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[L] [Ristow] [Naquela Noite]

[Ristow] [Naquela Noite]

Bom, vou colocar aqui o comecinho de um conto que estou fazendo... Tá longe de ser um livro, nem sonha de ser tão grande quanto, mas ainda falta um bocado. :D Já me disseram que o começo tá massante e desinteressante, mas acho que o estilo é assim mesmo. Além do mais, é só o começo. A linguagem muda um pouco depois (aqui, no caso, lá pro final do post).
De qualquer jeito, quero ouvir outras opiniões. O título é provisório.
Ps.: A história não se passa na Terra, nem é um conto alienígena. É um mundo fictício, então não estranhem se acharem coisas que não deveriam existir em certos anos...

******************************

Naquela Noite

Não era de costume que a pequena cidade - na verdade uma vila situada no alto de uma colina - escurecesse cedo, mesmo no inverno. Porém, naquela noite, um vento vindo do oeste trouxera para sobre o lugar nuvens carregadas. Cobriram todo o Sol em questão de minutos, para a surpresa dos moradores.
A cidade não tinha nome. Os que ali moravam desconheciam a razão, mas dizia a lenda que não há muitas gerações atrás, um grupo de refugiados havia escapado de um ataque de uma gangue nativa, alegando que a área da qual o grupo fazia parte pertencia a eles. Apesar disso, os estrangeiros recusaram-se a levar uma vida nômade novamente; pois já haviam percorrido um longo percurso, e nele perdido muitas vidas, até chegar àquele local que aparentava perfeito para instalarem suas humildes casas. De modo que os nativos reuniram um exército e atacaram a aldeia - um exagero, talvez, levando em conta que aquelas pobres pessoas nada haviam para se defender, além de não serem tão numerosas.
Mas os atacantes não tiveram piedades, e mais da metade dos estrangeiros foram mortos, sobrando apenas um grupo muito pequeno. Não tendo outra saída, esse pequeno povo mais uma vez percorreu pradarias e matagais, florestas e pântanos, rios e vales, até encontrarem a colina.
Pensaram muito antes de optarem por morar ali, mas chegaram à conclusão que o lugar era demasiado isolado, e que ninguém se preocuparia em tirá-los de lá.
E foi então nessa colina que o grupo de refugiados permaneceu, cresceu e evoluiu. Não deram nome ao lugar porque acharam que sendo uma cidade desconhecida, não chegaria aos nativos (caso alguns deles se importassem) a notícia de que estrangeiros estavam morando em seu território.
Lenda ou não, a população da cidade sem nome, por serem muito supersticiosos, optaram por continuar assim.
Mas foi naquela noite que chegara mais cedo, que uma horrível chacina iria quebrar a rotina tranqüila e pacífica da vila.

30 de janeiro de 1865, 18:30h

Sentados à mesa de madeira estavam a mãe e a filha. Iriam jantar naquela hora, pois já era tarde (pelo menos dava a impressão) e sentiam muita fome. A mãe chegara a um acordo que não iria esperar o marido porque estava demorando muito - o que não era motivo pra preocupação, porque atrasos como este aconteciam freqüentemente.
A comida não estava muito diferente do dia-a-dia, apesar de que um prato de legumes não era algo que se via sempre. Provavelmente sobrará o suficiente para ele comer e se satisfazer, pensou ela; e então encheu o prato de comida e deliciou-se com o banquete.
O problema é que minutos depois, as nuvens começaram a descarregar sua densidade, e um ataque repentino de chuva grossa caiu sobre a cidade. A comida não estava mais deliciosa como quando começaram a jantar, pois uma onda de preocupação encobriu todos os sentidos das duas jovens capazes de provocar uma sensação agradável.
O homem trabalhava longe, muito além do lado oposto do vale situado na encosta leste da colina. Queriam construir uma espécie de máquina moderna eficiente com o intuito de servir como armadilha para os búfalos. Por morarem num lugar isolado, se alimentavam principalmente de animais que andam em bando, especialmente desses mamíferos propriamente ditos. Como estes passavam a maior parte do tempo pastando no campo aberto depois do vale, era comum que homens constantemente fossem enviados para assassinar, pelo menos seis dos animais, para que a carne fosse distribuída igualmente para os moradores. Em vista que as armas usadas seriam consideradas precárias comparadas às dos nativos (pois diziam que quando eles massacraram os estrangeiros, tinham posse de instrumentos que matavam a longa distância, com apenas um movimento do dedo), muitas vezes o caçador acaba se tornando vítima dos búfalos.
Não queriam perder mais homens, de modo que fizeram planos para construir uma armadilha capaz da capturar um búfalo sozinha, sem nenhum manuseamento humano. Desprovidos de alta tecnologia, era necessário para a construção trabalho braçal, e os homens mais fortes da cidade foram convocados para ir até o campo, todos os dias. E um desses homens era o marido da bela senhora que agora olhava pela janela, preocupada em onde estaria ele.
Não tinham relógios, e a tempestade só servia para desordenar, já que a luz era o único “instrumento” usado para adivinhar o horário. Então a mulher não soube quanto tempo ficou apoiada no parapeito da janela, aflita, esperando não só o retorno do marido, mas como também todos os outros homens, que eram muito amigos seus; mas pareciam horas, muitas horas. Parecia que o tempo havia parado.
À essa altura a menina já tinha se deitado: achou que seria menos angustiante não sentir o tempo passar; isto é, se ela conseguisse dormir. Mas, finalmente, na encosta da colina, borradas pela neblina intensa e a chuva grossa, as sombras dos trabalhadores apareceram. E seu marido estava entre eles, que rapidamente correu em direção a sua casa. A mulher abraçou-o e disse o quão desesperada havia ficado nas últimas horas, e o homem lhe explicou que devido a tempestade, tiveram que se abrigar debaixo de um arvoredo, enquanto ao mesmo tempo tinham que proteger a máquina da força do vento, até que conseguiram deixa-la segura e puderam voltar para a cidade.

