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Skylink

Squirrle!
[Skylink] [Despropósito]

Era uma manhã como qualquer outra. Tão comum que ele já nem mais sentia o tédio a perturbar-lhe a mente. Quase não sentia nada, na verdade, e preparava-se para mais uma vez cumprir sua exaustiva rotina no trabalho, agindo quase como uma máquina por horas a fio. Isso não o preocupava mais. Seu único pensamento, no momento, desejava apenas o fim de semana, quando poderia finalmente dormir por diversas horas sem nenhuma obrigação de se levantar.

Acordou, deixou a cama desarrumada, escovou os dentes e comeu o pouco de pão que ainda restava. Logo teria de comprar mais, se ainda tivesse dinheiro. O pensamento logo deixou sua mente. Isso se tornava cada vez mais raro, e a cada mês as coisas subiam mais ainda o preço, embora em seu salário não houvesse a mínima variação. Mas ele não notava isso, e logo incluiu a falta de pão no fim do mês dentro dos parâmetros de sua rotina. Tomou seu banho sem nem ao menos sentir o corpo relaxar, o que já não parecia mais fazer diferença, vestiu-se com gestos quase robóticos e saiu.

Afinal, foi ao trabalho dirigindo seu carro, que há um tempo atrás tanto ficara feliz de ter conseguido comprar. Mas agora, era apenas uma peça que o conduzia até sua rotina. Chegando ao trabalho, subiu as primeiras escadarias, passou incólume pelos corredores, sem ao menos reparar no aparente ânimo de algumas pessoas ou naquelas que o saudavam e lhe desejavam um bom dia. Dirigiu-se a sua mesa e no instante em que se sentava em sua velha cadeira, os autofalantes emitiram um breve chiado, para logo após passar uma mensagem a todos os funcionários da empresa.

Todos os empregados estavam sendo dispensados naquele dia por algum motivo aparentemente obscuro, para a maioria deles. Mas isso não importava. A alegria foi imediata, e logo havia confusão nos corredores e nas portas de saídas. Dezenas de pessoas sorriam e agradeciam a Deus ou a qualquer outra entidade por lhes dar essa folga.Ele, como muitos outros, nem ao menos reparou nos motivos por trás desta folga. Levantou-se e passou pelos corredores novamente, sem esboçar qualquer tipo de reação, seja alegria ou preocupação. Não notou as pessoas efusivas que lhe sorriam ou lhe perguntavam o que iria fazer durante esta folga e saiu, sem falar com ninguém. Não olhou para o céu ou as árvores e caminhou até seu carro, como sempre fazia após terminar o expediente. Ligou o motor e dirigiu até em casa, como sempre.

Assim que chegou foi comer algo em sua cozinha, como de costume. Pegou algumas bolachas e se deitou no sofá, para assistir alguma coisa na tv. Não notou o nome do programa, nem entendia o que acontecia na tela. Apenas assistia, num ato quase involuntário. Logo ficou cansado e foi até seu quarto. Deitou-se na cama, que continuava desarrumada, e adormeceu. Após acordar, no meio da tarde, repetiu as mesmas tarefas, mesmo sem estar com fome ou com vontade de ver a maldita tela da tv e mesmo sem estar com sono.

Mais um dia se passou, e ele mais uma vez exerceu sua rotina diária. Chegou ao trabalho e nem sequer estranhou o fato de quase ninguém falar nos corredores ou lhe saudar, como de costume. Um clima sombrio parecia pairar sobre as pessoas, mas ele não notou, ou não quis. Foi até sua mesa e, antes que pudesse se sentar em sua cadeira foi informado de que seu chefe o chamava. Não imaginou o motivo e nem pensou em nada, apenas foi até a sala dele.

Chegando à sala de seu superior, pediram-lhe que se sentasse e se mantivesse calmo. Seu chefe começou então um longo discurso do qual ele não se lembra, pois as palavras não eram assimiladas e sua mente apenas esperava o momento de voltar às suas atividades. Após um tempo que talvez tenha sido longo, seu chefe lhe entregou um papel e pediu-lhe para assinar. Informou que ele estava sendo demitido, por diversos motivos. Entre os principais estavam o excesso de pessoas na fábrica e as novas necessidades da empresa.

Ele assinou o papel, sem nem demonstrar qualquer reação de espanto ou surpresa. Seu chefe tentou lhe explicar mais uma vez os motivos, pois gostava do rapaz, apesar de seu jeito. Ele não deu atenção e saiu, sem nem olhar para os cantos ou parar para pensar.
Passou mais uma vez pelos corredores, não prestou atenção nas pessoas que tentavam consola-lo e foi até a porta de saída. Assim que saiu, parou e esperou o sonho acabar. Pesadelos desse tipo também já haviam se tornado rotina, e ele já não lhes dava mais atenção.

Esperou, esperou e esperou. Quando o sol se pôs, finalmente dera-se conta de que aquilo não era só mais um de seus sonhos, era real. Sua mente, por tanto tempo acomodada às rotinas, passou a pensar novamente, como no passado havia pensado. Ele estava agora sem emprego, e a cruel realidade estraçalhava-lhe os sentimentos. Parou e finalmente começou a pensar no motivo de ter sido demitido. Para logo após notar que ele próprio deixara isso acontecer, pensar em quando começou a agir dessa forma, sem raciocinar, sentir ou imaginar. Já que, como via, era este o motivo de sua atual situação.

