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'Fractais Tropicais' reúne 30 autores brasileiros de ficção científica

Béla van Tesma

Nhom nhom nhom
Colaborador
'Fractais Tropicais' reúne 30 autores brasileiros de ficção científica
André Cáceres, O Estado de S.Paulo
19 de dezembro de 2018 | 04h30


Um homem alquebrado pelo luto; um jovem pintor em busca de inspirações; um matador de aluguel diante da tarefa de tirar a vida da própria amada. Esses argumentos poderiam motivar histórias comuns, não fosse pelo fato de o viúvo ter uma modificação cerebral para amar incondicionalmente sua mulher que o faz ter impulsos suicidas após a morte dela; o pintor adentrar uma realidade lisérgica desdobrada em formas geométricas; e o assassino estar em um cenário futurista e tecnológico. Esses são alguns dos contos presentes na coletânea Fractais Tropicais (Sesi-SP), que reúne 30 dos melhores autores da ficção científica brasileira. [...]

No romance A Cidade & a Cidade, de China Miéville, duas metrópoles ocupam o mesmo espaço físico, mas são invisíveis entre si. Quem vive em uma é obrigado a “desver” os edifícios, carros e habitantes da outra. Essa seria uma boa analogia da relação entre a ficção científica e a literatura dita mainstream no Brasil. “Se é ficção científica, a academia não gosta. Se gostou, não vai aceitar que seja ficção científica. Mas a gente não lê porque tem naves e sim porque são boas histórias”, afirma Bárbara Prince, editora da Aleph, uma das principais casas de FC no País. “É o gênero que mais tem dialogado com pautas relevantes da realidade hoje.”

Para quebrar essa barreira, Nelson organizou Fractais Tropicais em um recorte histórico e didático, explicando até alguns de seus subgêneros, como cyberpunk e space opera. “Inteligência artificial, engenharia genética, robôs sexuais, conexão cérebro-máquina... A ficção científica vem sendo o gênero que trabalha as temáticas mais inquietantes da literatura”, acredita o organizador. A obra abrange mais de meio século de história, desde o patrono da FC no País, Jeronymo Monteiro (1908-1970), até os contemporâneos, como Gerson Lodi-Ribeiro, Alliah e Ana Cristina Rodrigues, autores dos contos que iniciam esse texto.

Há relatos proto-FC desde a Antiguidade, como a História Verdadeira, em que Luciano de Samósata narra uma viagem ao espaço no século 2. Mas o gênero como o conhecemos hoje foi formatado há 200 anos, com Frankenstein ou o Prometeu Moderno, clássico de Mary Shelley. No Brasil, o primeiro texto do tipo é Dr. Benignus (1875), do luso-brasileiro Augusto Emílio Zaluar (1825-1882). Como nota Nelson no prefácio, a FC nacional se divide em três “ondas”: uma nos anos 1960, capitaneada pelas Edições GRD, de Gumercindo Rocha Dorea, pioneiro na publicação sistemática do gênero no País; a segunda, impulsionada pelas fanzines nos anos 1980; e a terceira, que se desenrola atualmente na internet, com editoras dedicadas exclusivamente à FC e, mais recentemente, com casas editoriais maiores que entraram nesse mercado.

Dinah Silveira de Queiroz (1911-1982), que ocupou a cadeira 7 da Academia Brasileira de Letras, é uma das pioneiras da FC no Brasil. Em seu conto na antologia, A Ficcionista (1969), ela imagina uma espécie de inteligência artificial avant la lettre que contém todas as histórias imagináveis, ameaçando a existência de escritores – quase uma previsão sobre big data.

Os temas explorados no livro vão desde questões como essa, que migraram da FC para o noticiário, até preocupações filosóficas e existenciais como viagens no tempo ou realidades alternativas. E se você pudesse voltar no tempo e se apaixonar pelo seu eu do passado? É isso que Ivanir Calado questiona no conto O Paradoxo de Narciso (1991), com um desfecho angustiante para o(s) protagonista(s).

