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Raymond Chandler

Anica

Usuário
Ontem foi aniversário de 50 anos da morte do escritor, e saiu uma matéria bem legal sobre ele na Gazeta, então aproveito para compartilhar a reportagem e abrir um cantinho para falarmos desse ótimo escritor.

[align=justify][size=large]À beira do abismo[/size]
Morria há 50 anos o escritor Raymond Chandler, que viveu nos estúdios de cinema situações tão complicadas quanto as de seus romances policiais

Aquelas revistas baratas tipo X-9 e aqueles filmes-B em preto-e-branco na época eram tidos como simples lixo. Foi preciso um acadêmico francês criar a Série Noire e os garotos da nouvelle vague inventaram o rótulo film noir, para que eles ganhassem um upgrade: primeiro para “cultura popular” e, depois, para a Arte, na categoria dos “clássicos”. Raymond Chandler, que se destacou como autor de “policiais” a partir de 1933, é considerado hoje um dos maiores romancistas (sem rótulo) do século 20. E teve também uma importante participação no cinema: suas histórias renderam nada menos do que dez filmes e ele trabalhou como roteirista em Hollywood na última década de sua vida.

Personalidade complexa, Chandler (nascido em Chicago, em 23 de julho de 1888) mudou-se para Londres com a mãe divorciada aos 8 anos e ficou sob os rígidos cuidados de uma velha tia e do severo Dulwich College. Terminados os estudos, voltou de navio aos Estados Unidos, seguiu por terra à Califórnia e, ao estourar a Primeira Guerra, alistou-se na Força Expedicionária Canadense, servindo na França e, depois, no Royal Flying Corps, na Inglaterra.

Em 1919, voltou à Califórnia para cuidar da mãe doente, penou em ocupações menores como colher frutas e encordoar raquetes de tênis, mas encontrou um futuro na indústria petrolífera, ocupando importantes cargos de direção.

Édipo entra em cena: algumas semanas após a morte da mãe, casou-se em 1924 com uma mulher duas vezes divorciada e 18 anos mais velha, Pearl Cecily Hurlburt Pascal, “Cissy”.

Chandler tinha 36 anos, ela 54. Um casamento sem filhos, com pouco sexo, ou sem sexo. O que justificava a fama de Chandler como acossador de secretárias entre os fichários da Dabney Oil Syndicate e, depois, nos estúdios da Paramount. O apego mórbido a Cissy durou 30 anos, até a morte dela, em 1954. E Chandler não resistiu muito à perda, morrendo em 26 de março de 1959.

Depressão

Alcoolismo, absenteísmo e ameaça de suicídio provocaram sua demissão como executivo do petróleo. Decidiu tentar a sorte como escritor. Publicou seu primeiro conto policial na revista Black Mask em 1933. O pagamento era um centavo por palavra. O gênero policial foi uma das principais formas de escapismo durante a Depressão.

A revista era barata, impressa em polpa de papel (daí o rótulo pulp fiction) e a arma do escritor, no mais amplo sentido, era a palavra que, apesar de valer apenas um centavo, devia ser rica em imaginação. Um exemplo desse tipo de prosa: “Mandei chumbo e a festa acabou. Ele morreu cinco vezes antes de cair ao chão”.

Já em 1939, Chandler publicava o romance The Big Sleep/O Sono Eterno, em que consagrava o investigador particular na figura de Philip Marlowe, o private eye mais representativo do século 20, ao lado do Sam Spade de Dashiell Hammett.

Em A Singela Arte do Crime (1944), Chandler define o seu herói: “Por estas ruas malignas um homem precisa seguir em frente que não é maligno, nem maculado, nem medroso. O detetive nesse tipo de história deve ser um homem assim. Ele é o herói, ele é tudo. Deve ser um homem completo, um homem comum e, no entanto, um homem invulgar. (...) Não ligo muito para sua vida privada; não é um eunuco, nem um sátiro; acho que poderia seduzir uma duquesa e estou seguro de que não arruinaria uma virgem; se é um homem de honra numa coisa, ele o é em todas as coisas.”

Cavaleiro romântico dos tempos modernos, Marlowe, apesar de exageradamente idealizado para os padrões da época, preenchia os anseios de ordem e pureza dos leitores numa sociedade totalmente corrupta.

Cinema

Já em 1944, Hollywood começava a filmar The Big Sleep (no Brasil,À Beira do Abismo), dirigido por Howard Hawks. Entre os três roteiristas estava William Faulkner, que fez um belo trabalho de adaptação, sob a rigorosa supervisão de Hawks, que confessou nunca ter entendido o enredo.

