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"Quem é contra o Bolsa Família ou é mal-intencionado, ou está mal-informado", por André Forastieri

Mercúcio

Usuário
Quem é contra o Bolsa Família ou é mal-intencionado, ou está mal-informado





Sempre que a oportunidade aparece, ressuscita a campanha contra o Bolsa Família. Seu objetivo não é acabar com o benefício. É tão impossível quanto acabar com o salário mínimo, o Natal, o nascer do sol. As metas são outras: manter o Bolsa Família com o menor valor possível, enxovalhar a reputação de quem o recebe, influenciar a opinião pública para que se torne politicamente difícil a criação de outros benefícios semelhantes, e bater no governo. A quem interessa? Aos que têm outros destinos para o dinheiro dos nossos impostos.


Recentemente, a correria por conta dos boatos sobre o fim do Bolsa Família ressuscitou os zumbis de sempre. As questões habituais se arrastaram para fora da tumba: o Bolsa Família é bom? É justo? Não é um estímulo oficial à vagabundagem e à procriação destrambelhada? Não seria melhor deixar de lado essa política assistencialista, e focar na geração de empregos, verdadeira porta de saída dessa esmola? Não tenha dúvida: na próxima oportunidade que pintar, os mesmos de sempre voltarão a atiçar com desinformação os mesmos preconceitos. É bom estar preparado para retrucar.




A revista britânica Lancet publicou semana passada estudo que relaciona de forma conclusiva o Bolsa Família com a queda da mortalidade infantil. Dados de quase 3000 municípios brasileiros foram utilizados, no período entre 2004 e 2009. A Lancet é a mais tradicional publicação científica na área de saúde do planeta - existe desde 1823. Nas cidades em que o programa tem alta cobertura, a queda geral na mortalidade infantil foi de 19,4%. Cruzando o Bolsa Família com causas específicas de morte, o impacto é ainda maior: queda de 65% nas mortes por desnutrição e 53% nas mortes por diarreia. A íntegra está aqui.


O Bolsa Família, portanto, salva vidas. Não é uma solução permanente. É uma operação de emergência, necessária hoje e todo dia. Sua missão fundamental é salvar vidas em perigo, vidas que enfrentam uma calamidade permanente (o miserê nacional, desastre que de natural não tem nada). Aí chegamos a outra crítica comum ao programa: mas pra quê tanta criança? Essa mulherada sem vergonha não está parindo um filho atrás do outro, só pra garantir uma renda fixa?


A resposta é um grande não. A taxa de fertilidade do Brasil vem caindo rápido. Hoje é de 1,8 filhos por mulher, a mesma que o Chile, menos que os Estados Unidos (1,9). Está abaixo do nível mínimo de reposição da população (que é 2,1%). É evidente que se o mundo tivesse dois bilhões de pessoas, em vez de sete, estaríamos melhor na fita. Quanto menos pobre, menos pobreza... mas o fato inquestionável é que as brasileiras têm cada vez menos filhos. E cada vez mais tarde - 40% das nossas conterrâneas entre 25 e 29 anos ainda não têm filhos. Dados citados em um iluminador artigo da Economist desta semana.


A importância do Bolsa Família para essas famílias pobres ficou assustadoramente explícita nas reportagens de TV sobre o corre-corre. Pareciam cenas de refugiados na África, se batendo por um galão de água, um saco de ração. Por que nossos compatriotas ficaram tão desesperados com a possibilidade de ficar sem o Bolsa Família? Porque eles não recebem um monte de outros benefícios simultaneamente. Comparando com os países que tem a melhor qualidade de vida, o Brasil tem benefícios sociais minúsculos.


