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Nunca se leu tanto sobre tão pouco

Ana Lovejoy

Administrador
E lá vamos nós de novo. Coluna que saiu na Folha.

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Nunca se leu tanto sobre tão pouco

Não se lê mais nada, dizem. Em uma época multiconectada não sobra interesse ou atenção para ler pouco mais do que um tuíte, uma publicação no Facebook ou uma lista do Buzzfeed se apressam a vaticinar. Textos de jornais são encurtados, revistas diminuem as páginas editoriais e até mesmo blogs encolhem a extensão de suas opiniões formadas sobre tudo.

TL:DR, diz-se em inglês, acrônimo para "longo demais: não li", uma expressão típica dos tempos atuais. Sua interpretação tanto critica o autor por seu falho poder de síntese quanto procura redimir o leitor preguiçoso, justificando qualquer conclusão apressada que ele tire a partir de uma leitura diagonal.

Mas alguns fatos não fazem sentido nessa lógica rasteira. A série "Harry Potter", por exemplo, se estendeu por mais de 3.000 páginas, devoradas por leitores de todas as idades. A trilogia de "Senhor dos Anéis" passou das 1.200 páginas. As "Crônicas de Gelo e Fogo", cinco calhamaços de Game of Thrones, chegam a cerca de cinco vezes esse volume. Os vampiros fosforescentes de Crepúsculo agonizaram por mais de 2.400 páginas e até a sua derivação mais popular, a trilogia pornô soft de "50 Tons de Cinza", passou das 1.500 páginas.

Esses livros, ao contrário de clássicos como "O Gene Egoísta", "A Origem das Espécies" e "O Capital no século 21", dos quais todos falam e praticamente ninguém admite tê-los completado, são best-sellers extensamente debatidos. Muito antes de chegarem a versões cinematográficas, cada um deles foi mais comentado do que qualquer peça de Sartre, Camus ou Dostoiévski na década de 1960. Uma possível explicação para tal fenômeno poderia ser que Dawkins, Darwin e Piketty sejam ensaístas e talvez não haja mais tempo ou interesse para se ler profundamente alguma teoria.

Mas isso não explicaria por que as novas histórias são tão populares, nem porque sua fama não se reflete em outras sagas extensas e complexas, como "Guerra e Paz", "Os Miseráveis" ou "Em Busca do Tempo Perdido". Enquanto Tolkien e George Martin são cultuados, quase não se fala em Tolstói, Victor Hugo e Proust. O que J. K. Rowling tem de melhor do que Charles Dickens?

Na verdade, nada. A história de "Harry Potter" é, em termos de narrativa, bastante limitada e previsível. Seus personagens, mesmo surgidos da mesma cultura e ambientados no mesmo cenário do que os de Dickens, são simplórios. Entre as conversas de fãs, apreciadores ou curiosos que leram alguns dos livros e assistiram a boa parte dos filmes, fala-se muito mais das cenas e personagens formidáveis (como as escadas que se movem, o chapéu que escolhe a escola de cada candidato ou a loja de varinhas mágicas) do que de eventuais sutilezas, ambiguidades ou conflitos de seus personagens.

Transferir esses comentários para histórias de outras épocas seria tão estranho quanto hoje alguém comentar o cenário de um filme como "Rede de Intrigas", o mobiliário do hotel de "O Iluminado", a maquiagem de Amargo Regresso, os efeitos especiais de "Sonata de Outono" ou o figurino de "O Expresso da Meia-Noite".

No entanto é isso o que acontece. Nessas e em várias outras obras contemporâneas, as histórias acontecem em construções artificiais, aparentemente reais, verossímeis, distantes, sem autoconsciência, crítica social, ironia ou questionamento. Réplicas de réplicas de réplicas, seus universos têm cada vez menos conteúdo, por mais que sejam cada vez mais ricos em objetos.

