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Programa Mais Médicos

Que há interesses classistas é evidente... mas o Eriadan foi além e disse que a oposição era SÓ classista, e que todas outras oposições ao programa eram simulacros dessa oposição classista, isto é, não havia motivos não-classistas para se opor ao programa. Isso é reduzir todo o assunto a uma mera "luta de classes", e não é óbvio que seja adequado fazê-lo.

Isso ele já respondeu.

Mas enfim, se o Neithan concorda que tá repetindo "a mesma retórica" de gente "ignorante e maniqueísta",

Estou repetindo o discurso para verem como é estúpido, e como o papo de "guerrilheiros cubanos" é totalmente loucura.

e que os temores de seus colegas esquerdistas do fórum foram "previsões retardadas", fico satisfeito. :coxinha:

Nem acho que eram previsões retardadas, pra mim foi uma tática ridícula também de tentar desqualificar o presidente meme na base do medo. Mas usaram argumentos tão imbecis, como chamar ele de Hitler, que viveríamos em auschwitz tupiniquim e outras viagens, que ninguém deu a mínima. E isso foi muito tosco porque é muito mais fácil desqualificar o Bolsonaro usando o óbvio: A carreira política dele, que sempre foi um lixo.

Eu culpo muito mais a esquerda que a direita pela eleição do JENIO. A pauta em 2018 deles era Lula Livre e Bolsonaro Hitler. Ou outras pautas totalmente fora de hora, como aborto e legalização da maconha. Num país com 60mil mortes violentas por ano e com quase 25mi de desempregados, QUEM LIGA PRA ISSO? Fora que ignorar a parcela cristã da população em nome de pauta progressista é tiro no é de qualquer campanha. E enquanto a direita percebeu que a população enxergou política como futebol, e começou a usar memes e fake news, a esquerda quis ficar na ironia e nos posts inteligentões. Deu no que deu.

Mas a direita foi incompetente também. Teve 4 eleições seguidas do PT pra formar uma oposição sólida com alguma liderança decente, e não saiu nada, e desse vácuo, saiu Bolsonaro, justamente porque não conseguiram criar uma força política que antagonizasse com o petismo. O próprio bolsonarismo nada mais é que um movimento antipetista radicalizado e ignorante, ele não tem força própria. Se em 2022 o Brasil continuar na merda que está no atual governo, essa galera vai migrar pro Doria ou outra figura que personalize o antipetismo de novo. E isso só mostra como a direita br é nula e incapaz de criar uma liderança, uma força política que seja atrativa ao povo.
 
Não falei em "só" para qualquer caso, falei em verdadeira justificativa da oposição dos médicos, aquilo que realmente alimentou a luta da categoria. Podem haver justificativas não classistas dos setores que não são diretamente interessados, ou pode ter algum argumento elencado pelos próprios médicos que seja pertinente em si mesmo, mas - eis a questão - não acredito que nenhum deles tenha sido minimamente decisivo para fomentar uma mobilização contra o programa. Os médicos, como fazem todas as categorias, combateram um projeto que desvalorizava a carreira, porque oferecia piores condições de trabalho para outros exercerem um trabalho que lhe era exclusivo, e daí utilizaram todo argumento que pudesse validar a sua militância como em prol de toda a sociedade. Um bacharel que não passa no exame da OAB pode ter menos condições de prestar advocacia, mas a preocupação com os jurisdicionados passa longe de ser o motivo que leva a entidade a exigir esse requisito (e consequente filiação). Você acredita que tinha algum médico crítico ao programa porque estava sinceramente preocupado com o regime de trabalho dos cubanos?
Você se referiu a argumentos não-classistas comuns como coisas que "sempre foram desculpas populistas para disfarçar a verdadeira causa, que era o lobby profissional". Deu a entender sim que argumentos não-classistas ao programa não existiam por si só, sendo mero instrumento de retórica desse lobby. E há médicos e médicos... em um extremo, há médicos que estão em vias de aposentar, que mudaram de carreira, que trabalham pouco e não se importam tanto para a carreira... ou até médicos tão bem estabelecidos que pouco se preocupam com o mercado... e em outro extremo há médicos de sindicatos ou órgãos de classe de algum tipo... Decerto uma parte considerável desse universo, especialmente ao redor do primeiro extremo, pode eventualmente pensar mais como cidadão e paciente do que como médico. Enfim, não cabe querer julgar a "causa verdadeira" da oposição, isso é, julgar a sinceridade ou a consciência alheia, muito menos, para tanto, generalizar toda uma classe de profissionais dos mais variados perfis... Cabe apenas analisar os argumentos em si.

