[Knolex] A Traição é uma Falácia
Antes de postar o texto, quero só fazer um adendo.. esse conto eu escrevi prum trabalho de Lógica sobre falácias... é um texto meio vendido ao tema.. mas no fim, acabou ficando meio elgal como conto isolado, e umas pessoas do fórum me convenceram a postar aqui... é curtinho...
Ah sim... é claro que eu retirei o posfácio que explica as falácias do texto e suas definições, etc.
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A Traição é uma Falácia
Já passavam das duas horas da manhã quando Johnny Tartuso entrou em seu apartamento com calma e jogou seu casaco no sofá, mesmo estando encharcado da chuva que ainda caía do lado de fora. Com um arfar de desolação em direção à janela, de onde podia se vislumbrar uma embaçada paisagem do Brooklyn, seguiu até um pequeno bar que mantinha na sala de estar, e encheu um copo com seu scotch favorito. Não tinha sequer bebido o primeiro gole quando ouviu um barulho vindo do corredor que dava no único quarto da casa, e se deteve com o copo já tocando a boca. A luz do corredor se acendeu e pelo reflexo na garrafa ele reconheceu o vulto que agora estava parado apenas alguns metros atrás de Johnny.
- Nada como um drinquezinho após uma noite como essas, hein Johnny? - disse o vulto.
- Al... err... você aqui? Achei que tivesse ficado isolado após a emboscada.
A figura do corredor é Al Greene, funcionário de alta confiança de Michael Gambone, para quem Johnny trabalha.
- É claro que você achou, não? Decepcionado em me ver?
- Pelo contrário, Al! Pelo contrário! Apenas um pouco surpreso de encontrar você aqui na minha casa, a essa hora, depois de tudo que aconteceu hoje. Aceita uma dose?
- Não bebo essa porcaria.
- Não é porcaria, posso assegurar a você. É o melhor scotch que existe.
- Você já provou todos os scotchs que existem?
- É claro que não, mas o que...
- Então como pode afirmar que esse é o melhor que existe?
- Ora, Al... Você entendeu o que eu quis dizer.
- Sim... Por mais tola que tenha sido a afirmação, eu entendi. Aliás, espero que você possa me ajudar a entender várias outras coisas.
- Como assim?
- Como a polícia ficou sabendo do carregamento? É bem estranho que eles estivessem lá na exata hora e local.
- Eu fiquei tão surpreso quanto você. Você acha que eles já estavam nos rastreando?
- Seria muita ingenuidade acreditar na inteligência dos tiras. Se eles tivessem qualquer capacidade de investigação, ou até mesmo de dedução, todos nós já estaríamos na cadeia há tempos, ou até mesmo mortos. Não... sejamos realistas. Eles souberam porque alguém contou. E vim aqui pra decidir como lidar com esse traidor.
- E quem você suspeita que tenha sido o dedo-duro?
- Achei que a minha presença aqui já tornasse óbvia minha suspeita. Acredito que você tenha passado as informações para a polícia.
- Que absurdo! É claro que você está enganado, Al! Eu jamais faria isso com o Sr. Gambone!
- Pois bem... Se for verdade o que você está falando, com certeza teria como você me ajudar a descobrir que mais poderia ter sido, não acha?
Johnny limpou o suor e tentou controlar as engasgadas que incomodavam sua garganta desde que havia notado a presença de Al. Nervosamente passou os olhos pelo seu casaco no sofá, mais perto de Al Greene do que dele.
- Acho que posso tentar ajudar. - disse Johnny - Não tenho idéia de quem tenha feito, mas se avaliarmos cada envolvido calmamente, talvez dê pra ter uma idéia ou duas.
- Não vim aqui pra ter idéias, vim pra ter o nome do traidor.
- Tem aquele garoto, o aleijado!
- Billy "Maneta" deSanti? Devo admitir que estou curioso pra saber suas razões de suspeitar dele. - ironizou Al.