30 de janeiro de 1865, 17:58h

A construção da máquina consistia em fazer um enorme buraco no chão, cobri-lo com uma rede de tecido forte e camuflar essa coberta com terra e folhagens. Sobre essa armadilha estariam belos pastos para chamar a atenção dos búfalos, e assim que estes pisassem no chão falso, cairiam num buraco suficientemente profundo para ficarem presos, até que algum homem chegasse para mata-los e leva-los para a cidade.
Ainda estava em fase de escavação, porque embora a construção já tivesse começado há mais de 15 dias, várias vezes se depararam com um solo duro, uma rocha gigante ou qualquer outra coisa que os impedisse de continuar o trabalho; e sempre que isso acontecia, os homens tinham que ir para uma outra área próxima e refazer o que já deveria estar feito.
Mas naquela noite tudo ia bem, e finalmente pareciam ter encontrado o local perfeito. Estava quase pronto, o buraco já tinha cerca de 5 metros de profundidade, até que encontraram uma coisa. Não era um solo, tampouco uma rocha. Estava longe de ser algo que impedisse uma escavação, mas certamente atraiu a atenção de todos que ali estavam, cerca de 10 homens. Eles acharam, em meio a terra enegrecida pelo tempo, uma placa de metal estranhamente lisa. Um desenho de uma roseira repleta de espinhos estava esculpido num dos lados, e na lateral havia o que parecia ser uma fechadura.
Já estava escurecendo, de modo que os lampiões que haviam trazido foram acesos. O trabalho foi interrompido pela curiosidade do que seria o objeto achado, e não precisaram trocar palavras para concordarem que aquela placa deveria ser aberta no exato instante.
Embora o objeto provavelmente estivera debaixo da Terra por muitos anos, a tranca ainda estava bem forte. Nenhuma faca que possuíam, nem mesmo as de gumes mais agudos e lâmina forte, conseguiu arrebentar o cadeado dourado que pendia da fechadura. Tiveram a idéia de dar pancadas na placa com uma enorme pedra pesada, e depois de muitas batidas, o cadeado vacilou.
Não se preocuparam em quebrar seja lá o que estivesse ali dentro, pois balançaram antes e perceberam que não era quebrável. Na verdade, tinham certeza que não passava de uma folha, ou algo parecido. E estavam certos, mas o que tinha lá dentro era uma carta. Não estava amassada, nem amarelada; estava branca como a neve, estranhamente nova. Nova demais . Havia um pequeno poema escrito nela, com uma tinta preta forte como se tivesse sido escrito no máximo há alguns minutos atrás. Podiam até sentir o cheiro de tinta fresca.
Quem segurava a carta era o marido da bela jovem que em sua casa preparava a janta, enquanto sua filha, sentada já à mesa, cantarolava canções que havia aprendido na escola.
A inscrição estava escrita na língua deles e, em voz alta, o homem leu:

"Poderás ouvir Suas palavras
que há eras são pronunciadas, mas não por Ele
seja o fantoche de sua alma, cuja figura é soberana
cuja vontade é feita por intervenção de seus escravos

Minha alma agora Lhe pertence
e na paz há de ficar
não eterna, pois ela há de se ressurgir
quando Suas palavras tu pronunciar"


Ficaram parados por alguns segundos, em silêncio total, até que uma chuva grossa caiu repentinamente sobre eles, acompanhada de rajadas de vento penetrantes. Todos os lampiões foram apagados, e se viram numa escuridão intensa e sombria. Enquanto isso, na cidade sem nome, uma mulher estava parada na janela de sua casa enquanto o vento ondulava seus longos cabelos negros.