A consistência interna e complexidade dos mundos mágicos de Hogwarts, Westeros e Terra Média faz com que seus leitores desenvolvam uma nova forma de interação com o texto. Em vez de projetar suas reflexões para o mundo real e analisar, por meio delas, formas de compreender e alterar o mundo, gasta-se uma quantidade gigantesca de energia a imaginar detalhes de mundos imaginários, distantes demais para criarem conflitos.

Nesses mundos, o universo é limitado e previsível, e não sobra para o leitor mais do que absorvê-lo em seus mínimos detalhes. A metáfora e a descrição do mundo são plastificadas e transformadas em fetiche, prendendo o leitor a uma redoma de conteúdo e estimulando-o a saber cada vez mais sobre cada vez menos.

Ao contrário das histórias de Alexander Soljenítsin, o mundo das "sagas" de fantasia é sanitário como um parque temático. Seu universo artificial é apresentado com a mesma lógica interna dos discursos políticos, das seitas religiosas e das campanhas de marketing. Cabe a seus consumidores a passividade e bom comportamento dos frequentadores da decoração de natal em um shopping center, em que tudo é surpreendente e nada é verdadeiramente novo.

"50 Tons de Cinza" é um bom exemplo. Surgida como "fan fiction", ficção criada em cima dos personagens e universo de "Crepúsculo", que por sua vez é um pastiche idealizado e assexuado de histórias de vampiros, é banal e previsível. Os rituais de sexo e dominação dos livros da série são acordados "contratualmente" por seus protagonistas; e neles, parece haver mais de fetiche e descrição de processos do que alguma espécie de prazer, como uma dança coreografada. Plástica e estéril, a obra é muito diferente de outros livros de apelo eróticos e sucesso popular de outras épocas, como os livros de Henry Miller e Anaïs Nin. Estranho o mundo em que há sadomasoquismo e dominação politicamente corretos, uma vez que regidos por contrato.

Nos reality shows, comédias de stand-up, programas de auditório, comentários polêmicos, jornalismo sensacionalista e teatro de improviso, cabe aos participantes improvisar o material imediato . Esse improviso, ao contrário do teatro épico de Bertolt Brecht, não tem a função de contornar qualquer tipo de censura, estimular a reflexão ou desenvolver algum tipo de postura crítica. A impressão que se tem é que sua intenção é dar algo para manter o público ocupado a ponto que não faça perguntas incômodas.
 
Eu concordo com algumas coisas, mas achei que ele fez muito alarde para pouca mer**.

Nessas e em várias outras obras contemporâneas, as histórias acontecem em construções artificiais, aparentemente reais, verossímeis, distantes, sem autoconsciência, crítica social, ironia ou questionamento.

Me perdeu aí.
 
Para facilitar a discussão recomendo que unifiquem os tópicos de mimi sobre fantasia ou afetação literária, esse e outros dois:

O mal de se sentir inteligente lendo "Harry Potter" e "Guerra dos Tronos"

Ruth Rocha comemora 50 anos de carreira: “Harry Potter não é literatura”

Obrigado.

A consistência interna e complexidade dos mundos mágicos de Hogwarts, Westeros e Terra Média faz com que seus leitores desenvolvam uma nova forma de interação com o texto. Em vez de projetar suas reflexões para o mundo real e analisar, por meio delas, formas de compreender e alterar o mundo, gasta-se uma quantidade gigantesca de energia a imaginar detalhes de mundos imaginários, distantes demais para criarem conflitos.

Nesses mundos, o universo é limitado e previsível, e não sobra para o leitor mais do que absorvê-lo em seus mínimos detalhes. A metáfora e a descrição do mundo são plastificadas e transformadas em fetiche, prendendo o leitor a uma redoma de conteúdo e estimulando-o a saber cada vez mais sobre cada vez menos.

