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Noites de Alface - Vanessa Barbara

DiegoMP

Usuário
Já que vocês estavam tão na fissura por saber qualé que é a do livro resolvi abrir esse tópico. E aí, alguém mais leu? Qual foi a impressão de vocês sobre a obra?

Por ora deixo aqui um post que saiu lá blog do 30 por cento, ainda não há tantas impressões do livro por aí, algo estranho para um livro tão curto e tão badalado logo que foi lançado, esperemos.

Noites de alface é um livro construído de pequenos detalhes. Nisso, concentra, por um lado, boa parte de sua carga dramática, e, por outro, uma veracidade, ou ao menos uma plausibilidade, uma familiaridade que conquista de cara o leitor. Toda rotina é desenvolvida sobre pequenas coisas, sobre microcosmos muito pessoais; o romance de Vanessa Bárbara é feliz ao capturar essa imperceptível mas irrevogável penetração dos detalhes no desenrolar diário da vida. O livro é como que feito de pequeninas narrativas articuladas, tão completas e tão amplas, tão ricas em minúcias que interferem-se no desenrolar do cotidiano do protagonista, envolvido assim no desdobramento irreversível de significados dos detalhes.

A naturalidade ao iluminar pequenas coisas cotidianas de existência latente – nos segredos das mochilas dos metropolitanos, nos códigos por trás dos números dos ônibus, nas respostas políticas avinagradas –, é característica da escritora em seu trabalho jornalístico, nas crônicas que escreve ao jornal Folha de São Paulo, em um recente artigo escrito à revista New Yorker, por exemplo. Em seu romance, essa naturalidade dá ao seu enredo uma humanidade verdadeira e dramática.

Vanessa Bárbara nasceu em 1982, em São Paulo. Como escritora, escreveu O livro amarelo do terminal, publicado pela CosacNaify, em 2008 – o livro foi vencedor do prêmio Jabuti na categoria de reportagem –, o romance O verão do Chibo, em parceria com Emilio Fraia, publicado pela editora Alfaguara, também em 2008, e o infantil Endrigo, o escavador de umbigo, publicado pela editora 34, em 2011. Como tradutora, recentemente lançou sua versão de O grande Gatsby, de Scott Fitzgerald, publicado pela Companhia das Letras em parceria com a editora inglesa Penguin.

Noites de alface é um romance que desenrola-se em torno das minúcias por trás das perdas, em torno da solidão que vem com a falta da convivência diária trivial quando acontece a morte de um companheiro de vida. Nas pequenezas da ausência que se faz lembrar em cada um dos velhos costumes que se repetem diariamente, Vanessa consegue reverberar um silêncio profundamente expressivo, a solidão da “casa de gavetas vazias”. Entre ruídos de liquidificador, discussões, chineladas, latidos, o protagonista encurrala-se na própria solidão revolvendo o passado, nas noites que a ele se tornam cada vez mais longas.
 
Eu li o livro.

Terminei quinta, sexta-feira e, como costumo fazer, fui buscar algumas resenhas e me deparei com a situação descrita pelo Diego: elas são escassas. Ainda assim, li algumas: todas muito generosas com o romance. Então, fiquei em dúvida: ou eu sou muito tapado e não enxerguei toda a filosofia e brilhante construção que os resenhistas encontram, ou - o que eu acho mais provável - os resenhistas quiseram caprichar tanto nas resenhas (e demostrarem sua sensibilidade literária, capacidade de criação e expressão), que delas quase fizeram um outro romance.

Desconsiderando o que li pela internet, na minha amadora opinião de leitor, achei o livro fraco. Alguns personagens são bons, pela sua comicidade, como Nico e Sr. Taniguchi, mas o enredo é pobre. Toda essa douração de pílula, no qual o romance "trata de perdas", "esmiuça o cotidiano", " e sei-lá-mais-o-quê", no meu entender, é balela.

Tudo bem, gente. Peço que nas minhas impressões considerem o meu preconceito - bem burro, confesso - com a literatura contemporânea. Os livros recentes já saem perdendo e, para me conquistarem, precisam tocar em temas que me são caros e de maneira na qual eu encontre sentido, faça relações, enfim, me transformem de alguma forma. E não é o que acontece com grande parte do que é produzido.
É uma falha que tenho, admito. Mas me dou a chance de buscar corrigir. Como prova, depois de "Noites de alface", li "A condição indestrutível de ter sido", da Helena Terra. Dois fatos, melhor, três bons fatos sobre esse livro: primeiro, o título, que é muito bonito; segundo, demora, apesar de ser curto, mas acaba; terceiro, só me custou R$ 12,00. Ou seja, também não foi. Nas resenhas, a lenga lenga de solidão, mundo virtual, entrega amorosa e toda essa psicologia das relações pós-modernas. Na minha experiência de leitura, apenas uma palavra: frescura.

