Melkor- o inimigo da luz
Senhor de todas as coisas
[Melkor, o inimigo da luz] [O fim de Fétido Fletcher]
Aviso: Esse texto possui passagens desagradáveis.
Por entre soprões de saxofone, Fétido Fletcher estripava um rato imundo, daqueles de esgoto, no fim do começo de sua vida. Sua boca salivava, tamanha era sua fome e desejo... E aquele sangue, tão vermelho... Fletcher suspirou, colocou-o na mesa, cobriu-o com sua cartola e deixou-o de lado.
O corpo de Felícia Fatídica ainda estava ali, jogado no canto. Ele não sabia o que fazer com ele. Já fazia tantos anos! Ele gostava, porém, daquele cheiro de morte, daqueles vermes, dos urubus voando à espreita. E gostava de Fatídica, de modo que não conseguia desfazer-se de seu corpo.
Eles viveram como quiseram durante suas vidas horrendas. Compartilharam do mesmo vômito, dilaceraram juntos, rasgaram em comunhão... Não, não podiam reclamar de nada. Mas ela foi tão cedo, pobrezinha!
Era como se Fétido Fletcher estivesse amolecendo. Não sentia nenhuma vontade de come-la ou de fazer sexo com ela. Queria que ela ficasse no canto, onde ele pudesse vê-la, e estava tudo bem para ele. Se ela pudesse falar (grunhir) mais uma vez, ótimo. Se não...
Enfiou o dedo na garganta e tocou-a no fundo, para distrair-se. Veio à sua boca aquele café da manhã, que tantas vezes já comera, e o engoliu novamente, sentindo seu gosto ácido queimando o que restara das paredes do seu corpo apodrecido.
Acendeu um charuto e ficou na janela, vendo o movimento na rua. Seu roupão preto, desbotado, cobria sua nudez ridícula. Os pombos no parapeito espalhavam seus germes. Olhou para sua cartola, de baixo da qual saía um filete de sangue, e deu de ombros. Limpou a garganta e cospiu em alguém que passava por sua janela.
Fétido Fletcher estava cansado. Seus dentes afiados cortavam sua língua, já inchada e anestesiada, cada vez que ele os tocava. Suas espinhas e marcas de doíam. Felícia Fatídica o observava através daqueles olhos amarelados e daquelas fraturas expostas secas e apodrecidas.
Fétido pegou seu rifle, apontou para ela e atirou. Depois, rindo, suicidou-se com um tiro no pescoço.
Foi o fim de Fétido Fletcher, rei da noite.
Aviso: Esse texto possui passagens desagradáveis.
Por entre soprões de saxofone, Fétido Fletcher estripava um rato imundo, daqueles de esgoto, no fim do começo de sua vida. Sua boca salivava, tamanha era sua fome e desejo... E aquele sangue, tão vermelho... Fletcher suspirou, colocou-o na mesa, cobriu-o com sua cartola e deixou-o de lado.
O corpo de Felícia Fatídica ainda estava ali, jogado no canto. Ele não sabia o que fazer com ele. Já fazia tantos anos! Ele gostava, porém, daquele cheiro de morte, daqueles vermes, dos urubus voando à espreita. E gostava de Fatídica, de modo que não conseguia desfazer-se de seu corpo.
Eles viveram como quiseram durante suas vidas horrendas. Compartilharam do mesmo vômito, dilaceraram juntos, rasgaram em comunhão... Não, não podiam reclamar de nada. Mas ela foi tão cedo, pobrezinha!
Era como se Fétido Fletcher estivesse amolecendo. Não sentia nenhuma vontade de come-la ou de fazer sexo com ela. Queria que ela ficasse no canto, onde ele pudesse vê-la, e estava tudo bem para ele. Se ela pudesse falar (grunhir) mais uma vez, ótimo. Se não...
Enfiou o dedo na garganta e tocou-a no fundo, para distrair-se. Veio à sua boca aquele café da manhã, que tantas vezes já comera, e o engoliu novamente, sentindo seu gosto ácido queimando o que restara das paredes do seu corpo apodrecido.
Acendeu um charuto e ficou na janela, vendo o movimento na rua. Seu roupão preto, desbotado, cobria sua nudez ridícula. Os pombos no parapeito espalhavam seus germes. Olhou para sua cartola, de baixo da qual saía um filete de sangue, e deu de ombros. Limpou a garganta e cospiu em alguém que passava por sua janela.
Fétido Fletcher estava cansado. Seus dentes afiados cortavam sua língua, já inchada e anestesiada, cada vez que ele os tocava. Suas espinhas e marcas de doíam. Felícia Fatídica o observava através daqueles olhos amarelados e daquelas fraturas expostas secas e apodrecidas.
Fétido pegou seu rifle, apontou para ela e atirou. Depois, rindo, suicidou-se com um tiro no pescoço.
Foi o fim de Fétido Fletcher, rei da noite.