Terminei a leitura já há algum tempo, vamos a uma pequena e despretenciosa resenha:
Por Renato Moreira (O Sujo de Sangue)
A obra, de Eiji Yoshikawa, datada do século XIX, exposta ao público através de folhetim, neste modelo que mais tarde se tornou constante na literatura japonesa, trascorre no periodo medieval japones, mais precisamente periodo dos Tokugawas (séculos XVII e XVIII). A trama começa com o término da Batalha de Sekigahara, fato veridico da história japonesa, que viria a marcar o começo de uma era de quase dois séculos. É justamente até esta batalha que a narrativa da obra Shogum, de James Clavell se desenvolve. Comparações entre estas duas obras parecem inevitáveis, como frisado no próprio prefácio de Edwin O Reischawer, por conseguinte, evitemos nos prender a este mister.
O pano de fundo em que descorre a narrativa é simplesmente soberbo. Faz nos lembrar da Espanha de D. Quixote. A natureza deste traço descritivo, inevitavelmente nos faz transcorrer a obra pioneira de Miguel de Cervantes. A experiência única da leitura de Musashi nos faz definitivamente adentrar o Japão medieval, em ambientes como a cidade de Edo (atual Tókio) em pleno desenvolvimento e loteação. Somos abençoados por cenários dois mais diversos, expostos de maneira impar pela genialidade de Yoshikawa.
Outra benção aos leitores é o prisma em que é posto a sociedade japonesa. O livro é quase uma auto-analise social, onde podemos divisar, através de inumeros personagens que se desenvolvem por uma novela cheia de coincidências, um pouco do espirito do japones. Inevitável lnão se apaixonar pelas personalidades, ora complexas e filosóficas como a de Musashi-sama, ora simples e extrovertidas como a do pajem Joutaro.
Outra singularidade que merece tento é o romance, que serve como pano de fundo ao desenvolvimento do personagem título. A um estilo bem japones, ele descorre por toda a novela, vertendo lágrimas contrastantes ora de agonia, ora de regozijo. Impossível não se sensibilizar por este estilo romantico oriental, que por uma lado apela por um atraço do realismo, expondo o humanismo dos personagens, e por outra ao quimerismo da musa dos romances de cavalaria do período teocentrista, onde o encontro dos amantes parece impossível de ocorrer.
Por tantas qualidades, a diferente leitura de Musashi, tanto pelo seu formato editorial, quanto pela sua certa originalidade, é um divisor de épocas em nossas vidas, tamanho o impacto da obra.