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Notícias O triste fim da Revista Bravo!

JLM

mata o branquelo detta walker
segue abaixo a nota publicada no facebook da revista em 1º d agosto de 2013:

A Abril Mídia divulgou hoje, oficialmente, o fim da revista BRAVO! em todas as plataformas. A publicação – uma das únicas no país dedicada exclusivamente às artes, onde trabalhei entre agosto de 2005 e julho de 2013, como editor-sênior e redator-chefe – nasceu em outubro de 1997. Estava, portanto, à beira de completar 16 anos. Foi criada numa pequena editora de São Paulo, a D’Ávila, já extinta, e migrou para o grupo Abril em janeiro de 2004. Quando chegou à seara dos Civita, desfrutava de prestígio, mas padecia de má saúde financeira. Não sei dizer quanto dava de prejuízo à época. Só sei que, na Abril, o quadro não se alterou substancialmente, mesmo quando o título adotou uma linha editorial um pouco mais pop, um pouco menos “cabeça” que a de origem.

Com todos os defeitos que pudesse ter – e que realmente tinha, à semelhança de qualquer publicação –, BRAVO! não perdeu o respeito do meio cultural. Havia divergências de vários artistas e intelectuais em relação à revista. Os próprios jornalistas que passaram pela redação nem sempre concordavam 100% com a filosofia do título, ditada obviamente pelos donos. Uns o acusavam de conservador, outros de elitista, superficial ou condescendente demais. Mas havia também muita gente boa que gostava de nossas edições. O fato é que mesmo os opositores jamais recusaram sair nas páginas de BRAVO!. Quem trabalhava para a publicação raramente ouvia um “não” quando fazia pedidos de entrevista. Até Chico Buarque, famoso por se expor pouquíssimo na mídia, topou protagonizar uma capa junto de Caetano Veloso (deixou-se fotografar, mas não abriu a boca, convém lembrar). Todos, de um modo geral, reconheciam que a publicação buscava primar pela seriedade.

Mesmo assim, em termos comerciais, BRAVO! nunca gerou lucro – pelo menos, não na Abril (como disse, desconheço os números da D’Ávila). A revista, embora contasse com o apoio da Lei Rouanet, operava no vermelho. Em bom português, dava prejuízo – ora de mihões, ora de milhares de reais. Por quê? Vejamos:

1) BRAVO! dispunha de poucos leitores? Sim e não. A revista contava com cerca de 20 mil assinantes e 8 mil compradores em bancas e supermercados. Vinte e oito mil pessoas, portanto, adquiriam a publicação mensalmente. Se levarmos em conta os parâmetros do mercado publicitário, cada exemplar tinha, em média, quatro leitores. Ou seja: uma edição atingia algo como 112 mil pessoas. No Facebook, a publicação contava com 53.600 seguidores e, no Google +, com 30.900. Eram índices desprezíveis? Depende. Em comparação com revistas de massa, a maioria editada pela própria Abril, os números de BRAVO! nem chegavam a fazer cócegas. Mas, considerando que o título se voltava para um nicho relativamente restrito, o da alta cultura mais sofisticada, as cifras não parecem tão ruins. Em geral, BRAVO! falava sobre manifestações artísticas que, mesmo se destacando pela qualidade, não atraíam público quantitativamente significativo. A revista dedicava quatro, seis, oito páginas para filmes como "Tabu", do português Miguel Gomes, exposições como a retrospectiva de Waldemar Cordeiro no Itaú Cultural, livros como "O Erotismo", de Georges Bataille, peças como "A Dama do Mar", de Bob Wilson, e espetáculos de dança como "Claraboia", de Morena Nascimento. Procure saber quantas pessoas viram tais filmes, mostras e espetáculos ou leram tais livros. Cinco mil, 10 mil, 20 mil? Como BRAVO! poderia ter zilhões de leitores se o universo que retratava não tem zilhões de consumidores? A publicação, por sua natureza, enfrentava o mesmo problema que amargam todos os artistas do país dispostos a correr na contramão dos blockbusters.

2) BRAVO! perdeu leitores em papel com o avanço das mídias digitais? Perdeu, seguindo uma tendência internacional. A perda, no entanto, não se revelou tão expressiva e ocorreu num ritmo menor que o de diversos títulos.

3) Era mais caro imprimir a BRAVO! do que outras revistas? Sim, bem mais caro, por causa de seu formato e de seu papel, ambos incomuns no mercado.