Caramba, haha, que crítica ultrapassada sobre fantasia, sobre falta de "formas de compreender e alterar o mundo".:tedio: Daria para rebater isso de várias formas, o que já foi feito (possivelmente até aqui no fórum), mas uma boa abordagem iria requerer atenção que parece desperdiçada para responder ao artigo. Insinuar que o universo desses livros, em especial os de alta fantasia, é "limitado e previsível", sem maior justificativa, é dose também hein!

E o fato de G.R.R. Martin, J.K. Rowling e J.R.R. Tolkien serem mais lidos que Charles Dickens, Tolstói, Victor Hugo e Proust para mim não tem mistério: entre outras coisas, são escritores do séc. XX, XXI e de língua inglesa (cuja cultura é exportada para o resto do mundo), a comunicação entre leitor e escritor é muito mais imediata, há uma proximidade cultural e entendimento que é mais difícil de obter em relação aos outros escritores.

PS: "O Gene Egoísta" e especialmente "O Capital no século 21" clássicos? Extremamente questionável. Tá aqui novamente a relatividade do conceito de "clássico" ou "alta literatura" que havia comentado no primeiro tópico envolvendo mimimi literário.

E o fato de "A Origem das Espécies" não ser lido, não é por um defeito qualquer no hábito de leitura, como o autor quer levar a crer, e sim porque é um livro com importância apenas em história da ciência, como o livro que inaugurou a teoria de seleção natural das espécies - mas não é uma fonte principal no aprendizado moderno da teoria.
 
Última edição:
Só li verdades (95%, vá lá).

Mas calma, gente, ele não disse que a culpa de nada disso é desses livros de fantasia contemporânea. Ele, aliás, só aponta um problema mas não tenta descobrir a causa. É fato que a gurizada lê 3.000 de Harry Potter sem dificuldades, e é fato que os clássicos ainda sofrem pela ausência de leitores. OK. Antigamente os livros juvenis eram curtos - tipo Série Vaga-Lume, cujos livros não passavam de 100 páginas - porque achavam que jovem se intimidava com grossos volumes e blablablá. Hoje a gente sabe que não, que é só eles terem o incentivo certo para a leitura que eles aguentam numa boa.

Mas o público-alvo de Harry Potter não é o mesmo do Dostoievski, óbvio. (Pelo menos pra mim é óbvio.) Um é assumidamente juvenil, o outro é para adultos, denso pra caralho. É tipo Machado de Assis, que eu não sei por que ainda cobram de adolescentes de 14 anos no colégio rsrs. Até aí tudo bem. O problema acho que está quando esse jovem cresce, quando chega aos 30 ou 40, e continua só lendo juvenis e YA. Aí é que está o busílis. Talvez tenhamos de esperar mais um pouco para ver como a "geração HP" vai se comportar quando chegar nessa idade em que deveria ter amadurecido e enveredado para coisas mais sérias e densas. E se isso não ocorrer, investigar a causa.
 
Bem isso. O problema não está nos livros de Fantasia. Eles são a porta para milhões ao redor do mundo. O problema é chegar aos 30 só lendo fantasia. Decorar o nome das cidades-livres, dos faróis de Gondor, dos reis e rainhas de Nárnia, e nunca tocar num livro mais clássico.

E uma outra coisa, sempre achei meio falho escolas mandarem alunos lerem Machado de Assis só porque é literatura Brasileira. Não deixa de ser puxado demais pra grande maioria dos adolescentes. Eu tive sorte que minha professora apresentou literatura para seus alunos de 11 com a coleção Os Karas do Pedro Bandeira. Livro quase infantil, mas que me fez gostar de ler. Se eu tivesse começado com O Alienista teria odiado.
 