- Em toda missão que ele vai acontece algo de errado.
- Pare de falar baboseiras, homem! Nas pouquíssimas missões onde ele esteve, nenhum dos problemas esteve relacionado com ele. Como culpar o garoto pelo temporal ter feito o navio que trazia o tabaco da América Central virar? E só falta você me dizer que a morte de Emiliano Rossi é de responsabilidade dele.
- Mas pode ser!
- Cale a boca! - Al já não tinha o sarcasmo inicial, e esbravejava - Rossi tropeçou na barra de uma calça nova dele e ao cair disparou contra o próprio peito!
- Tom! Tom Malaghi! Você sabe que ele é da pior espécie de ser humano possível! Mentiroso, traiçoeiro, egoísta, sádico!
- Por que, ao invés de tentar simplesmente difamar o Tom, você simplesmente não me dá argumentos que sustentem a suspeita? Afinal, é deveras injusto que ele sofra tantos julgamentos rasos seus sem sequer poder responder. A menos que você aceite discutir isso frente a frente com ele. Que tal?
- Não sei... talvez.
- Infelizmente, isso não será possível. Ele foi o primeiro a ser baleado na emboscada. Levou um tiro saltando na minha frente enquanto eu tentava levar o Sr. Gambone pro carro. Desde quando o traidor se deixaria ser assassinado durante a operação, pra salvar aquele que ele traiu?
Johnny olha novamente para o casaco. Al percebe.
- Sim... - diz Al se recompondo - Sim. Sua arma está no casaco, não é mesmo?
Johnny baixa a cabeça. Al ri baixinho, dominando ainda mais a situação.
- Sabe o que me intriga, Johnny? Por que motivo alguém inocente estaria tão desesperado pra pegar sua arma?
Com um movimento rápido, Al saca sua arma e a aponta diretamente para a cabeça de Johnny. Ele caminha olhando para Johnny e chega até o casaco. Sem desviar os olhos, apalpa a peça mal-cheirosa de couro e acha a pistola. Novamente solta uma risadinha irônica e guarda a pistola de Johnny para si.
- Acho que não temos mais nada a discutir. Já está bem claro que foi realmente você quem passou todos os dados do carregamento de hoje para a polícia. Você conhece os procedimentos nesse tipo de caso. Já sabe o que vou fazer.
Johnny se joga de joelhos no chão, com as mãos cerradas contra o próprio rosto em desespero, chorando e berrando.
- Por favor, não! Eu não tive escolha! O Detetive Horton veio aqui, da mesma forma como você está hoje, e me ameaçou. Ele disse que ia me prender e torturar até que eu contasse tudo sobre a organização.
- Era tudo o que eu precisava. Uma confissão.
- Por favor, Al, você me conhece! Sabe que eu não faria nada contra o Sr. Gambone! Me dê só mais uma chance! Só uma audiência com o Sr. Gambone e tenho certeza que ele entenderá e me perdoará. Você conhece minha mulher e meus dois filhos que vivem em Boston, Al! Eles não sabem que trabalho pra Máfia! Eu não quero que eles vejam no jornal amanhã que o pai deles era um vagabundo qualquer que foi apagado por traição, e que agora eles são órfãos! Por favor, Al! Eu sei que você tem um bom coração!
- Johnny, você já devia saber algo depois de tantos anos trabalhando para a organização. Eu sempre fui o mais fiel empregado do Sr. Gambone , seu assassino de confiança, sua espada inclemente, que respeitava a ele como um pai. Um pai que, depois da sua traição, foi morto por policias na emboscada. Você não sabia disso, não é? Se soubesse, provavelmente teria fugido de imediato. Como eu disse, ele era como um pai pra mim. Se eu o amava? Nunca amei ninguém. Você disse que tenho um bom coração. Mentira. Assassinos não têm coração.
Com um único disparo, Al Greene eliminou Johnny Tartuso, e saiu calmamente do apartamento.