4) BRAVO! tinha poucos anúncios? Sim. Raramente, a publicação cumpria as metas da Abril nesse quesito. O motivo? Falhas internas à parte, os grandes anunciantes costumam demonstrar pouco interesse por títulos dedicados à “alta cultura”. “O leitor de revistas do gênero, sendo mais crítico, tende a frear os impulsos consumistas”, explicam os publicitários, nem sempre com essas palavras. Pela mesma razão, tantos cantores, artistas visuais, produtores de teatro e bailarinos encontram sérias dificuldades para captar patrocínio.

A soma de tais fatores tornava BRAVO! deficitária. Ao longo dos anos, tentaram-se diversas medidas para estancar o sangramento. O número de páginas da revista diminuiu de 114 para 98; as datas em que a publicação rodava na gráfica da Abril se alteraram algumas vezes com o intuito de reduzir os custos de impressão (é mais barato imprimir em certos dias do mês que em outros); a redação encolheu; os projetos gráfico e editorial sofreram ajustes; criaram-se ações de marketing pontuais na esperança de aumentar a receita publicitária. Cogitou-se, inclusive, mudar o papel e o formato de BRAVO!. O publisher Roberto Civita (1936-2013), porém, sempre vetou a alteração. Acreditava que fazê-la descaracterizaria em excesso a revista.

A Abril poderia ter insistido um pouco mais? Pecou por não descobrir jeitos inovadores de sustentar a publicação? É difícil responder – em especial, a segunda pergunta. A crise está instalada na imprensa de todo o mundo. Gregos e troianos dizem que a mídia tradicional precisa se reinventar. Eu também digo. Mas qual o caminho das pedras? Não sei. No máximo, posso arriscar uns palpites. E seguir investigando, e seguir apostando. O mesmo vale para os empresários da comunicação.

Gostaria que a edição de agosto não fosse a última de BRAVO!. Entristeço-me com o fim da publicação porque aprecio muitíssimo a arte. Filmes, livros, peças, músicas, instalações, pinturas, balés e quadrinhos me ensinaram mais sobre viver do que a própria vivência. No entanto, não bancarei o viúvo rancoroso. Não lamentarei a baixa escolaridade do brasileiro, o pragmatismo dos publicitários e dos patrões, o advento da revolução digital. Tampouco abdicarei de minhas responsabilidades frente aos erros e acertos da revista. Fiz e ainda faço parte do complexo jogo em que a mídia se insere. Procuro encará-lo com amor, senso crítico e serenidade. Nem sempre consigo, mas...

De resto, queria agradecer tanto à Abril quanto a todos os leitores e profissionais (artistas, editores, repórteres, críticos, ensaístas, designers, ilustradores, fotógrafos, assessores de imprensa, executivos, vendedores, secretárias, motoristas e motoboys) que tornaram possível tão longa e inesquecível jornada.

Abaixo, a capa de nossa última edição, que chega às bancas na segunda- feira:

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é uma pena mesmo, mas aí entra no que li no twitter: das pessoas tristes com o fim da bravo, quantas tinham assinatura ou compravam a revista regularmente? eu não tenho assinatura desde 2009, e muito raramente comprava a revista. infelizmente, periódicos precisam de um número grande de leitores/assinantes para impressionar os publicitários, que colocarão dinheiro na revista (é a receita principal, no final das contas). então a bravo no final das contas foi só a primeira de muitas que vão acabar rodando (aliás, vale lembrar que no caso do jornalismo cultural esse já é o terceiro corte do ano: teve o sabático, a ilustríssima e agora a bravo), porque o público agora usa a internet para se informar e, o principal, não quer pagar por conteúdo.

eu vejo o caso do rascunho, por exemplo: vc tem todo o conteúdo de graça na internet tão logo a versão impressa fica disponível. pq pagar assinatura do jornal se você pode ler de graça? bom, eu pago justamente porque quero que o jornal continue existindo. é meu modo de contribuir para que exista um periódico sobre literatura de qualidade (diferente dos periódicos que publicam um resumo de meio parágrafo na base do jabazão no estilo "indicações da veja", por exemplo).
 
