Sra. Pseudo
I'm a blueberry pie.
A origem da vida na Terra e os fósseis de Marte
Se for confirmada a existência de vida em Marte, no presente ou no passado, nossas idéias sobre a origem da vida na Terra e sobre a presença de vida no Universo sofrerão certamente um impacto muito grande, obrigando-nos a reformular vários conceitos a respeito. Vamos retomar, inicialmente, as duas principais hipóteses que tentam equacionar o problema da origem da vida, aqui na Terra.
A evolução química
Esta é a hipótese clássica, mais aceita hoje em dia. Ela propõe que, alguns bilhões de anos atrás, moléculas da atmosfera primitiva (metano, amônia, hidrogênio e água) se combinaram, utilizando a energia dos raios ultravioleta e das descargas elétricas de tempestades. Substâncias orgânicas simples, como aminoácidos, poderiam assim ter se formado e sofrido, mais tarde, polimerização (se juntando umas às outras, formando cadeias) sobre a crosta terrestre, originando moléculas semelhantes a proteínas. Essas proteínas e outros compostos podem, depois, ter sido arrastados aos mares primitivos. Na água, a combinação dessas moléculas no decorrer de milhões de anos teria resultado em agregados cada vez mais complexos. Depois de um tempo imensamente grande e de inúmeras reações, um desses agregados pode ter adquirido, de forma casual, a complexidade necessária para constituir um organismo muito simples, capaz de obter seu alimento e de se reproduzir.
A maior dificuldade, nessa hipótese, é a de aceitar que uma evolução química gradual (e casual) das moléculas presentes nos mares tenha sido responsável pelo surgimento de uma estrutura tão complexa e específica como um organismo vivo, mesmo que primitivo. Os biólogos costumam rebater o argumento da seguinte forma: o aparecimento da vida dessa maneira é realmente um evento de muito baixa probabilidade; no entanto, em termos estatísticos, devido ao tempo muito longo disponível, o número de "tentativas" químicas foi praticamente infinito. Assim, o fenômeno da vida acabaria fatalmente por ocorrer, sendo apenas uma questão de se esperar o suficiente. O princípio seria o mesmo daquilo que ocorre quando se tenta sortear a única bola vermelha de um saco com um milhão de bolas, todas as demais pretas: se o número de tentativas for suficientemente grande, acabaremos conseguindo sortear a bola que nos interessa.
A origem extraterrestre
Essa proposta antiga, também chamada de panspermia, é menos aceita hoje. Os dados da NASA sobre o meteorito ALH 84001, evidentemente, fazem com que ela volte a ser pelo menos reexaminada. A hipótese propõe que a vida se originou fora da Terra e chegou ao nosso planeta sob a forma de esporos, trazidos por meteoritos vindos do espaço. Em outras palavras, a vida teria sido "semeada" sobre a Terra. Encontrando condições favoráveis, os esporos poderiam ter evoluído gradativamente, originando a vida como a conhecemos hoje.
Essas idéias têm dois problemas básicos. Um forte argumento contrário relaciona-se ao fato de que meteoritos que entrem em contato com nossa atmosfera se aquecem intensamente, devido ao atrito com o ar. As elevadas temperaturas destruiriam qualquer ser vivo existente neles. Por outro lado, a hipótese da origem extraterrestre não se propõe a discutir como a vida teria surgido, fora da Terra, e relega o problema para outra parte do Universo.
No entanto, de alguns anos para cá, verificou-se que muitos pedaços de rocha que chegam do espaço contêm substâncias orgânicas, como aminoácidos (componentes das proteínas) e nucleotídeos, as unidades do DNA e do RNA. Demonstrou-se ainda que existem moléculas orgânicas em quantidade respeitável nas caudas dos cometas. Isso prova que a formação de substâncias orgânicas no Universo é mais freqüente do que se imagina. Sir Fred Hoyle, um famoso astrônomo inglês, criticado por suas teorias excêntricas, vai mais longe ainda: ele acha que até organismos vivos muito simples, como os vírus, poderiam ter vindo de fora, iniciando o processo todo. No seu livro O Universo Inteligente, Hoyle chega a citar observações feitas ao microscópio no final da década de 1970 de minúsculas estruturas encontradas no interior de meteoritos. Alguns cientistas as interpretaram como fósseis de bactérias; essa interpretação, porém, foi rejeitada pela maioria dos cientistas na época.
Fósseis marcianos: o que mudariam nessa discussão?