15 de dezembro de 1550, 20:40h

Em seu quarto situado no segundo andar, cobrindo as lágrimas que rolavam sobre sua face com um travesseiro de pluma, uma adolescente amaldiçoava com todos os palavrões que conhecia a vida e sua família. Às vezes se sentia assim, em circunstância dos problemas diários e, principalmente, da sociedade, o que a obrigava a passar a maior parte do tempo isolada, e seus pais não lhe davam atenção (o que aumentava consideravelmente sua revolta); provavelmente sequer sabiam do estado da filha. Invejava o humor das colegas de classe; não suas vidas, pois considerava-as medíocres, mas o fato de viverem de bem com o ambiente, sem problemas de comunicação ou preconceito. Algumas vezes constatavam que poderiam largar aquela cidade e morar no exterior, onde poderiam ser ricas e famosas e que isso já bastaria. Mas Marta sabia que não era verdade.
Era inegável dizer que aquela casa de humilde não tinha nada. Tinha três andares, as maçanetas e muitos dos ornamentos eram de ouro. Pássaros empalhados empoleiravam em eixos elegantes presos à parede revestida de um tecido bege, da melhor qualidade.
No escritório do terceiro andar estava Hugo, homem sempre ocupado com o trabalho e geralmente estressado demais para ter um diálogo formal. Tinha os cabelos e olhos claros, mais para castanhos; os óculos dourados sempre pendiam sobre o longo nariz, alvo de piadas de mal gosto que só serviam para deixar seu humor pior do que já era.
E, lá embaixo, na sala de estar cuja mesa era longa (embora a família fosse de apenas três pessoas) e de vidro, Elisabeth ajudava a empregada preparar a mesa para a janta, como sempre fora. Também era uma pessoa facilmente irritável, e sua beleza não era invejada por nenhuma outra mulher da cidade.
Marta, a adolescente, foi a primeira a descer as escadas após o chamado da mãe. Colocou os óculos escuros e deixou o cabelo despenteado, do jeito que estava. Já Hugo ignorou a mulher e continuou seus afazeres desinteressantes.
- Segure o choro até seu pai se levantar da mesa - disse Elisabeth, quando a filha mal havia entrado na sala. - Ele não suporta suas rebeldias, assim como eu.
- Pois eu não suporto vocês - retrucou Marta.
 
Nossa Ristowq!! como vc escreve mal!!!




:lol:


zoeira Finho.. tá bem legal... eu não sabia que vc servia pra alguma coisa, mas vc mostrou o contrário.. texto bem legal...
 
Que bom que você gostou... não que sua opinião seja de alguma forma importante para o meu desesnvolvimento, mas fico feliz mesmo assim. :mrgreen:
Odeio ficar colocando continuações pequenas em vários posts, desfragmentando o texto... mas vou dormir, tem uma partezinha aqui boba... ah, vou abrir uma exceção... tá aí:

*************************

Tempo depois, Hugo veio descendo a escada em passos lentos. Juntou-se aos outros que já haviam começado a refeição, sem dizer uma palavra. Não olhou sequer de relance para o rosto abatido da filha, mas ela não ligou. Ela tinha um plano. Um plano que se transcorresse bem, nunca mais veria sua família, sua casa, sua cidade. E isso era um pensamento muito encorajador.
Comeu rápido e subiu novamente ao seu quarto para assegurar que a mala estava bem escondida debaixo da cama. Não seria muito bom se o pai ou a mãe descobrisse que ela planejava fugir de casa enquanto eles estivessem dormindo, de madrugada. Os seguranças não eram problemas, pois Marta conhecia uma passagem na grade lateral da casa grande o bastante para que até uma vaca passasse. As samambaias estendiam seus longos braços por sobre o buraco, fazendo dele imperceptível para qualquer um que passasse ali perto.
Seria interessante se um ladrão descobrisse aquela entrada, pensou ela. Ou melhor, seqüestradores. Não, assassinos! Mas é claro, depois que ela já estivesse bem longe dali.
Tirou esses pensamentos da cabeça e riu baixinho, num tom diabólico. As horas pareciam passar mais devagar, e quase pegou no sono até que finalmente passos atravessaram o corredor em direção ao quarto com a cama de casal. Instantânemanete agachou-se junto a porta, espiou pela frecha entre ela e o chão até assegurar que tanto o pai quanto a mãe estavam dentro do quarto com a porta fechada. Agora era só esperar alguns minutos, até julgar que os dois estariam dormindo nos mais profundos dos sonhos...

23:00h

Nem havia passado da meia-noite. Iria agir mais cedo do que pensara, estava indo melhor do que o planejado. Sentia-se feliz por deixar aquele lugar horrível, ao mesmo tempo que uma tristeza estranha incomodava sua mente. Seria muito melhor se ela estivesse fugindo para ficar na casa de alguma amiga, já tudo combinado. O problema é que Marta não tinha amigas; era mais um problema da cidade: as pessoas pareciam tão alienadas, não gostavam de sair a festas e conversar sobre inutilidades... sentia-se tão diferente, e certamente o problema não era com ela. Era com as outras pessoas.
De modo que o plano era fazer o que seria considerado um cliché no cinema, pensou Marta, rindo da própria comparação. Iria até a estação mais próxima e pegar o primeiro trem sem destino. Conseguiria sobreviver um bom tempo sozinha, afinal, era rica e sua mesada lhe renderia um quartinho num hotel desconfortável, pelo menos até arrumar um emprego.
Ela não sabia, mas a fuga iria leva-la num destino totalmente diferente do planejado. E se soubesse disso antes, jamais teria pensado em sair da mansão.
 
