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Tragédia Grega

Ana Lovejoy

Administrador
Ahhhhh, eu vivo falando sobre isso pelos tópicos do Literatura e hoje resolvi trocar algumas figurinhas com vocês sobre uma das minhas paixões, a Tragédia Grega ( :grinlove: ).

É impossível falar de tragédia sem citar o Sófocles com sua trilogia tebana (Édipo Rei, Édipo em Colono e Antígona). Segundo alguns especialistas, a característica mais inovadora dessas peças de Sófocles é que se o homem erra, é por livre arbítrio e não por intervenção divina. Isso acontece principalmente por causa da imprecisão do oráculo (acho que já comentei que isso influencia a obra de Shakespeare, principalmente em Macbeth, né?). Nas palavras de Vernant e Naquet: “...o oráculo é sempre enigmático, jamais mentiroso. Ele não engana, ele dá ao homem a oportunidade de errar”. Resumindo, só por toda essa questão de Destino e livre arbítrio, já vale a pena conferir a trilogia. :wink:

Agora, quem eu amo de paixão mesmo é o Ésquilo :grinlove: :grinlove: :grinlove: , que escreveu a Oréstia (dividida em 3 peças, chamadas Agamêmnon, Coéforas e Eumênides). A preocupação do autor com os processos e resultados da escolha humana, produzem uma detalhada apresentação do comportamento humano, e é sem dúvida, um dos principais fatores que valorizam essa tragédia, assim como a discussão de suas personagens. O legal aqui é que Orestes, teoricamente o personagem principal da peça, oscila entre o dever religioso e um crime. Toda a dúvida de Orestes, todo o sofrimento são colocados de uma forma brilhante. Acho linda a fala dele um pouco antes de assassinar a própria mãe (Clitemnestra): “Assassinaste quem não devias matar/ agora sofre o que não devias sofrer!”

Bom, esses são só dois exemplos... Mas para quem está começando com a tragédia grega, sem dúvida é o que há de melhor. Não são livros pesados, a leitura é fácil e eu sei que tem para vender por aí naquelas versões de bolso. Então, cultura nunca é demais, se puderem conferir, não deixem para outra hora :wink:

(palavras de uma apaixonada :grinlove: )
 
Eu odeio vc...... justo agora quando eu achava q eu iria conseguir fazer a minha pilha da cabeceira andar um pouco vc me acrecenta esse monte de livros..... hauahuahauahuah tou brincandu anjinha...... edipo rei eu ja li e eh muito bom mesmo.... os outros eu vou procurar.........



abraços Dwarf
 
bem se alguém se interessar, costumo ler essas coisas on-line aqui:

http://classics.mit.edu/

Tão com problemas, mas pelo que vi, tem uma database salva no google (pegue a versão download quando a versão on-line não funcionar).

Faz parte do projeto Perseus...

http://www.perseus.tufts.edu/

Depois comento... só li Edipo e Antígona (tavam vendendo na Nobel baratinho :mrgreen: )
 
Li "Édipo Rei" neste sábadoe achei fantástico. A história começa quando Édipo já é rei de Tebas, e, como é dito no prefácio da edição da Martin Claret, pode ser considerado o primeiro "romance policial" da história. Isso porque vemos um Édipo pensativo e preocupado com as notícias de oráculos e mensageiros que chegam até ele, deixando-o confuso sobre sua própria origem... é realmente espetacular a forma como somos enviados à Grécia mitológica e nos vemos ou dentro da própria história, ou sentado assistindo à peça no anfiteatro.
Leitura obrigatória para todos, e que poderia se tornar um "senhor filme".
 
Sabe que essa é a melhor parte de estudar os clássicos? Você acaba percebendo que muito do que consideramos "novo", "atual", "moderno" é na verdade uma reciclagem do que já foi feito antes.

Isso não só com relação às tragédias, mas às comédias também. Shakespeare "sugou" muito de Plauto nas suas peças, acho que a que fica mais claro é n'A Comédia dos Erros.
 
