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Fahrenheit 451 - Ray Bradbury

Me enrolei para terminar esse livro que é absurdamente sensacional... Toda pessoa que gosta de livros deveria ler... Tem passagens e referências que faz a gente querer ler devagar pra não acabar!!!!

A história é meio futurista, apesar de escrita em 1953. Montag é um bombeiro que queima livros, em uma sociedade onde eles são proibidos... mas ele cai na tentação de saber sobre o que eles falam e aí se desenrola a história...

eu já tinha visto o filme do François Truffaut, feito em 1966 e já tinha me apaixonado pela história... Agora mais ainda!!!!

É tão universal, que permanece contemporâneo hoje... Alguém mais leu???

Eu amei!!!!!
 
Eu!!!!!!!! _o/

Foi com esse livro que comecei a gostar do Bradbury. É realmente sensacional! Na verdade eu acho que é de leitura obrigatória para qualquer um que tenha o mínimo de espírito questionador (a maioria acaba lendo só 1984 do Orwell e acha que é o único livro do tipo).

As imagens criadas pelo Bradbury são tão fortes que até hoje quando eu fecho os olhos e tento lembrar do livro eu lembro como se tivesse assistido a um filme. Fantástico mesmo, até para quem não é muito fã de ficção científica, distopias e obras desse tipo.
 
pois é... e eu sou dessas aí que não curtem uma ficção futurista, mas a forma com que ele escreve é muito legal... é muito sensível, e coloca em cheque esse espírito crítico mesmo... É fácil ser a favor de uma idéia quando se está por cima, o problema é saber contra argumentar, quando ninguém mais sabe pensar a respeito... Tem passagens lindissimas que eu gostaria muito de anotar em um caderno pra ler depois... e depois... e depois... pena que é pouca vida pra tantos livros que precisamos ler!
 
Eleanor Rigby disse:
Na verdade eu acho que é de leitura obrigatória para qualquer um que tenha o mínimo de espírito questionador (a maioria acaba lendo só 1984 do Orwell e acha que é o único livro do tipo).

Pois é, sem tirar o mérito de 1984, mas eu mesma achei o 451 totalmente por acaso... achava tão estranho ninguém falar nele!

Engraçado isso das imagens realistas, eu penso nesse livro e penso na pressa. A idéia da correria, de não parar, sempre, acho que foi o que mais ficou na minha cabeça.

Quais outros livros ele tem? Eu só conheço esse :think:
 
Dele eu indicaria "As Crônicas Marcianas", um conjunto de contos sobre a vida em Marte. É fodástico, ele provavelmente é o cara que melhor aprendeu sobre a unidade de efeito depois do Poe. Tem também "Algo sinistro vem por aí" que é bem bacana, mas não é tão tchananananam quanto o Fahrenheit e as Crõnicas.
 
Acabei de ler esse livro, e achei muito bom. A ideia de uma sociedade anestesiada eh realmente chocante, ateh pq me fez perceber q vivemos em uma. Soh naum gostei do modo como a garota sai do livro, foi uma passagem meio obscura e ate sem muito sentido a forma como ocorreu. De resto pra quem ja leu admiravel mundo novo, 1984 e laranja mecanica, e esta a procura de um livro q faca uma critica a sociedade por meio de uma distopia, e nao consegue encontrar nenhum - q foi o meu caso - esse livro eh uma otima pedida. Pra mim , eh a quarta forca da ficcao cientifica.
 
lipecosta_ro disse:
Acabei de ler esse livro, e achei muito bom. A ideia de uma sociedade anestesiada eh realmente chocante, ateh pq me fez perceber q vivemos em uma. Soh naum gostei do modo como a garota sai do livro, foi uma passagem meio obscura e ate sem muito sentido a forma como ocorreu.

o filme tem uma solução pra ela... ela não some simplesmente, é mais atuante...

mas isso de viver numa sociedade anestesiada é real... me senti muito Montag ao ler e imaginar as Mildred da minha vida... Nossa! Deu medo!!!!
 
lipecosta_ro disse:
Soh naum gostei do modo como a garota sai do livro, foi uma passagem meio obscura e ate sem muito sentido a forma como ocorreu.