O sociólogo Alberto Carlos Almeida fez uma comparação chocante entre Brasil e Inglaterra, em artigo para o jornal Valor Econômico. Os ingleses ganham salários muito mais altos que os brasileiros. E mesmo assim recebem muitos tipos de auxílio diferentes, que aqui não existem. Alguns:


- bolsa funeral (R$ 2100 para ajudar no enterro de seu familiar, incluindo pagar flores, caixão, uma viagem de algum parente para o velório etc.)
- bolsa aquecimento no inverno (média de R$ 2400 por mês para ajudar você a se aquecer no inverno)
- bolsa necessidades especiais (para deficientes ou idosos, até R$ 1500 por mês)
- bolsa cuidador de quem tem necessidades especiais (R$ 720 por mês)
- bolsa aquecimento por painéis solares (até R$ 3600 por mês)
- seguro desemprego (R$ 720 por mês)


E muitos outros de todo gênero. Almeida destaca o bolsa criança, que paga R$ 1350 por mês para a família que tem uma criança (e mais uns R$ 1200 para o segundo filho etc.). Vale lembrar que a saúde pública inglesa é boa e gratuita, assim como a educação, em sua maior parte. Por isso tudo, os ingleses são mais saudáveis e educados que os brasileiros, vivem mais e melhor que nós, em um país sem violência. Lá, os impostos são aplicados em benefícios que garantem uma vida mais saudável e segura. Quando alguém criticar o Bolsa Família, faça-lhe um favor: jogue esses dados na cara do infeliz. Nós, brasileiros, precisamos ter consciência do que funciona bem em outros países, para cobrar as mesmas leis aqui. Dou o link para a reprodução do texto de Almeida no site do Senado Federal, porque no site do Valor é só para assinantes.


Certo que o Brasil não é a Inglaterra. Certeza que há dinheiro suficiente para ajudarmos nossos deficientes, idosos, crianças, desempregados e defuntos. Estão aí os estádios faraônicos pra Copa, molezas diversas para empresas próximas do poder, benesses variadas para apadrinhados etc. Somos a sexta maior economia do mundo. Nosso desafio não é gerar recursos, é forçar a aplicação desses recursos no que trará mais benefícios para nossa população.


O PT explora politicamente o Bolsa Família? Claro, é isso que governos fazem, e oposição idem. Aécio Neves até já disse que quem criou o Bolsa Família foi o PSDB (não foi, mas criaram coisas parecidas. Lula, quando o Fome Zero não decolou, reempacotou os benefícios criados pelos tucanos, engordou um tanto o bolo, e marketou magistralmente). Minha sugestão é que os governos estaduais e municipais da oposição criem seus próprios bolsa isso e bolsa aquilo. Que bom se os políticos disputarem nosso voto nos dando dinheiro, em vez de tirar...


O questionamento do Bolsa Família mais furado de todos é o moral: é justo uma pessoa receber dinheiro, sem ter trabalhado por isso? Nem merece resposta. A questão não é de justiça, é de isonomia. Os mais ricos já recebem bastante dinheiro sem trabalhar. Embolsam rendimentos de suas aplicações financeiras, aluguel de imóveis e tal. Acionistas de empresas recebem dinheiro sem trabalhar: os lucros. E herdeiros recebem dinheiro sem trabalhar, às vezes sem nunca ter trabalhado de verdade. Muitas crianças brasileiras felizardas já têm seus futuros assegurados, graças ao que construíram seus pais ou avós. Nunca precisarão pegar no batente (e mesmo assim, como sabemos, muita gente abonada continua trabalhando, porque assim se sente realizada, produtiva, estimulada, ganha mais dinheiro ainda etc. Dinheiro é 100%, mas não é tudo...).

Na próxima vez que a campanha contra o Bolsa Família mostrar sua cara feia, ajude a cravar uma estaca em seu coração. O Bolsa Família não é nenhuma maravilha, mas é infinitamente melhor que nada. Tem que ser aplaudido, imitado, diversificado e expandido para pessoas que não têm família. Tem que ter o seu valor aumentado, bastante e rápido. Contra fatos, e vidas salvas, não há argumentos.

FONTE: http://noticias.r7.com/blogs/andre-...-ou-e-mal-intencionado-ou-esta-mal-informado/
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O que pensam a respeito?
 
