Melkor- o inimigo da luz
Senhor de todas as coisas
[Melkor, o inimigo da luz] [O Guarda-Chuva]
Fórmula deste conto: Uma viagem de uma hora de ônibus até em casa, um senhor de idade com um guarda chuva nesse sol e muita tristeza e tédio. =)
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Era uma vez um homem, já na sua meia idade. Ele vestia um terno preto desbotado, uma meia preta furada, um sapato brilhante e usava um anel de ouro no dedo anelar da mão esquerda.
Suas feições eram incríveis: para cada pessoa que o olhasse, ele era uma pessoa diferente, de um jeito diferente. A cada dia, um novo rosto. Isso porque seu rosto, incrivelmente, era comum demais. De tão comum e ridículo, ninguém conseguia guarda-lo na cabeça; e todo mundo dizia que ele tinha um rosto para cada instante.
A única coisa que talvez fizesse alguém vê-lo duas vezes e reconhece-lo com convicção era o seu guarda-chuva. Cinza, de cabo branco, estava sempre com ele. Em dia de chuva ou de sol. Ele nunca saía de casa sem ele, em momento algum. Mas quase ninguém o via duas vezes para notar.
Verdade seja dita: ele não tinha medo de chuva. Ele era vaidoso. E manco. E não conseguia aceitar que não poderia andar sem algum apoio, para isto, o guarda-chuva. Sua mulher o chamava para o sexo, de pernas abertas, e ele mancava até sua cama e deixava seu companheiro do lado, para quando fosselevantar-se. Como se sua mulher não soubesse. Como se alguém não soubesse.
Um dia andava na rua e viu um senhor, já de idade, andando vagarosamente, tropeçando em si mesmo e caindo na sua própria desgraça. Adiantou-se e ofereceu seu braço para que ele pudesse andar com mais facilidade. Como se seu orgulho dissesse: ajude-o, você é melhor do que ele, ele precisa de ajuda.
Mas o homem negou a ajuda. Parado, observou o senhor afastar-se, atravessar a rua e entrar em uma loja. E chorou. O céu rugiu e ele jogou seu guarda chuva no colo de uma mendiga que cantava, implorando por ajuda.
Começou a chover e ele ergueu suas mãos para cima, contemplando cada gota perfeita que maculava os pecados até então imaculados de seu corpo. E ele derreteu, escorreu para o esgoto e sumiu.
Fórmula deste conto: Uma viagem de uma hora de ônibus até em casa, um senhor de idade com um guarda chuva nesse sol e muita tristeza e tédio. =)
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Era uma vez um homem, já na sua meia idade. Ele vestia um terno preto desbotado, uma meia preta furada, um sapato brilhante e usava um anel de ouro no dedo anelar da mão esquerda.
Suas feições eram incríveis: para cada pessoa que o olhasse, ele era uma pessoa diferente, de um jeito diferente. A cada dia, um novo rosto. Isso porque seu rosto, incrivelmente, era comum demais. De tão comum e ridículo, ninguém conseguia guarda-lo na cabeça; e todo mundo dizia que ele tinha um rosto para cada instante.
A única coisa que talvez fizesse alguém vê-lo duas vezes e reconhece-lo com convicção era o seu guarda-chuva. Cinza, de cabo branco, estava sempre com ele. Em dia de chuva ou de sol. Ele nunca saía de casa sem ele, em momento algum. Mas quase ninguém o via duas vezes para notar.
Verdade seja dita: ele não tinha medo de chuva. Ele era vaidoso. E manco. E não conseguia aceitar que não poderia andar sem algum apoio, para isto, o guarda-chuva. Sua mulher o chamava para o sexo, de pernas abertas, e ele mancava até sua cama e deixava seu companheiro do lado, para quando fosselevantar-se. Como se sua mulher não soubesse. Como se alguém não soubesse.
Um dia andava na rua e viu um senhor, já de idade, andando vagarosamente, tropeçando em si mesmo e caindo na sua própria desgraça. Adiantou-se e ofereceu seu braço para que ele pudesse andar com mais facilidade. Como se seu orgulho dissesse: ajude-o, você é melhor do que ele, ele precisa de ajuda.
Mas o homem negou a ajuda. Parado, observou o senhor afastar-se, atravessar a rua e entrar em uma loja. E chorou. O céu rugiu e ele jogou seu guarda chuva no colo de uma mendiga que cantava, implorando por ajuda.
Começou a chover e ele ergueu suas mãos para cima, contemplando cada gota perfeita que maculava os pecados até então imaculados de seu corpo. E ele derreteu, escorreu para o esgoto e sumiu.