Cara eu li Édipo e Electra no 1° ano, é bem legal, apesar de ser tão trágico... (eu p/ eu mesma: "claro! É tragédia sua boba!!!!")
É mto moderno msmo. Homem não muda, só o endereço msmo! :mrgreen:
 
Li "Antígona", e depois posto meus comentários.... achei muito bom mesmo! O estranho é que a edição da Martin Claret contém "Édipo Rei" e "Antígona", mas não tem "Édipo em Colona" que é a segunda part da trilogia. Eu sei a história (o livro da MC conta), mas quero ler... resta saber se vão lançar em pocket também...


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Agora vou postar pra valer....

Antígona é outra obra prima de Sófocles. A história é bem maneira, e mostra de uma forma legal a luta de uma pessoa com relação às leis Humana e Divinas. Antígona escolhe seguir as leis Divinas, infringindo o que foi imposto pelo rei e tio Creonte. Nessa frase ela diz algo forte: "Tampouco acredito que tua proclamação tenha legitimidade para conferir a um mortal o poder de infrigir as leis divinas, nunca escritas, porém irrevogáveis; não existem a partir de ontem ou de hoje; são eternas, sim! E ninguém pode dizer desde quando vigoram!" .Devia existir algum cara com carga e potencial suficiente para escrever um romance baseado na trilogia de Sófocles. Seria muito maneiro...

Um ponto que vale salientar, fugindo parcialmente de Antígona, voltando à Édipo e a psicanálise, é que Freud chamou de "Complexo de Édipo" às tendências das crianças, atrativas com relação à mãe e repulsivas ao pai, que o consideram um rival. Isso surge por volta dos 3 anos e desaparece normalmente...

Outro ponto interessante, é que Cadmo, fundador de Tebas, teve um neto vindo de uma de suas filhas, Sémele. O neto era Dionísio, o deus do vinho, festas, e tal, filho de Zeus. Polidoro, era filho de Cadmo, e portanto era tio de Dionísio (ou Baco). Lábdaco era filho de Polidoro, então era primo de Dionísio, e o filho de Lábdaco, Laio, era seu primo de 2º grau. E Édipo era filho de Laio. Resumindo: Édipo era primo em 3º grau de Dionísio, o deus do vinho!!!

Mais uma... andei percebendo, lendo o Apêndice de meu exemplar de Édipo Rei e Antígona, que havia uns lances de homossexualismo na Grécia mitológica, dos quais eu nem me lembrava...
Apolo, o deus do Sol, da música, da poesia, e blá blá, apaixonou-se por muitas donzelas, ninfas, e tal, mas apaixonou-se por um jovem: Jacinto! Se o amor de Apolo por Jacinto era fraternal ou homossexual, aí eu tenho dúvidas. O fato é que jacinto morre (segundo lembro, n´O Livro de Ouro da Mitologia, Apolo mata-o sem querer), e Apolo cria uma flor em sua homenagem... o jacinto.
Mas o ponto homossexual mesmo é o fator de toda a tragédia de Édipo e sua prole. Seu pai, Laio, o rei de Tebas "Quando em sua juventude pernoitava no palácio do Rei Pélops, foi tomado por uma paixão homossexual por Crisipo, filho do rei, e raptou-o. Crisipo suicidou-se e laio foi amaldiçoado por Pélops; essa maldição causou a sua infelicidade e a de seus descendentes."
 
Pandatur disse:
Mais uma... andei percebendo, lendo o Apêndice de meu exemplar de Édipo Rei e Antígona, que havia uns lances de homossexualismo na Grécia mitológica, dos quais eu nem me lembrava...

Bissexualismo :mrgreen:

Para os gregos da época o bissexualismo não era visto da mesma forma (preconceituosa) que vemos atualmente, por isso não é de se estranhar que seus deuses também fossem bissexuais (uma vez que os deuses tinham os meus defeitos e qualidades que eles).
 
Ah... então esse é o motivo do desafio ser Sófocles :mrgreen:

Pandatur disse:
A história começa quando Édipo já é rei de Tebas, e, como é dito no prefácio da edição da Martin Claret, pode ser considerado o primeiro "romance policial" da história.

