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Cite um trecho do livro que você está lendo! [Leia o 1º post]

"Se Deus tencionasse interferir na degenerescência da humanidade já não o teria feito a essa altura? Lobos separam as crias fracas, homem. A que outra criatura caberia? E acaso a raça humana não é ainda mais predatória? É da natureza do mundo vicejar e florir e morrer mas nos negócios do homem não há definhamento e o zênite de sua expressão sinaliza o começo da noite. Seu espírito está exausto no auge de sua realização. Seu meridiano é ao mesmo tempo seu escurecer e o ocaso de seu dia. Ele ama o jogo? Pois que aposte tudo. Isso que veem aqui, essas ruínas tão veneradas pelas tribos de selvagens, acham que voltarão a existir? Sempre. E novamente. Com outro povo, com outros filhos.

O juiz olhou em torno. Estava sentado junto ao fogo nu exceto pelas calças e repousava as mãos sobre os joelhos com a palma virada para baixo. Seus olhos eram fendas vazias. Ninguém na companhia fazia a menor ideia sobre o que significava aquela postura, e contudo tão parecido com um ícone estava ele ali sentado que se mostravam mais e mais cautelosos e conversavam com circunspecção entre si como que não querendo acordar uma criatura que seria melhor deixar dormindo."


Meridiano de Sangue

Cormac McCarthy
Alfaguara, 2ª Ed. Pág. 150
 
falar nisso, fui dar uma olhada nesse "breve história" aí esperando ser umas cem páginas... 500. isso é breve onde? :rofl:
Ah, considerando o tanto que abrange, é breve mesmo. Aliás, tenho esse livro há uns anos, comprei numa feira do livro de Poa para sanar em parte minha ignorância abissal sobre quase tudo... Não li ainda, claro. :dente:
 
"Lockman ajeita-se para dar uma tacada suave na bola.
Tem um homem na galeria de cima folheando o último número da revista Life. Tem um homem na 12th Street no Brooklyn que amarrou um gravador de fita ao rádio para gravar a voz de Russ Hodges narrando a partida. Ele não sabe por que está fazendo isso. É apenas um impulso, um capricho, é como ouvir o jogo duas vezes, é como ser jovem e velho, e esta gravação virá a ser a única gravação conhecida da famosa narração que Russ fez dos últimos lances do jogo. O jogo e suas extensões. A mulher cozinhando repolho. O homem que está tentando se matar com bebida. Eles são a alma mais remota do jogo. Unidos pela voz pulsante do rádio, unidos ao telefone sem fio que vai passando o escore na rua até chegar aos torcedores que ligam para o número especial da polícia e a multidão na arquibancada que se torna a imagem na televisão, gente do tamanho de grãos de arroz, e o jogo como boato e conjectura e história interior. Tem um garoto de dezesseis anos do Bronx que leva o rádio para o telhado do prédio para poder escutar sozinho, um torcedor dos Dodgers encorujado no crepúsculo, e ele ouve a narração da tacada suave mal dada e da bola alta que leva ao empate e olha para os outros telhados, as praias de piche cheias de cordas de estender roupa e ninhos de pombos e camisas-de-vênus usadas, e sente um frio na espinha. O jogo não muda a maneira como a gente dorme ou lava o rosto ou mastiga a comida. O jogo não muda nada, só muda a vida da gente."



Submundo

Don DeLillo
Companhia das Letras, 1ª Ed. Pág. 28
 
" — Viemos dizer-lhe o que todas as pessoas nesta corte sempre souberam. A Rainha Guenevere é abertamente amante de Sir Lancelot."
(O Único E Eterno Rei vol. 4: A Chama Ao Vento - T. H. White)


Absolutamente ninguém:
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"Nessas noites de verão, as mulheres que moravam nos andares mais altos não conseguiam lavar os pratos porque a garotada abria os hidrantes e ficava dançando no jato d'água, e não havia pressão bastante para a água chegar até os andares de cima.

Todo o movimento em direção ao ar, à noite, cabeças de fora nas janelas, mulheres comendo pêssegos nas janelas escuras, rindo da escuridão, mulheres ansiando por uma brisa, homens de camiseta nas entradas dos prédios com rádios ligados, uma partida de beisebol lá em Cleveland, uma cidade tão fresca.