Mas o público-alvo de Harry Potter não é o mesmo do Dostoievski, óbvio. (Pelo menos pra mim é óbvio.) Um é assumidamente juvenil, o outro é para adultos, denso pra caralho. É tipo Machado de Assis, que eu não sei por que ainda cobram de adolescentes de 14 anos no colégio rsrs. Até aí tudo bem. O problema acho que está quando esse jovem cresce, quando chega aos 30 ou 40, e continua só lendo juvenis e YA. Aí é que está o busílis. Talvez tenhamos de esperar mais um pouco para ver como a "geração HP" vai se comportar quando chegar nessa idade em que deveria ter amadurecido e enveredado para coisas mais sérias e densas. E se isso não ocorrer, investigar a causa.
Eu acho (pelo menos, é o que vejo em casa) que as crianças tem uma certa dificuldade, principalmente com uma linguagem mais rebuscada: a Liza até hoje me pergunta sobre palavras nos livros que ela não conseguiu entender o que era, às vezes mesmo depois de pesquisar no dicionário, às vezes ela precisa de um exemplo pra explicar o real significado de alguma coisa e acho que, nesse ponto, os YA são interessantes, pois eles utilizam uma linguagem mais simples...

E uma outra coisa, sempre achei meio falho escolas mandarem alunos lerem Machado de Assis só porque é literatura Brasileira. Não deixa de ser puxado demais pra grande maioria dos adolescentes.
Pois é, deveriam mandar ler a Ruth Rocha :rofl:
Brincadeiras a parte, na escola eu nunca tive incentivo a leitura, nenhum professor nunca me mandou ler um livro sequer, todo o incentivo que eu tive veio de casa, da família; com a Liza eu vejo que é diferente, uma vez por semana elas tem aula de leitura, mas eles podem escolher o livro que querem ler... Porque? Porque essa aula de leitura é para que eles aprendam a ler melhor, tem criança que, se precisar ler um texto na frente da turma não consegue, tem criança que tem dificuldade de interpretar uma história simples (meia página de um livro escolar), com o tempo, aqueles que se interessarem e tomarem gosto pela coisa, provavelmente vão procurar mais livros pra ler...
 
Eu acho (pelo menos, é o que vejo em casa) que as crianças tem uma certa dificuldade, principalmente com uma linguagem mais rebuscada: a Liza até hoje me pergunta sobre palavras nos livros que ela não conseguiu entender o que era, às vezes mesmo depois de pesquisar no dicionário, às vezes ela precisa de um exemplo pra explicar o real significado de alguma coisa e acho que, nesse ponto, os YA são interessantes, pois eles utilizam uma linguagem mais simples...

Sim, mas olha a idade da Liza! Normal. E é bom mesmo que se depare com palavras desconhecidas e vá ao dicionário. É assim que se constrói vocabulário. O contexto nem sempre permitirá descobrir sozinho o sentido da palavra. Não dá pra ter medo disso e se acomodar com livros que não rebusquem um tiquinho que seja.
 
Sim, mas olha a idade da Liza! Normal. E é bom mesmo que se depare com palavras desconhecidas e vá ao dicionário. É assim que se constrói vocabulário. O contexto nem sempre permitirá descobrir sozinho o sentido da palavra. Não dá pra ter medo disso e se acomodar com livros que não rebusquem um tiquinho que seja.
Exato! Mas pensa comigo: uma pessoa que nunca leu na vida e começa a ler aos 25/26, vai conseguir ler os clássicos? Acho que não conseguiria nem ler o SdA (que, segundo o cara que escreveu essa coluna, é só mais uma fantasia fué - achei bem questionável ele misturar Tolkien, com Rowling e Martin, mas tudo bem). Acho que um dos principais problemas com os leitores atuais é esse, a maioria das pessoas não começou a ler quando ainda era criança, poucas pessoas tem incentivo em casa (a não ser que seja de família de leitores, como é o meu caso) e quando incentivadas na escola, é Machado de Assis, onde normalmente o cara sai achando que "ler é um saco" pq pegou um livro que não era interessante pra idade.
Eu mesma, que leio desde que aprendi a ler, às vezes tenho dificuldade com os clássicos (tanto que até hoje não li muitos deles), imagina exigir de uma pessoa que nunca leu na vida, que comece lendo Dickens ou Dostoiévski... não dá não! Então assim, eu acho que é/vai ser por um bom tempo bem normal encontrar pessoas de 30 anos lendo YA e coisas do gênero, porque? Porque foi gente que nunca leu na vida e pra começar é uma leitura fácil, talvez com o tempo, essas pessoas avancem e leiam outras coisas, talvez não...
 