Infelizmente vivemos em um país no qual a maioria dos governantes visam apenas o lucro próprio.
O que explica a falta de infraestrutura em todos os setores, tudo que é pro povo é feito ''nas coxas'' e entregue de qualquer jeito. E tudo o que diz respeito a eles só tende a aumentar exorbitantemente (como salários e beneficios, que são em sua maioria extremamente desnecessários).
Na atual situação em que o Brasil se encontra, essa foi a medida tomada pra não deixar o povo morrer de fome. Eu não discordo, mas como o autor do texto, tambem sou a favor de que não fique só nisso, de que os auxilios e beneficios do povo só cresçam e tudo chegue a um equilibrio. O que está bem dificil de acontecer, mas não dá pra perder a esperança. Tá muito ruim do jeito que tá.
 
O Bolsa Família é a diferença entre a vida e a morte para algumas famílias e mesmo assim, mesmo quando o recebimento se dá nos conformes, o pobre acaba não dando conta. Pode-se discordar da ideia da formação de uma classe média com capacidade maior de consumo, bla bla bla, whatever, mesmo que o BF tenha essa finalidade, ele traz benefícios emergenciais.

O que o povo do 'ensinar a pescar' parece ignorar é que o pescador, no curso do aprendizado, precisa comer. Não entendem também que existe, bem ou mal, uma certa continuidade entre o recebimento do benefício e uma certa melhoria social que busca a compra de varas de pesca, iscas e até um barquinho motorizado a quem não tinham nem o que comer tempos atrás.

Não, não é perfeito, tem muita corrupção, roubalheira e há diversos problemas nessas 'continuidade' mas isso não tira os benefícios humanitários do programa. Crer diferente é querer jogar a água suja fora com o bebê junto.
 
"Nas cidades em que o programa tem alta cobertura, a queda geral na mortalidade infantil foi de 19,4%. Cruzando o Bolsa Família com causas específicas de morte, o impacto é ainda maior: queda de 65% nas mortes por desnutrição e 53% nas mortes por diarreia."
Isso atesta a eficiência do programa. No mais, Paganus disse muito do que penso.
 
Todo mundo sabe que há interesses políticos por trás do Bolsa Família. Alguém duvida disso? A questão é: isso é argumento suficiente para desprestigiar a importância do programa? Será que o fato de ser uma das muitas ferramentas de autopromoção utilizadas pelo governo é mais relevante que o inestimável benefício social? Vá perguntar ao pobre se esse discursozinho basta para dizer a ele que esse mês não vai ter feijão.

"Ah, não pode dar o peixe, tem que ensinar a pescar". O Paganus foi perfeito, nem tenho mais o que colocar.

Minha gente, é uma assistência miserável. É garantir o mínimo de dignidade a uma família. Quem sempre teve tudo ou todas as oportunidades vir criticar o benefício "porque é assistencialismo", "porque acomoda" é RIDÍCULO. Olha para fora do seu umbigo, seu FDP! Há falhas? Tem gente que se aproveita? Isso é óbvio, como em quase tudo no mundo. Mas o bom não pode pagar pelo mau. Os benefícios não podem ser ofuscados pelos aspectos negativos, que sempre existirão em qualquer política pública.

O ponto alto do texto foi a comparação com a Inglaterra. O brasileiro tem mania de autodepreciação. Muitos dos que criticam o Bolsa Família arrotam por aí: "Isso só podia acontecer no Brasil!", "Vá ver se em países desenvolvidos tem isso, lá eles têm é educação!". A Inglaterra, como qualquer país desenvolvido, reconhece a importância da assistência social. Isso retoma a questão do "dar o peixe": para a pessoa ir em busca do seu próprio sustento, ela tem que ter o mínimo de condições para isso. Por que você negaria esse básico a alguém? Vá vomitar a sua pseudopolitização misturada com filé mignon em outro lugar.
 
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Ainda nem vi, mas acho que vale a pena compartilhar:

 
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Geralmente, os que usam essas frases feitas ("tem que ensinar a pescar" ou "porque não investem em empregos?") e as repete ad nauseam são os mesmo que pagam uma merreca pra diarista que limpa a privada deles e/ou têm uma empresinha de fundo de quintal onde exploram menores de idade e migrantes que mal sabem ler.

Mais do que isso, pessoas que nunca na vida acordaram e foram dormir com a barriga roncando simplesmente porque: não tinham nada pra comer e nem dinheiro pra comprar alguma coisa pra comer, e isso um dia após o outro.