Garotos correndo, suados, sem camisa, um garoto com as costelas desenhadas no peito. Outros na fila do caminhão do Bungalow Bar, picolés de chocolate e laranja, lá está o menino com a língua suja de tinta, sempre tem um menino com a língua suja de tinta. Waterman, azul permanente. Que diabo que ele faz, bebe tinta?

Mulheres na varanda de uma casa, conversando no escuro.

Meninos mais velhos em bicicletas alugadas, dez centavos a hora, e garotas sendo transportadas por alguns deles, sentadas de lado no quadro, e os garotos atravessando poças d'água, todo mundo satisfeito, os homens nas entradas, as cabeças nas janelas, as meninas gritando nas bicicletas e as crianças menores abrindo alas para elas passarem, todos felizes juntos, e por fim o garoto, usando o calção do irmão, que segura uma lata junto à boca do hidrante para fazer a água esguichar bem alto, como um gêiser.

Mais tarde, os rapazes vão ficar parados nas esquinas, depois que as luzes se apagarem, fumando e jogando conversa fora, e aqui e ali haverá pessoas dormindo nas escadas de incêndio, para pegar um pouco de ar fresco da noite. Finalmente. Uma brisazinha de nada, que muda tudo."

Submundo

Don DeLillo
Companhia das Letras, 1ª Ed. Pág. 686
 
"Passamos a noite na cidade de Semipalatinsk tomando cerveja quente e comendo patê de carne de cavalo, e na manhã seguinte, em vez de voltar direto para Moscou, Viktor Maltsev resolve nos mostrar uma coisa.

Leva-nos a um lugar chamado Museu dos Deformados. Faz parte do Instituto Médico, e percebo que Brian começa a esquivar-se, a ficar um pouco para trás antes mesmo de entrarmos no museu propriamente dito, um salão comprido, de pé-direito baixo, cheio de vitrines onde estão expostos os fetos. Viktor, sem dúvida, é um homem que gosta de aprofundar a textura de uma experiência. Os fetos, alguns deles, são preservados em potes de picles Heinz. Um tem duas cabeças. Outro tem uma só, duas vezes o tamanho do resto do corpo. O outro tem uma cabeça normal saindo do lugar errado, do ombro direito.

Olhamos para os potes em silêncio. Caminhamos lentamente de uma vitrine a outra porque a ocasião parece exigir um ritmo solene, e não dizemos nada, olhamos apenas para as vitrines e não para as paredes, janelas ou a cara do outro. Então Viktor diz uma coisa, mas não a respeito dos fetos. Fala sobre o tempo em que se realizavam os testes nucleares. Olhamos para os potes e ouvimos Viktor e caminhamos lentamente de um mostruário a outro. Quinhentas explosões nucleares no campo de provas, que fica a sudoeste da cidade, e mesmo quando pararam de fazer testes nas atmosfera os poços de minas que escavaram para detonações subterrâneas não eram profundos o bastante para impedir que níveis perigosos de radiação escapassem para a superfície.

Ele olha para mim quando diz isso.

Então vemos o ciclope. Olho no centro, orelhas abaixo do queixo, nada de boca. Nada de Brian também. Encontramos Brian lá fora, parado ao lado do táxi e contemplando a serra baixa que percorre a estepe através da fumaça que sai da fábrica. Entramos no táxi, mas não vamos ao hotel pegar nossa bagagem para seguir em direção ao aeroporto. Viktor manda o motorista ir para uma clínica de radiação nos arredores da cidade, e seguimos para lá um pouco contrariados (eu e Brian) embora sem esboçar resistência, incapazes de protestar, por estarmos ainda sob o impacto daqueles potes de picles."


Submundo

Don DeLillo
Companhia das Letras, 1ª Ed. Pág. 708
 
QUANDO VOCÊ ESTÁ ACIMA DO PESO, seu corpo se transforma num registro público, em muitos sentidos. Seu corpo está constantemente em exposição. As pessoas projetam narrativas presumidas em seu corpo e não estão nem um pouco interessadas na verdade dele, qualquer que seja essa verdade.

Gordura, de forma bem semelhante à cor da pele, é algo que você não pode esconder, por mais escura que seja a roupa que você vista ou o quanto você evite listras horizontais. Você pode tentar ficar invisível. Você pode aprender a ser a graça da festa, para que as pessoas estejam tão ocupadas em rir de você, ou com você, que nem notem o óbvio, que nem se concentrem nele. Você pode fazer o que tiver de fazer para sobreviver a um mundo que tem pouca paciência ou compaixão por um corpo como o seu.

