as cento e dezessete sacolas para dentro. Magda carregava sua bolsa.

Conforme subiram e foram para a suíte onde ficavam todas as compras de Magda feitas durante a viagem, ouviram certo barulho em seu quarto. Magda foi averiguar, correndo, e Diogo teve que despejar os pacotes na suíte primeiro, mas simplesmente arremessou tudo ao chão ao ouvir o estridente grito de Magda, e em seguida correu para o quarto - ele, ao menos, se lembrava que Tâmara estava em casa, e seus instintos animais de proteção à amada elevaram sua adrenalina ao máximo.

Contudo, nem mesmo ele, o homem mais cult e inteligente que Tâmara já conhecera, entendera direto o que acontecia no quarto. Na cama, enrolados em meio aos lençóis de seda vermelha, estavam Tâmara e um italiano sedutor e musculoso. As pernas abertas, os olhos arregalados, o eco dos gemidos ainda batiam nas paredes. Ambos olhavam para Magda e Diogo, parados à porta. Todos estavam sem reação, ninguém sabia o que dizer ou fazer com aquela situação embaraçosa. Magda começou a chorar, e correu para o armário - ela não sabia o que aconteceria com sua vida se aquela "piranha" que estava na cama tivesse usado uma de suas cintas-liga, mas, graças à Deus, Tâmara não usara. Até porque elas nem entrariam nas pernas sensuais da moça.

Enquanto isso, Diogo ainda olhava, boquiaberto, o casal, unido, na cama, ainda suados e ofegantes. Contudo, logo Marco começou a se levantar para se trocar, e Diogo foi saindo. Teve que voltar para buscar Magda, que continuou no quarto, e a levou para baixo, consigo.

Tâmara estava sem graça, mal podia olhar para Marco. Mas aquele homem sexy logo começou a rir...ela não entendeu. Ela queria chorar, e ele ria!
--Não ligue, meu amor, essas coisas acontecem...Lembre das caras deles quando chegaram, não tem como ficar sério!hahaha...

Isso descontraiu um pouco Tâmara, mas ainda não a despreocupava totalmente. Marco ainda sorria, mas fazia sinais de "não" com a cabeça, em silêncio...
Depois que se vestiram, foram descendo as escadas. Diogo estava sentado no sofá, com os cotovelos apoiados no joelho, os dedos das mãos cruzados, as pernas bem abertas e um olhar dirigido ao vazio. Seus olhos estavam secos. Ao perceber que desciam as escadas, ele levantou o rosto, e os olhou. Eram um casal lindo. Ela era uma deusa, e ele, um italiano moreno e forte, seus músculos bem definidos marcavam a camiseta branca, que combinava com a calça jeans simples, e com o tênis velho. Ela, de vestido de flores...Magda, de calça de couro, marcando as pernas finíssimas e a ausência de nádegas, se maquiava em frente a um espelho, na mesma sala.

À porta, Marco se despediu de Tâmara com um longo... longo...longo...longo beijo de língua bem indiscreto, e antes de sair, disse à Diogo:
--Vocês interromperam nosso orgasmo!
E então saíu batendo a porta.
Tâmara mexeu nos cabelos, e foi correndo ao quarto fazer as malas. Lá em cima, ela começou a chorar, e logo Diogo apareceu junto à porta. Ele cutucava e olhava o batente enquanto falava com ela.
--Porque está fazendo as malas?
--Você pergunta, Diogo?! - você acabou de ver o motivo sair pela porta...o motivo ainda está marcado nos seus lençóis de seda no quarto!
--Ah, aquilo não foi nada!Pode acontecer com qualquer um, não é? Eu sei que foi sem querer, não era sua intenção, meu bem.
--FOI minha intenção, Diogo, esse é o problema. Ele é sexy demais, claro, eu não consegui resistir. Mas foi minha intenção transar selvagemente na sua cama! Eu só consigo pensar nos nossos filhos agora!
--Shhhh!!!Magda pode ouvir!!
Ela arregalou os olhos e lembrou-se da existência de Magda. Mas logo abandonou o pensamento. Não valia a pena perder tempo pensando nela.

