[F*U*S*A*|KåMµ§]
Who will define me?
Recebi recentemente um email de um colega sobre uma coluna da Folha de São Paulo. A coluna foi escrita por Marcelo Knobel criticando uma declaração em uma entrevista vinculada pela própria Folha com o ministro do STF Carlos Ayres Britto.
Entrevista: A vida começa aos 70
Coluna: Abuso quântico e pseudociência
E aí eu lembrei de um dos momentos mais revoltantes da minha vida de cinéfilo, que foi ouvir falar e depois assistir o "documentário" chamado "What the Bleep Do We Know" ("Quem Somos Nós" aqui no Brasil).
Wikipedia
Depois lembrei que já recebi de colegas de carreira emails e posts no facebook sobre como charlatões se utilizam do "modismo quântico" (que não é de hoje, mas voltou forte com o "modismo nano") para se darem bem.
Terapia Quântica
Clínica Médica Quantica
Por muito tempo todos levávamos na brincadeira, mas quando paramos pra pensar que tem gente safada ganhando a vida em cima de pessoas ingênuas e ignorantes no assunto, aí fica difícil não ficar revoltado.
O segundo site que postei ali está fora do ar. Na época nós realizamos algumas ligações questionando o médico sobre a filosofia e as explicações completamente erradas sobre física básica que era apresentado no site (como separar 4 forças da natureza como: magnética, elétrica, eletromagnética e gravidade. !WTF!). Não fomos além, mas torço eu para que outras pessoas mais ativas tenham denunciado fortemente essa clínica e esta ser a razão do site estar fora do ar.
Eu acho que está na hora de mais colunas desse tipo serem publicadas em jornais e revistas de alta circulação (não apenas em algumas revistas científicas que não atingem o grande público) para alertar a maior parte das pessoas a não serem convencidas por esse tipo de gente.
E acredito que, assim como os físicos se corroem pelos argumentos de física sendo totalmente distorcidos, os médicos (de verdade), biólogos, químicos, etc, devem ter exemplos similares. Apesar do carro chefe de algumas dessas "teorias" serem o caráter estatístico da quântica, certamente eles não devem parar por aí e distorcerem outras áreas da ciência.
PS: Não estou criticando a filosofia desses livros/filmes de auto-ajuda. Se funciona ou não funciona, vai de cada um decidir pra si próprio. A questão é utilizar de argumentos ERRADOS para fazer valer suas idéias.
Normalmente quando eu vejo que alguém está deliberadamente se utilizando de argumentos errados pra validar sua idéia (e ganhar dinheiro com isso), eu tendo a não crer no restante de sua idéia pois isso denota mal-caratismo.
PPS: Além de provavelmente não ser válida teorias baseadas em alguns argumentos interpretados de forma totalmente errônea, ainda por cima contribui para a difusão de informação falsa por entre leigos. Realmente uma pena que a teoria quântica, a nanotecnologia e afins sejam tão equivocadamente vistas por essas pessoas (tanto as enganadoras quanto as enganadas). São áreas tão bonitas quando entendidas mais seriamente e rigorosamente.
Entrevista: A vida começa aos 70
Carlos Ayres Britto disse:Eu recebi influências positivas, de, por exemplo, [Jiddu] Krishnamurti [1895-1986, guru indiano], Osho [Rajneesh, 1931-90, místico indiano], Eva Pierrakos [1915-79, médium austríaca], Eckhart Tolle [pseudônimo de Urich Leonard Tolle, escritor espiritualista nascido em 1948], autor do livro "O Poder do Agora", e a pessoa que mais me influenciou, Heráclito [de Éfeso, c. 540-c. 480 a.C., pré-socrático que elegeu o fogo e a permanente transformação como princípio da ordem universal].