Tomando um outro exemplo, imagine que o governo passe a aceitar astrólogos como professores de Física. Ou, nem precisamos fantasiar muito... aceitar não-físicos, como já é feito hoje. Os físicos críticos a respeito estão preocupados com a medida em si ou com o bem-estar de sua profissão? Enfim, nem importa, depende do físico... Cabe analisar os argumentos em questão. De qualquer forma, decerto os argumentos contra a medida não terão sido apenas "desculpas populistas para disfarçar a verdadeira causa, que era o lobby profissional".... A não ser que a reivindicação seja tão descabida que apenas os físicos (por interesse próprio) lutem por ela, e esse cenário denegriria os físicos sim, pelo menos os que compactuassem com a luta em questão. É o que rolou, por exemplo, com a aposentadoria privilegiada de policiais federais, na reforma da previdência.

Estava cheio de lacrador reclamando de suástica, falando de novo 1964 e um monte de previsão retardada,
Nem acho que eram previsões retardadas, pra mim foi uma tática ridícula também de tentar desqualificar o presidente meme na base do medo.
Ué... Até quando eu transcrevo literalmente, discorda...

Mas enfim, convenhamos, grande parte (mais do que 90%) não está seguindo tática alguma, está apenas extravasando pensamento sinceros. Se são manipulados por táticas de terceiros, é outra história.

Eu culpo muito mais a esquerda que a direita pela eleição do JENIO. A pauta em 2018 deles era Lula Livre e Bolsonaro Hitler. Ou outras pautas totalmente fora de hora, como aborto e legalização da maconha. Num país com 60mil mortes violentas por ano e com quase 25mi de desempregados, QUEM LIGA PRA ISSO? Fora que ignorar a parcela cristã da população em nome de pauta progressista é tiro no é de qualquer campanha. E enquanto a direita percebeu que a população enxergou política como futebol, e começou a usar memes e fake news, a esquerda quis ficar na ironia e nos posts inteligentões. Deu no que deu.

Mas a direita foi incompetente também. Teve 4 eleições seguidas do PT pra formar uma oposição sólida com alguma liderança decente, e não saiu nada, e desse vácuo, saiu Bolsonaro, justamente porque não conseguiram criar uma força política que antagonizasse com o petismo. O próprio bolsonarismo nada mais é que um movimento antipetista radicalizado e ignorante, ele não tem força própria. Se em 2022 o Brasil continuar na merda que está no atual governo, essa galera vai migrar pro Doria ou outra figura que personalize o antipetismo de novo. E isso só mostra como a direita br é nula e incapaz de criar uma liderança, uma força política que seja atrativa ao povo.
Acho isso muito mais resultado de um processo sócio-econômico mais ou menos determinista do que uma incompetência acidental da direita. Em um país de 200 milhões de habitantes, haverá competências das mais variadas, e percorrendo todo espectro político. Mas só assumem um papel público relevante historicamente quando condições sócio-econômicas apropriadas surgem. Não haveria competência o bastante para colocar um liberal no poder em 2003, por exemplo... A direita só começou a decolar após 2013, e não foi porque ela ficou menos incompetente, e sim porque o modelo vigente, de esquerda, se exauriu. De forma análoga, o momento pedia uma figura do tipo Trump, Bolsonaro, etc, não há competência que colocasse um Partido Novo no poder. A "onda laranja" vai ter que esperar... E daí, digo porque acho e não por "tática", acho que o momento do PT/PDT/cia, da esquerda desenvolvimentista, já era. Sucessores possíveis estão entre a esquerda de visão econômica mais ortodoxa, como Marina Silva e Tábata Amaral, mas tá muito rudimentar ainda. E a Tábata só colabora para essa rudimentaridade ao se aliar a Ciro Gomes... Enfim, se o bolsonarismo for ser sucedido, vai ser por algo de dentro da própria direita. E talvez de dentro do próprio bolsonarismo, vai saber, afinal é um movimento multifacetado, algumas das facetas podem subsumir as outras....
 