Transferir esses comentários para histórias de outras épocas seria tão estranho quanto hoje alguém comentar o cenário de um filme como "Rede de Intrigas", o mobiliário do hotel de "O Iluminado", a maquiagem de Amargo Regresso, os efeitos especiais de "Sonata de Outono" ou o figurino de "O Expresso da Meia-Noite".
Não quero entrar de novo nesse mérito de discutir qualidade da arte.
Mas quero só destacar um trecho do texto que mostrou um pouco de desconhecimento no dito sobre cinema. E curioso dado que o texto defende justamente a questão de como certos livros podem atrair o público pelas temáticas do estilo épicas, grandiosas, etc, mas talvez pecarem em narrativa.
Ele fez uma analogia infeliz entre literatura e cinema quando aqui ele colocou como perfumaria setores importantíssimos de cinema como figurino, design de produção, etc. São justamente esses fatores que trazem as sutilezas e constroem a narrativa de um filme.
Não é perfumaria discutir sobre a escolha de figurino e cores de um Poderoso Chefão ou Breaking Bad. Ou discutir a direção de arte do hotel de O Iluminado ou de Grande Hotel Budapeste.
Acho que ele confundiu os parâmetros a se analisar quando se critica literatura e quando se critica cinema. E acabou sendo infeliz.

O restante do texto eu já dei meus argumentos em outros tópicos.
 
Última edição:
Eu penso que a idéia de um texto de qualidade só funcionar porque é aplicado sob a forma de resumo ou redução, simplificado e rápido seja um equívoco.

Antigamente um livro popular de Júlio Verne, Tolkien ou José de Alencar (que se usava para relaxar no meu tempo), se tivessem aparecido séculos antes, poderiam aparecer na forma de contos curtos como as estórias de Andersen em que a falta de material decorreria de o estilo estar evoluindo. Desse modo eu vejo que algo um pouco mais puxado seria semelhante a um "Lusíadas".

O que sei é que uma parte da força motivadora para leitura não tem vindo mais apenas do meio literário, mas da forma como a geração atual tem encarado as relações humanas com a tecnologia. Por sinal a nova forma de encarar a tecnologia está matando um monte de boas oportunidades.

Também me parece haver o desejo disseminado de lançarem foram recursos duramente conquistados na história humana e que ainda são insubstituíveis na obsolescência definitiva através da venda da imagem de que qualquer processo que seja longo ou lento trate de produtos associados ao "atrasado e antigo" como se houvesse uma fronteira tirânica que dissesse que o que é grande, longo e lento seja inferior ao que é pequeno, curto e rápido. Ou ainda como se esses fatores fossem incompatíveis uns com os outros.

O cidadão "tech zombie", do qual grande parte é a geração young adult é pressionada a não pensar no uso de equipamentos e recursos para serem valiosos por longo tempo, não cria a história com pessoas e objetos no que o foco e o tempo de atenção dele é curto, frio, rápido e disputado com inúmeras tarefas que o tornam vítima vulnerável de situações em que o desapego não tem respostas nem soluções. Para ele o precioso tempo lhe foi tirado sem que muitos percebam (outros o vendem para comprar outras coisas). É o comodismo na veia...

Afinal esse é o mote de propagandas "Desapega, desapega" ensina a TV e a pessoa desapega do que é bom também, desapega do amor, das emoções e ligações duradouras, de ler o mundo seguindo seu próprio ritmo, desapega loucamente da oportunidade de criar a história de vida porque a substituição mecânica desapega rapidamente e "sem risco". Sim com aspas, porque quem vende a idéia não explica que a pessoa na zona de conforto pode se condenar a viver sempre no vegetativo e no" mais ou menos que vai virando cada vez mais inferno". É um "sem risco" fake.