Eu também não gostei. Me apeguei um monte à personagem =/ Mas acho que de certa forma ela entrou ali para abrir os olhos do Montag.
 
Terminei de ler neste fim de semana e que livro sensacional!
Estou pasma e a história grudou na minha mente de tal maneira que estou constantemente relembrando cenas e diálogos do livro.
Como pode o escritor ter escrito isso há mais de 50 anos?
As partes
do cachorro mecânico caçando o Montag e tudo sendo transmitido, é tão atual! Isso não acontecia há cinquenta anos! As TVs não eram tão evoluídas assim, nem nos EUA!
Atual também é quando Faber descreve o cristianismo vendido como mercadoria e Jesus como celebridade, incrível!

Amélie disse:
o filme tem uma solução pra ela... ela não some simplesmente, é mais atuante...
Preciso achar esse filme. :sim:

Amélie disse:
mas isso de viver numa sociedade anestesiada é real... me senti muito Montag ao ler e imaginar as Mildred da minha vida... Nossa! Deu medo!!!!

Pior foi eu me identificar com a Mildred em alguns momentos... ¬¬
 
sugestão de leitura para aqueles que gostam do livro, artigo do lielson -> http://www.bonde.com.br/bonde.php?id_bonde=1-14-27-34-20090331
 
Anica disse:
Dele eu indicaria "As Crônicas Marcianas", um conjunto de contos sobre a vida em Marte. É fodástico, ele provavelmente é o cara que melhor aprendeu sobre a unidade de efeito depois do Poe. Tem também "Algo sinistro vem por aí" que é bem bacana, mas não é tão tchananananam quanto o Fahrenheit e as Crõnicas.

Anica, comprei o Crônicas Marcianas bem baratinho aqui em Foz... Ainda não deu tempo de ler!
 
Pois é, eu também li esses tempos (no início do mês, acho) e fiquei realmente impessionada com a história. Ela é muito "real" apesar de "irreal".
 