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Você se referiu a argumentos não-classistas comuns como coisas que "sempre foram desculpas populistas para disfarçar a verdadeira causa, que era o lobby profissional". Deu a entender sim que argumentos não-classistas ao programa não existiam por si só, sendo mero instrumento de retórica desse lobby. [...] Enfim, não cabe querer julgar a "causa verdadeira" da oposição, isso é, julgar a sinceridade ou a consciência alheia, muito menos, para tanto, generalizar toda uma classe de profissionais dos mais variados perfis... Cabe apenas analisar os argumentos em si.
Grifei esses pontos porque talvez esteja aí a dificuldade de vocês. O propósito de se julgar a "causa verdadeira" da oposição não é simplesmente moral, mas prático: é o que origina e sustenta uma manifestação política. Quando eu digo que a luta classista é o real motivo do repúdio ao antigo programa e que o uso dos demais argumentos é somente para dar uma legitimidade extra-classista a essa oposição, a mensagem não é "nenhum dos outros argumentos é válido em si mesmo" ou "nenhum médico acredita de coração em algum desses argumentos", mas esta: não interessa, numa discussão que analisa o posicionamento dos médicos contra o programa, avaliar o mérito desses argumentos, como você propõe, porque enquanto subsistisse o principal - e que eu chamo mesmo de verdadeiro, porque não acredito que nenhum dos demais teria potencial para mobilizar a classe -, o posicionamento da categoria continuaria firme contra o programa, pois é o que realmente interessava para ela.

Vou dar outro exemplo para ilustrar. No momento, a minha própria categoria está em confronto com a administração devido a um projeto que extingue vagas de concurso público em prol da contratação de comissionados. Sim, é a pura verdade o que alegamos: aumentam os riscos de contratação por critérios subjetivos, em detrimento da eficiência, de atos com desvio da finalidade pública (que é o grande trunfo da estabilidade), enfim, vai de encontro a todos os princípios da Administração Pública. Tudo isso é real e é grave. Mas, mesmo que não fosse, não faria diferença para nos opormos. A nossa grande preocupação, o que nos mobiliza de fato, é a defesa da classe. Assim como o médico, o servidor concursado que optou pela carreira estudou e se dedicou e fez (faz) algumas renúncias para conseguir desempenhá-la, tendo em vista as condições de trabalho: remuneração, carga horária etc. A gente sabe que tudo isso pode se desvalorizar se o Estado decidir abrir mão de todos os requisitos legais e oferecer piores condições para outras pessoas desempenharem as mesmas funções. Afinal, para desempregados (ou cubanos), as exigências podem ser muito menores. E é isso que une nossa categoria e nos dá voz relevante no confronto político.
 