Eu pensei, depois desses dois romances, no motivo da minha implicância. Tenho que a literatura é fruto de um contexto e os temas abordados serão os mais recorrentes a ele. Daí a solidão, em meio a tantos, numa cidade de 12, 15 milhões de habitantes (falando de São Paulo); do meio virtual, que aproxima separando; da violência oficial e marginal - se mostrarem tanto nos escritos contemporâneos. Porém, mesmo imerso nesse contexto, não me enxergo nos romances de agora. Não vejo empatia. Embora, vá lá, sofra de anonimato no meio da multidão, molde muito das minhas relações via tecnologia, sinta os mandos e desmandos dos poderes, só me encontro no mundo presente e consigo refletir sobre ele através dos escritores dos tempos de antes. O que, de alguma forma, me levou a conclusão - não definitiva -, de que a literatura de agora é tão efêmera como praticamente tudo do nosso tempo, desde as relações até a lâmpada da varanda. E eu, que necessito de base sólida de reflexão, não encontro apoio, balizas, nos escritos de hoje, sobre os quais me seja possível um pensamento que não se desmanche no ar - parodiando Berman, Marx, Shakespeare...
 
tem uma do sergio tavares que saiu no amálgama: http://www.amalgama.blog.br/11/2013/noites-de-alface-vanessa-barbara/

A um escritor, imagine que, em dado momento, nasça uma planta num canto de si. Imagine que ele de fato não saiba que planta é essa – uma petúnia?, uma espécie de hortaliça? – e se motive a regá-la, em todo o caso, acreditando que possa ter um futuro artístico, que possa se tornar algo vistoso com o qual se apegue e essa intimidade dure por um longo tempo.

Então, para contentamento do escritor, a planta regiamente cresce e, agora bela e intensa, precisa de um vaso. O vaso passa também a fazer parte do escritor. Assim como as ferramentas, os planos e a motivação necessária para que a planta conserve o viço. O escritor, portanto, constrói uma casa para tudo a que está acoplado e, doando-se sem medida, as intervenções para o bem-estar da planta vão se transformando em marcações de tempo e os objetos adquirindo propriedade. Gradativamente, a casa passa a ser um relicário de memórias, onde tudo que se refere à planta fica contido no cômodo mais seguro, um puzzle completo que é a maneira mais simples (e leal) de se lidar com o que é mais estimado.

Acontece que o escritor sabe que a planta não reinará para sempre, pois a ele mesmo cabe a finitude. Mesmo diante da grandeza, do período em que esteve enredado na cultura, a planta concluirá o seu ciclo. O escritor fica aturdido, acha que é o pior que possa ocorrer. No entanto, um momento adiante ao impacto da perda, ele perceberá que são as ações comezinhas relacionadas à manutenção da planta que deixarão lacunas duradouras por não mais constarem, justamente aquelas ignoradas constantemente ou afastadas em nome do que se chama viver.

Otto e Ada são casados há cinco décadas e compartilham cada detalhe de suas vidas. Conservam, de bom grado, uma rotina simples e voluntária: montam quebra-cabeças, jogam pingue-pongue nos fins de semana, saboreiam “a receita perfeita” de couve-flor à milanesa, assistem a documentários sobre o reino animal, dividem afazeres domésticos e o cuidado com as flores; tudo o que está encerrado dentro ou nos arredores da casa amarela que escolheram para viver sem filho e animal de estimação. Outro exercício cotidiano é a convivência com os vizinhos, os poucos residentes de um vilarejo onde as resoluções de problemas coletivos cabem às reuniões da vizinhança. Na verdade, essa tarefa é de uso exclusivo da diligente e carismática Ada. Otto faz o tipo antissocial, rabugento, que reserva monossílabos para situações em que é inevitável interagir com o mundo exterior. A esposa cumpre as formalidades, recebe as entregas, intermedeia suas relações com aqueles que estão além do jardim. Até que subitamente Ada morre e, desvalido de escudo, Otto se percebe num plano insular, tendo de reassumir a gerência da casa e o trato com as intervenções externas, ambos unicamente pelo fato de seguir vivo.