FIM
Antes de postar o texto, quero só fazer um adendo.. esse conto eu escrevi prum trabalho de Lógica sobre falácias... é um texto meio vendido ao tema.. mas no fim, acabou ficando meio elgal como conto isolado, e umas pessoas do fórum me convenceram a postar aqui... é curtinho...
Ah sim... é claro que eu retirei o posfácio que explica as falácias do texto e suas definições, etc.
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A Traição é uma Falácia
Já passavam das duas horas da manhã quando Johnny Tartuso entrou em seu apartamento com calma e jogou seu casaco no sofá, mesmo estando encharcado da chuva que ainda caía do lado de fora. Com um arfar de desolação em direção à janela, de onde podia se vislumbrar uma embaçada paisagem do Brooklyn, seguiu até um pequeno bar que mantinha na sala de estar, e encheu um copo com seu scotch favorito. Não tinha sequer bebido o primeiro gole quando ouviu um barulho vindo do corredor que dava no único quarto da casa, e se deteve com o copo já tocando a boca. A luz do corredor se acendeu e pelo reflexo na garrafa ele reconheceu o vulto que agora estava parado apenas alguns metros atrás de Johnny.
- Nada como um drinquezinho após uma noite como essas, hein Johnny? - disse o vulto.
- Al... err... você aqui? Achei que tivesse ficado isolado após a emboscada.
A figura do corredor é Al Greene, funcionário de alta confiança de Michael Gambone, para quem Johnny trabalha.
- É claro que você achou, não? Decepcionado em me ver?
- Pelo contrário, Al! Pelo contrário! Apenas um pouco surpreso de encontrar você aqui na minha casa, a essa hora, depois de tudo que aconteceu hoje. Aceita uma dose?
- Não bebo essa porcaria.
- Não é porcaria, posso assegurar a você. É o melhor scotch que existe.
- Você já provou todos os scotchs que existem?
- É claro que não, mas o que...
- Então como pode afirmar que esse é o melhor que existe?
- Ora, Al... Você entendeu o que eu quis dizer.
- Sim... Por mais tola que tenha sido a afirmação, eu entendi. Aliás, espero que você possa me ajudar a entender várias outras coisas.
- Como assim?
- Como a polícia ficou sabendo do carregamento? É bem estranho que eles estivessem lá na exata hora e local.
- Eu fiquei tão surpreso quanto você. Você acha que eles já estavam nos rastreando?
- Seria muita ingenuidade acreditar na inteligência dos tiras. Se eles tivessem qualquer capacidade de investigação, ou até mesmo de dedução, todos nós já estaríamos na cadeia há tempos, ou até mesmo mortos. Não... sejamos realistas. Eles souberam porque alguém contou. E vim aqui pra decidir como lidar com esse traidor.
- E quem você suspeita que tenha sido o dedo-duro?
- Achei que a minha presença aqui já tornasse óbvia minha suspeita. Acredito que você tenha passado as informações para a polícia.
- Que absurdo! É claro que você está enganado, Al! Eu jamais faria isso com o Sr. Gambone!
- Pois bem... Se for verdade o que você está falando, com certeza teria como você me ajudar a descobrir que mais poderia ter sido, não acha?
Johnny limpou o suor e tentou controlar as engasgadas que incomodavam sua garganta desde que havia notado a presença de Al. Nervosamente passou os olhos pelo seu casaco no sofá, mais perto de Al Greene do que dele.
- Acho que posso tentar ajudar. - disse Johnny - Não tenho idéia de quem tenha feito, mas se avaliarmos cada envolvido calmamente, talvez dê pra ter uma idéia ou duas.
- Não vim aqui pra ter idéias, vim pra ter o nome do traidor.
- Tem aquele garoto, o aleijado!
- Billy "Maneta" deSanti? Devo admitir que estou curioso pra saber suas razões de suspeitar dele. - ironizou Al.