Em um dos pontos altos da antologia, O Molusco e o Transatlântico (2005), Braulio Tavares imagina com lirismo um astronauta com habilidades telecinéticas que se vê capturado por uma espécie inimaginavelmente mais avançada que a humanidade e se torna uma cobaia desses alienígenas – cabe ao leitor, pelas memórias do protagonista, decidir se esse destino é bom ou ruim.

Fractais Tropicais prova que os autores brasileiros não devem nada aos estrangeiros e sinaliza que talvez a barreira entre a FC e a literatura “séria” seja apenas, como no livro de Miéville, uma questão de miopia.

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Romances de Luiz Bras, Ignácio de Loyola Brandão, Fausto Fawcett e Alexey Dodsworth são alguns dos clássicos da ficção científica brasileira Foto: Daniel Teixeira/Estadão

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E a resenha na Amazon:

"Esta antologia serve como uma nova prova de que a literatura brasileira é rica e diversa, dona de facetas insuspeitas. Sim, há ficção científica brasileira, e ela é fértil e digna de toda a atenção. Pode ser agrupada em ondas, eixos historicamente delimitados de produção e recepção. Trata-se de uma opção de valia para um primeiro contato, observando que as ondas se interpenetram – caso da produção de André Carneiro, por exemplo, que atravessa boa parte da história da ficção científica brasileira. Para além dos clássicos justamente sacralizados, há uma infinidade de seres estranhos que habitam o difuso limiar entre o conhecido e o desconhecido. Visíveis apenas aos olhares mais atentos, ignorados (às vezes intencionalmente) pela nossa crítica literária, há décadas e décadas caminham entre os brasileiros esses seres que firmam um pé no presente e outro no futuro. Ou um pé no Brasil e outro nas galáxias além. Ou um no mundo palpável e outro nos confins do ciberespaço. Ou... São incontáveis as possibilidades que esses seres podem nos apresentar, pois a ficção científica tende a esgarçar as fronteiras do que conhecemos. Mesmo quando as narrativas são ambientadas nos nossos arredores, algo de diferente se intromete no cotidiano, renovando nosso olhar e ampliando nossa imaginação para possibilidades outras. Esses seres tão estranhos têm muito a mostrar; basta dar a eles a oportunidade de falar – oportunidade que tradicionalmente tem sido negada pelo nosso conservador ambiente literário. Alguns dos mais significativos desses seres mostram seus contos nas páginas de Fractais Tropicais. Se não os conhece, eis aqui um panorama dos autores de ficção científica brasileiros."
 
Já tô com esse separado - estudei numa oficina literária com o Nelson de Oliveira, muito gente fina ele - e ainda pretendo ler o Fantástico Brasileiro, organizado pelo Enéias Tavares e Bruno Anselmi Matangrano. Querendo entender a sério a ficção científica/fantástica nacional.
 
Sim, também eu quero conhecer essa seara, para além dos clássicos estrangeiros. Focar-me um tantinho na produção brasileira desses gêneros, inclusive porque vou tentar conquistar um lugarzinho ao sol por ali qualquer dia desses.

Já li alguma coisa do Vianco (Os Sete), mas dado que a obra dele é bem grande, seria bom experimentar algo mais recente para ver se ele evoluiu. Do Draccon não gostei; achei-o desqualificado em todos os quesitos, ginasiano até. Recentemente li o Felipe Castilho também (criei tópico sobre o livro). E comprei um do Gerson Lodi-Ribeiro (Aventuras do vampiro de Palmares) que parece bem promissor, pela sinopse e pelo estilo que vislumbrei numa folheada. Quero ainda ver qual é a do Spohr e já sondei uns outros nomes (Leonel Caldela, Rodrigo de Oliveira, etc.).

Resta agora ter uma referência de sci-fi. Para isso mesmo estava fazendo uma pesquisa e cheguei a esse livro. :)
 

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