Depois, de uns 12 anos para cá, comecei a me interessar por física quântica, e ela me pareceu uma confirmação de tudo o que os espiritualistas afirmam. A física quântica, sobretudo os escritos de Dannah Zohar [especializada em aconselhamento espiritual e profissional]. Venho lendo os livros dessa mulher, uma americana que escreveu uma trilogia maravilhosa: "O Ser Quântico", "A Sociedade Quântica" e "QS - Inteligência Espiritual". Também passei a me interessar muito por neurociência.
Carlos Ayres Britto disse:Assim como o dançarino, que se disponibiliza de corpo e alma para a dança -chega o momento em que se funde com ela, e você já não sabe quem é o dançarino e quem é a dança, é uma coisa só-, o intérprete do dispositivo jurídico pode, também, numa relação de profunda identidade e empatia, se fundir com esse dispositivo. Aí você compõe uma unidade. Você é um com o dispositivo, e o dispositivo é um com você.
E isso não é invencionice, decola de um juízo de Einstein, que em 1905, físico quântico que era, cunhou uma expressão célebre: "efeito do observador". Ele percebeu que o observador desencadeava reações no objeto observado.
Ele disse que o sujeito cognoscente, em alguma medida, faz o objeto cognoscível, a depender do grau da intensidade interacional entre eles. Claro que quando você joga teoria quântica para a teoria jurídica, se expõe a uma crítica mordaz. O sujeito diz: "Mas isso não é ciência jurídica".
Coluna: Abuso quântico e pseudociência
Marcelo Knobel disse:Em entrevista recente à Folha, o recém-aposentado ministro do Supremo Tribunal Federal, Carlos Ayres Britto, afirmou que sua visão espiritualista de mundo seria confirmada pela física quântica, citando diversos autores, entre os quais Einstein ("A vida começa aos 70", em 18 de novembro).
Cito dois trechos:
1) "Depois, de uns 12 anos para cá, comecei a me interessar por física quântica, e ela me pareceu uma confirmação de tudo o que os espiritualistas afirmam. A física quântica, sobretudo os escritos de Dannah Zohar [especializada em aconselhamento espiritual e profissional]."
2) "Einstein, físico quântico que era, cunhou uma expressão célebre: 'efeito do observador'. Ele percebeu que o observador desencadeava reações no objeto observado. (...) Claro que quando você joga teoria quântica para a teoria jurídica, se expõe a uma crítica mordaz. O sujeito diz: "Mas isso não é ciência jurídica'."
Na verdade, a fascinante física quântica aplica-se somente a sistemas físicos na escala atômica, jamais a questões profissionais ou jurídicas. As analogias podem ser exercícios criativos ou poéticos até interessantes, mas não passam disso.
Ao buscar a palavra "quantum" em qualquer livraria virtual, é assombroso notar que a maioria das obras listadas refere-se a supostas explicações quânticas dos mais diversos aspectos da vida -da memória à cura de enfermidades, passando pelo sucesso no amor e na carreira.
Como físico, acredito em coisas incríveis, como entes que são ondas e partículas simultaneamente, universos multidimensionais, tempos e comprimentos que dependem da velocidade do objeto, estruturas nanoscópicas que podem atravessar verdadeiras paredes e muitos outros fenômenos que certamente não são nada intuitivos e continuam sendo impressionantes, mesmo após anos e anos de estudo.
Mas em ciência o importante é que as teorias sejam comprovadas seguindo critérios rígidos, metodologias adequadas e publicadas em periódicos de circulação internacional, para que outros pesquisadores possam tentar repetir os experimentos e modelos, verificando possíveis falhas e buscando explicações alternativas, com certo ceticismo. Não é o caso das ideias citadas pelo ministro.
Ocorre que, diariamente, somos inundados por inúmeras promessas de curas milagrosas, métodos de leitura ultrarrápidos, dietas infalíveis, riqueza sem esforço. A grande maioria desses milagres cotidianos são vestidos com alguma roupagem científica: linguagem um pouco mais rebuscada, aparente comprovação experimental, depoimentos de pesquisadores "renomados", alardeado acolhimento em grandes universidades. São casos típicos do que se costuma definir como pseudociência.