é uma sinuca d bico, como dizem. mas acho q daria p testar alternativas antes do tiro d misericórdia. uma delas seria a migração para o meio online, algo q poderia ser visto pela 1ª vez na internet brasileira, talvez mundial. se já existem revistas eletrônicas bem feitas e sustentáveis, mesmo abrangendo públicos locais (oq é meio paradoxal na internet), uma d renome já entraria com + força no mercado.

n digo fazer 1 simples blogue como já existia até agora com a bravo! mas algo similar à revista www.semanaonline.com.br.
 
é uma sinuca d bico, como dizem. mas acho q daria p testar alternativas antes do tiro d misericórdia. uma delas seria a migração para o meio online, algo q poderia ser visto pela 1ª vez na internet brasileira, talvez mundial. se já existem revistas eletrônicas bem feitas e sustentáveis, mesmo abrangendo públicos locais (oq é meio paradoxal na internet), uma já d renome entraria com + força no mercado.

n digo fazer 1 simples blogue como já existia até agora com a bravo! mas algo similar à revista www.semanaonline.com.br.

se eu não me engano a newsweek fez isso, agora só tem versão eletrônica. eu também acho que seria uma boa fazer esse teste antes do fim, o problema é que me parece claro que o dinheiro de publicidade que entra para o jornalismo impresso não é o mesmo do jornalismo online (e por isso tá ficando cada vez mais comum aquela coisa de você ter um limite de artigo pra ler por mês caso não seja assinante), e aí acabaria ficando na mesma: sem grana para pagar os profissionais envolvidos com a revista.
 
em tempo: até o literatortura, com seus artigos d qualidade e autoria duvidosos, lançou sua "revista" literária em pdf a r$ 3,90 o exemplar e tá ganhando algum.
 
ah, sim. mas a ~~revista~~do literatortura não é feita por profissionais e duvido muito que alguém seja pago por algo publicado ali. pelo menos pago como adulto, que depende daquilo pra pagar as contas. sabe como é: um troquinho ou outro dá para tirar (a valinor com adsense consegue bancar as contas de hospedagem e afins, por exemplo). mas aí de ser salário mesmo, coisa de profissional, já é difícil.
 
Da Bravo, só "li" aquelas duas listas de 100 livros essenciais, etc.
Passei em branco mesmo.
 
é uma pena mesmo, mas aí entra no que li no twitter: das pessoas tristes com o fim da bravo, quantas tinham assinatura ou compravam a revista regularmente?

Eu era assinante da Bravo e recebi uma carta da Abril me oferecendo, automaticamente, a Veja. :puke:

Mas o questionamento é pertinente. A mesma coisa falei pra todo mundo que ficou "desolado" quando uma locadora "de arte" aqui de Belo Horizonte anunciou que iria fechar as portas. Perguntei "Quando foi a última vez que você alugou algum filme lá?". Até 3 anos atrás eu batia ponto lá toda semana. Toda semana pegava 3 filmes (pra ficar 7 dias) e na devolução pegava mais 3. Até que me mudei pra longe e finalmente me rendi ao torrent e nunca mais pisei lá. Pensei: "É uma pena, mas é a vida".

Eu gosto de revista. Gosto da textura, de carregar pra lá e pra cá e ir saboreando aos poucos, gosto do conteúdo fechado, escolhido, selecionado e estruturado, prontinho pra que eu consuma no meu tempo, sem pressa. Mas...

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Time or money.

eu vejo o caso do rascunho, por exemplo: vc tem todo o conteúdo de graça na internet tão logo a versão impressa fica disponível. pq pagar assinatura do jornal se você pode ler de graça? bom, eu pago justamente porque quero que o jornal continue existindo. é meu modo de contribuir para que exista um periódico sobre literatura de qualidade (diferente dos periódicos que publicam um resumo de meio parágrafo na base do jabazão no estilo "indicações da veja", por exemplo).

Esta é outra questão. Em tempos de internet, as pessoas se esquecem de que as coisas precisam ser remuneradas, de que conteúdo, assim como qualquer outro produto, é fruto do trabalho e energia de alguém e de que esse alguém precisa receber algo em troca. Ninguém liga de pagar por comida ou por um sapato, mas a maioria das pessoas ainda acha um absurdo pagar por conteúdo. Por quê?
 
eu estava curiosa sobre como lidariam com os assinantes. se não quiserem veja será que eles devolvem o dinheiro?
 
A carta veio oferecendo a Veja como "equivalente", depois no final oferendo outras revistas ou reembolso. Optei pelo dinheiro.
 
