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Gregório de Matos "Boca do Inferno"

LatinoAmericano

Aqui jaz Alcarecco
Pequena biografia:

Gregório de Matos Guerra (1633-1696) nasceu em Salvador (BA) e morreu no Recife (PE). Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, voltou ao Brasil. Perseguido pelas sátiras que escrevia, acabou exilado em Angola, de onde regressou em 1695, fixando-se em Pernambuco e morrendo um ano mais tarde.

Assim, o barroco talvez seja a fase menos atrativa de toda a literatura brasileira, no mundo ele quebrou a onda do Classicismo e do Renascimento e impôs a dúvida.

No Brasil, no que diz respeito a escultura e pintura até teve mais destaque e deixa como legado, obras de Aleijadinho e fantásticas Igrejas, principalmente no centor de Minas Gerais (Sabará, São João Del Rei, Tiradentes...)

Mas na literatura não deixou obras que são tratadas hoje com muita admiração, quero dizer, as obras do Barroco não são tão bem faladas hoje como por exemplo é falada a famosa "Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá...

Seus dois maiores expoentes na literatura portuguesa foram Padre Antônio Vieira, que tem como sua maior obra o Sermão da Sexagésima, e Gregório de Matos o "Boca do Inferno" de quem falo nese tópico.

Acho que Gregório de Matos foi quem conseguiu exprimir da melhor maneira essa dúvida do barroco, e também o destaco por sua versatilidade, teve quatro períodos distintos em sua obra, ao religioso, o satírico, o sarcomástico e o lírico.

Um de seus melhores poemas é esse:

A Cristo S. N. crucificado estando o poeta na última hora de sua vida
Meu Deus, que estais pendente de uma madeiro,
Em cuja lei protesto de viver,
Em cuja santa lei hei de morrer
Animoso, constante, firme e inteiro:

Neste lance, por ser o derradeiro,
Pois vejo a minha vida anoitecer,
É, meu Jesus, a hora de se ver
A brandura de um Pai, manso cordeiro.

Mui grande é vosso amor e o meu delito;
Porém pode ter fim todo o pecar,
E não o vosso amor, que é infinito

Esta razão me obriga a confiar,
Que, por mais que pequei, neste conflito
Espero em vosso amor de me salvar


O que acham do Boca do Inferno?

gregpb.gif
 
Eu gosto de alguns poemas dele, mas não conheço a obra extensamente. Creio que os mais bacanas são da parte satírica.
 
Gosto dele, mas como o Bags, meu conhecimento sobre ele é o que li na escola (a long time ago) e numa antologia de poesia que tenho aqui em casa. Mas é inegável a contribuição dele para a literatura nacional. Um professor que tive dizia que ele foi o primeiro subversivo brazuca.
 
Ele merece destaque...seu jeito desbocado...de ver o mundo,
satírico....o faz dele um dos melhores em sua area...eu me identifico
mto com ele, atraves do jeito de ver...as coisas..sem hipocrisia...
 
Eu li 'Antologia Poética', gosto bastante do Gregório!
Morro de rir das sátiras que ele faz... e adoro as críticas também!
Alguém já foi ao Museu da Língua Portuguesa? Se não me engano,
no terceiro andar, que tem a exibição do vídeo e depois te levam
para uma sala onde recitam partes de vários textos, poemas e
poesias, tem um poema dele bem famoso, não lembro o nome agora...
 
O nome do poema do qual falei é 'Epílogos'. Vou colar aqui para vocês!



Que falta nesta cidade?................Verdade

Que mais por sua desonra?...........Honra

Falta mais que se lhe ponha..........Vergonha.



O demo a viver se exponha,

Por mais que a fama a exalta,

numa cidade, onde falta

Verdade, Honra, Vergonha.



Quem a pôs neste socrócio?..........Negócio

Quem causa tal perdição?.............Ambição

E o maior desta loucura?...............Usura.



Notável desventura

de um povo néscio, e sandeu,

que não sabe, que o perdeu

Negócio, Ambição, Usura.



Quais são os seus doces objetos?....Pretos

Tem outros bens mais maciços?.....Mestiços

Quais destes lhe são mais gratos?...Mulatos.



Dou ao demo os insensatos,

dou ao demo a gente asnal,

que estima por cabedal

Pretos, Mestiços, Mulatos.