Daí que as prateleiras se enchem de histórias que identifiquem leitores com uma vida de simpatia artificial, falando sobre prazer sem dar prazer a quem lê, falando de raiva sem conseguir dar raiva no leitor, falando de felicidade sem deixar o leitor feliz.

Para um escritor eu acho isso o fim da picada, o leitor sai da leitura sem ser desafiado, apenas para acatar.
 
Mas quero só destacar um trecho do texto que mostrou um pouco de desconhecimento no dito sobre cinema. E curioso dado que o texto defende justamente a questão de como certos livros podem atrair o público pelas temáticas do estilo épicas, grandiosas, etc, mas talvez pecarem em narrativa.

Me deu a impressão que essa pessoa, que escreveu o texto, não leu é nada.
Nem os clássicos nem as fantasias.
Só deu uma passada de olhos em blogs e comentários pra saber o que os fãs escrevem, principalmente (ou tão somente) os fãs de GoT e HP e então despejou esse texto aí, porque tinha que escrever alguma coisa.

Bobear ele contou com as ideias do primeiro parágrafo, a de que ninguém lê textos longos, pra passar despercebido com uma matéria meia boca e garantir a comissão, salário ou sei lá o que ele ganha pra escrever essas coisas. :/
 
A esta altura, não posso mais adiar o problema decisivo de como relacionar a leitura dos clássicos com todas as outras leituras que não sejam clássicas. Problema que se articula com perguntas como: "Por que ler os clássicos em vez de concentrar-nos em leituras que nos façam entender mais a fundo o nosso tempo?" e "Onde encontrar o tempo e a comodidade da mente para ler clássicos, esmagados que somos pela avalanche de papel impresso da atualidade?". [...]
O dia de hoje pode ser banal e mortificante, mas é sempre um ponto em que nos situamos para olhar para a frente ou para trás. Para poder ler os clássicos, temos de definir "de onde" eles estão sendo lidos, caso contrário tanto o livro quanto o leitor se perdem numa nuvem atemporal. Assim, o rendimento máximo da leitura dos clássicos advém para aquele que sabe alterná-la com a leitura de atualidades numa sábia dosagem. E isso não presume necessariamente uma equilibrada calma interior: pode ser também o fruto de um nervosismo impaciente, de uma insatisfação trepidante. [...]
Resta o fato de que ler os clássicos parece estar em contradição com nosso ritmo de vida, que não conhece os tempos longos, o respiro do otium humanista; e também em contradição com o ecletismo da nossa cultura, que jamais saberia redigir um catálogo do classicismo que nos interessa. [...]

.............. para que não se pense que os clássicos devem ser lidos porque "servem" para qualquer coisa. A única razão que se pode apresentar é que ler os clássicos é melhor do que não ler os clássicos.
E se alguém objetar que não vale a pena tanto esforço, citarei Cioran (não um clássico, pelo menos por enquanto, mas um pensador contemporâneo que só agora começa a ser traduzido na Itália): "Enquanto era preparada a cicuta, Sócrates estava aprendendo uma ária com a flauta. "Para que lhe servirá?", perguntaram-lhe. "Para aprender esta ária antes de morrer".

Italo Calvino, "Por que ler os clássicos" : http://www.companhiadasletras.com.br/trecho.php?codigo=80064
 
Tá difícil ser leitor hoje em dia...
Acho sim que toda leitura tem credibilidade e tudo o mais, e as pessoas precisam aprender a respeitar o gosto literário do outro. Acho que o grande problema dos clássicos, é que ao contrário dos livros atuais de fantasia, não se tem marketing, só ouvimos falar de alguns deles na escola numa época em que éramos "obrigados" a ler.
 