A maioria das pessoas vive perfeitamente bem sem saber diferenciar ciência de pseudociência. Mais cedo ou mais tarde, porém, em alguns momentos da vida esse conhecimento pode ser muito importante. Seja para decidir um tratamento médico, seja para analisar criticamente algum boato, seja para se posicionar frente a alguma decisão importante que certamente influenciará a vida de seus filhos e netos.
A sociedade como um todo deve assimilar a cultura científica. É importante a participação de instituições, grupos de interesse e processos coletivos estruturados em torno de sistemas de comunicação e difusão social da ciência, participação dos cidadãos e mecanismos de avaliação social da ciência.
Em uma sociedade onde a ciência e a tecnologia são agentes de mudanças econômicas e sociais, o analfabetismo científico, seja de quem for, pode ser um fator crucial para determinar decisões que afetarão nosso bem-estar social.
É impossível tomar uma decisão consciente se não se tem um mínimo de entendimento sobre ciência e tecnologia, como funcionam e como podem afetar nossas vidas.
MARCELO KNOBEL, 44, físico, é professor do Instituto de Física Gleb Wataghin e pró-reitor de graduação da Unicamp
E aí eu lembrei de um dos momentos mais revoltantes da minha vida de cinéfilo, que foi ouvir falar e depois assistir o "documentário" chamado "What the Bleep Do We Know" ("Quem Somos Nós" aqui no Brasil).
Wikipedia
Depois lembrei que já recebi de colegas de carreira emails e posts no facebook sobre como charlatões se utilizam do "modismo quântico" (que não é de hoje, mas voltou forte com o "modismo nano") para se darem bem.
Terapia Quântica
Clínica Médica Quantica
Por muito tempo todos levávamos na brincadeira, mas quando paramos pra pensar que tem gente safada ganhando a vida em cima de pessoas ingênuas e ignorantes no assunto, aí fica difícil não ficar revoltado.
O segundo site que postei ali está fora do ar. Na época nós realizamos algumas ligações questionando o médico sobre a filosofia e as explicações completamente erradas sobre física básica que era apresentado no site (como separar 4 forças da natureza como: magnética, elétrica, eletromagnética e gravidade. !WTF!). Não fomos além, mas torço eu para que outras pessoas mais ativas tenham denunciado fortemente essa clínica e esta ser a razão do site estar fora do ar.
Eu acho que está na hora de mais colunas desse tipo serem publicadas em jornais e revistas de alta circulação (não apenas em algumas revistas científicas que não atingem o grande público) para alertar a maior parte das pessoas a não serem convencidas por esse tipo de gente.
E acredito que, assim como os físicos se corroem pelos argumentos de física sendo totalmente distorcidos, os médicos (de verdade), biólogos, químicos, etc, devem ter exemplos similares. Apesar do carro chefe de algumas dessas "teorias" serem o caráter estatístico da quântica, certamente eles não devem parar por aí e distorcerem outras áreas da ciência.
PS: Não estou criticando a filosofia desses livros/filmes de auto-ajuda. Se funciona ou não funciona, vai de cada um decidir pra si próprio. A questão é utilizar de argumentos ERRADOS para fazer valer suas idéias.
Normalmente quando eu vejo que alguém está deliberadamente se utilizando de argumentos errados pra validar sua idéia (e ganhar dinheiro com isso), eu tendo a não crer no restante de sua idéia pois isso denota mal-caratismo.
PPS: Além de provavelmente não ser válida teorias baseadas em alguns argumentos interpretados de forma totalmente errônea, ainda por cima contribui para a difusão de informação falsa por entre leigos. Realmente uma pena que a teoria quântica, a nanotecnologia e afins sejam tão equivocadamente vistas por essas pessoas (tanto as enganadoras quanto as enganadas). São áreas tão bonitas quando entendidas mais seriamente e rigorosamente.
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