Tem muita gente nessa situação.
É muito triste presenciar uma situação dessas e ainda mais, viver uma situação dessas.


Mas, como escreveu o Eriadan, só olham pro próprio umbigo.
 
Vou adaptar um comentário que fiz em uma discussão no facebook semanas atrás, a partir de uma análise rasa e preconceituosa daquela jornalista do SBT Rachel Sheherazade por ocasião da boataria quanto ao fim do Bolsa Família:

Falando das políticas sociais dos governos petistas de modo geral, eu concordo que elas sejam uma máquina eleitoral votada à reprodução do mando político, sendo frequentemente pensadas como políticas de Governo e não de Estado e, portanto, imediatistas e, em alguns casos, paternalistas em sua proposta. Claro que não cabe jogar TODOS os programas sociais no mesmo saco. O Governo Federal mantém, por exemplo, programas de capacitação profissional como o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego, criado em 2011 e que precisa ainda ser expandido. Outros programas, como o Bolsa Escola, que têm como exigência que os pais mantenham seus filhos estudando e, com a relativa democratização do acesso ao Ensino Superior a que assistimos nos últimos anos, os mais pobres começam a ter acesso às universidades, o que aponta novos horizontes sociais para as famílias a médio prazo.

Para além do paternalismo, há uma dimensão fundamental a ser observada. Essas políticas são importantes para que, num país com disparidades regionais gritantes (basta comparar o IDH dos estados do centro-sul com os do norte e nordeste) e com alto índice de concentração de riquezas, o Estado possa promover alguma redistribuição de renda. É bom lembrar, e com certeza a jornalista do SBT sabe disso, que desde 2003, quando foi criado o programa em questão, até fins de 2011, quase 6 milhões de famílias haviam deixado de receber o Bolsa Família por motivos os mais diversos. Destas, estima-se que 40% não mais recebe o benefício por ter aumentado a sua renda, o que impediu o recadastramento, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Social até então não contestados.

E, por fim, eu acho que essa história de "não dar o peixe" e "ensinar a pescar" ignora um fenômeno social bastante complexo, que é o da marginalização. Há pessoas que são marginalizadas pela sociedade, pela polícia e pelo mercado, por carregarem em si os símbolos da pobreza. A violência como fenômeno sociológico surge justamente de situações históricas de injustiça social. As pessoas tendem a acreditar que não trabalha quem não quer... e que quem não trabalha é vagabundo, sem sequer considerar os espaços de sociabilidade em que se formaram essas pessoas que são sim responsabilidade do Estado. Responsabilidade social é isso. Felagund provavelmente vai querer me matar por ler isso mais uma vez, posto que eu sempre bato nessa tecla.

As pessoas pensam a realidade social como se fosse a fábula da cigarra e da formiga. É o contraste entre a formiga trabalhadora, cumpridora das suas obrigações, e a cigarra vagabunda que não trabalha porque não quer. Como se numa sociedade como a nossa, oportunidade fosse pra todos. A própria dinâmica do capitalismo engendra uma massa de excluídos. E isso não é ideologia. É economia política, é ciência social. A realidade é um tabuleiro muito mais complexo, com muito mais peças, muito mais variáveis a levar em conta. E formam-se assim consciências que achincalham a dignidade do pobre por receber um benefício do governo. A Marilena Chauí tem razão quando diz que a classe média é reacionária.

E se nós invertêssemos a balança? Porque assistencialismo pra pobre não pode. Mas e pra rico? O governo dá "bolsa-esmola", "bolsa-vagabundo", "bolsa-crack"? Mas e o "bolsa banqueiro", "bolsa empresário", "bolsa latifúndio". E a farra nas desonerações? O deputado Chico Alencar publicou um comentário outro dia em que dizia o seguinte:

"O Governo edita uma Medida Provisória e os deputados, carentes de legislar, vão incorporando emendas de todo tipo. Agora mesmo estamos votando a MP 601, em que o Governo desonerava 5 setores produtivos. Pelas emendas incorporadas pelo relator Armando Monteiro (Senador e grande empresário) esses ramos beneficiados passaram a 24. Isenta-se de Imposto de Renda até ganhos de estrangeiros em fundos de investimentos aqui e remessas ao exterior. Os recursos para a Previdência Social são diminuídos. A MP ficou cheia de jabutis! E já se sabe: jabuti em árvore foi enchente ou mão de gente...