E pode-se dizer que o detetive é incompetente, non? Do tipo que a verdade está na cara dele, mas ele não pode (ou não quer) ver :wink:

[quote"="JoyJoy"]Sabe que essa é a melhor parte de estudar os clássicos? Você acaba percebendo que muito do que consideramos "novo", "atual", "moderno" é na verdade uma reciclagem do que já foi feito antes.
[/quote]

Ah, não sei, Ana... isso é muito perigoso, pois pode dar margem ao pensamento de que é impossível criar algo de novo. :wink:

É o mesmo conceito que vigorava na física no começo do século: de que não havia mais nada para se descobrir.

Mas sim, concordo que muita coisa que o pessoal acha original, é na verdade recontagem (bem feita ou não) de antigos clássicos. Talvez mais um motivo para ler mais e evitar redescobrir a roda, hehehe...

Para os gregos da época o bissexualismo não era visto da mesma forma (preconceituosa) que vemos atualmente, por isso não é de se estranhar que seus deuses também fossem bissexuais (uma vez que os deuses tinham os meus defeitos e qualidades que eles).

Talvez fosse mais que isso... afinal, mesmo sendo a Grécia um reduto de "civilização", eles tinham a escravidão e a cidadania não extendia-se para as mulheres. Se observarmos as deusas, todas estão vinculadas ao poder do homem (Hera é deusa do casamento, Afrodite do Amor, etc... até Atena que seria mais independente, paga um preço, pois tem de se manter virgem para poder ser livre... ou seja, se transar com um homem vincula-se ao poder dele)

Sendo a mulher considerada não-humano (no sentido de ter poder de palavra e decisão), como foi durante muitos milênios, então ela se torna... desinteressante. Praticamente usada como objeto de adorno ou de procriação.

Como disse meu professor de História uma vez "entre uma mulher que fica cuidando da casa e nunca fez nada por você, e um grande amigo que sacrificaria sua vida para te salvar, por quem você se apaixonaria?"

A mitologia é um construto humano, como foram muitas religiões. Talvez essa passagem fosse usada para justificar um relacionamento que "naturalmente" muitos considerariam anti-natural, contra as regras da natureza? :wink:

(OBS: o mesmo acontece com as religiões atuais, onde as escrituras justificariam porque um relacionamento homossexual é pecaminoso)
 
Primula disse:
Ah... então esse é o motivo do desafio ser Sófocles

Isso aí Pri... hehe

Primula disse:
"entre uma mulher que fica cuidando da casa e nunca fez nada por você, e um grande amigo que sacrificaria sua vida para te salvar, por quem você se apaixonaria?"

1º - Eu não me casaria com uma mulher assim...
2º - Eu não transaria com meu melhor amigo! E nem o beijaria na boca! :puke:
 
Primula disse:
"entre uma mulher que fica cuidando da casa e nunca fez nada por você, e um grande amigo que sacrificaria sua vida para te salvar, por quem você se apaixonaria?"

1º - Eu não me casaria com uma mulher assim...
2º - Eu não transaria com meu melhor amigo! E nem o beijaria na boca! :puke:

1 - Tudo bem... mas na época era difícil ter outro tipo de mulher :wink: (Daí o motivo de termos mais vampirizações de homens... tiveram mais chance de se tornar interessantes, hehehe)
2 - Bem, isso porque vivemos num mundo com mais opções e mulheres mais interessantes... mas imagina uma Elizabeth tomando a decisão de ser rainha virgem (casada com a Inglaterra)? Sem falar que Henrique 8o. não mandou decapitar a Ana depois que ele não aguentava uma mulher que pensasse? (hmmm faz sentido porque Elizabeth foi diferente das outras mulheres)
 
Alguém pode me citar uma tragédia grega para ler agora? Tem de ser pequena ( a lá Édipo por exemplo) porque tempo tá escasso...
 
tente essas aqui:

Os Persas e Prometeu Acorrentado, do Ésquilo
As Bacantes e As Troianas, do Eurípedes
Ájax, do Sófocles

Algumas são difíceis de achar mas valem a pena :wink:
 
Revivendo o tópico pra não criar outro... é que reli Édipo Rei e Antígona hoje de tarde.

O problema é que relendo os dois eu de novo fiquei só na vontade de ler Édipo em Colono, o problema é achar por aqui esse livro. Alguém tem, ou sabe editora, preço, etc?