Independentemente do que você fizer, seu corpo está sujeito ao discurso público de família, amigos e estranhos também. Seu corpo está sujeito a comentários quando você ganha peso, perde peso ou mantém seu peso inaceitável. As pessoas são velozes em lhe oferecer estatísticas e informações sobre os perigos da obesidade, como se você não fosse apenas gorda, mas também incrivelmente imbecil, desatenta e iludida quanto à vigorosa falta de hospitalidade daquele corpo. Esse comentário costuma ser camuflado como preocupação, como pessoas que só têm as melhores intenções, de coração. Elas se esquecem que você é uma pessoa.

Fome (Roxane Gay).

Trata-se de um livro de memórias. O livro é tão doloroso que, por diversos momentos, dá vontade de parar a leitura, virar para a Roxane Gay, abraçá-la e dizer: "Vai ficar tudo bem".​
 
"São Luís está coberta pelo negro manto de suas noites estreladas, sibila o vento nas ruas em ladeira, chiam os bicos de gás nos lampiões vigilantes, um carro estronda as rodas nas pedras do calçamento, enquanto retinem as ferraduras dos cavalos espicaçados pela taca do cocheiro, e eis que ressoam os tambores do querebentã da Rua de São Pantaleão, graves, nervosos, compassados, guardando intacto o seu batuque primitivo, e que hoje reúne os negros livres como outrora reunia os negros escravos. Sobretudo os negros escravos. E estes vinham aos dois, aos três, ou sozinhos, protegidos pelas sombras das ruas desertas, e ali reencontravam seus deuses, seus cantos e seus irmãos. Esqueciam-se do cativeiro, não tinham mais senhores nem feitores, e sim voduns, que os habitavam e protegiam. Pouco importava que trouxessem no corpo as marcas das cangas, dos libambos, dos vira-mundos, das gonilhas e das gargalheiras. Ou que ali entrassem com as mordaças e as máscaras de flandres. Os tambores retumbavam, e eles, os cativos, eram novamente os donos de suas horas, senhores de suas vontades."​

- Josué Montello, sobre a Casa-Grande das Minas, em "Os Tambores de São Luís", p. 306.
 
"Por um instante a morte soltou-se a si mesma, expandindo-se até às paredes, encheu o quarto todo e alongou-se como um fluido até à sala contígua, aí uma parte de si deteve-se a olhar o caderno que estava aberto sobre uma cadeira, era a suite número seis opus mil e doze em ré maior de johann sebastian bach composta em cöthen e não precisou de ter aprendido música para saber que ela havia sido escrita, como a nona sinfonia de beethoven, na tonalidade da alegria, da unidade entre os homens, da amizade e do amor. Então aconteceu algo nunca visto, algo não imaginável, a morte deixou-se cair de joelhos, era toda ela, agora, um corpo refeito, por isso é que tinha joelhos, e pernas, e pés, e braços, e mãos, e uma cara que entre as mãos se escondia, e uns ombros que tremiam não se sabe porquê, chorar não será, não se pode pedir tanto a quem sempre deixa um rasto de lágrimas por onde passa, mas nenhuma delas que seja sua."


As Intermitências da Morte

José Saramago
Companhia das Letras, 2ª Ed. Pág. 152
 
"Aquela noite, perdido entre as noites e as noites, disso ela tinha certeza, a jovem se encontrava justamente naquele navio e estava lá quando aquela coisa se produziu, aquela irrupção da música de Chopin sob o céu iluminado de cintilações. Não havia uma brisa sequer, e a música havia se espalhado por todo o paquete negro, como uma imposição dos céus que não sabia a que se referia, como uma ordem de Deus cujo teor era desconhecido. E a jovem tinha se levantado como se estivesse indo por sua vez se matar, por sua vez se lançar ao mar, e depois havia chorado porque tinha pensado naquele homem de Cholen e de repente não tinha certeza se não o havia amado com um amor do qual não se apercebera porque ele tinha se perdido na história como a água na areia e agora ela só o reencontrava nesse instante em que a música se lançava ao mar"