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Acho isso muito mais resultado de um processo sócio-econômico mais ou menos determinista do que uma incompetência acidental da direita. Em um país de 200 milhões de habitantes, haverá competências das mais variadas, e percorrendo todo espectro político. Mas só assumem um papel público relevante historicamente quando condições sócio-econômicas apropriadas surgem. Não haveria competência o bastante para colocar um liberal no poder em 2003, por exemplo... A direita só começou a decolar após 2013, e não foi porque ela ficou menos incompetente, e sim porque o modelo vigente, de esquerda, se exauriu. De forma análoga, o momento pedia uma figura do tipo Trump, Bolsonaro, etc, não há competência que colocasse um Partido Novo no poder. A "onda laranja" vai ter que esperar... E daí, digo porque acho e não por "tática", acho que o momento do PT/PDT/cia, da esquerda desenvolvimentista, já era. Sucessores possíveis estão entre a esquerda de visão econômica mais ortodoxa, como Marina Silva e Tábata Amaral, mas tá muito rudimentar ainda. E a Tábata só colabora para essa rudimentaridade ao se aliar a Ciro Gomes... Enfim, se o bolsonarismo for ser sucedido, vai ser por algo de dentro da própria direita. E talvez de dentro do próprio bolsonarismo, vai saber, afinal é um movimento multifacetado, algumas das facetas podem subsumir as outras....

Não existirá uma onda liberal com força para eleger um presidente, porque a Direita nunca teve força própria por aqui, e dificilmente terá. O nome da direita que sempre foi protagonista na era pós-ditadura foi apenas aquele que conseguiu assumir o posto de antipetista, de Collor a Aécio, o Brasil sempre teve duas forças capazes de eleger um presidente: O petismo e o antipetismo. Por anos o PSDB assumiu esse posto, batendo na trave com Aécio em 2014.

A queda na popularidade do governo Dilma ocorreu em um mês, nos protestos de 2013. Ali nasceram os panelaços, o "FORAPT" de forma acentuada, os movimentos "apartidários" como MBL, e o Bolsonarismo, que no ano seguinte ainda era muito embrionário.

(http://datafolha.folha.uol.com.br/o...-rousseff-cai-27-pontos-em-tres-semanas.shtml )

De 2013 pra cá a massa do "FORAPT" vestiu camisa de Aécio, Cunha, Temer, e aí por total incompetência da direita SIM, o sentimento antipetista se radicalizou e caiu no colo do Bolsonaro, que até 2013 era só um deputado do baixo clero que jamais tinha feito nada na política, a não ser propostas toscas na câmara como Dia nacional do detetive e coisas do tipo. Um cara que ficou famoso porque o CQC e o SuperPOP gostavam dele falando barbaridades e dando audiência. O bolsonarismo nasceu disso, do antipetismo e de programas de auditório da RedeTV, surfou nas correntes de whatsapp e na crise econômica fruto da instabilidade política de 2013 pra cá, e produziu um presidente meme.

E não tem como o bolsonarismo ser bem sucedido, porque no fim ele não é um movimento político de fato, como um trabalhismo ou liberalismo. Ele não tem faceta alguma, o PSL mesmo é um catadão de loucos, onde Alexandre Frota consegue despontar como o mais coerente entre eles. Esse movimento é o apoio a um homem que só sabe caçar moinhos de vento que ele chama de comunismo. A reforma da previdência que até agora é o único feito realmente relevante do governo foi muito mais mérito do Maia que do Executivo, e após isso aparece um vácuo da agenda do Governo que não tem projetos claros mesmo 10 meses após a vitória nas Urnas, a não ser a tal "desesquerdização do Estado", seja lá o que isso signifique.

E o PT, infelizmente ou não, continua bem vivo no cenário político Brasileiro. Mesmo após todo o bombardeio da mídia de 2013 pra cá, conseguiu 44% dos votos para presidente, e tem a maior bancada do congresso com 54 deputados, e seis senadores. Querer cravar o fim desse movimento político é cair na pilha de meme "tchau querida" e afins.

O cenário para 2022, caso o governo continue demonstrando perda constante de capital político e apoio popular como está até o momento, vai ser PT contra Doria, com Ciro, Amoedo e afins correndo por fora. Infelizmente.
 