Magistral nas descrições e nos diálogos, Chandler não ligava muito para a trama e admitiu que The Big Sleep era “uma história policial interessada mais nas pessoas do que no enredo.” Teve sorte na escolha do ator que interpretou Marlowe: Humphrey Bogart. E também escolha da “mocinha”, Lauren Bacall, que fazia seu segundo filme com Bogart e vivia com ele um tórrido caso de amor.

Em 1943 Chandler começou a trabalhar na Paramount como escritor assalariado. Sem conhecer bem Hollywood, pediu um fixo de US$ 1 mil para fazer o trabalho em uma semana. Em vez disso, recebeu um salário semanal de US$ 750 pelo mínimo de 13 semanas, para trabalhar com o diretor Billy Wilder na roteirização do romance de James M. Cain Double Indemnity/Dupla Indenização (o filme se chamou Pacto de Sangue).

A parceria tinha tudo para dar errado. O anglófilo Chandler com o judeu nascido na Europa Central se detestaram desde os primeiros dias. Trabalhavam no escritório de Wilder, que tinha feito da Paramount seu segundo lar e mantinha hábitos de trabalho muito peculiares. Caminhava sem parar pela sala, brandindo uma bengala que às vezes passava raspando pela cabeça de Chandler. Usava chapéu, o que Chandler considerava o máximo da grossura, e ia ao banheiro mais vezes do que exigiria uma bexiga comum – na verdade para fumar e se refugiar do irritadiço colega.

Por sua vez, Wilder não aturava o cheiro do cachimbo de Chandler, que exigia trabalhar sempre de janelas fechadas. Na terceira semana brigaram e Chandler não compareceu no dia seguinte, justificando-se num memorando. Para salvar o filme, Wilder pediu desculpas e os dois seguiram se odiando cordialmente e fizeram uma das obras-primas do cinema noir.

Chandler diria depois: “Foi uma experiência sofrida que encurtou minha vida, mas aprendi com Wilder tudo o que sei sobre escrever para o cinema.” Wilder retribuiu: “Suas descrições e seus diálogos são absolutamente de primeira classe”.

Moronica

Chandler saiu do choque com Wilder para um grande sucesso pessoal. Escreveu um roteiro original, A Dália Azul, estrelado por Alan Ladd e Veronica Lake, que se tornaria outra pérola do cinema noir. Foi o quarto filme de Ladd com Lake. Ela não o fazia parecer tão baixo quanto realmente era. (Chandler a chamava de “Moronica” Lake, de moron, debilóide).

Em 1950, ele foi convidado pela Warner Brothers para roteirizar o romance de Patricia Highsmith Strangers on a Train (Pacto Sinistro), dirigido por Alfred Hitchcock. Seu cachê tinha aumentado: cinco semanas de trabalho a US$ 2.500 por semana.

Chandler achou a trama totalmente inverossímil. Hitchcock começou a dar palpites no roteiro e ele perguntou: “Se já tem suas soluções, por que me contratou?” Chandler foi rifado e Hitch mandou chamar a roteirista Czenzi Ormonde. No final, ela dividiu os créditos com Chandler, mas nenhuma vírgula dele foi usada por Hitchcock.

Trabalhando nesses veículos descartáveis da cultura popular – o romance e o filme policial – Chandler elevou a literatura a cumes rarefeitos, com sua prosa enxuta e seus diálogos secos, que tiravam arte do submundo, imitando seus sons e o ritmo de sua fala. Pela boca do seu detetive filósofo, era capaz de dizer: “Nada é mais vazio do que uma piscina vazia.” Quase um haicai, que certamente inspirou a imagem da piscina vazia no magistral Crepúsculo dos Deuses , de Billy Wilder.

“Quando um livro qualquer atinge uma certa intensidade artística”, escreveu Chandler, “ele se torna literatura. A intensidade pode ser uma questão de situação, personagem, tom emocional ou idéia, ou meia dúzia de outras coisas. Pode também ser a perfeição de controle sobre o movimento de uma história igual ao controle que um lançador tem sobre a bola.” Ou, mais chandlerianamente: “Quando em dúvida, faça um homem entrar pela porta com uma arma na mão”.[/align]

Fonte: Gazeta do Povo



Espero que gostem :traça:
 
Parece que a Record está relançando alguns livros dele, tem dois em pré-venda (lançamento previsto para outubro): A Porta de Bronze e Chantagistas Não Atiram. Boa oportunidade para quem ainda não conhece o trabalho dele.
 

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