Tâmara pegou o próximo avião para o Brasil, e não aceitou uma carona de Diogo e Magda - mas apenas Diogo estava no carro - e nem o beijo de despedida que Diogo ensaiara por horas no banheiro. Que acontecia? Será que ele não apetecia mais sua ninfa dos sonhos? Porque ela procurou outro amante? Diogo não sabia aquilo. Não entendia nada. Só queria beijar Tâmara e esquecer aquilo.

Tâmara foi descendo a rua de sua casa à pé, carrengando sozinha sua mala enorme. Era noite, e ela podia ver as luzesinhas das casas todas acesas de lá do topo da rua. Como sempre, apenas a luz que vinha da televisão acesa vinha de sua casa. Jorge continuava vivo.

Ela chegou na frente da casa e podia, mesmo de noite, ver que a grama e as flores estavam todas mortas. Logo começou a imaginar que problemas a esperavam do lado de dentro da casa.

Assim que abriu a porta, um forte fedor de carniça a atingiu. Ela tentou acender a luz, mas a lâmpada estava queimada, então teve que tentar achar o caminho pela sala escura. Enquanto ainda andava, ela tropeçou em algo metálico e frio, e acabou caindo no chão. O barulho deve ter acordado Jorge, que chegou com uma lanterna e coçando-se por dentro da cueca.
--Quem é? - completou com uma escarrada.
--Sou eu, sua mulher!
--Sua vadia!Onde você tava, hã? Não lavou minhas roupas, não fez minha comida, não me levou no banheiro! Eu fiquei dias sem ir ao banheiro, esperando você aparecer!
--Eu tive que cuidar dos filhos da vizinha...
--Não importa. Vem cá, troca a lâmpada - e entregou a lâmpada na mão de Tâmara. Ela esticou os braços e trocou a lâmpada. Depois, foi acender no interruptor.
Um vento gelado pareceu ter congelado o corpo da moça quando ela viu aquela imagem. O objeto metálico no qual tropeçara era uma cadeira de rodas. Em cima da cadeira de rodas, estava a mãe de Jorge. Ela babava, suas sobrancelhas formavam um "V" fantasmagórico, um coque enorme estava malfeito bem na parte de cima de sua cabeça, e ela estava torta na cadeira. Tâmara não conseguiu conter uma expressão de nojo.
--Jorge, pode me dizer o que sua mãe está fazendo aqui?
--Ah, ela! Bem, ela teve um derrame. Paralisou o lado direito, e ficou uns tempos no hospital. Como todos os meus irmãos já morreram, ela veio pra cá. Ela tá cuidando de mim.
Tâmara olhava para Jorge, inexpressiva.
--Ah, ela nem atrapalha, dá pra abrir cerveja com o dente dela!
--O QUE?
--Ela afiou os dentes pra poder cuidar melhor da fazenda, olha - e abriu a boca da velha, mostrando os dentes afiados, também em forma de "V".
Tâmara ficou com medo. Não queria aquela velha em sua casa, olhando pra ela toda hora - como olhava agora. Tâmara sentia que ela iria pular da cadeira a qualquer momento e matá-la a mordidas.
--Jorge, eu não...
--Cala a boca, você vai cuidar dela.
Jorge foi então para o banheiro - Tâmara sabia porque ele já tirava a cueca no caminho - mas ela percebeu que ele ainda não tinha muita prática, pois virou para o lado errado no corredor. Preferiu não imaginar o estado em que estava o banheiro, e também o resto da casa. Suspirou, e viu que a velha a observava. Ela seguia cada passo de Tâmara com o olhar maníaco.

Ela não podia acreditar. Ia ter que ficar cuidando daquela monstra pelo resto da vida!Jorge contava cada história sobre ela...sobre como o marido morreu mordido por animais estranhos, como a fazenda era escura e morta...e, ao mesmo tempo, sobre como a velha conseguira ficar rica. Pelo menos Tâmara estaria feliz se a velha não começasse a se desfazer no carpete, senão seria mais limpeza...
Ela tinha mesmo medo de pensar na mãe de Jorge, então resolveu começar logo a cuidar da casa - ela teria trabalho por dias. Trabalhando, não pensaria em Diogo também. Ela foi então para a cozinha.
 
Ótimo! Uma obra prima! Adorei, ri bastante! Acho que volta um pouco pro nosso antigo estilo, não? Estou muito empolgado, mô.

Quanto ao Marco...

