Antes fosse tão fácil Shadowrunner!
Por algum motivo, que só Eru deve saber, eu tenho estudado um pouco sobre runas no meu tempo livre. Dê uma olhada nesse site:
http://www.ancientscripts.com/futhark.html
Só uma olhada rápida mostra que aquela tabela com cinquenta e oito caracteres nos apêndices d'O Senhor dos Anéis tem valores bem diferentes das runas FUTHARK, não importa em que língua tivesse utilizado as runas germânicas em qualquer época. Tolkien seguiu uma ordem que, para os elfos, seria lógica: A runa 1 até a runa 7 é um grupo de fonemas (os bi-labiais), enquanto as runas 8 a 12 são outro grupo (os fonemas dentais) e assim por diante.
Tolkien resolveu utilizar também uma referência visual, que não é novidade para quem estudou tengwar. Tomando como base a runa germânica correspondente ao W, que é parecida com a nossa letra latina P, ele a utilizou para que correspondesse ao fonema "P". Adicionando uma "perna" à runa, temos a versão sonora dessa oclusiva, o "B". Invertendo a runa utilizada para a oclusiva surda "P", temos então a fricativa surda labio-dental "F" e, por fim, invertendo a runa utilizada para o fonema "B", temos o "V", que é a fricativa labio-dental sonora. Mais ou menos o que ele fez quando inventou os Tengwar. Para quem conhece o MTP, o conceito é o mesmo.
Interessante notar que a runa que Tolkien utilizou para o B é, na verdade, a runa utilizada para o R. Enquanto o P não parecia o P no FUTHARK (parecendo mais um "abre-colchetes" com as pontas tortas), a runa equivalente ao fonema "R" parecia muito com o R latino.
Mas bem, para chegar no ponto onde eu estou enrolando para chegar, a correspondência não é tão certa entre runa e letra, porque nós não estamos utilizando um método ardiloso de confundir inimigos, escrevendo em sistemas estranhos para não sermos compreendidos. Nesses casos sim, existe uma correspondência entre runa (ou seja lá o quê) e letra.
O que nós temos no caso das runas tolkienianas é correspondência entre
runa e fonema! O TH de
thing (surdo) é bem diferente do TH de
that (sonoro), por isso existem duas runas diferentes para tais fonemas. Mesma coisa com o G de "gibi" (fricativo) é diferente do G de "gato" (oclusivo), por isso no MTP se escrevem com tengwar diferentes.
Mas aí é que vem algo muito importante! Enquanto tanto o inglês quanto o português possuem esses fonemas do G em comum, o TH só existe no inglês. E é aí que entra a importância de que um alfabeto não seja uma "ponte" para o outro, mas sim um sistema completamente independente, onde cada caractere corresponda a um
fonema, e não a um caractere de outro sistema. Neste ponto Tolkien foi bem sucedido ao escrever as runas do mapa d'O Hobbit e as inscrições do cabeçalho e do rodapé da folha de rosto d'O Senhor dos Anéis. Mas para nós, jovens brasileiros, é preciso que criemos um sistema de runas próprio para o português, o que não é tão difícil, dado o fato de que as runas ibéricas eram praticamente iguais às FUTHARK de qualquer jeito... O primeiro passo já foi tomado pelos próprios tradutores da já meio infame edição brasileira, o resto é com vocês se quiserem assumir a bronca