Tah lagal; ms a primeira parte fico meio estranha, vc podia ter primeiro flado um poco da cidade e depois flado um POCO (só um poco) d como os moradores vieram para lah....

fora isso tah legal...vamu ver no q q se transforma...

Editando: agora q vc posto mais um pedaço: esse ta melhor q os otros ms vc descreveu o pai, ms num flo quase nd da mão e nd da filha(exceto q ela é uma adolescente c/ prblemas sérios)
 
bom opiniões sao coisas individuas...algumas vezes compartilhadas... eu discordo do thrain


acho que a descrição de como foram para o vilarejo foi suficiente........ seria legal sim um detalhamento dessa vila....mas isso numa parte futura...achoq ue se ficasse nessa aprte atual iria ficar meio cansativa....

thrain..o texto eh um suspense...vc num pode narrar a personalidade das pessoas com todos detalhes... h um teto longo como ele disse.. ou seja...vc conehce os personagens com o desenrolar da historia.....

muito bom ristow

editando...achei o titulo perfeito.... pq as partes princiapis da historia..... que eh o ponto de inicio da hsitoria acontecem numa noite..noites distintas..mas o titulo caiu perfeito.....
 
NeoDeSampa _=F*U*S*A*=_ disse:
thrain..o texto eh um suspense...vc num pode narrar a personalidade das pessoas com todos detalhes... h um teto longo como ele disse.. ou seja...vc conehce os personagens com o desenrolar da historia.....

Tu do bem ms se ele ja descreveu o pai e um poco da mão pudia ter dito alguma coisa dela... sei lah qualquer coisa, ms tb num precisa fica horas na descrição, é só pra ter uma idéia...
 
Sim, eu sabia que alguém iria reparar nisso. Mas foi proposital. Aquela primeira cidade é pra não ter descrição mesmo. Pode reparar que você não vai encontrar nome da cidade, nome de nenhum personagens, nem descrições dos mesmos, nem nada. Não era necessário...

Já a segunda parte, eu detalhei mais porque é a principal. É nela que os personagens precisam ser desenvolvidos... A relação das duas histórias vocês vão saber só depois.

Quanto as descrições... é, tá meio desiquilibrado mesmo. Mas como disse o Neo, não é tão importante assim. Já a adolescente, as descrições vem ao longo da história. Acho que vai dar pra conhecer ela melhor...

Bom, valeu pelos elogios e criticas. Talvez mais tarde eu coloque mais um pedaço. :D
 
foi exatamente o que eu disse....vc num conta todos os detalhes de um protagonista no inicio..... você tem que ir preenchendo as lacunas pra criar um envolvimento do leitor com a peronagem....
 
Bom, nem tava mais empolgado pra continuar essa história... nem eu achei tão interessante assim, hehehe, mas pra não deixar incompleta, taí uma pedaço que escrevi há um tempo e esqueci de postar aqui (taa num disquete perdido antes deu formatar o PC ¬¬), mesmo que ninguém leia.

*************************

Tudo ocorrera como planejado. Saiu pela porta dos fundos com a mala, passou pela abertura na grade e em poucos minutos já havia andado três quarteirões.
Fazia frio e a escuridão da noite lhe dava medo. Tentou olhar para o fim da avenida, mas a neblina era densa e bloqueava a vista bruscamente. Parou por um momento antes de dobrar a esquina do quarterão (que era uma hotelaria mal acabada e onde normalmente os amantes levavam prostitutas após um longo dia de trabalho), e tentou escutar quaisquer sinais de movimento. Mas não houve passos, tampouco galopes de cavalos carregando carroagens negras; exceto sua respiração ofegante e o coração pulsando o sangue pelo corpo inteiro. Continuou a andar.

Fazia mais frio ainda, e ficou com medo de que houvesse algum ladrão espreitando seus passos, agachado na escuridão de um beco entre dois prédios, ainda que as chances fossem mínimas. Mas não parou: o fato de ter que voltar para aquela casa era um pensamento que a incentivava a continuar, e pensava nisso toda vez que hesitava por um momento.
Se lhe perguntassem quanto tempo andou, não saberia dizer. Mas certamente foi muito tempo, pois quando chegou à estação de trem, suas pernas doíam e o suor quente era reprimido pelo traje grosso, causando uma sensação nauseante.
Na estação, no entanto, estava mais quente - ou talvez o percurso havia aquecido-a suficientemente, ou talvez ambos. O fato é que sentia calor e aproveitou a oportunidade para tirar o casaco e descansar um pouco num dos cantos do recinto. Em seguida, levantou-se e foi comprar a passagem, e logo estava com uma só de ida para uma cidade chamada Digway, um pouco ao norte. Viu que horas eram e percebeu que ainda faltava um bom tempo para a partida. Sentindo-se mais tranqüila e segura, somado ainda a temperatura agradável do ambiente (pois já não fazia mais calor, e de fato a estação protegia contra o vento congelado do ar), decidiu tirar um cochilo num dos bancos da estação, já que haviam poucas pessoas ao redor. Deitou-se, fechou os olhos e logo em seguida estava dormindo num sono agitado.