O PSOL, como de hábito, resiste! Mas também como de costume devemos perder.

Quem perde com essa farra das desonerações é a população brasileira."

E assim desoneramos quem mais têm condições de contribuir. E sobre quem recai o ônus?
Eu tenho muitas críticas ao governo PT. Mas com relação às políticas sociais, com todos os problemas que têm, eu aplaudo.
E como se diz... eu acho é pouco!
 
Eu adoro ler os posts dos reacionários Classe Média Leite Com Pera Aterrorizada S/A. Tem cada coisa.

E um post que já vi algumas vezes na minha linha do tempo no Facebook.

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E duvido que quem compartilha essa imagem tenha alguma vez na vida precisado pegar numa enxada pra poder comer.
 
- Seria uma tragédia se o Brasil de hoje não tivesse a Bolsa Família. E será uma tragédia se, daqui a 20 anos, a gente continuar precisando da Bolsa Família. E a saída é a educação - discursou Cristovam [Buarque]

Acho que o programa é bom, mas esperava um pouco mais do artigo. A comparação com a Inglaterra foi interessante, mas pra legitimar o programa, acharia muito mais interessante encontrar mais impactos reais. É claro, a redução da mortalidade infantil é algo fantástico. Tipo, cade os impactos sobre a educação? Não sei se entendi errado, mas um dos pontos mais importantes do programa de transferência de renda brasileiros é estar vinculado à permanência escolar. Eu acredito que o resultado também seja positivo sobre a evasão escolar, mas faltou essa informação no artigo. Apesar dessa possível redução da evasão escolar, será que os resultados dos filhos de famílias beneficiadas também apresentaram melhoras? Há mais ou menos um ano surgiu também uma notícia sobre os impactos na redução da criminalidade, mas os números foram bem criticados em alguns bons artigos que li.

De qualquer forma, como já disse, eu acho que é um bom programa. Eu acho que a transferência de renda é algo necessário e há autores liberais que também defendem essa ideia, como Hayek e Friedman (embora a maioria dos liberais não goste de admitir isso, dizendo que havia conflito de interesse, já que os autores eram financiados pelos respectivos governos). Os critérios de justiça são bem difíceis de definir, mas acho que talvez um dos melhores seja a "igualdade de oportunidade" - e parece que o Bolsa Família tenta ir nessa direção. Apesar de tudo, eu tendo a concordar com a frase do Cristovam Buarque que coloquei no começo do post.

Os mais ricos já recebem bastante dinheiro sem trabalhar. Embolsam rendimentos de suas aplicações financeiras, aluguel de imóveis e tal. Acionistas de empresas recebem dinheiro sem trabalhar: os lucros. E herdeiros recebem dinheiro sem trabalhar, às vezes sem nunca ter trabalhado de verdade. Muitas crianças brasileiras felizardas já têm seus futuros assegurados, graças ao que construíram seus pais ou avós.

Essa sim é uma opinião reacionária. Credo, só faltou falar que devemos confiscar heranças, punir investidores no mercado financeiro e proprietários de imóveis. Ridículo, sinceramente.
 
Essa sim é uma opinião reacionária. Credo, só faltou falar que devemos confiscar heranças, punir investidores no mercado financeiro e proprietários de imóveis. Ridículo, sinceramente.
Pq reacionária Grinmir? :lol: Reacionário seria exatamente defender a inércia das relações sociais e econômicas, ou pior, tentar voltar ao liberalismo lá do século XIX.
Aliás, eu nunca entendi como liberais apoiam a herança, vejam bem: O liberais defendem que, de acordo com o esforço e a capacidade de cada indivíduo, o mercado o recompensará com sua devida parcela das riquezas produzidas pelo capitalismo, PORÉM, se alguém herda uma herança bilionária, como podemos dizer que esse indivíduo é merecedor de tal dinheiro, se ele mesmo nunca trabalhou, mas sim herdou tal fortuna? A herança é, essencialmente, contra a força da iniciativa pessoal dentro de uma lógica liberal. Se fosse para o liberalismo ser tão essencialmente meritocrático, então ninguém deveria herdar dinheiro daqueles que trabalharam independente dos laços de parentesco entre os mesmo.
 