Jair Bolsonaro: “O PT colocou cerca de 10 mil cubanos disfarçados de médicos nos lugares mais pobres pra fazer células de guerrilha e doutrinação”.

Aí o jornalista pergunta sobre provas sobre essa afirmação, e o grande presidente:

E PrEssiza de PRova!?
 

Jair Bolsonaro: “O PT colocou cerca de 10 mil cubanos disfarçados de médicos nos lugares mais pobres pra fazer células de guerrilha e doutrinação”.

Aí o jornalista pergunta sobre provas sobre essa afirmação, e o grande presidente:

E PrEssiza de PRova!?

O melhor é que depois q ele diz "Precisa de prova? Você acha que está escrito em algum lugar isso aí?", o cara atrás do Bolsonaro dá um sorrisão, provavelmente feliz da vida com a mitada. É a nova era do "foda-se, eu crio a minha realidade".
 
O melhor é que depois q ele diz "Precisa de prova? Você acha que está escrito em algum lugar isso aí?", o cara atrás do Bolsonaro dá um sorrisão, provavelmente feliz da vida com a mitada. É a nova era do "foda-se, eu crio a minha realidade".
FATOS ALTERNATIVOS
 
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Eles (CFM) podem impedir o cara de exercer?
Que cara, o que não é associado ao CFM? Só com constrangimento ilegal. Se ele entrar via programa do governo federal, ele tem contrato válido com o Estado, não se submete a nenhum outro controle profissional que não estivesse previsto no edital.
 
Que cara, o que não é associado ao CFM? Só com constrangimento ilegal. Se ele entrar via programa do governo federal, ele tem contrato válido com o Estado, não se submete a nenhum outro controle profissional que não estivesse previsto no edital.
Então fodas o que o CFM pensa.
 
Grifei esses pontos porque talvez esteja aí a dificuldade de vocês. O propósito de se julgar a "causa verdadeira" da oposição não é simplesmente moral, mas prático: é o que origina e sustenta uma manifestação política. Quando eu digo que a luta classista é o real motivo do repúdio ao antigo programa e que o uso dos demais argumentos é somente para dar uma legitimidade extra-classista a essa oposição, a mensagem não é "nenhum dos outros argumentos é válido em si mesmo" ou "nenhum médico acredita de coração em algum desses argumentos", mas esta: não interessa, numa discussão que analisa o posicionamento dos médicos contra o programa, avaliar o mérito desses argumentos, como você propõe, porque enquanto subsistisse o principal - e que eu chamo mesmo de verdadeiro, porque não acredito que nenhum dos demais teria potencial para mobilizar a classe -, o posicionamento da categoria continuaria firme contra o programa, pois é o que realmente interessava para ela.

Ué, numa discussão sobre o posicionamento dos médicos, "não interessa avaliar o mérito desses argumentos"? :eek: Isso talvez fosse verdade se você quisesse dar uma de cientista social e tenha interesse apenas em analisar como os médicos, enquanto grupo social massificado, se portará a respeito, e como a questão evoluirá socialmente... mas mesmo nesse papel de cientista social o mérito dos argumentos é crucial, ou ao menos a percepção que o público tem a respeito desse mérito, pois isso determina o quão bem o conjunto de médicos abraçará a causa, e o quão bem essa causa será recebida socialmente e digerida pelos demais grupos sociais. As classes profissionais não apoiam igualmente e indiscutivelmente qualquer coisa que a beneficie: entram em jogo também preceitos alheios ao interesse profissional. Se há dois elementos, "o mérito dos argumentos" e "o principal" (a busca por benefícios), por que só o segundo interessa? Parece partir sim de um pressuposto de uma crua "luta de classes": há uma entidade "os médicos" que luta cegamente por "benefícios", e não são relevantes preceitos de outro tipo, como preceitos morais, de cidadania, respeito a verdade, responsabilidade social, etc, que se manifestam nos argumentos e vão limar, por forças internas e externas, esse anseio cego por benefícios.