O desdobrar do luto desse personagem deslocado de seu autoexílio é o ponto de partida de Noites de alface, romance recente da paulista Vanessa Barbara. Valendo-se de uma prosa agradável, recheada de um humor sutil que flerta eventualmente com o nonsense, a jornalista e cronista daFolha de S. Paulo cria um microcosmo coabitado por um homem que, abarcado pela perda, resolve assumir uma rotina vazia embrulhado numa manta xadrez, e uma vizinhança excêntrica que insiste em mostrar para ele o quanto são finas e transponíveis as paredes de seu refúgio.

Dessa seara fazem parte Nico, um jovem farmacêutico viciado em bulas de remédios e seus efeitos colaterais, cujo sonho é superar a nado o estreito de Dover; Iolanda, uma velha esotérica, preocupada com o carma ruim; Aníbal, um carteiro atrapalhado que gosta de entoar cantigas pelas ruas; Sr. Taniguchi, um ex-combatente da Segunda Guerra diagnosticado com Alzheimer; Mariana, uma antropóloga fascinada por esquimós; e outras figuras que vão se revelando de forma paulatina. O enredo que, à primeira vista, traz características da chamada narrativa coral, onde cada capítulo é reservado a um personagem (inclusive a três cães temperamentais), de fato ganha tônus na engenharia das bonecas russas. Sendo forçado a tratar com interlocutores tão distintos, é como se Otto vestisse partes específicas dessas personalidades, remontando-se erraticamente para acessar um mundo polifônico.

Suas interações, todavia, decorrem de soluções para situações elementares – o recebimento dos remédios, alguém que passe a roupa como a esposa o fazia, a troca da lâmpada que a ciática não mais permite -, visto que sua verdadeira motivação está em revisitar a memória, o emaranhando de coordenadas de uma história pregressa que só pode ser decifrado dentro da casa. Ada vive, para Otto, na visão do quintal descuidado, no bule que guarda a temperatura do chá de alface para a insônia, na passagem do amolador de tesourinhas ao curso da rua. Vanessa Barbara estrutura o romance no que há de mais prosaico, uma espécie de ode ao corriqueiro, às arestas comezinhas que sustentam o maciço sumariamente chamado de vida de verdade. E, desta forma, aproxima sua literatura a do uruguaio Felisberto Hernández, no que tange propor ao leitor uma visão que o desloque das circunstâncias ordinárias e lhe dê acesso a outra ordenação dos seres e das coisas. Como acontece nos contos do autor do estupendo O cavalo perdido e outras histórias, há, em Noites de alface, um engenhoso propósito de atribuir a algo inanimado a capacidade de acolher ou de refletir emoção.

Outro mérito da autora é enredar o leitor em parágrafos pontuados por elementos sensoriais. Aquém das fronteiras da casa amarela, surgem trechos que apelam para a cultura particular dos anos oitenta, uma maneira eficiente de acionar de imediato um encadeamento de lembranças em quem viveu, sobretudo durante a infância, a década. Na reconstrução dos dias de Otto e Ada, o estopim das sensações é, em grande parte, aceso num plano em que o impedimento ocasionado pela ausência da esposa desperta a atenção para registros que tentam contornar, mesmo que brevemente, a solidão, para que ele consiga se ocupar com distrações que afastem as atividades desfalcadas pela morte. Ao recorrer a efeitos sinestésicos, o romance encontra uma atmosfera que rege obras bem sucedidas de duas escritoras contemporâneas: Rua da padaria, de Bruna Beber, e Minúsculos assassinatos e alguns copos de leite, de Fal Azevedo.

Manta nos joelhos, Otto sentiu o ímpeto de ir à cozinha preparar uma boa couve-flor, mas achou que era cedo demais. Continuou na mesma posição, piscando vagarosamente os olhos. Por meio de pistas sonoras, aromáticas e visuais (liquidificador, Baratil, cão bravo), brincava de adivinhar as histórias dos vizinhos.

É mirando no seguimento de duas dessas pistas que, no terço final do livro, o enredo dá uma guinada, ganhando um inesperado verniz detetivesco. À medida que se relaciona com o mundo fora do seu refúgio, Otto suspeita, por meio de conversas entreouvidas, de algumas reações estranhas, que a vizinhança esconde algo dele, um segredo que parece também envolver Ada. A rememoração de um fato difuso e a presença eventual de uma figura na medida da sua janela contribuem para incorporar ao velho viúvo nuances do Poirot, de Agatha Christie, sempre às voltas com um mistério ligado a um círculo de personagens. A sorte é que, com um romance até então bem construído, a semelhança concreta entre os “investigadores” é apenas a rabugice.