:twisted: MORRAAAAAAAAAAAAA

^^
 
MAIS UMA VEZ, DE VOLTA!


Capitulo 41 – Um Velho Conhecido.

Tâmara, com um avental sujo, um pano na cabeça e as unhas do pé todas quebradas, está varrendo o chão com uma havaiana verde desgastada. Sentada na cadeira de rodas, Margareth, mãe de Jorge, a observa.
Tâmara sente vontade de pegar uma faca, pular em cima da velha e estripá-la. Mas, como é uma mulher direita, nobre e refinada, não vai fazer isso. Por mais que ela cuspa no chão só para vê-la ajoelhada, por mais que ela tenha criado o Jorge (o que, para nossa protagonista, É um crime), por mais que atropele seu pé com a cadeira de rodas o dia inteiro.

Agora, já está arrependida de ter saído da Itália daquele jeito. Ela deixou Diogo, Magda e Marco para trás, para se entenderem sozinhos. Ela fugiu. E não, não se sente bem por isso. Se sente péssima. Ela ama Diogo, tem certeza disso. Marco... Marco foi só uma diversão. Não! Foi só um prazer carnal, uma bobeirinha.
Ela sabe muito bem o que aconteceu: ela tinha a desconfiança de que Diogo tinha lhe traído, por isso lhe traiu. Só que ela errou demais, primeiro desconfiando dele e depois tirando proveito da situação, experimentando como era trair alguém.
Mas, agora, Tâmara sabe que trair não é tão legal. Nem deixar seu amante preferido triste – pobrezinho!. Ela fica pensando, pensando se ele já voltou, se ele vai ficar para sempre por lá. Se ele deu umas belas porradas em Marco (porque ele merece!).


Está ficando cansativo trair, perdoar, brigar... Tâmara só quer que tudo volte ao normal. E ela sente que PRECISA contar tudo o que está vivendo para alguém, falar da velha maligna, por exemplo.
Faz dias que ela vem explorando Tâmara, fazendo com que ela varra o chão, cozinhe, limpe o banheiro, troque sua fralda, afie seus dentes... Ela mal está tendo tempo para cuidar de si mesma, sua pele está toda rachada... Ela odeia Margareth, mas, fazer o que? É a sua sogrinha!

Jorge, pelo menos, mal tem aparecido. Pelo que Tâmara percebeu, ele foi promovido. Agora vende cachorro quente na avenida Paulista, ao invés de milho verde. Para ela tanto faz, mas ele está todo contente.


Ela ouve algum barulho na rua. O roncar de um motor conhecidíssimo por ela, o de Diogo! Põe a vassoura pro lado, tira o avental em cima da velha e sai correndo, desengonçada, pra janela. Por trás da cortina, ela vê Diogo passando com Magda sentada no banco do passageiro, falando sem parar. No banco traseiro, Tâmara vê sacolas e mais sacolas de compras e imagina que ainda tem muitas outras no banco traseiro.

Ela se sente burra. Muito burra. Trocou aquela vida, dias lindos na Itália regados de amor, sexo e presentes, por uma vida de escrava no Brasil. Muito burra mesmo. Deu tudo para Magda, de mão beijada! Se bem que Diogo deveria ter voltado para buscá-la; é, é isso! A culpa foi de Diogo, que deixou as coisas como estavam.


Ele é o único culpado. Ele traiu primeiro, ele disse para ela que ela podia traí-lo, ele deixou que ela fosse embora, ele ficou por lá... Tâmara acha que as coisas estavam difíceis demais e, agora, seu deus grego estava optando pelo fácil e pelo convencional: Magda.

Diogo, aquele homem maldito, maligno... Tâmara está sentindo muita raiva. Abre a porta e fica olhando para a rua. Quando olha para baixo, procurando o jornal, vê uma rosa vermelha com um laço preto. Estranho. Tâmara sente um calafrio.
Fecha a porta, entra em casa pensativa e dá de cara com a sua sogra, com a cabeça pendendo pro lado, os olhos arregalados e aquele barulho estranho de velociraptor que ela faz. “Que dia medonho”, pensa.