No caso, eu usei a palavra no sentido de que é uma opinião "tirânica".

Acima de tudo, os liberais defendem que se o dinheiro é meu, eu faço o que desejar com ele. Não compete ao Estado decidir se os meus descendentes serão preguiçosos ou não por causa da herança. Esse é o primeiro argumento.

Se todos fossemos máquinas racionais, a decisão otimamente liberal seria cada um gastar a sua fortuna pessoal e pronto. Obviamente a alternativa de redistribuir a herança não seria sequer cogitada, né? Acontece que como seres humanos, desejamos não apenas ter descendentes, mas também queremos dar o melhor empurrão inicial para os nossos filhos (se quiser, pode até fazer uma analogia com a filosofia do "ensinar a pescar, ao invés de dar o peixe", citada sobre o assunto do Bolsa Família).

Você tem razão quando diz que a herança reduz a iniciativa pessoal, no entanto. Só que talvez esse efeito seja realmente dramático nos casos mais extremos (das grandes fortunas, cujos beneficiários representam uma pequena parcela da sociedade). Você poderia então dizer: Mas é justamente essa pequena parcela que detém grandes fortunas e isso é injusto. Bem, nesse caso eu recorro ao primeiro argumento do post: Isso é um problema da esfera privada e não pública.
 
Relacionar 'reação' com tirania. Haha, vai ser ótemo criar uns tópicos sobre política por aqui.
 
reacionário[De reação + -ário, seg. o padrão erudito.]

Adjetivo.

1. Relativo à, ou próprio da reação (5 e 6).
2. Que é sectário dela.
3. Aferrado à autoridade constituída; contrário à liberdade; tirano, despótico.

Não achei um mau uso da palavra, mas enfim. Não seja tão reacionário. :mrgreen:
 
Última edição:
Re: "Quem é contra o Bolsa Família ou é mal-intencionado, ou está mal-informado", por André Forastieri

1. Relativo à, ou próprio da reação (5 e 6).

Definição básica.

tirano, despótico.

Besteirol progressista.

Enfim, não é lugar pra se discutir isso.

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Não achei um mau uso da palavra, mas enfim. Não seja tão reacionário. :mrgreen:

:tongue:
 
No caso, eu usei a palavra no sentido de que é uma opinião "tirânica".

Acima de tudo, os liberais defendem que se o dinheiro é meu, eu faço o que desejar com ele. Não compete ao Estado decidir se os meus descendentes serão preguiçosos ou não por causa da herança. Esse é o primeiro argumento.

Se todos fossemos máquinas racionais, a decisão otimamente liberal seria cada um gastar a sua fortuna pessoal e pronto. Obviamente a alternativa de redistribuir a herança não seria sequer cogitada, né? Acontece que como seres humanos, desejamos não apenas ter descendentes, mas também queremos dar o melhor empurrão inicial para os nossos filhos (se quiser, pode até fazer uma analogia com a filosofia do "ensinar a pescar, ao invés de dar o peixe", citada sobre o assunto do Bolsa Família).

Você tem razão quando diz que a herança reduz a iniciativa pessoal, no entanto. Só que talvez esse efeito seja realmente dramático nos casos mais extremos (das grandes fortunas, cujos beneficiários representam uma pequena parcela da sociedade). Você poderia então dizer: Mas é justamente essa pequena parcela que detém grandes fortunas e isso é injusto. Bem, nesse caso eu recorro ao primeiro argumento do post: Isso é um problema da esfera privada e não pública.
Eu sempre entendi que a "herança" deveria ser dada em vida, como um bom estudo, viagens para aprender novas linguas, tempo de sobra para estudar ainda mais (afinal, se tem família rica nao precisa começar a trabalhar tão cedo) e esse seria o legado da familia e pronto, a herança em si não faria parte, pois ele já largou na frente dos outros na corrida pelas oportunidades graças a boa base financeira dele. Se além disso ele ainda tiver direito a herança... Bem, ai eu acho que realmente temos um dilema meritocrático dentro do liberalismo.
 