Como George Orwell em 1984 e Philip K. Dick em O Homem do Castelo Alto, Bradbury mostra uma sociedade oprimida por um regime totalitário, no caso, o controle político estar integralmente ligado aos meios de comunicação, especialmente a TV. O título Fahrenheit 451 estar associado à lei do governo que proíbe qualquer livro ou tipo de leitura. Um milhão de livros foram proibidos, como prevenção que o povo possa ficar instruído e se rebelar contra o status quo. Assim todos os livros desta lista proscrita encontrados tem que ser queimados. E a temperatura que faz os livros inflamar é a 451 na escala Fahrenheit.
O corpo de bombeiros ironicamente assume o papel de policiamento e manutenção da lei, são eles que queimam os livros, conduzindo veículos com aparência de salamandra. A narrativa conta a história de Guy Montag, um desses bombeiros que queimam livros.
No inicio, pensa que vive uma vida feliz na plasticidade de sua sociedade – um bom emprego, uma família, conforto, mas quando conhece uma mocinha que o ensina a pensar, a ver o mundo com outros olhos, a gostar de livros, a se tornar a margem da sociedade, um verdadeiro marginal, que esconde e rouba livros. Denunciado pela mulher, é perseguido e desiludido se afasta da sociedade e onde vai, em uma floresta próxima encontra a felicidade da esperança.
Fahrenheit 451 é um pequeno romance que ganhou uma versão cinematográfica, logo após ser publicado, pelo cineasta François Truffaut. A história esconde uma critica pesada à sociedade norte-americana de 1953, depois de Hiroshima e Nagasaki, quando a todo custo se conservava a ilusão de que o mundo era maravilhoso e feliz, que as opiniões opostas eram incineráveis e a vida agradável era o único e verdadeiro objetivo a preservar.
Montag é um membro desta sociedade que vive numa farsa equilibrista. Cada pessoa não deseja sair da vida cotidiana, perfeita e sem complicações, mas quando Montag conhece o outro lado e que descobre paradoxalmente que vive uma vida não muito satisfatória de sentimentos. Mas não é lê o protagonista deste romance, ele simplemente cai, é empurrado ante a rebelião. Os verdadeiros protagonistas são: Clarisse, a mocinha incivilizada e “antisocial” que perturba o equilíbrio de Montag; Beatty, que golpeia moralmente tudo que Montag pensava conhecer: Mildred, a sua fria mulher; Fader, um ex-professor de literatura... E a máquina desumana, caçadora, a força mecânica que persegue o homem, em uma palavra a Lei.
Tudo que hoje ornamenta nossa sociedade aparece como causadora do regime totalitário: a televisão, a despreocupação juvenil em se divertir sempre, a publicidade, a cultura do ócio e do entretenimento, contudo em Fahrenheit 451 sem seus enfeites, sem suas cores e melodias.
Essa nova edição, em formato pocket, vem com uma proposta de trabalho para a sala de aula. Um livro meio que antiquado pelos padrões atuais da Ficção Científica, mas que nos ensina em meio a BigBrothers, a nossa televisão capitalista, a políticos corruptos, a violência, a ver um mundo em meio a tanta ignorância e estupidez, onde podemos encontrar a esperança da verdade.
Ou como analisou o escritor português Jorge Candeias “Fahrenheit 451 é um terrível espelho dos tempos que vivemos. Um livro intemporal. Um livro que fica”.
 
Não gostei muito deste.
Esperava mais. A ação se passa de um modo muito rápido.
Mas, mesmo assim, é bom livro. A leitura fluir agradável.
 
Fiquei em dúvida se respondia aqui ou no outro tópico. Acho que esse vem do Meia, enquanto o outro existia aqui no Valinor, mas lá também tem ótimos comentários, enfim.
http://www.valinor.com.br/forum/topico/fahrenheit-451-ray-bradbury.8240/

Bem, o que dizer do livro? Parece ter sido feito tendo em mente os Estados Unidos na década de 50, mas continua tão atual... O livro parece ser menos sobre censura e mais sobre os livros e a cultura transformados em uma espécie de "pudim" ou "pudim de tapioca sabor baunilha" como diz Beatty. Será porque as "indústrias culturais" que já existiam nos Estados Unidos nessa época se desenvolveram pelo mundo depois?

Como disse o @Bruce Torres (aqui http://www.valinor.com.br/forum/top...a-de-vender-livros.152666/page-5#post-2708544), o livro é também sobre hedonismo e antiintelectualismo. Quando as pessoas deixam de fazer qualquer coisa que demande esforço (estudo) ou que traga incômodo/desconforto (até mesmo pensar) para simplesmente se divertirem, assistindo a tevê. A importância de se evitar qualquer incômodo ("flores se alimentando de flores", como diz Faber, ou seja pessoas vivendo fora da realidade), me lembrou a droga Soma de Admirável mundo novo que elimina qualquer desconforto.

Com relação a isso, a Mildred (ainda lembra em que você se identificou com ela @Clara ?) me lembrou uma personagem do conto "A biblioteca" de Lima Barreto, mulher do personagem principal, sobre a qual à certa altura se comenta:

Sua mulher, entretanto, filha de um clínico que tivera fama quando moço, não tinha nenhum entusiasmo por essas cousas [livros e estudo]. A vida, para ela, se resumia em viver o mais simplesmente possível. Nada de grandes esforços, ou mesmo de pequenos, para se ir além do comum de todos; nada de escaladas, de ascensões; tudo terra-a-terra, muito cá embaixo... Viver, e só! Para que sabedorias? Para que nomeadas? Quase nunca davam dinheiro e quase sempre desgostos. Por isso, jamais se esforçou para que os seus filhos fossem além do ler, escrever e contar; e isso mesmo a fim de arranjarem um emprego que não fosse braçal, pesado ou servil.

