lordpas disse:
Acho dificil enquadrar Macunaima no meio dessa discussao... Totalmente nada a ver com Tolkien... para mim nao existe comparaçao alguma...
Eu acho que tem a ver sim. Eu lembro de ter pensado isso enquanto lia alguma coisa sobre o SdA, há muito tempo, e cheguei a ler uma entrevista em que o sujeito dizia que o mais próximo de "Senhor dos Anéis" que existe no Brasil é o Macunaíma. De certa forma, faz sentido.
De início, ambos têm uma motivação lingüística: enquanto Tolkien queria construir seu "pano-de-fundo histórico" para as línguas élficas, Mário de Andrade estava inserido naquele contexto modernista do movimento antropofágico, que procurava a tal renovação da linguagem literária.
Certo, essa não é a minha comparação principal.
É esta. Apesar de não ter sido a intenção do Mário ao escrever, o livro ganhou uma dimensão de "representação do brasileiro"; como ele próprio disse:
"Gastei muito pouca invenção neste poema fácil de escrever (…). Este livro afinal não passa duma antologia do folclore brasileiro.” O Macunaíma é "o brasileiro", e não são os hobbits a representação tolkieniana do povo rural da Inglaterra em que ele passou a juventuda?
Eu acho isso muito legal mesmo! Os literatas brasileiros desde sempre pareciam ter essa preocupação com o
genuíno, com a busca pela
identidade nacional. Desde os primeiros românticos - e de certa forma até no século XVII mesmo com o Gregório de Matos -, até os movimentos do século passado, sempre existiu esse pensamento. Eu acho interessante como na nossa literatura, aparentemente esse sede seja tão grande: passam os séculos, mudamos enfoques e os critérios, mas de certa forma está sempre lá esse objetivo.
E não é o mesmo de Tolkien? No final o que Tolkien queria não era uma "antologia folclórica" mundial (e também da Inglaterra)? É evidente que existem diferenças, mas pelo que eu vejo, ao menos superficialmente assim, Tolkien é bem menos valorizado lá fora do que os modernistas aqui, apesar de em algum nível seus objetivos seres semelhantes.