Eu sempre entendi que a "herança" deveria ser dada em vida, como um bom estudo, viagens para aprender novas linguas, tempo de sobra para estudar ainda mais (afinal, se tem família rica nao precisa começar a trabalhar tão cedo) e esse seria o legado da familia e pronto, a herança em si não faria parte, pois ele já largou na frente dos outros na corrida pelas oportunidades graças a boa base financeira dele. Se além disso ele ainda tiver direito a herança... Bem, ai eu acho que realmente temos um dilema meritocrático dentro do liberalismo.

Cara, eu acho que é básico para o pensamento liberal o seguinte princípio: Quem construiu um patrimônio, com base no mérito e de forma legal, tem o direito de escolher o que deseja fazer com ele. Assim sendo, como eu já falei, qualquer alternativa envolvendo redistribuição de heranças não faz sentido algum para o pensamento liberal. Se o beneficiado pela herança for um completo incompetente, em alguns anos todo o patrimônio poderá ser destruído. Por outro lado, se tiver mérito, vai multiplicar o patrimônio. Perguntar "o que ele fez pra merecer essa herança?" é quase a mesma coisa que perguntar "o que alguém fez pra merecer geneticamente algum tipo de habilidade/capacidade?". A resposta é "nada". Só que se a pessoa não tiver mérito, tanto a herança quanto a genética serão jogadas no lixo. Não sei se na sua opinião essa parece uma visão muito simplista do mundo, mas enfim. Eu concordo com você que existe um dilema bem forte para quem recebe a herança. Espera-se, no entanto, que os pais deixem não apenas para os seus filhos os valores financeiros, mas também os valores morais. Dessa forma, se os pais ensinaram essa visão liberal/meritocrática do mundo, então possivelmente os filhos não farão merda com o dinheiro.

Só uma observação, meio que tentando voltar pro tópico (embora eu goste desse assunto filosófico, Felagund): Eu também não acho que o Bolsa Família seja uma completa afronta à meritocracia não. O país com certeza está cheio de gente com elevadas "dotações intelectuais", mas que não tem os recursos para desenvolve-las. Se alguém que recebe essa transferência de renda consegue melhorar de vida, então é pq a meritocracia falou mais alto, né? Por outro lado, como disse Cristovam Buarque, se daqui há 20 aos ainda precisarmos do Bolsa Família, então é pq alguma coisa está errada.

Já falei sobre isso em outros tópicos, mas eu recomendo que vocês assistam a entrevista com o economista Walter Williams sobre políticas de livre mercado e ações afirmativas. Não estou dizendo que ele sabe de tudo, apenas que é uma entrevista interessante:

 
Última edição por um moderador:
Fátima Oliveira: Por que o Bolsa Família desperta tanto ódio de classe?

Eu não tinha a dimensão do ódio de classe contra o Bolsa Família. Supunha que era apenas uma birra de conservadores contra o PT e quem criticava o Bolsa Família o fazia por rancor de classe a Lula, ou algo do gênero, jamais por ser contra pobre matar a sua fome com dinheiro público.

Idiota ingenuidade a minha! A questão não é de autoria, mas de destinatário! Os críticos esquecem que a fome não é um problema pessoal de quem passa fome, mas um problema político. E Lula assumiu que o Brasil tem o dever de cuidar de sua gente quando ela não dá conta e enquanto não dá conta por si mesma. E Dilma honra o compromisso.

Estou exausta de tanto ouvir que não há mais empregada doméstica, babá, “meninas pra criar”, braços para a lavoura e as lidas das fazendas que não são agronegócios… E que a culpa é do Bolsa Família!

Conheço muita gente que está vendendo casas de campo, médias e pequenas propriedades rurais porque simplesmente não encontra “trabalhadores braçais” nem para capinar um pátio, quanto mais para manter a postos “um moleque de mandados”, como era o costume até há pouco tempo! E o fenômeno é creditado exclusivamente ao Bolsa Família.