Acordou num salto, como se tivesse ficado por minutos sob a água quando finalmente conseguiu alcançar a superfície. Olhou para o lado e se deu conta da presença de um homem gordo e alto, usando um colete azul fechado por vários botões cinza-prateados; o chapéu era de um azul-marinho e a aba muito curta. Certamente era um policial.
Marta tentou não reagir com surpresa pois o guarda poderia desconfiar de alguma coisa; então, na maior naturalidade, disse:
- Pois não?
- Seu nome é Mart...
O homem mal tinha acabado de pronunciar seu nome, e a jovem sobressaltou do banco como se tivesse acabado de receber a notícia de que ganhara na loteria, com a diferença de que, nessa ocasião, deduzira o que estava acontecendo e a emoção surgiu de maneira inversamente proporcional. Seus pais tinham descoberto que ela havia fugido de casa e provavelmente mandara alguém ir busca-la na estação, o único lugar para onde alguém iria se fugisse, já que estavam numa pequena cidade e não havia onde se esconder. Mas, apesar de tudo, precisava ser escrupulosa.
- Algum problema? - perguntou o guarda, assustado com a reação da menina.
- Sim - respondeu Marta, tentando inventar uma história de última hora. - Acabei de me lembrar que meu trem está partindo. O que o senhor deseja?
O guarda pegou um pedaço de papel dobrado do bolso e começou a ler:
- Vejamos... ‘morena, com cabelos até o pescoço; um metro e oitenta, olhos azuis e pele clara’. Isso lhe soa familiar?
- Claro, é a minha descrição. Quem escreveu isso?
- Seus pais acabaram de telefonar para o gerente. Foi lhe passada a informação de que uma garotinha com esta descrição teria fugido de casa e vindo até aqui. Muito bem, aqui está. Vai ficar tudo bem, seus pais já estão vindo.
Marta lançou um olhar confuso como se o homem estivesse falando um absurdo absulutamente horível, mas que no fundo queria dizer: “Eu estou ferrada."
- Desculpe, mas o senhor está insinuando que sou uma foragida tentando escapar para uma outra cidade?
- Muito perspicaz da sua parte - respondeu o policial, lançando um olhar para a mala.
- Bom, sinto-lhe informar que o senhor está redondamente enganado. Mas estou de férias na faculdade, na verdade indo visitar meus pais que moram em... - Marta pegou o bilhete - em Digway, veja.
- Como se chama? - perguntou o homem.
- Mary.
- De quê?
- Mary Steinsfenin.
- Estranho.
- O quê?
- O fato de que as escolas daqui não oferecerem faculdade.

E, dizendo isso, o guarda a apanhou pelo braço apertando tão forte que ela soltou um gemido. Estava fervendo de raiva, agora que já tinha percebido que tudo tinha dado errado. Em poucos minutos estaria de volta em seu quarto, provavelmente de castigo pela malcriação. Foi então que decidiu apelar.
- Eu tenho muito dinheiro aqui comigo - disse, finalmente.
- Como?
- Eu tenho dinheiro aqui comigo, bem no meu bolso. Um bolo inteiro com notas de cem, além das moedas no meu casaco.
- Eu entendi o que você quis dizer, garota - disse o homem, e fez uma pausa. - Mas, pensando bem, não vale a pena correr o risco.
- Ah, pois eu sinceramente acredito que vale.
Marta se aproximou mais do rosto do policial e finalizou, bem baixinho, quase que murmurando:
- Diga que quando chegou aqui não havia ninguém. Eu tinha escapado, o trem partido. Você leva o dinheiro e ninguém fica sabendo. Tenho mais na minha mala, vou conseguir sobreviver.
Marta percebeu que a expressão do homem era de dúvida, e sentiu-se gloriosa percebendo que ele brevemente não hesitaria e iria deixa-la ir. Mas o guarda disse:
- Não. Não confio em você, garota. Você vem comigo.
- Oh, mas isso é uma pena! - exclamou a garota. - Então eu terei de fazê-lo pelo lado grosso.

Num movimento rápido, Marta deu um chute tão rápido entre as pernas do homem que, quando este se agachou no chão se contorcendo, quase sentiu a dor por ele. Correu desesperadamente para o lado oposto do salão da estação; saiu para o ar livre e se deparou com o trilho do trem. Estava parado. Ainda faltava um tempo considerável para a partida, de modo que não esperou e correu para dentro do matagal que rodeava o trilho e delimitava a fronteira externa da cidade. Sem a mala, sem provisões e sem saber por onde estava indo, Marta foi se aprofundando cada vez mais dentro do mato que ia ficando cada vez mais denso, onde as plantas se intricavam e formavam infinitas redes de bloqueio. Foi só depois de um tempo que ela parou e se deu conta da situação: estava sozinha, no frio da madrugada, num lugar qualquer.
Pensou em voltar, pois aquele campo era horrivelmente deserto e silêncioso, e nenhum outro lugar seria pior que aquele. Nem mesmo o pensamento de reencontrar os pais desta vez ajudava. Mas a escuridão era tanta que só tinha uma idéia vasta de onde tinha vindo. Só sabia que estava rodeada de vegetais cuja altura ultrapassava sua cabeça e que tinha os pés cravados sobre uma terra branda e molhada, e isso por causa do tato já um pouco fraco devido à dormência.
O único jeito era esperar. Julgou ser mais de 4 da manhã, e em pouco tempo o Sol apareceria por sobre o horizonte lançando seus raios dourados de uma nova manhã; e sabe-se lá o que um novo dia pode trazer. Sentou, passou os braços em volta dos joelhos e fechou os olhos, sem que alguma diferença notável na escuridão fosse percebida.
Fazia mais frio que nunca, e se pelo menos estivesse com a mala, poderia buscar algum manto ou coberta. Teve que controlar o choro pra não fazer barulho, em vista que não era nada impossível se alguém estivesse procurando-a naquele lugar. Mas, em seguida, algo aconteceu que fez o frio e a tristeza irem embora, ou pelo menos esquecê-los.