Não tem mistério. Harry Potter e GoT são sucessos justamente por serem obras trans midiáticas, elas não se limitam somente aos livros e avançam para outros veículos como internet, TV, eventos de fãs etc. Há um engajamento das pessoas sobre essas obras para que não caiam no esquecimento. E é justamente por causa de disso que as editoras abastecem suas estantes com livros "parecidos" tanto no nome do autor, como na escolha da capa; apostando que dali possa sair um sucesso que viralize entre os leitores.

Mas os clássicos não podem ser trans midiáticas? Podem, basta que uma série, filme ou livro de sucesso faça qualquer referência a Tolstói, Heinlein, Auster em seu corpo, as pessoas vão se interessar e correr atrás de tal autor ou livro citado. Simplesmente dizer para fulano: "Leia Guerra e Paz! que é crássico!", não vai funcionar. Muitas vezes é preciso usar de outros exemplos para atiçar a curiosidade da pessoa.

O foda é quando você fica a fim de comprar o livro e só encontra edição de bolso ou que está esgotada :wall:
 
Não li ainda os posts dos "amigueeenhos", depois tvz eu leia...

Mas eu tinha que comentar! oO Esses dias eu tava pensando exatamente nisso, especialmente em relação a Crepúsculo e 50 shades.

100 páginas dessas "obras" (?) são um sopro. A gente lê correndo. Harry Potter também passa correndo - embora eu considere que HP ainda está um pouco acima de Crepúsculo e 50 sombras (no outro tpc eu havia dito que HP e Crepúsculo eram mesmo nível para mim, mas depois de ler os quatro livros dos vampiros que brilham... dá não, é pior).

Já obras mais densas, que exigem reflexão, uma página é bem mais demorada. Nunca consegui terminar de ler "Guerra e Paz". Estou relendo "A Mística Feminina" que traz diversos dados sobre feminismo de primeira onda e sobre o "retorno ao lar" das mulheres na década de 60 ter grande influência até mesmo de Freud e da "naturalização" da inveja do pênis e etc... pra ler 100 páginas custa. Estou na página 135, e tanta coisa já apareceu no livro.

Já um 50 shades da vida, o que aparece em 100 páginas? A Anastasia Steele demora quase isso (umas 80 ou 90 páginas) pra ser abordada por Grey e seu contrato BDSM. Foram 80 páginas de enrolação.

Alguns dizem: ah mas em SdA eles demoram a vida toda pra sair do Condado e etc.

Sim, demoram, mas acontece alguma coisa. Nem que sejam as filosofadas do Gandalf - que valem mais que a obra toda do 50 shades. Nessas "obras" tipo Crepúsculo, 50 shades, qdo acontece algo, é bem pouco, a maior parte é encheção de linguiça.

E olha que li Crepúsculo e 50 shades 100% online, um formato mais demorado e cansativo que livro "in loco".

De "Game of Thrones" nada posso dizer pois nunca li.
** Posts duplicados combinados **
Acrescentando após ler alguns posts:

Calib disse:
Talvez tenhamos de esperar mais um pouco para ver como a "geração HP" vai se comportar quando chegar nessa idade em que deveria ter amadurecido e enveredado para coisas mais sérias e densas.

A geração HP já chegou aos 30. Li HP a primeira vez aos 15 anos, em 2001, e completo 30 ano que vem. A maioria que conheci que lia HP na época tinha a mesma idade, pouco mais, pouco menos.

Resta saber como crescerá a geração Crepúsculo... YY

E só lembrando, 50 shades é lido a maioria das vezes por mulheres adultas... ou seja, o gosto de leitura dos adultos medianos, infelizmente, é esse aí...
 
A geração HP já chegou aos 30. Li HP a primeira vez aos 15 anos, em 2001, e completo 30 ano que vem. A maioria que conheci que lia HP na época tinha a mesma idade, pouco mais, pouco menos.

Resta saber como crescerá a geração Crepúsculo... YY

E só lembrando, 50 shades é lido a maioria das vezes por mulheres adultas... ou seja, o gosto de leitura dos adultos medianos, infelizmente, é esse aí...

