"Six Feet Under" chega ao fim de maneira surpreendente
Série Six Feet Under encerrou seu ciclo bem-sucedido na TV americana
Chegou ao fim neste domingo o que deve ser lembrado como um dos seriados mais intensos da TV nos últimos tempos. O canal americano HBO encerrou a carreira de Six Feet Under de maneira surpreendente, em mais uma prova de que a série é uma das mais bem-escritas e dirigidas da história da televisão.
A saga da família Fischer começou a chamar atenção desde que entrou no ar, em 2001, não só por girar em torno de uma funerária e incluir uma morte no início de cada capítulo, mas por ser o mais próximo que a TV já chegou de uma estética "de cinema". Estética elaborada, atuações impecáveis e roteiros que nunca caíam no óbvio colocaram o programa em um outro nível.
Em seus cinco anos, o seriado também "discutiu" inúmeros tópicos relevantes atualmente: drogas, casamento gay, sexo na terceira idade, depressão, experiências sexuais variadas. Nenhum desses assuntos foi tratado de maneira moralista ou envolto em clichês - pelo contrário. A última temporada serviu até para criticar George W. Bush e a guerra do Iraque, por meio da visão política de Claire Fischer (Lauren Ambrose).
O elenco também é responsável por boa parte do sucesso de Six Feet Under. Frances Conroy (Ruth Fischer), que sempre teve de se contentar com papéis secundários em filmes não importantes, virou um dos maiores talentos maduros do momento em Hollywood, ao lado de Patricia Clarkson (que fazia o papel da irmã dela, Sarah O'Conner).
Rachel Griffith, que havia sido indicada ao Oscar por Hilary e Jackie, conseguiu transformar Brenda Chenowith em um personagem igualmente adorado e odiado. Peter Krause (Nate Fischer) e Michael C. Hall (David Fischer), quase desconhecidos antes do programa, viraram nomes de respeito na indústria (embora tenham de enfrentar o desafio de apagar a imagem forte do seriado nos próximos trabalhos).
(Se você não quiser saber o que acontece no final de Six Feet Under, não leia os próximos parágrafos)
Para encerrar o seriado, o criador Alan Ball (de Beleza Americana) encontrou uma maneira surpreendente, quase piegas, mas que faz bastante sentido na estrutura do programa. Depois de resolver as principais situações que se desenrolaram na última temporada, começa um clipe com cenas do futuro. O clima é de final feliz: a filha de Brenda e Nate sobrevive e comemora o primeiro aniversário; David ensina o filho adotivo as funções da funerária, Ruth fica com George, Claire volta a fotografar, David e Keith casam-se, etc.
Logo em seguida, a família aparece ao lado de Ruth, que está muito envelhecida, em uma cama de hospital. Ela morre e vê-se o letreiro: Ruth Fischer, 1946-2025. Depois de uma rápida cena que mostra o enterro da matriarca, Keith está saindo de um caminhão de transporte de valores quando é baleado. Sua morte é em 2029. David sofre um ataque cardíaco durante um piquenique 15 anos depois. Os próximos são Federico (2049) e Brenda (2051), enquanto Claire vive até os 102 anos, quando morre em uma cama, cercada pelas fotos que fez durante toda a vida.
As cenas do futuro são tão surpreendentes quanto perturbadoras (parte da maquiagem beira o caricato), mas fazem muito sentido para a estrutura da série. Six Feet Under não poderia ter um final feliz, em estilo novela. Para um seriado que conseguiu a rara façanha de fazer o público conectar com tantos de seus personagens, o encerramento não poderia ser mais triste. Fica a idéia de que, do primeiro ao último episódio, o programa conseguiu ser diferente de tudo o que já havia sido feito na TV. Vai demorar para o HBO encontrar outra série com o mesmo poder.
Fonte: Terra