E outra, você menciona que, para o que importa, não interessa a validade dos argumentos.... Se isso é verdade, então todo e qualquer argumento vai ser "desculpa populista para disfarçar a verdadeira causa, que era o lobby profissional". Como a frase não seria verdade, nesse nível restrito de análise? Se só interessa é o que move o interesse da "categoria", então todo argumento vai ser lobby profissional e a frase vira uma tautologia. Enfim, seja como for, a frase prejudica sim a imagem do grupo profissional em questão. Encontre um profissional falando absolutamente o que for a respeito de sua classe profissional, e diga olho no olho que ele só dá desculpas populistas para disfarçar lobby, e veja o quão bem ele vai receber a sua fala....

Vou dar outro exemplo para ilustrar. No momento, a minha própria categoria está em confronto com a administração devido a um projeto que extingue vagas de concurso público em prol da contratação de comissionados. Sim, é a pura verdade o que alegamos: aumentam os riscos de contratação por critérios subjetivos, em detrimento da eficiência, de atos com desvio da finalidade pública (que é o grande trunfo da estabilidade), enfim, vai de encontro a todos os princípios da Administração Pública. Tudo isso é real e é grave. Mas, mesmo que não fosse, não faria diferença para nos opormos. A nossa grande preocupação, o que nos mobiliza de fato, é a defesa da classe. Assim como o médico, o servidor concursado que optou pela carreira estudou e se dedicou e fez (faz) algumas renúncias para conseguir desempenhá-la, tendo em vista as condições de trabalho: remuneração, carga horária etc. A gente sabe que tudo isso pode se desvalorizar se o Estado decidir abrir mão de todos os requisitos legais e oferecer piores condições para outras pessoas desempenharem as mesmas funções. Afinal, para desempregados (ou cubanos), as exigências podem ser muito menores. E é isso que une nossa categoria e nos dá voz relevante no confronto político.
Isso me soa papo de sindicalista, que compra a causa da classe independente de qualquer coisa, como um advogado defende seu cliente criminoso independente de qualquer coisa. Não vejo como você possa afirmar que, se um argumento não é verdade, "não faria diferença para nos opormos". A não ser que, de novo, que, quando fala "nós", não esteja se referindo a pessoas concretas, de carne e osso, mas a um conjunto abstrato e massificado chamado "categoria". Ainda assim, jamais eu me incluiria, através do uso da primeira pessoa, num grupo com argumentos com os quais eu não concorde genuinamente. Se eu fosse servidor concursado, por exemplo, e certos servidores defendessem algum benefício descabido ou defendessem algo que não entendo ser real ou verdadeiro.... jamais diria "nós, os servidores, se opomos", sequer diria "os servidores se opõem", mas sim, apenas, "grupos de servidores se opõem". O quão esses grupos serão relevante no universo total dos servidores, dependerá sim da validade dos argumentos, entre outros fatores, como a habilidade de persuasão dos grupos em questão, recursos que eles têm disponíveis, etc.

PS: Me antecipando às piadinhas, o post estava 80% pronto desde 10/ago em um txt, então era postar ou deletar. :slow:
 
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Ué, numa discussão sobre o posicionamento dos médicos, "não interessa avaliar o mérito desses argumentos"?
Quotando só esse pedaço, porque toda a celeuma parece vir daí. Vou tentar me fazer compreender pela última vez.

Eu NÃO estou dizendo que não haja nenhuma utilidade em discutir o mérito ou que esses argumentos não tenham nenhuma validade em si mesmos. O que eu estou dizendo é que nada disso é decisivo para atiçar (ou refrear) uma mobilização classista: o resultado político, o resultado prático, sempre será a oposição da categoria profissional enquanto o programa contrariar os seus interesses.