O João Cezar de Castro Rocha escreveu uma série no Rascunho acerca do Jornalismo Cultural:

JORNALISMO CULTURAL: PROMESSAS E IMPASSES (parte 1)
JORNALISMO CULTURAL: PROMESSAS E IMPASSES (parte 2)
JORNALISMO CULTURAL: PROMESSAS E IMPASSES (parte FINAL)

Destaco estas passagens da última parte:

(...)

Enfrentemos a real dimensão do problema: a publicidade impressa importa cada vez menos para a movimentação do mercado literário. As editoras anunciam ativamente através de seus sites, assim como se beneficiam de um relacionamento novo e produtivo com blogueiros, que se multiplicam com grande rapidez e vitalidade. Em alguma medida, a disseminação de festivais em todo o país realiza um trabalho de divulgação de autores e títulos que, num passado recente, dependia consideravelmente dos cadernos e suplementos culturais e literários.

(...)

Portanto, a preservação dos suplementos exige um ato deliberado de vontade política: tal atitude exigirá um pacto social inédito no universo do livro.

Editoras devem anunciar seus livros, ainda que, de um ponto de vista estritamente financeiro, a iniciativa não seja rentável. Leitores devem aceitar um aumento relativo do preço do jornal no dia de publicação do suplemento que eles decidirem apoiar. Festivais literários devem divulgar sua programação nos jornais impressos, sem se preocupar com resultados concretos. As grandes cadeias de livrarias devem estabelecer parcerias com suplementos culturais, a fim de apoiar a formação de futuras gerações de leitores.

Em contrapartida, os jornais devem assumir o compromisso de preservar o espaço da cultura e da literatura em suas editorias próprias.Outra opção: os jornais podem oferecer assinaturas apenas de seus suplementos e não de todo o final de semana.

(...)

Mas recomendo a leitura dos três.
 
É realmente uma pena, mas é como a Ana disse, é apenas a primeira revista que vai cair.
A cada dia que passa vemos o tradicional sendo quebrado e o "inovador" sendo montado, o caso é que nem sempre o inovador é a melhor opção.
 
Pessoalmente, nunca comprei a Bravo! por achá-la cara. O número de compradores e leitores não me parece também tão pequeno assim (o mercado brasileiro é exigente, hein?)

Portanto, a preservação dos suplementos exige um ato deliberado de vontade política: tal atitude exigirá um pacto social inédito no universo do livro.

Editoras devem anunciar seus livros, ainda que, de um ponto de vista estritamente financeiro, a iniciativa não seja rentável. Leitores devem aceitar um aumento relativo do preço do jornal no dia de publicação do suplemento que eles decidirem apoiar. Festivais literários devem divulgar sua programação nos jornais impressos, sem se preocupar com resultados concretos. As grandes cadeias de livrarias devem estabelecer parcerias com suplementos culturais, a fim de apoiar a formação de futuras gerações de leitores.

Em contrapartida, os jornais devem assumir o compromisso de preservar o espaço da cultura e da literatura em suas editorias próprias.Outra opção: os jornais podem oferecer assinaturas apenas de seus suplementos e não de todo o final de semana.
É sério isso? Não li ainda os textos, mas me parece bem utópico tudo isso como solução.

Talvez seja mesmo uma crise desse modelo de crítica artística surgido no século XIX com figuras como o Sainte-Beuve e que teve seu auge com o Clement Greenberg (que criava os artistas ao divulgá-los com suas críticas) no XX, né? A figura, bem Iluminista na minha opinião, do crítico conhecedor que ilumina/esclarece a massa de "ignorantes" através da imprensa. Parece que a tendência é uma divisão entre a crítica universitária (cada vez mais limitada/irrelevante também?) e as opiniões da internet (publicitárias?). Como dizem, todos somos produtores de conteúdo agora. Ninguém quer mais ser Iluminado de cima para baixo e a voz de uma publicação dessas se torna só mais uma no meio da multidão (com mais autoridade?). Além disso, alguns blogs tem tantas ou mais visualizações que uma revista dessa e como diz o artigo que a Anica colocou ali, para a publicidade somos só olhos (aliás, que artigo cínico...).

Talvez não seja uma crise. Esse tipo de jornalismo também não faz nenhum sucesso na televisão (quantos programas de divulgação cultural tem na tevê aberta?). Mas duvido que a maioria das pessoas esteja disposta a pagar pelo que elas podem ter "de graça" (não importando a qualidade das coisas).
 
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