Quem faz os círios mesquinhos?...Meirinhos

Quem faz as farinhas tardas?.........Guardas

Quem as tem nos aposentos?.........Sargentos.



Os círios lá vêm aos centos,

e a terra fica esfaimando,

porque os vão atravessando

Meirinhos, Guardas, Sargentos.



E que justiça a resguarda?.............Bastarda

É grátis distribuída?......................Vendida

Que tem, que a todos assusta?.......Injusta.



Valha-nos Deus, o que custa,

o que El-Rei nos dá de graça,

que anda a justiça na praça

Bastarda, Vendida, Injusta.



Que vai pela clerezia?..................Simonia

E pelos membros da Igreja?..........Inveja

Cuidei, que mais se lhe punha?.....Unha.



Sazonada caramunha!

enfim que na Santa Sé

o que se pratica, é

Simonia, Inveja, Unha.



E nos frades há manqueiras?.........Freiras

Em que ocupam os serões?............Sermões

Não se ocupam em disputas?.........Putas.



Com palavras dissolutas

me concluís na verdade,

que as lidas todas de um Frade

são Freiras, Sermões, e Putas.



O açúcar já se acabou?..................Baixou

E o dinheiro se extinguiu?.............Subiu

Logo já convalesceu?.....................Morreu.



À Bahia aconteceu

o que a um doente acontece,

cai na cama, o mal lhe cresce,

Baixou, Subiu, e Morreu.



A Câmara não acode?...................Não pode

Pois não tem todo o poder?...........Não quer

É que o governo a convence?........Não vence.



Que haverá que tal pense,

que uma Câmara tão nobre

por ver-se mísera, e pobre

Não pode, não quer, não vence.
 
Adorei o poema, Lethaargic. Conheço poucos poemas do Gregório de Matos, mas do pouco que conheço já conclui-se que ele foi o maior expoente do Barroco literário no Brasil. Adoro os poemas satíricos dele, autênticos primores de crítica social e subversão sem medo. Tenho afeição por autores subversivos, que não medem consequências em criticar duramente as injustiças e falhas grotescas do seu tempo, ou tratar de temas considerados complexos e/ou escabrosos demais para a época. E quando essa característica mescla-se à aspectos como maestria narrativa e/ou descritiva, densidade psicológica ou inovações estilísticas - uma escrita bem "lavrada", o que não significa rebuscada -, a obra torna-se mais digna de reconhecimento literário, e mais facilmente culminam em grandes obras-primas da literatura universal. E não é a toa que o Gregório recebeu a alcunha certeira de "Boca do Inferno".
 
E POIS CRONISTA SOU



Se souberas falar também falaras,

também satirizaras, se souberas,

e se foras poeta, poetaras.





Cansado de vos pregar

cultíssimas profecias,

quero das culteranias

hoje o hábito enforcar;

de que serve arrebentar,

por quem de mim não tem mágoa?

Verdades direi como água,

porque todos entendais

os ladinos, e os boçais

a Musa praguejadora.

Entendeis-me agora?



Permiti, minha formosa,

que esta prosa envolta em verso

de um Poeta tão perverso

se consagre a vosso pé,

pois rendido à fossa fé

sou já Poeta converso.



Mas amo por amar, que é liberdade. (Gregório de Matos)

Esse é o meu preferido!!!!!!!!!!!!!
 
Eu devo dizer que tem um lado meio vaidoso meu que adora um conjunto de poesias do Gregório, porque são dedicadas para uma tal de Anica :lol:

Não te posso ver, Anica,
por mais que Amor me desperte,
que tu és muito tirana,
e serás ingrata sempre.
Se foras compadecida,
não cessara de querer-te,
pois a beleza humanada
adquire mil interesses.
Inda assim eu quero, Anica,
que tu me mates mil vezes
com os raios da tua ira
mais do que com te esconderes.
Porque és, Anica, tão bela
que a alma, que por ti se perde,
não pode deixar de ter
muitas glórias aparentes.
Permite por esta vez,
que o teu resplendor contemple,
para ofertar-lhe mil vidas
hoje em holocausto breve.
E se acaso é divindade
a beleza, quem se atreve,
sendo bela, a ser ingrata,
se os atributos desmente?
Havemos de acomodar-nos
na porfia de querer-te,
matem-me embora os teus raios,
porém aparece sempre.
Mate-me a tua isenção,
que eu não cesso de querer-te,
consumam-se os teus rigores
com condição de me veres.