Sim, a gente pode discutir se os cubanos estavam ou não sendo submetidos a um regime de escravidão: é verdade que afeta a recepção da causa pelos outros grupos sociais; sujeitos desinteressados podem se tornar contra ou a favor do programa, ou no mínimo admitir uma ressalva, sob essa perspectiva humanista; entre outros aspectos. Mas, mesmo que os médicos que acreditam sinceramente nesse argumento fossem persuadidos do contrário, ou mesmo que o governo revisasse esse ponto crítico, é lógico que a categoria continuaria definitivamente posicionada contra o programa! E não é por força dos outros argumentos altruísticos ou de consciência social, mas porque os seus interesses continuariam comprometidos. Esse é o ponto. E isso não exclui que alguns argumentos tenham validade própria, nem que o lobby possa resultar em bons frutos coletivos.

Retomo o exemplo da minha própria categoria: a contratação de comissionados em detrimento de concursados é um perigo para o cumprimento do interesse público. Eu tenho plena convicção disso com muitos exemplos da experiência pessoal. Mas e se eu não achasse que fosse verdade, e o prejuízo fosse só ao servidor mesmo? Aí eu teria vergonha de apelar para esse argumento, mas mesmo assim permaneceria na luta. Nenhuma classe profissional se mobiliza numa causa política se não for por interesse próprio. O que nos levou tantas vezes a protestar foi a preocupação com os nossos interesses, e eu seria um hipócrita se me ofendesse com essa verdade.

Quer um exemplo ainda mais óbvio? Uns anos atrás, o governo nos ameaçou com a retirada de uma série de direitos. Nossa representação enumerava vários prejuízos à sociedade (com alguns eu concordava). Assembleia lotada. Desfecho: o governo decidiu tirar os direitos só dos novos que entrassem. Assembleia esvaziada.

- Ainda nos preocupam aqueles prejuízos, que por incidir sobre os novos ainda são inevitáveis? Sim, sim. Mas nada com força suficiente para nos unir na desgastante militância política. "É triste, mas... fazer o quê, né..."
- A maioria dos médicos se preocupava com a qualidade do atendimento prestado pelos cubanos? É provável que sim. Mobilização pesada. Preocuparam-se com essa mesma população, que ficou completamente desassistida quando o programa acabou? Acho que sim. Mas... onde está a mobilização? "É triste, mas... fazer o quê, né..."

Eu consigo admitir que esses argumentos difusos podem interferir psicologicamente nos integrantes da categoria para se engajarem mais ou menos na luta: tipo, eu me sinto melhor ao me envolver acreditando que, se a minha causa for vitoriosa, haverá um bem à sociedade que transcende o meu interesse profissional. Mas nada disso afeta decisivamente a posição da maioria, Arão. Sejamos realistas.

Veja os juízes sustentando auxílio-moradia. E eu estou pegando um extremo aqui, porque no caso dos médicos os interesses lobísticos são razoáveis, enquanto este é uma excrescência. Poucos juízem se expuseram na defesa do auxílio-moradia porque é muito mais difícil usar argumentos que sensibilizem grupos que estão de fora do circo de regalias que é a carreira do Judiciário. Acontece que nada disso foi necessário. Algumas raríssimas exceções ainda se opuseram, declararam discordar, até mesmo se recusaram a receber, mas vá ver se em algum momento a classe titubeou em brigar pelo auxílio. Vá ver, dentre aqueles que não se envolveram na luta, quantos votaram contrários.

Não acho que juízes ou médicos sejam nem mais nem menos egoístas do que qualquer outra classe: apenas defendem seus interesses como qualquer outra, e as lutas capazes de mobilizar politicamente a sua categoria podem até ter causas difusas associadas, mas a causa que decidirá a sua participação no confronto político sempre será o interesse próprio - e repito: isto é perfeitamente legítimo, e faz parte do jogo democrático.
 
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