Otto é uma planta que viceja por conta de um cuidado especial da autora, munida claramente de recordações e referências particulares. Vanessa Barbara trabalha com eficiência o que há de mais simples, o encadeamento de ações triviais que dá forma a esses intervalos de tempo chamados de dia, o acúmulo desses dias chamado frugalmente de rotina.

eu estou com o livro no kindle para ler, devo engatar com o que estou lendo agora (mas tá foda, gravidez dá sono dos diabos e começo a ler e fico zureta e durmo, minhas leituras não estão mais rendendo >< )
 
Agora li tudo, cheguei a passar os olhos nessa resenha antes de abrir o tópico mas peguei birra com a metáfora de 3 parágrafos que não parecia chegar a lugar algum.

Pois bem, como disse lá no tópico do censo literário, a prosa da Vanessa é boa e flui super bem, tem até alguns personagens bastante interessantes, destaque para o sr. Taniguchi. Mas sei lá, também fico nessa dúvida que o Cantona expressou, às vezes, não sei se falta sensibilidade literária da minha parte ou o problema é mais da nossa literatura contemporânea que não sabe muito bem onde quer chegar.

Lá no tópico do censo comentei sobre ter sentido que algumas peças não se encaixaram muito bem, o meu problema é mais na parte final, onde o Sergio Tavares comenta que o enredo ganha um "verniz detetivesco". Ali senti que a coisa deu uma quebrada, como se na falta de algo que justificasse tudo o que havia sido contado até então a autora resolvesse apelar para um nó frouxo.

Enfim, literatura contemporânea brasileira também não é muito minha praia, mas sigo dando chances aqui e acolá, volta e meia aparece alguma coisa que compensa o esforço.
 
Pois bem, como disse lá no tópico do censo literário, a prosa da Vanessa é boa e flui super bem, tem até alguns personagens bastante interessantes, destaque para o sr. Taniguchi. Mas sei lá, também fico nessa dúvida que o Cantona expressou, às vezes, não sei se falta sensibilidade literária da minha parte ou o problema é mais da nossa literatura contemporânea que não sabe muito bem onde quer chegar.

Lá no tópico do censo comentei sobre ter sentido que algumas peças não se encaixaram muito bem, o meu problema é mais na parte final, onde o Sergio Tavares comenta que o enredo ganha um "verniz detetivesco". Ali senti que a coisa deu uma quebrada, como se na falta de algo que justificasse tudo o que havia sido contado até então a autora resolvesse apelar para um nó frouxo.

Concordo. Ela começa bem, a prosa flui, mas, lá pela metade do livro, parece não saber que fim dar pra estória, como ajustar as pontas. Então acaba se perdendo, dando um desfecho bem pobre e tosco.

Vá lá, nem tudo se perde. Alguns personagens são bons, divertem. E o livro, como objeto, ficou bacana. Gostei da capa, da diagramação e tal.

Achei uma entrevista da Vanessa num site português:

 
Eu li o livro.

Terminei quinta, sexta-feira e, como costumo fazer, fui buscar algumas resenhas e me deparei com a situação descrita pelo Diego: elas são escassas. Ainda assim, li algumas: todas muito generosas com o romance. Então, fiquei em dúvida: ou eu sou muito tapado e não enxerguei toda a filosofia e brilhante construção que os resenhistas encontram, ou - o que eu acho mais provável - os resenhistas quiseram caprichar tanto nas resenhas (e demostrarem sua sensibilidade literária, capacidade de criação e expressão), que delas quase fizeram um outro romance.

Desconsiderando o que li pela internet, na minha amadora opinião de leitor, achei o livro fraco. Alguns personagens são bons, pela sua comicidade, como Nico e Sr. Taniguchi, mas o enredo é pobre. Toda essa douração de pílula, no qual o romance "trata de perdas", "esmiuça o cotidiano", " e sei-lá-mais-o-quê", no meu entender, é balela.