:dente:
 
Alguém já viu aquele tal livro "Poema Satíricos" pela Editora Martin Claret que saiu em 2002? Onde tem lá os melhores poemas satíricos dele...
 
Já viram o que vai chegar ainda esta semana pela Companhia das Letras? -> http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=22125373&sid=01862813512514413414955874&k5=596CA46&uid=
 
non, é tamanho normal de livro. já tem algum tempo que eles lançam coletâneas seguindo esse padrão "visual" (capa listrada, laterais do livro coloridas). eu tenho uma coletânea de contos de horror, outras de contos de fada e outras de contos fantásticos seguindo essa mesma linha (e morro de vontade de comprar a coletânea de peças do miller, de contos do guy de maupassant e do capote).
 
O meu professor de teoria da lírica leu alguns poemas dele na sala e gente... que p***!!! O meu professor mesmo diz para o pessoal que escuta funk que depois de ler Gregório as letras das músicas vão parecer fichinha! :rofl:
 
Tá aí um cara a quem nunca dei muita atenção, antes de vir a esse tópico só conhecia um poema dele que caetano musicou.


Triste Bahia

Triste Bahia! Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.

A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.

Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.

Oh se quisera Deus que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!
 
Estou ressuscitando este tópico uma vez que, no final deste mês, chegam às livrarias cinco volumes com os poemas atribuídos a Gregório de Matos, editados e analisados por João Adolfo Hansen e Marcello Moreira (editora autêntica); tais volumes reproduzem o códice (manuscrito em pergaminho com as folhas unidas como num livro) Asensio-Cunha, reunidos no século 18.

Fiquei bem interessado nesses livros, assim peço a algum amigo forista que, se possível, possa fornecer informações a seu respeito.
 
Artigo Acadêmico: GREGÓRIO DE MATOS E A DESTITUIÇÃO DA AUTORIA SOB A ÓPTICA DE JOÃO ADOLFO HANSEN

Poemas de Gregório de Matos acompanham hierarquia colonial
DE SÃO PAULO

14/06/2014 02h06
Diferentemente de outras edições, a Coleção Gregório de Matos evita extrair e reagrupar os poemas. "Mantivemos a disposição tal como foi pensada no século 18", diz Marcello Moreira.

Pela ordem, vêm primeiro os poemas com "louvores e vitupérios à nobreza". Depois, "louvores e vitupérios aos agentes da Igreja Católica, clérigos, freiras".

Por fim, os poemas "dedicados às mulheres, algumas de qualidade, outras, não". Entram aí "as putas da Bahia, que merecem castigo, a Babu, a Andresona".

Reprodução
14164646.jpeg
Ilustração de manuscrito do séc. 18 que reuniu poemas de Gregório de Matos, supostamente
Uma passagem: "Puta Andresona [...] Tu te finges não ser senão honrada,/ E nunca eu vi mentira mais provada [...] Entram na tua casa a seus contratos/ Frades, Sargentos, Pajens, e Mulatos,/ Porque é tua vileza tão notória,/ Que entre os homens não achas mais que escória".

A sequência dos poemas "faz uma encenação de toda a hierarquia" colonial, diz João Adolfo Hansen, questionando edições contemporâneas que recortam e alteram a ordem, como a de James Amado (Record, 1990).

"Ele escreveu texto dizendo que Caetano Veloso era cavalo do exu Gregório", critica. "Vi na Bahia o movimento negro dizendo que Gregório era abolicionista."

O quinto volume da coleção traz um longo ensaio de Hansen e Moreira, em que detalham não só as opções da edição, mas as diferenças com a crítica literária hoje predominante sobre Gregório de Matos e Guerra. (NS)

COLEÇÃO GREGÓRIO DE MATOS
EDIÇÃO E ESTUDO João Adolfo Hansen e Marcello Moreira
EDITORA Autêntica
QUANTO Entre R$ 43 e R$ 49 por volume (entre 400 e 592 págs. por volume)

Fonte: http://tools.folha.com.br/print?sit...de-matos-acompanham-hierarquia-colonial.shtml
 

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