Continuava agachada quando sentiu uma brisa em seu rosto. Não era o vento, era um sopro de uma pessoa. Sentiu claramente: a expiração, o hálito e até mesmo o calor humano de alguém próximo. A princípio imaginou que fosse o guarda, mas logo se convenceu que nenhum homem desse ramo se arriscaria se aprofundando num lugar daquele para pôr as mãos numa menina, a não ser que tivesse sido muito bem pago (leia-se subordinado). E tendo em vista o recente acontecimento na estação, era muito duvidoso que isso realmente tivesse acontecido. Talvez soe meio estranho esse comportamente acanhado da polícia, mas quando se mora numa cidadezinha onde as taxas de assalto são quase nulas, não pode se esperar uma ordem de segurança pública decente. Sem contar que qualquer ser humano num mínimo estado de conscientização estaria carregando alguma lanterna ou lampião. Marta se virou rapidamente e fez um movimento circular com o braço esquerdo, esperando encostar em alguém, mas só chicoteou plantas que estremeceram por um tempo.
- Tem alguém aí? - disse Marta, com a voz trêmula.
- Tem alguém aí? - rossoou uma voz, bem voraz, mas em murmúrio, como se estivesse com dificuldade em falar.
 
O texto tá tão ruim assim a ponto de ninguém conseguir ler ou tá todo mundo com preguiça? :lol: Quero opiniões!! Anywa, aqui vai mais uma parte.

***********************

Ficou imaginando se tinha sido um eco, e queria acreditar que fosse. A idéia de que alguém estava junto dela naquele local isolado a arrepiava até os ossos; sabe-se lá que tipo de pessoa seria. Mas uma coisa Marta não suportava, menos ainda que o medo: era a angústia. De modo que respirou fundo e se preparou para mais uma vez fazer a mesma pergunta, ainda que isso acarretasse em algo indesejável.
- Tem alguém aí? Responda!
Dessa vez a voz respondeu. Sim, disse ela, de uma meneira tão fria e ríspida que Marta deixou escapulir um grito e em seguida ficou semi-paralisada. A única coisa que se passava por sua cabeça era a gigantesca burrice que acabara de cometer. Mas a voz misteriosa não se calou, e logo continuou a falar.
- Ora, não tenha medo! - disse alegremente, deixando Marta um pouco menos assustada - Não estou aqui para lhe fazer mal. Por favor, não se assuste.
- Quem é você? - murmurou Marta.
- Quem sou eu? Asseguro-a de que quem deveria ter perguntado isso era eu. Uma moça tão bela não deveria andar por aí no meio da madrugada. Diga-me, quem é você?
E por alguma razão que nem mesmo Marta sabia ao certo, repondeu a pergunta instantâneamente e inteiramente completa, e a possibilidade de que poderia estar botando em risco sua fuga dando informações privadas sequer passou por sua cabeça.
- Meu nome é Marta e estou fugindo de casa. Não sei onde estou, nem que horas são; não carrego nada e não tenho com o que me aquecer.
E assim que disse isso, sentiu um manto pesado cobrir suas costas, e soube na certa que era o homem misterioso que havia colocado nela. Sentiu-se reconfortada, e se deu conta que não sentia mais medo. Na verdade, sentia-se segura.