Tudo bem, gente. Peço que nas minhas impressões considerem o meu preconceito - bem burro, confesso - com a literatura contemporânea. Os livros recentes já saem perdendo e, para me conquistarem, precisam tocar em temas que me são caros e de maneira na qual eu encontre sentido, faça relações, enfim, me transformem de alguma forma. E não é o que acontece com grande parte do que é produzido.
É uma falha que tenho, admito. Mas me dou a chance de buscar corrigir. Como prova, depois de "Noites de alface", li "A condição indestrutível de ter sido", da Helena Terra. Dois fatos, melhor, três bons fatos sobre esse livro: primeiro, o título, que é muito bonito; segundo, demora, apesar de ser curto, mas acaba; terceiro, só me custou R$ 12,00. Ou seja, também não foi. Nas resenhas, a lenga lenga de solidão, mundo virtual, entrega amorosa e toda essa psicologia das relações pós-modernas. Na minha experiência de leitura, apenas uma palavra: frescura.

Eu pensei, depois desses dois romances, no motivo da minha implicância. Tenho que a literatura é fruto de um contexto e os temas abordados serão os mais recorrentes a ele. Daí a solidão, em meio a tantos, numa cidade de 12, 15 milhões de habitantes (falando de São Paulo); do meio virtual, que aproxima separando; da violência oficial e marginal - se mostrarem tanto nos escritos contemporâneos. Porém, mesmo imerso nesse contexto, não me enxergo nos romances de agora. Não vejo empatia. Embora, vá lá, sofra de anonimato no meio da multidão, molde muito das minhas relações via tecnologia, sinta os mandos e desmandos dos poderes, só me encontro no mundo presente e consigo refletir sobre ele através dos escritores dos tempos de antes. O que, de alguma forma, me levou a conclusão - não definitiva -, de que a literatura de agora é tão efêmera como praticamente tudo do nosso tempo, desde as relações até a lâmpada da varanda. E eu, que necessito de base sólida de reflexão, não encontro apoio, balizas, nos escritos de hoje, sobre os quais me seja possível um pensamento que não se desmanche no ar - parodiando Berman, Marx, Shakespeare...

Cantona, penso também como você sobre os escritores brasileiros atuais e busco um que ofereça algo que transcenda. Há em mim uma sede de profundidade, é como descrevo o que sinto. Quando leio algumas obras do passado e me surpreendo, hoje em dia, busco a biografia do autor e em seu tempo, o local de sua vida era o que hoje eu considero surreal. Jorge Amado em Tieta do Agreste, pensei que saiu da imaginação, quando vou buscar vejo que ele descrevia o cotidiano.

Creio que amo o pessoal que faz resenhas, pois me emprestam sua visão encantadora para que eu olhe através de seu olhar e assim consigo "talvez" ver mais, pois a sintonia com o tempo presente é uma luta para mim. Eu trato o cotidiano como um carcereiro cruel, do qual eu não consigo me livrar e portanto o ignoro, é uma paisagem que de tão vista inexiste e a imaginação ganha força gigantesca. É um absurdo, claro que é. Procuro nos autores que descrevem o cotidiano aqueles que conseguem rir do que estão vendo. Quem sabe conseguimos um que tenha uma boa dose de ironia, sutil é claro.

Tem um moço que leu "A condição indestrutível de ter sido", da Helena Terra e fez esse vídeo:
 
Esse da Helena Terra não me desceu. Já Noites de Alface, vou reler. Assim, dou outra chance pro romance. Li O livro amarelo do terminal, gostei bastante, de modo que a Vanessa Bárbara vai pra minha repescagem.
O livro amarelo do terminal é muito bom, viu. Tanto pela construção literária-jornalística, quanto pelo acabamento gráfico da Cosac.
No livro estão os encontros e desencontros, as estórias anônimas de tristezas e alegrias desse povo maravilhoso que é o nosso, "que segue em frente e segura o rojão", como cantava Gonzaguinha. E estão, também, as maracutaias, os superfaturamentos, a promíscua relação entre empresariado e poder público, que teve na construção do Terminal do Tietê mais uma via de enriquecimento ilícito. Pra variar, a mão do senhor Paulo Maluf estava por lá, afanando o tesouro. José Maria Marin, um dos muitos X-9(s) da ditadura e atual presidente da CBF, também. O empresário de sucesso e vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, idem. Além, é claro, daquele monte de vereadores e deputados igualmente desejosos do butim. Calando os protestos, o finado Romeu Tuma, chefão do DOPS. Pelos nomes, a certeza se ratifica: eles sempre se arranjam. Mais de trinta anos depois e, exceto pelo falecimento que a todos santifica, as mesmas figuras permanecem mandando, desmandando e assinando os cheques. .
 
Última edição:
acho com o operação impensável ela vai ganhar mais marketing (intrínseca é intrínseca, né) e vai ficar mais conhecida, com sorte mais pessoas retornam para o noites de alface
 

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