Vamos imaginar que a Ciência tenha condições, daqui a alguns anos, de provar que as estruturas descobertas pela NASA no meteorito ALH 84001 sejam mesmo fósseis de microrganismos, demonstrando assim que a vida em Marte chegou a existir em alguma época. Certamente, nossos conceitos sobre a origem da vida no nosso planeta e no Universo sofreriam algumas mudanças radicais. Haveria, neste caso, duas possíveis explicações para a presença de vida na Terra e em Marte. Uma delas seria a de ter havido uma "contaminação" de ambos os planetas por meteoritos vindos do espaço. Assim, a vida teria sido "semeada" tanto na Terra quanto em Marte e teria tido uma origem comum para os dois planetas. A análise dos fósseis marcianos, neste caso, seria fundamental: somente ela poderia confirmar ou excluir a idéia de origem comum, em função de suas semelhanças e diferenças com os fósseis de bactérias terrestres.
Uma segunda possibilidade, muito perturbadora, e que também depende da comparação de registros fósseis: a vida realmente apareceu em Marte, porém de forma totalmente independente em relação à Terra. Ou seja, dois planetas de nosso sistema solar (no nosso próprio quintal, portanto!) teriam tido condições, de forma isolada, de permitir e abrigar a evolução do milagre chamado vida. Repare nas repercussões de uma descoberta deste tipo. Primeiro, ficariam mais do que confirmadas as idéias de que as substâncias químicas típicas da vida são, realmente, muito freqüentes no Universo. Segundo, o conceito de que é necessário um "milagre estatístico" para que a vida apareça em algum lugar deixa de ser tão categórico. Acabaríamos forçados a admitir que o surgimento de vida é um fenômeno menos "impossível" do que se imagina. A conclusão inevitável, neste caso, é que este evento deve ter ocorrido de forma muito freqüente e que, portanto, quase certamente, a vida deve estar espalhada em vários lugares do Universo, bastando para isso ter havido as condições adequadas. É possível que com as novas missões a Marte, nos próximos anos, mais informações nos permitam enxergar um pouco mais claramente
E ai? QUal das hipóteses é mais plausível? E se a hipótese da Origem Extra-Terrestre fosse comprovada? O q mudaria na ciencia e nas nossas vidas?
Se for confirmada a existência de vida em Marte, no presente ou no passado, nossas idéias sobre a origem da vida na Terra e sobre a presença de vida no Universo sofrerão certamente um impacto muito grande, obrigando-nos a reformular vários conceitos a respeito. Vamos retomar, inicialmente, as duas principais hipóteses que tentam equacionar o problema da origem da vida, aqui na Terra.
A evolução química
Esta é a hipótese clássica, mais aceita hoje em dia. Ela propõe que, alguns bilhões de anos atrás, moléculas da atmosfera primitiva (metano, amônia, hidrogênio e água) se combinaram, utilizando a energia dos raios ultravioleta e das descargas elétricas de tempestades. Substâncias orgânicas simples, como aminoácidos, poderiam assim ter se formado e sofrido, mais tarde, polimerização (se juntando umas às outras, formando cadeias) sobre a crosta terrestre, originando moléculas semelhantes a proteínas. Essas proteínas e outros compostos podem, depois, ter sido arrastados aos mares primitivos. Na água, a combinação dessas moléculas no decorrer de milhões de anos teria resultado em agregados cada vez mais complexos. Depois de um tempo imensamente grande e de inúmeras reações, um desses agregados pode ter adquirido, de forma casual, a complexidade necessária para constituir um organismo muito simples, capaz de obter seu alimento e de se reproduzir.
A maior dificuldade, nessa hipótese, é a de aceitar que uma evolução química gradual (e casual) das moléculas presentes nos mares tenha sido responsável pelo surgimento de uma estrutura tão complexa e específica como um organismo vivo, mesmo que primitivo. Os biólogos costumam rebater o argumento da seguinte forma: o aparecimento da vida dessa maneira é realmente um evento de muito baixa probabilidade; no entanto, em termos estatísticos, devido ao tempo muito longo disponível, o número de "tentativas" químicas foi praticamente infinito. Assim, o fenômeno da vida acabaria fatalmente por ocorrer, sendo apenas uma questão de se esperar o suficiente. O princípio seria o mesmo daquilo que ocorre quando se tenta sortear a única bola vermelha de um saco com um milhão de bolas, todas as demais pretas: se o número de tentativas for suficientemente grande, acabaremos conseguindo sortear a bola que nos interessa.