Esquecem a penetração massiva do capitalismo no campo que emprega, ainda que pagando uma “merreca”, com garantias trabalhistas, em serviços menos duros do que ficar 24 horas por dia à disposição dos “mandados” da casa-grande, que raramente “assina carteira”. Eis a verdade!

Esquecem que a população rural no Brasil hoje é escassa. Dados do IBGE de setembro de 2012: a população residente rural é 15% da população total do país: 195,24 milhões.

Não há muitos braços disponíveis no campo, muito menos sobrando e clamando por um prato de comida, gente disposta a alugar sua força de trabalho por qualquer tostão, num regime de quase escravidão, além do que há outras ocupações com salários e condições trabalhistas mais atraentes do que capinar, “trabalhar de aluguel”, que em geral nem dá para comprar o “dicumê”. Dados de 2009 já informavam que 44,7% dos moradores na zona rural auferiam renda de atividades não agrícolas!

Basta juntar três pessoas de classe média que as críticas negativas ao Bolsa Família brotam como cogumelos. Após a boataria de 18 de maio, que o Bolsa Família seria extinto, esse assunto se tornou obrigatório. Fazem questão de ignorar que ele é o maior e mais importante programa antipobreza do mundo e foi copiado por 40 países – é uma “transferência condicional de renda” que objetiva combater a pobreza existente e quebrar o seu ciclo.

Atualmente, ajuda 50 milhões de brasileiros: mais de 1/4 do povo! E investe apenas 0,8% do PIB! Sem tal dinheiro, mais de 1/4 da população brasileira ainda estaria passando fome!

Mas há gente sem repertório humanitário, como as que escreveram dois tuítes que recebi: “Nunca vi tanta gente nutrida nas filas dos caixas eletrônicos para receber o Bolsa Família, até parecia fila para fazer cirurgia bariátrica”; e “Eu também nunca havia visto tanta gente rechonchuda reunida para sugar a bolsa-voto!”.

Como disse a minha personagem dona Lô: “Coisa de gente má que nunca soube o que é comer pastel de imaginação; quem pensa assim integra as hostes da campanha Cansei de Sustentar Vagabundo, que circulou nas eleições presidenciais de 2010”. São evidências de que há gente que não se importa e até gosta de viver num mundo em que, como escreveu Josué de Castro, em Geografia da Fome (1984): “Metade da humanidade não come e a outra não dorme com medo da que não come…”.

Fonte

Interessante esse texto porque tracta de um assunto muito negligenciado nessas discussões, que é oda situação do trabalhador rural.
 
Quem reclama do bolsa família é quem tem preguiça de pesquisar, e repete o que é falado.
E outra coisa, Bolsa família não é motivo de não investimento ou de alto impostos, isso é culpa de uma administração ruim e gastona histórica brasileira.
Fico muito mais puto com os 39 ministérios pouco eficientes.

No mais, tem deputado também que regaça com tudo, pois usa o nome Bolsa para criar programas idiotas para tentar fazer um nomezinho no cenário político, e lógico que muita gente aproveita disso.
 
Perfeito o texto.
E o trecho:

São evidências de que há gente que não se importa e até gosta de viver num mundo em que, como escreveu Josué de Castro, em Geografia da Fome (1984): “Metade da humanidade não come e a outra não dorme com medo da que não come…”.
Isso é mais comum do que se imagina.
Basta ouvir/ler as coisas que gente como Alexandre Garcia e Danusa Leão, por exemplo, escrevem e falam por aí.

São pessoas que, feito uns jecas na cidade grande, pagam pau para os países estrangeiros (“de primeiro mundo”, como eles adoram falar) mas quando é pra implantar algum melhoramento para os menos favorecidos (como a nova lei dos empregados domésticos) aí não! É um absurdo porque “o brasileiro” é folgado, ninguém vai querer saber de trabalhar e outras coisas assim, puramente preconceituosas e retrógradas.

Fica a impressão muito forte de que, pra essas pessoas o fim da escravatura foi um erro. :tsc:
 

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