- Marguerite Duras, O Amante
 
"A atual união conjugal burguesa é de dois tipos. Nos países católicos, em toda linha, o pai e a mãe ainda providenciam para o jovem filho burguês uma esposa adequada e, naturalmente, a consequência disso é a plena explicitação da contradição contida na monogamia: heterismo abundante por parte do homem e adultério abundante por parte da mulher. A Igreja católica certamente só aboliu o divórcio porque se convenceu de que não existe remédio para o adultério, assim como não existe para a morte. Nos países protestantes, em contraposição, tornou-se regra conceder ao filho do burguês maior ou menor liberdade para escolher uma esposa de sua classe, por isso algum sentimento de amor pode estar na base da consumação do casamento e inclusive, por conveniência, sempre é pressuposto, como corresponde à hipocrisia protestante. Nesse caso, o heterismo já não é mais tão praticado pelo homem e o adultério já não é mais a regra para a mulher. Porém, dado que em todo tipo de casamento as pessoas continuam sendo o que eram antes do casamento, e dado que os burgueses dos países protestantes geralmente são filisteus, essa monogamia protestante traz para a comunhão conjugal, na média dos melhores casos, uma monotonia pesada que recebe o nome de felicidade familiar. O melhor espelho desses dois métodos de casamento é o romance: o do tipo católico é o romance francês, o do protestante é o romance alemão. Em cada um dos dois “ele a ganha”: no alemão, o jovem ganha a moça, no francês o marido ganha a galhada. Nem sempre se consegue dizer ao certo qual dos dois fica em piores condições. Essa é a razão pela qual a monotonia do romance alemão causa no burguês francês os mesmos arrepios que a “imoralidade” do romance francês causa no filisteu alemão. Ainda que, em tempos recentes, em que “Berlim está se tornando uma cosmópole”, o romance alemão comece a incursionar um pouco menos timidamente no heterismo e no adultério, praticados ali de longa data."

- Friedrich Engels, A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado.

:rofl::rofl::rofl:
 
When the sun rose red and the frost fled from the surface of the short, dry grass, the herd was already lined out over the length of a half mile; caught under the bewitching spell of the dark and that holy quality of the dawn that turns men in upon themselves, the cowhands were silent and the brothers were silent, listening to the step-step-step of the cattle and the crackling sound of sagebrush crushed under cloven hoofs; squeak-squeak-squeak of saddle leather and the ringing of German silver bit chains. The new sun rising above the eastern hills showed a world so vast and hostile to individual hope that the young cowhands clung to memories of home, kitchen stoves, mothers’ voices, the cloakroom at school and the cries of children let out at recess. Raising their chins, they fixed their eyes now on an abandoned log shack, opened to the weather, where stray horses in summer sought a little shade, where years before a man like them had failed; where the road wandered near a barbed wire fence, a rusty sign peppered with bullet holes urged them to chew a brand of tobacco that no longer existed; ahead, hunched over the pommel of his saddle, rode the oldest man in the bunkhouse, gray, lined of face, one who like them must have once dreamed of a little place, a few acres, a homestead, a few cattle, a green meadow, a woman to be a wife; God knew, maybe a child.


Bem no início de The Power of the Dog, de Thomas Savage, mas já adorando essa escrita sonora, luxuriante, com traços de narrativa oral, e uma pegada filosófica acerca da condição humana.

espero voltar ao filme de Jane Campion e gostar mais dele depois da leitura.
 
"É que a catedral admirável dos jagunços tinha essa eloqüência silenciosa dos edifícios, de que nos fala Bossuet...

Devia ser como foi. Devia surgir, mole formidável e bruta, da extrema fraqueza humana, alteada pelos músculos gastos dos velhos, pelos braços débeis das mulheres e das crianças. Cabia-lhe a forma dúbia de santuário e de antro, de fortaleza e de templo, irmanando no mesmo âmbito, onde ressoariam mais tarde as ladainhas e as balas, a suprema piedade e os supremos rancores...

Delineara-a o próprio Conselheiro. Velho arquiteto de igrejas, requintara no monumento que lhe cerraria a carreira. Levantava, volvida para o levante, aquela fachada estupenda, sem módulos, sem proporções, sem regras; de estilo indecifrável; mascarada de frisos grosseiros e volutas impossíveis cabriolando num delírio de curvas incorretas; rasgada de ogivas horrorosas, esburacada de troneiras; informe e brutal, feito a testada de um hipogeu desenterrado; como se tentasse objetivar, a pedra e cal, a própria desordem do espírito delirante."


Os Sertões

Euclides da Cunha
Ateliê Editorial, 5ª Ed. Pág. 307
 

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