- Obrigada - disse Marta.
Não houve resposta.
- Então... - continuou - quem é você?
- Eu, - disse o homem, numa voz maravilhosamente aquecedora e reconfortante - sou eu. Quem se importa?
Marta queria lhe encher de perguntas, mas achou que não era hora e ficou calada. Ficaram em silêncio por um instante, até que a menina quebrou-o.
- Deixe-me tocá-lo.
Estendou a mão direita e sentiu a massa gélida do rosto do rapaz. Era magro e muito provavelmente estava com muito frio, de modo que Marta quis devolver o manto, mas o homem não aceitou.
- Tão bonita... - disse ele - Tão doce... no entano, tão triste - passou uma das mãos por entre os cablos da jovem a alisou-lhe a nuca. - Por quê, minha menina? O que eu posso fazer, dentro do possível e o difícil, para lhe agradar?
Aquilo era tentador. Por um momento, Marta quse sai correndo, mas aquele homem que, embora nada conhecia sobre ele de fato, parecia um amigo de longa data que realmente se preocupasse com ela. Nunca tinha tido um amigo assim, e aquela sensação era tão fascinante que mais nada no mundo podia fazê-la mudar de idéia a não ser ficar ali por quanto tempo fosse necessário.
- Eu... - começou Marta - não sei direito. Há pouco tempo eu queria ir para longe, para onde pudesse esquecer meus problemas... mas agora já não sei ao certo. Quem é você, senhor, quero saber quem é o homem que me fez sentir mais viva em tão pouco tempo do que durante todos os meus anos de vida por qualquer outra pessoa. Não sei onde estou num sonho, mas se for esse o caso não quero acordar.
E não pode mais falar, pois sentiu o lábio do rapaz encostar nos seus, e estava quente e macio, fato que contraria totalmente a situação. Se deu conta, então, que já estava envolta pelos braços magros e longos do homem, e o mesmo fez com ele. Deitaram na terra fria, mas esta não mais parecia um problema. Ainda sentia uma mão alisando delicadamente sua nuca, enquanto a outra puxava o zíper de seu casaco tão lentamente que o som que era produzido soava como uma blea canção de uma doce voz.
Esqueceu de tudo. Fora absorvida de todos os pensamentos ruins que antes pertubavam sua mente. Continuava com as costas deitadas sobre a terra molhada, com o homem sobre ela. Percebeu que a aurora começa a nascer, e as extremidade superior do matagal ficava cada vez mais de uma cor de sangue. Ainda não podia ver o rosto do homem, somente uma silhueta contra o céu pálido.
Passou-se um tempo até que finalmente estava claro suficiente para que fosse possível identificar alguns detalhes da face do rapaz misterioso. Tinha um nariz longo e pontudo; era mais magro do que havia aparentado e deslizando os dedos pela boca dele, pôde perceber que estava estranhamente ressecada. Mas não pensou mais nisso e se concentrou na sensação terrívelmente maravilhosa.
Estava num estado de transe, e tinha a impressão de estar sendo obrigada a repetir algumas palavras de total desimportância e sentido, mas não conseguia identificar nenhuma delas e imaginou que mais tarde lembraria desse instante e saberia que fora fruto de sua imaginação.
Aos poucos, a cada minuto, a cada pontada de prazer, Marta conseguia cada vez mais determinar as feições do homem. Junto com isso, uma onde crescete de pavor foi dilatando em seu coração, pois podia-se ver claramente uma estranheza peculiar vinda daquele rosto. Até que este pôde-se ser enxergado melhor, e Marta foi envadida por um vertigo: o homem não era magro, era esquelético. Todos os míseros ossos que constituem o crânio sobressaltavam-se na pele; nos olhos, ou pelo menos onde deveriam estar, havia um globo bege e brilhante. A boca era de uma cor roxo-escura e um líquido seco de cor também escura parecia ter escorrido do nariz.
Todos os prazeres foram embora, e Marta tentou se levantar. Mas aqueles olhos que na verdade não eram olhos pareciam olhar diretamente para ela, e até mesmo através. O vertigo foi aumentando, até que Marta perdeu todas as forças e não viu mais nada.

Acordou quando o Sol estava exatamente em cima. Sentia-se estranha e não sabia ao certo o que tinha acontecido. Levantou-se lentamente e durante um tempo ficou em pé, tentando colocar os pensamentos em ordem e se acostumar com a luz irradiante do meio-dia. Sentia-se mais leve, como se um grande fardo tivesse acabado de ser tirado sobre suas costas. À frente só havia mato, que balançava na brisa gelada do dia. Foi quando se virou para ver se tinha alguma coisa ali perto com a qual pudesse ter auxílio que teve a imagem mais aterrorizante de sua vida.
No chão havia duas pessoas, uma em cima da outra. As lembranças da madrugada vieram à tona em sua mente, e logo reconheceu o corpo de cima. E o debaixo... não, não podia ser. Com os globos oculares fora de órbita, pele de uma cor branca como a neve, boca escancarada da qual se projetava uma rosa de um vermelho vivo, estava ninguém menos que ela própria.
Às vezes acordamos no meio da noite e não sabemos ao certo se ainda estamos num sonho ou de fato acordados. É uma sensação esquisita e irritante, mas nada se comparava ao estado emocional de Marta diante daquela cena.
Caiu no chão devido a tontura, e de qualquer jeito suas pernas não agüentariam suportar mais nenhum peso. Sabe-se lá quantas vezes balançou a cabeça e piscou os olhos com a esperança de acordar em seu quarto. Mas de nada adiantava, e aos poucos foi ficando imóvel, impossibilitada de executar qualquer ato, como uma flor que vai desabrochando no inverno. Envolveu as pernas com os braços a abaixou a cabeça, e chorou. Chorou por muito tempo, até anoitecer. E se alguém passasse por ali naquela noite, veria dois corpos sendo devorados por corvos famintos e nada mais.
 