Naquela noite não dormiu nem comeu. Não assistiu a Tv e teve quase vontade de atira-la pela janela. A mente recém desperta ainda se apavorava com tudo o que percebia. O estado de quase transe já não existia mais, e a cada passo um turbilhão de sentimentos enchia sua alma. Ele pensava agora em cada sorriso ao qual não dera valor, em todas as manhãs que ele tornara sem propósito e em tudo o que jogara fora, por tantos anos.

A partir daquele dia, passou a ver o mundo e a si mesmo de uma forma diferente. Mesmo tendo sofrido muito, no começo, ele agora tinha um lugar donde tirar forças para lutar e vencer. Logo conseguiu um novo emprego, voltou a estudar e a dedicar seu tempo livre a outras coisas no lugar de somente comer, ver TV e dormir. Sua cama já não ficava mais desarrumada, e sua casa havia adquirido uma nova aparência, reflexo do comportamento de seu dono. Sua geladeira estava aparentemente mais cheia, e sua TV não ficava mais presa a um só canal.

Ele agora vivia, ia a festas, praticava esportes novamente. Alegrava-se com cada sorriso que via. Certo dia, num passeio que fizera apenas para se distrair olhando a paisagem, conheceu uma linda garota. A paixão entre os dois foi quase imediata, para pouco tempo depois virar um amor sincero. Ela o alegrava só com o olhar, e ele a contagiava com sua alegria de viver. Logo estavam casando e indo morar em uma nova casa. Tiveram duas lindas filhas, a quem dedicavam grande parte de seu tempo e seu amor. Ele agora era completamente feliz. Não que não tivesse problemas ou tristezas, mas sabia ver nos momentos alegres todo o motivo de continuar sua vida e manter o sorriso no rosto.

Hoje, ele agradece ao acaso, que o arrancou de sua rotina e o fez passar a sentir novamente. Ser demitido e despertar da ignorância em que estava centrado foi talvez uma das melhores coisas de sua vida, já que a maioria das outras coisas maravilhosas decorreu desse fato. Ele se sente como qualquer um ao seu lado, mas a maioria das pessoas não entende como ele consegue sempre ter um sorriso no rosto e estar sempre feliz, independente de qualquer coisa. Não vêem ou não conseguem perceber que ele agora morre, ao invés de se matar. Ele aceitou a vida como ela é, depois de muito refletir. E agora dedica todos os segundos de sua vida a fazer tudo aquilo que deseja e a guardar os sentimentos na memória. Sente que pode estar errado, mas não se preocupa mais. Sabe que foi esse o caminho que escolheu e, enquanto puder segui-lo, não desistira.
 
Olha o Sky! Cada vez mais produzindo textos lindos :) sério... achei que passa uma "lição de vida", ou seja lá se é realmente isso... :roll:

Gostei muito! Parabéns :clap:

Ah! O título ficou bom, combinou, mesmo que não tivesse muita idéia pra um :mrgreen:
 
Ggostei mto, apesar d num gostar de finais felizes e esperançosos, o seu ficou mto bom.... Tem uma mensgem mto bonita, apesar d , para mim, ja meio batida...
 
Aê rafinha!!!
Valeu a pena eu arranjar um espaço e ler sua história!! Como o outro que você escreveu, tá superbom!!
Parabéns rafa!!!
:clap:
Inclusive, me deu uma idéia pra um conto...como da outra vez :mrgreen:
:dance:
 
Ótimo texto!

Mas também não gostei nem um pouco do final.

Finais felizes suX! huh

Mas fikow realmente bom cara, vc escreve mto bem =D
 
Muito bonito, Skyzinho... Tipo, só não gostei muito do fim. O problema é que foi meio do nada, uma pessoa numa fossa dessas tende a ser pessimista, não otimista... Mas acho que você não deve mudar, porque o charme pode estar aí... Ele faz o que ninguém espera, é de um momento estranho que sai a mais bela conclusão que ele tem... Eu fiquei muito triste imaginando uma vida como a dele, sozinho, só com a TV e trabalhando feito um doido...

Parabéns, guri! ^^

Coloca mais textos aqui, falou? =)
 
A mente humana pode tanto atingir tanto um estado de inconsciência quanto um de hiperconsciência, em momentos de tensão. Depende em grande parte do treinamento... Parece-me que a parte antiga de sua vida prevaleceu, embora a situação descrita estivesse poderosa. A mente é estranha. Dos diversos planos surgiu aquele que estava mais enraízado. Talvez por instinto ou focalização controlada e armazenada. De uma forma ou de outra, ele não relata a própia experiência anterior. Não se sabe sua infância... não se sabe o pq dessa situação. Apenas que ele chegou a ela e saiu. O que seria antes? É possível transitar entre os dois planos livremente? Talvez... Mas isso não importava pra ele, embora pra mim importe bastante. O agora se tornara seu momento e sua crença. No fim, para não cair no mesmo erro novamente, ele considera a possibilidade de estar errado. Bem, espero que não tenha ficado confuso... ah, sim, há uma referência a Duna aqui nessas palavras.^^
 

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