Vai para a cozinha. Lá, tem a nítida impressão de que está sendo observada. Olha para os lados. Nem Margareth está lá. Ninguém está a observando, mas ela sente o contrário. Algum barulho lá fora. Derrepente, alguma coisa a atinge no braço.
Tâmara olha para seu ombro e vê uma rosa fincada pelos espinhos na sua pele. Não consegue acreditar. Tira a rosa e vê de novo aquela faixa preta. “Estranho”. Vai para a sala e, quando ouve o relógio bater nove vezes, sente um arrepio horrível. É a hora. Não adianta fugir, seu tempo chegou.

Margareth a olha nos olhos e, se pudesse dizer, Tâmara aposta que ela diria: “Há! Hora de dar banho em mim, sua maldita! Hora de pagar seus pecados!”. Mas, ainda bem que ela não fala. Tâmara empurra a cadeira de rodas para o banheiro, cabisbaixa. “Se o banheiro não ficasse no terceiro andar...”.


Porém, logo que acaba de subir, pisa em alguma coisa pontuda e, tamanha a dor, que, sem querer – juro que foi sem querer, ela diria depois para Jorge -, ela acaba jogando Margareth escada abaixo. Furiosa, olha para o seu pé já imaginando o que vai encontrar: mais uma rosa vermelha com um maldito laço preto.


Irritada, vai até a porta e olha para a rua. Não é possível. Tem que ter alguém por perto. Seu medo já virou raiva. Ela vai batendo pé de um lado para o outro, olhando para todo canto, que nem uma ave de rapina. Priscila, a filha dos Mignelli, passa de bicicleta, sorrindo, com seu gatinho na coleira.


- Oi, senhora Tâmara! – ela diz
- Oi o cacete – Tâmara responde. Priscila, por entre soluços, fala:
- Tchau
- Vai embora, sua maldita. Chispa!


Priscila some logo, pedalando rápido sua bicicleta, quase sufocando o gato. Tâmara continua “vai, vai sua pirralha, some!”. Tâmara odeia ficar de mau humor. É quando ela ouve uma música vindo lá da casa de Dona Ruth – casa esta que ela tem visitado todo santo dia, porque finalmente se tornou uma mãe presente.
É uma música tétrica, ela a conhece... Mas não se lembra que música é. Resolve ir pedir para Plêiades abaixá-la. Toca a campainha. Dona Ruth, soando frio, atende e, depois de olhar em volta, fecha a porta e diz:


- Acho melhor você ir até lá em cima.
- Eu sei, vim falar com o Plê.
- Não. Até O Quarto – um trovão cai.
- Ahn – Tâmara hesita – Ok.


Agora que não está entendendo nada. Mas, então, vêm um pensamento: Diogo! Será? Não, seria um sonho, mas Tâmara sabe que não é possível. Mesmo assim, sobe as escadas com o coração na mão e abre a pesada porta de ferro. O Quarto está escuro, mas a música vem de lá mesmo, ensurdecedora. E derrepente pára. Ela olha para trás e vê que a porta fechou-se e ela – naquele barulho – nem percebeu.

Uma mão segura sua cintura por trás enquanto a outra oferece uma última flor a ela. Ela não vê quem está ali, mas ela sabe. Empurra-o, vai para longe e tenta divisá-lo, nas sombras. Mas, a única coisa que consegue ver é a meia máscara branca, envolta na escuridão.

Reconhece a figura: O Fantasma da Ópera. Sente vontade de desmaiar, mas se segura. Vai até ele, devagar, e o beija. Depois, o deita na cama. Ele está silencioso, não fala nada. Eles fazem amor a noite inteira; de madrugada, sexo. E a coisa vai evoluindo.


De madrugada, acorda e vê que ele dorme. Quer tirar sua máscara, no entanto falta coragem. Deixa ser e volta a dormir com aquele misterioso homem que, desde sua juventude, povoa suas fantasias eróticas. Mas, nos sonhos, é com Diogo que ela sonha. Porque, por mais que goste do Sr. Fantasma da Ópera, é com Diogo que quer estar.
 