Não necessariamente. A Geração HP é a minha, que cresceu com os livros. Li A Pedra Filosofal quando saiu, com 6 pra 7 anos, foi meu primeiro livro ''grande'' e quando saiu o filme pra comprar, era VHS ainda. Essa geração que se despediu da série quase adulta e viu o BOOM Crepúsculo + 50 tons já maior de idade ou com 17/18 anos.
A Geração Crepúsculo é que, em sua maioria, leu na pré adolescência, ali com 11, 12, 13 anos. Fantasiou com um casal perfeito como Edward e Bella e quando saiu 50 ton já estava ali nos seus 16 anos, muitos entrando na vida sexual. Mas a maioria era nova demais pra ler esse tipo de livro, principalmente porque as mães não deixavam e liam elas mesmas. Mas a razão de mulheres adultas lerem 50 tons não quer dizer que o ''gosto de leitura dos adultos medianos'' seja ruim. Elas leram e gostaram porque remete ao frescor da juventude (ainda mais com tanta apelação na midia pelas ''novinhas'' que elas não são mais), por reacender o tema 'sexo', que depois da maternidade NORMALMENTE diminui pra zero, etc etc etc. Foi o livro que saiu com a midia exaltando e louvando, por isso as mamães, tias e vós correram pras livrarias. Por causa do tema, não necessariamente por causa de autor X, Y ou Z.
 
Lissa, há muitos que devem ter lido HP na infância, mas o livro por si só não é direcionado à faixa etária da infância. É direcionado para adolescentes, os quais teriam em teoria mais paciência para ler uma série de mais de 1000 páginas.

Mas de qualquer forma uma pessoa pode ter lido HP pela primeira vez já adulta, ou na infância, ou na adolescência. A maioria que lia em 2001, pelo que me lembro, tinha entre 12 e 18 anos.

Lissa disse:
Elas leram e gostaram porque remete ao frescor da juventude (ainda mais com tanta apelação na midia pelas ''novinhas'' que elas não são mais), por reacender o tema 'sexo', que depois da maternidade NORMALMENTE diminui pra zero, etc etc etc. Foi o livro que saiu com a midia exaltando e louvando, por isso as mamães, tias e vós correram pras livrarias. Por causa do tema, não necessariamente por causa de autor X, Y ou Z

Elas leram também pq é extremamente "catártico" para mulheres casadas e com problemas no casamento ler que de repente, assim, um Grey da vida pode "mudar" e se transformar em (quase) príncipe encantado, e abdicar de seus vícios por causa de seu amor... mas infelizmente não é assim que ocorre na vida real.

Isso e, claro, o appeal do sexo que tem no livro todo - mas achei as cenas de sexo tão ruinzinhas... escrevo cenas melhores.
 
O colunista tem um sério problema de construção de argumentos.
Ele parece mirar em um problema relevante (a falta de leitura), mas sai atirando com uma metralhadora giratória em tudo quanto é best-seller. Por isso, ele coloca no mesmo bojo Tolkien, Rowling, EL James, Martin e toda e qualquer literatura que não o agrade. Pra mim, isso se deve a um purismo exacerbado que o faz idolatrar "clássicos" e renegar a literatura contemporânea.
Cá entre nós, esse tipo de crítica literária já está bem superada. Ele deveria parar de buscar somente as fontes e tentar entender como elas são digeridas pelos escritores contemporâneos (Barthes).
 
Monteiro Lobato, Lewis Caroll..ambos criaram mundos fantasiosos que fazem você questionar a realidade apresentada através de uma realidade paralela.
Alice no País das Maravilhas e no País do espelho, tem críticas politicas maravilhosas que remetem a realidade mas são permeadas pela fantasia.
Monteiro me fez amar os livros eu sonhava em ser a Emília ou a Narizinho e ir pro Reino das Águas Claras mas o Reino fase Águas Claras pode estar em qualquer lugar basta você ter imaginação.
 

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