As Tragedias gregas são uma paixão minha também, são fáceis de ler, envolventes, proporcionam uma visão e tanto do que está acontecendo, inteligentes, enfim, não tem como definir...
 
Li Antígona esta semana (acho que é a primeira tragédia grega que leio) como parte do desafio do Livrada! e estou gostando muito, vou pegar dicas deste tópico pra ler mais coisa. =]
Dúvidas, quem entende de literatura talvez possa responder, por que as tragédias, pelo menos a minha edição, a de bolso da L&PM, vêm com essa diagramação estranha, como se fosse poema?
E o que é essa numeração sequencial do lado direito?

20190826_233743.jpg
 
a formatação do texto é assim porque ele é dramático, mas não é o texto de teatro que conhecemos atualmente (com aquela coisa de rubrica, e blablabla), porque o teatro grego antigo mais do que atuação era sobre canção. meio que dá para dizer que eram poemas cantados, sabe como? repare que as páginas que você fotografou contam com estrofe 1 e estrofe 2, nomenclatura típica da poesia e da música. e as peças da época sempre contavam com o coro, um grupo de artistas que cantava versos descrevendo algo que estava ocorrendo - um termo também associado à música.

os números ali servem para o leitor/estudioso se localizar sobre qual seria o verso específico que ele estaria citando (mairromeno como ajuda saber os versículos da bíblia quando você vai citar pra alguém?).
 
a formatação do texto é assim porque ele é dramático, mas não é o texto de teatro que conhecemos atualmente (com aquela coisa de rubrica, e blablabla), porque o teatro grego antigo mais do que atuação era sobre canção. meio que dá para dizer que eram poemas cantados, sabe como? repare que as páginas que você fotografou contam com estrofe 1 e estrofe 2, nomenclatura típica da poesia e da música. e as peças da época sempre contavam com o coro, um grupo de artistas que cantava versos descrevendo algo que estava ocorrendo - um termo também associado à música.

Foi tendo como base o teatro grego que, no renascimento, vários poetas e músicos criaram o "Dramma per musica", que ficou mais conhecido com o nome de ópera.
 
Foi tendo como base o teatro grego que, no renascimento, vários poetas e músicos criaram o "Dramma per musica", que ficou mais conhecido com o nome de ópera.

na hora que fui escrevendo o post para a clara pensei em fazer a comparação, mas como meu conhecimento de ópera é quase zero achei melhor não arriscar. obrigada pela informação, spartaco =]
 
A formatação esquisita é porque a peça é toda em versos, como era a tradição até bem recentemente.
As peças de Shakespeare, por exemplo, ainda eram majoritariamente em versos.
Aqueles números são a contagem dos versos só para facilitar a localização e citação.
Não é seguro que toda a peça fosse cantada, mas certamente era declamada/interpretada de um jeito bem "teatral" (desculpem a falta de termo melhor kk).
Inclusive, há quem defenda a teoria de que o grego antigo era uma língua tonal, como o chinês.
Então, seria possível você imaginar os caras declamando daquele jeito meio chorado, fazendo óounnooón. rs
Eu ouvi certa vez uma reconstrução assim de um especialista; era bizarro; infelizmente não estou encontrando agora...
Mas o coro, sim, o coro era cantado. Inclusive o metro usado na parte do coro costuma ser bem diferente do resto, nas traduções bem feitas (veja aí na sua).
Você pode ter uma palhinha do que era o coro acompanhado de música neste breve documentário sobre a reconstrução da música grega.

Se estiver querendo recomendações:
Para ler Ésquilo, recomendo as traduções do Jaa Torrano (ed. Iluminuras). O cara é um monstro. A trilogia da Oresteia é sem dúvida a chave aqui.
Ele também traduziu todo o Eurípides, mas não tive acesso ao material ainda (só lançaram em e-book... eca). Medeia é a mais famosinha; gosto também da Ifigênia em Áulis.
Do Sófocles, não tenho ainda um nome; mas para a peça Édipo Tirano (a.k.a. Édipo Rei), vá certo na edição da Todavia, com tradução do Leonardo Antunes. É um primor. E o resto da Trilogia Tebana cai bem (Antígona + Édipo em Colono, nesta ordem).



Em suma: teatro grego é só amor. :grinlove:
 

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