A origem extraterrestre
Essa proposta antiga, também chamada de panspermia, é menos aceita hoje. Os dados da NASA sobre o meteorito ALH 84001, evidentemente, fazem com que ela volte a ser pelo menos reexaminada. A hipótese propõe que a vida se originou fora da Terra e chegou ao nosso planeta sob a forma de esporos, trazidos por meteoritos vindos do espaço. Em outras palavras, a vida teria sido "semeada" sobre a Terra. Encontrando condições favoráveis, os esporos poderiam ter evoluído gradativamente, originando a vida como a conhecemos hoje.
Essas idéias têm dois problemas básicos. Um forte argumento contrário relaciona-se ao fato de que meteoritos que entrem em contato com nossa atmosfera se aquecem intensamente, devido ao atrito com o ar. As elevadas temperaturas destruiriam qualquer ser vivo existente neles. Por outro lado, a hipótese da origem extraterrestre não se propõe a discutir como a vida teria surgido, fora da Terra, e relega o problema para outra parte do Universo.
No entanto, de alguns anos para cá, verificou-se que muitos pedaços de rocha que chegam do espaço contêm substâncias orgânicas, como aminoácidos (componentes das proteínas) e nucleotídeos, as unidades do DNA e do RNA. Demonstrou-se ainda que existem moléculas orgânicas em quantidade respeitável nas caudas dos cometas. Isso prova que a formação de substâncias orgânicas no Universo é mais freqüente do que se imagina. Sir Fred Hoyle, um famoso astrônomo inglês, criticado por suas teorias excêntricas, vai mais longe ainda: ele acha que até organismos vivos muito simples, como os vírus, poderiam ter vindo de fora, iniciando o processo todo. No seu livro O Universo Inteligente, Hoyle chega a citar observações feitas ao microscópio no final da década de 1970 de minúsculas estruturas encontradas no interior de meteoritos. Alguns cientistas as interpretaram como fósseis de bactérias; essa interpretação, porém, foi rejeitada pela maioria dos cientistas na época.
Fósseis marcianos: o que mudariam nessa discussão?
Vamos imaginar que a Ciência tenha condições, daqui a alguns anos, de provar que as estruturas descobertas pela NASA no meteorito ALH 84001 sejam mesmo fósseis de microrganismos, demonstrando assim que a vida em Marte chegou a existir em alguma época. Certamente, nossos conceitos sobre a origem da vida no nosso planeta e no Universo sofreriam algumas mudanças radicais. Haveria, neste caso, duas possíveis explicações para a presença de vida na Terra e em Marte. Uma delas seria a de ter havido uma "contaminação" de ambos os planetas por meteoritos vindos do espaço. Assim, a vida teria sido "semeada" tanto na Terra quanto em Marte e teria tido uma origem comum para os dois planetas. A análise dos fósseis marcianos, neste caso, seria fundamental: somente ela poderia confirmar ou excluir a idéia de origem comum, em função de suas semelhanças e diferenças com os fósseis de bactérias terrestres.
Uma segunda possibilidade, muito perturbadora, e que também depende da comparação de registros fósseis: a vida realmente apareceu em Marte, porém de forma totalmente independente em relação à Terra. Ou seja, dois planetas de nosso sistema solar (no nosso próprio quintal, portanto!) teriam tido condições, de forma isolada, de permitir e abrigar a evolução do milagre chamado vida. Repare nas repercussões de uma descoberta deste tipo. Primeiro, ficariam mais do que confirmadas as idéias de que as substâncias químicas típicas da vida são, realmente, muito freqüentes no Universo. Segundo, o conceito de que é necessário um "milagre estatístico" para que a vida apareça em algum lugar deixa de ser tão categórico. Acabaríamos forçados a admitir que o surgimento de vida é um fenômeno menos "impossível" do que se imagina. A conclusão inevitável, neste caso, é que este evento deve ter ocorrido de forma muito freqüente e que, portanto, quase certamente, a vida deve estar espalhada em vários lugares do Universo, bastando para isso ter havido as condições adequadas. É possível que com as novas missões a Marte, nos próximos anos, mais informações nos permitam enxergar um pouco mais claramente
E ai? QUal das hipóteses é mais plausível? E se a hipótese da Origem Extra-Terrestre fosse comprovada? O q mudaria na ciencia e nas nossas vidas?