Capítulo 41 ALTERNATIVO - Gárgula-monstro

Exausta e suada, Tâmara largou a vassoura encostada na parede e foi atender ao chamado de sua sogra.
Com dificuldade, a velha torceu de modo feio o pescoço em direção à cadeira de balanço que ficava na varanda, ordenando assim que Tâmara a colocasse lá. Então, mesmo com o corpo extremamente cansado devido à limpeza da casa, que ficara semanas sob os tratos porcos de Jorge e sua mãe, foi ver a velha.
Tâmara empurrou a cadeira de rodas da velha até a frente da casa, onde a cadeira de balanço ficava. Enquanto empurrava, percebeu que a velha empedia a livre circulação da roda esquerda com seu pé - o único que ela ainda conseguia controlar direito, devido ao derrame - com o objetivo de forçar Tâmara a fazer mais força para carregá-la.
Chegando na varanda, Tâmara ergueu a velha gorda sem a ajuda de ninguém, e a repousou na outra cadeira. Entrou na casa novamente, e levou consigo a cadeira de rodas, para, escondido da velha, limpá-la, pois se Carmen, a mãe de Jorge, percebesse que outra pessoa que não ela mesma estava limpando sua cadeira, ela não hesitaria em morder o infeliz até que desmaiasse.
Vista da rua, a velha parecia uma gárgula do século 13. E Diogo não conseguiu lembrar-se de outra imagem quando passou pela frente da casa de Tâmara e avistou a velha sacudindo-se na cadeira de balanço, tentando fazê-la movimentar-se.
Magda também avistou Carmen, contudo, não conteve um olhar de pavor, o que provocou na velha uma expressão facial inexpressível que provavelmente corresponderia, em alguém normal, a uma expressão de ódio. Assim, Diogo fez questão de acelerar logo o carro e ir pra casa, e fugir do olhar daquela mulher horrível.
De noite, Diogo teve pesadelos com a figura de Carmen. Mesmo magoado com Tâmara, não pode conter uma preocupação com sua amante; era impossível ignorar a presença daquela velha desumana na mesma casa da pessoa que ele mais amava no planeta.

No dia seguinte, Jorge foi trabalhar mais cedo que o normal - fora promovido a vendedor de cachorros-quentes na Paulista, e não mais de milhos-verdes. Assim, Tâmara ficou sozinha em casa desde de manhã, tendo como companhia apenas a velha, que, Diogo supunha, devia dormir bastante.
Ele deu então uma alegria a sua esposa - um talão de cheques em branco, com todas as folhas assinadas, e um limite de crédito bem alto, e a mandou ir às compras. Magda não hesitou.
Lá pelas seis horas da manhã, Diogo preparou uma cesta de café da manhã maravilhosa, com geléias e sucos importados dos mais diversos países, como Albânia e carnes defumadas da Sibéria. Tratou de arranjar até um macaquinho da floresta equatorial africana no mercado negro, para impressionar a amante. Foi então, na casa de Tâmara, e tocou a campainha.

Alguns minutos depois, a porta abriu repentinamente, e ele avistou aquela velha monstruosa a olhar agressivamente para ele. O macaquinho adestrado ficou com medo, e escondeu-se atrás da cabeça de Diogo, sem conseguir conter seus gritinhos de pavor - provavelmente, os dentes afiados de Carmen trouxeram-lhe lembranças de predadores da floresta, ou algo parecido.
A velha soltou um grunhido, abaixando a cabeça mas mantendo os olhos mirando os olhos de Diogo, salientando assim suas olheiras enormes. Subentendeu-se que a velha perguntava o que ele queria.
--A...bem, a...a Tâmara, ela...
E Tâmara apareceu, esbaforida, pelo corredor, assim que ouviu a voz doce de Diogo. Mas, para tentar esconder da velha que tinha um amante e que ele era seu vizinho, achou melhor parar junto à porta.
--Olá, vizinho, o que o trouxe aqui?
--Eu vim te convidar para um piquenique na praça, comigo.
--E com sua esposa também, NÃO É?
--É?
--Bem, vou me trocar então, e já venho - e, de canto de olho, lançou um sorriso doce a Diogo.
A velha, por sua vez, quando foi retirar-se à televisão, fez questão de, mais uma vez, passar com a roda da cadeira de rodas em cima do pé de Tâmara, mas ela já nem ligava mais, pois os calos apartavam a dor excruciante.

Juntos, foram para o Quarto, e decidiram conversar sobre a relação, e acertar tudo que deveria ser acertado.
 

Valinor 2023

Total arrecadado
R$2.404,79
Termina em:
Back
Topo