Em Fahrenheit temos também uma referência mais que atual ao declínio das Humanidades (línguas, filosofia, história, sociologia, artes etc). E aí lembrei de notícias sobre isso nos países mais ricos como Estados Unidos e França, com matrículas caindo nessas áreas nas universidades, e as várias análises dos motivos por trás disso: de pagamentos menores até a "inutilidade dessas coisas" em termos práticos (exatamente como no livro).

Lembrei aqui de um livro do Lipovetsky (A cultura mundo) de onde pinço alguns trechos:
Com a profissionalização da vida intelectual, se o número de publicações 'eruditas' [de Humanas] não cessa de crescer, elas são lidas por um público cada vez mais restrito, para não dizer, por vezes, impossível de encontrar" p. 103
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No mundo por vir, haverá intelectuais-estrelas, uma hipertrofia de publicações, colóquios de especialistas em excesso: tudo isso para quê? Efeitos cada vez mais tênues, debates fechados sobre si mesmos, uma vida espiritual acompanhada cada vez menos de prestígio, de autoridade e de fervor. p. 104-105
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Dessacralização do mundo das ideias, eclipse dos 'guias do espírito humano', desaparecimento do poder intelectual: é aqui que teríamos o direito de falar de 'americanização' da cultura. p. 105
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O foco dos indivíduos no presente, impulsionado pelo consumismo, dessubstanciou a busca do que não nos concerne diretamente, de uma maneira ou de outra: como foi dito, a média de vendas dos livros de ciências humanas está claramente em declínio. p. 105

Lembrou ainda do livro do Todorov que li recentemente sobre o declínio da literatura na França.

A sociedade do livro e sua preferência pelo presente sobre o passado, pelo menor esforço sobre coisas intelectualmente exigentes etc me lembrou também o livro do Benjamin R. Barber em que ele analisa a infantilização da cultura contemporânea dizendo que ela valoriza o fácil sobre o difícil, o simples sobre o complexo e o rápido sobre o lento. Parece que é isso que acontece na sociedade do livro (a simplificação dos livros, com resumos, e até dos programas de televisão etc).

Além disso, há em Fahrenheit referências interessantes a religião (Jesus e Deus transformados num "doce", ou seja um produto), desimportância da democracia e da família (ironicamente substituída pelos personagens da tevê), entre outras coisas.

No entretanto, dá para discutir se há exagero e pessimismo da parte de Ray Bradbury em relação à cultura de massa.
 
Última edição:
Quando as pessoas deixam de fazer qualquer coisa que demande esforço (estudo) ou que traga incômodo/desconforto (até mesmo pensar) para simplesmente se divertirem, assistindo a tevê. A importância de se evitar qualquer incômodo ("flores se alimentando de flores", como diz Faber, ou seja pessoas vivendo fora da realidade), me lembrou a droga Soma de Admirável mundo novo que elimina qualquer desconforto.

Com relação a isso, a Mildred (ainda lembra em que você se identificou com ela @Clara ?)

Exatamente por causa dessas situações que você descreveu.
Pensar, questionar, reivindicar, tudo isso dá trabalho e muitas vezes termina em frustração, dor e solidão.
É muito mais fácil viver quando você segue a manada, quando aceita o status quo e fica quieto no seu canto.

Não é o melhor, mas é mais fácil.