- Em toda missão que ele vai acontece algo de errado.
- Pare de falar baboseiras, homem! Nas pouquíssimas missões onde ele esteve, nenhum dos problemas esteve relacionado com ele. Como culpar o garoto pelo temporal ter feito o navio que trazia o tabaco da América Central virar? E só falta você me dizer que a morte de Emiliano Rossi é de responsabilidade dele.
- Mas pode ser!
- Cale a boca! - Al já não tinha o sarcasmo inicial, e esbravejava - Rossi tropeçou na barra de uma calça nova dele e ao cair disparou contra o próprio peito!
- Tom! Tom Malaghi! Você sabe que ele é da pior espécie de ser humano possível! Mentiroso, traiçoeiro, egoísta, sádico!
- Por que, ao invés de tentar simplesmente difamar o Tom, você simplesmente não me dá argumentos que sustentem a suspeita? Afinal, é deveras injusto que ele sofra tantos julgamentos rasos seus sem sequer poder responder. A menos que você aceite discutir isso frente a frente com ele. Que tal?
- Não sei... talvez.
- Infelizmente, isso não será possível. Ele foi o primeiro a ser baleado na emboscada. Levou um tiro saltando na minha frente enquanto eu tentava levar o Sr. Gambone pro carro. Desde quando o traidor se deixaria ser assassinado durante a operação, pra salvar aquele que ele traiu?
Johnny olha novamente para o casaco. Al percebe.
- Sim... - diz Al se recompondo - Sim. Sua arma está no casaco, não é mesmo?
Johnny baixa a cabeça. Al ri baixinho, dominando ainda mais a situação.
- Sabe o que me intriga, Johnny? Por que motivo alguém inocente estaria tão desesperado pra pegar sua arma?
Com um movimento rápido, Al saca sua arma e a aponta diretamente para a cabeça de Johnny. Ele caminha olhando para Johnny e chega até o casaco. Sem desviar os olhos, apalpa a peça mal-cheirosa de couro e acha a pistola. Novamente solta uma risadinha irônica e guarda a pistola de Johnny para si.
- Acho que não temos mais nada a discutir. Já está bem claro que foi realmente você quem passou todos os dados do carregamento de hoje para a polícia. Você conhece os procedimentos nesse tipo de caso. Já sabe o que vou fazer.
Johnny se joga de joelhos no chão, com as mãos cerradas contra o próprio rosto em desespero, chorando e berrando.
- Por favor, não! Eu não tive escolha! O Detetive Horton veio aqui, da mesma forma como você está hoje, e me ameaçou. Ele disse que ia me prender e torturar até que eu contasse tudo sobre a organização.
- Era tudo o que eu precisava. Uma confissão.
- Por favor, Al, você me conhece! Sabe que eu não faria nada contra o Sr. Gambone! Me dê só mais uma chance! Só uma audiência com o Sr. Gambone e tenho certeza que ele entenderá e me perdoará. Você conhece minha mulher e meus dois filhos que vivem em Boston, Al! Eles não sabem que trabalho pra Máfia! Eu não quero que eles vejam no jornal amanhã que o pai deles era um vagabundo qualquer que foi apagado por traição, e que agora eles são órfãos! Por favor, Al! Eu sei que você tem um bom coração!
- Johnny, você já devia saber algo depois de tantos anos trabalhando para a organização. Eu sempre fui o mais fiel empregado do Sr. Gambone , seu assassino de confiança, sua espada inclemente, que respeitava a ele como um pai. Um pai que, depois da sua traição, foi morto por policias na emboscada. Você não sabia disso, não é? Se soubesse, provavelmente teria fugido de imediato. Como eu disse, ele era como um pai pra mim. Se eu o amava? Nunca amei ninguém. Você disse que tenho um bom coração. Mentira. Assassinos não têm coração.
Com um único disparo, Al Greene eliminou Johnny Tartuso, e saiu calmamente do apartamento.
FIM