30 de janeiro de 1865,19:44

A pequena garota já havia fechado os olhos há algum tempo, e sua respiração tranqüila indicava que já estava sonhando. A mãe, então, delizou o dedo pelo rosto da filha e tirou uma madeixa de cabelo loiro que estava caído sobre testa. Deu-lhe um beijo de boa noite e foi para o seu quarto, onde seu marido já a esperava há alguns minutos para que pudessem fazer amor e depois dormirem.
Fechou a porta, e junto com o som do baque produzido por ela veio um outro, mas de longe, fora da casa. Chovia a cântaros, e os trovões produzidos por relâmpagos constantes ressonavam por toda parte; contudo, este último som chamou atenção do casal por ser peculiar.
Parecia que um galho pesado havia sido carregado pelo vento violênto e logo em seguida coincidido contra a porta da frente, mas também dava impressão que logo em seguida o ramo havia sido estilhaçado em centenas de pequenos fragmentos, que no ar foram transformados em vidro, produzindo tinidos horrivelmente agudos ao atingir o chão.
A mulher foi até a porta e abriu-a, deixando o vento cortante penetrar na casa e fazer seus cabelos negros esvoaçarem no ar. Com os olhos semi-cerrados, olhou nas duas direções, mas nada viu, a não ser a relva ondulando e a chuva correndo quase horizontalmente. Fechou a porta, mas antes que desse mais de três passos em direção ao quarto, ouviu novamente o estrondo, e dessa vez tão alto e tão perto que a jovem deu um pulo de assombro. Mais uma vez, o barulho veio da porta.

Deu a volta e girou a maçaneta pela segunda vez, e novamente o vento impietuoso entrou, agora fazendo estremecer a louça nas prateleiras pendidas na parede da cozinha. Mas o ventou trouxe algo inesperado: uma rosa. Caiu exatamente na palma da mulher, tão diretamente e determinadamente, que quase chegou a pensar que tinha vida própria. O mais curioso é que estava seca e nova.
Fechou a porta e esperou um pouco. O marido estava na cozinha e uma expressão pálida predominava em sua face; ele estava olhando para a rosa. E pela terceira vez, o estrondo veio, tão insuportável e doloroso, fez com que o casal caísse no chão com as mãos no ouvido. Sentiram um vendaval varrendo o lugar, e logo perceberam que a porta estava escancarada.
Antes fosse só isso. Junto dela, uma jovem moça pairava com um delicadeza tão imensa, que exalava compaixão. Tinha cabelos longos e negros, assim como a senhora da casa, porém, não parecia ser nem um pouco velha, muito pelo contrário, era praticamente uma criança. Em um ou outro segundo, as duas pessoas no chão tinham de piscar os olhos para poder enxergar a aparição melhor, pois casualmente ficava um tanto embaçada.
Ficaram assim durante um tempo, sem saber o que fazer. Aquilo tudo era terrivelmente maravilhoso. Foi então que a aparição fez um movimento bruscom com a cabeça e olhou diretamente para o homem. Seus olhos agora eram assustadores, horríveis, agourentos; e a vida parecia agora, para o rapaz, nojenta e indolente. Um sorriso macabro se abriu na moça na porta, que estranhamente transmitia uma mensagem de gratidão. Em seguida, o homem deixou a face encostar no chão (onde aparecera, sem que se desse conta, uma rosa), pois sentia uma inexorável e exuberante dor no cérebro. Fechou os olhos e nunca mais viu a luz do dia.

Sua mulher havia visto tudo, e tamanho era o pavor que tomava conta de seu corpo. De maneira que nada fez, apenas esperou que o mesmo acontecesse com ela, e assim foi feito.
A garotinha havia levantado da cama com toda a confusão, e agora estava parada na entrada do corredor que dava para a cozinha. Seria de se esperar que, se uma menina de quatro anos visse seus pais mortos a sua frente, mesmo não tendo idade suficiente para entender a razão, abriria o berreiro até que alguém visse e a tirasse dali. Mas, não. Aqui foi completamente diferente.
Do corredor, olhava para a outra pessoa que ainda estava em pé, com os olhos cheios de encantamento. A outra menina se aproximou, até que as duas estivessem a poucos centímetros de distância. Ela, a de cabelo negro, trouxe para a companheira, com gestos sutis e cortês, um ramo de lindas rosas vermelhas como o sangue. A garotinha levantou a mão e pegou o presente, e no mesmo momento foi invadida por um sentimento inexplicavelmente fora do comum. Era tão bom que poderia ficar naquela situação para sempre, mas a outra menina, que era um pouco mais velha, puxou-a pela mão tão delicadamente que o ato foi retribuído pela criança com o favor de acompanhá-la.

No chão da cozinha havia três corpos. Um casal e uma menina. Cada um dos três segurando uma rosa vívida. E do lado de fora, no vestíbulo da casa, duas jovens de mãos dadas atravessavam a tempestade e o vento que levantava seus vestidos brancos, ofuscando à medida que se aprofundavam na neblina, até desaparecerem por completo, e nunca mais foram vistas.


FIM
 

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