Tanto não é melhor que a Mildred tem uma atitude bem parecida com a mãe do Selvagem (em Admirável Mundo Novo, já que você mencionou esse livro).
A Linda, assim como a Mildred, só quer saber de mergulhar cada vez mais no mundo de mentira (mescalina quando vivia no mundo selvagem e depois pelo Soma) pra não ter que enfrentar o mundo real, que ela não se encaixava em nenhum dos dois.
Mildred fica enlouquecida quando vê que o Montag está espiando por trás da cortina e indo pro mundo real.
Ela não quer isso, prefere que as coisas fiquem como estão, provavelmente porque sabe que as coisas não são fáceis daquele lado.
E eu sou assim frequentemente.
Quase sempre tenho que me dar um empurrão pra olhar as coisas como elas são e enfrentá-las, porque sei que isso é o melhor pra mim e que se eu não o fizer, vou me arrepender com certeza.
Mas a tentação de se acomodar e "viver" fingindo acreditar que está tudo bem, é grande.
 
Fiquei em dúvida em relação à existência ou não de uma ditadura no livro,como muitos leitores parecem perceber. O que acham?

Claro que existe a proibição a 1 milhão de livros, o que não é nada democrático, mas fora isso não lembro de nenhuma outra ação do governo descrito no livro que configure uma ditadura. Dá para separar censura de ditadura? E o quanto?

Há até mesmo um diálogo em que Mildred e as amigas discutem em quem votaram na última eleição: se no candidato bonito ou no baixinho. Para mim, com isso, Bradbury quer indicar não um governo ditatorial, mas uma democracia fraca e irrelevante, em que as pessoas já não se importam com o coletivo. Esse não é nem discutido.

Além do mais, o 3º ponto citado por Faber para o que está faltando no mundo é o da ação a partir das informações que se possui, uma ação no sentido coletivo, ou político e ético. Bradbury estaria sugerindo que quem tem conhecimento, tem o dever de agir em favor do coletivo. Não pode se eximir como Faber e os outros sem nome que ele cita e que se acovardaram.

Isso está de acordo com a ideia do declínio das Humanidades, porque a política é uma Humanidade também, não? E aí também temos coisas em comum com o livro.

** Posts duplicados combinados **
Ah! Lembrei que os leitores são presos, segundo deveria acontecer com a velhinha dona de uma biblioteca que eles acham e segundo Mildred sugere que aconteceria com Montag. Mas não parece haver execuções.

E Faber também lembra que há poucos "rebeldes" por aquele tempo. Enfim.
 
Última edição:
Cometi um pequeno texto sobre o livro:

Contra o mingau de tapioca cultural
O mingau ou pudim de tapioca é uma sobremesa tradicional nos países de língua inglesa. É algo amorfo e parece não ter nenhum gosto característico. E é a isso que o capitão Beatty, o principal antagonista do livro, compara indiretamente a cultura de seu tempo ao falar das revistas. Fahrenheit 451 aparece então como uma representação pessimista e um protesto contra a cultura de massas que se desenvolvia nos Estados Unidos na época de sua publicação e que se espalhou pelo mundo desde então.

Nessa cultura hedonista (voltada para espetáculo, diversão e felicidade individual compulsória, para o presente, a velocidade, a violência e a juventude), qualquer traço de incômodo ou de infelicidade deve ser eliminado. Chegando-se ao ponto em que a própria morte natural de alguém, esse incômodo maior dos vivos, é adiaforizada (para usar o termo de Zygmunt Bauman) ao extremo e em alguns minutos o morto está cremado e já pode ser esquecido. É nesse meio que vemos o bombeiro Guy Montag, nosso personagem principal.

No que parecem ser os Estados Unidos em algum lugar pós-2022 (único marco cronológico que temos), seu papel é o de assegurar a paz de espírito e felicidade do mundo queimando livros, ou ao menos os das Humanidades (Letras, Filosofia, História etc), pois, supostamente, as opiniões contraditórias deles só levam à infelicidade, o que aí significa: questionamentos, dúvidas. Ler esses livros não parece ser um crime político, contra uma possível ditadura, mas um crime comum, punível com prisão ou internação em hospício.

Na verdade, o trabalho dos bombeiros-inquisidores-juízes quase não é necessário, havendo poucos “rebeldes” interessados em ler. Dois dos principais que vemos, estranhamente não têm livros em casa, seu desvio estando em não dedicarem suas vidas à televisão como a maioria das pessoas, preferindo ter contato com a vida real e com pessoas reais, sem intermediários, o que parece bastar.

Clarisse McClellan, vizinha de Guy, tem 17 anos e demonstra muita curiosidade pelo mundo (pelo cheiro de folhas mortas e pela chuva, por exemplo) e pelas pessoas. Faber é um velho professor (de inglês?), cético quanto ao destino da Humanidade, mais amante de livros do que dela (ele tem essa mania de cheirar livros...), que Montag conhece em um parque e que com sua experiência se torna uma segunda consciência de Guy. A contrapartida dos dois é Mildred, esposa de Montag, que parece ser uma dona de casa totalmente mergulhada na vida artificial da televisão e, consequentemente, vazia.

Clarisse e Faber catalisam um desespero e revolta que Montag já tinha antes de conhecê-los. Sim, porque essa é uma civilização da Felicidade Paradoxal, para usar o título de um livro de Gilles Lipovetsky referente ao mundo contemporâneo. Essa sociedade possui um lado doentio no grande número de suicídios e mortes violentas com armas ou acidentes de carro, o que não parece incomodar ninguém. Não deveriam estar todos felizes?

Montag planeja com Faber (muito a contragosto desse) uma pequena rebelião contra seu mundo, mas o reencontro com o chefe de bombeiros Beatty precipita as coisas contra eles. Beatty é uma figura saída da Santa Inquisição, porque conhece e cita vários dos livros proibidos que queima enquanto tenta dissuadir Montag, sem sucesso.

Outros rebeldes aparecem após Montag fugir. Eles permanecem como outsiders do mundo oficial, guardiões do saber humano milenar apenas em suas mentes, enquanto esperam o fim dessa civilização e a chegada de uma nova Idade das Trevas, quando pretendem estar preparados para fazer o ser humano ressurgir de suas cinzas como a Fênix (como diz Granger, um dos rebeldes).

Existem ainda críticas ao Cristianismo transformado em mercadoria (tanto que nem o próprio Deus reconheceria seu filho se o visse, pensa mais ou menos Faber a certa altura), à decadência da família e das relações humanas (notar o contraste entre a família “de verdade” de Clarisse e a família da televisão de Mildred, além das relações de suas amigas com seus filhos e com o divórcio), à cultura como espetáculo (na ubiquidade da televisão e na perseguição final), à guerra e ao atomismo (o livro é pacifista), entre outras que se poderiam explorar.

Apesar do retrato pessimista da cultura de massa, o livro fecha com esperança. Não naquela, talvez, mas nos seres humanos. As figuras de Faber e Granger nos falam que mais importante que o saber e os livros é o que se faz com o conhecimento, num sentido político e ético. Não basta saber, é preciso agir (mesmo que se espere para isso, o que parece contraditório), engajar-se. É preciso deixar um pouco de si no mundo, de sua alma, modificá-lo de alguma maneira, mesmo pequena. Lutar. Viver.
Para ser sincero, não gostei muito, achei meio medíocre. Mas vou tentar cometer outras leituras de outros livros. Quem sabe não vai melhorando.
 
Última edição:
Cometi um pequeno texto sobre o livro:
Para ser sincero, não gostei muito, achei meio medíocre. Mas vou tentar cometer outras leituras de outros livros. Quem sabe não vai melhorando.

"Ever tried. Ever failed. No matter. Try Again. Fail again. Fail better." - Samuel Beckett :hihihi:

Pra ser sincero, eu provavelmente me sentirei assim também quando escrever minhas primeiras resenhas pro bloguinho. :timido:
 

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