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Infinite Jest, David Foster Wallace

Problema do tradutor, ora. Se não der para manter 100% do sentido, mantenham-se 90%, 80%... Manter no original é, para mim, de todas as opções, a mais covarde e a mais imbecil. Covarde porque o tradutor se exime de uma escolha, foge ao desafio que ele mesmo se propôs ao traduzir a obra - e eu não vejo lógica em se eximir dessa escolha apenas no título; e imbecil porque, não querendo perder parte do sentido, perde-o inteiramente para o grande público. O livro está a ser editado para o mercado brasileiro, onde se fala uma única língua: português. Manter o título em inglês seria um desrespeito ao público que, além de não saber inglês (de um modo geral) certamente não saberá que ele faz referência a Shakespeare, etc. Ou seja: cadê a coerência? cadê a atração? Que sentido se dará ao título? Vocês que sabem tudo do autor darão um baita sentido, mas para vocês que diferença então faz que se traduza?
Donaldo Schüller não se acovardou ao traduzir o "Finnegans Wake"; aliás, os poetas deparam-se a cada verso com o dilema de cortar parte do sentido para caber em X sílabas.
E sempre fica aquela perguntinha que não quer calar e para a qual ninguém deu uma resposta satisfatória: por que deveríamos ser condescendentes apenas com os títulos em inglês? Por que não aceitamos então que publiquem livros com títulos originais em russo, finlandês, tailandês, etc.? É porque nós, que defendemos esse disparate, nos "garantimos" nessa língua estrangeira. O resto que se dane e vá aprender. É uma postura extremamente egoísta.
 
Calma, calma. É um risco. Se for o caso de ficar ruim, eu prego pelo original sim. Quanto a referência a Shakespeare, isso pode ficar nas notas de tradução. Como em Coração tão branco.
 
Estou calminho. :hihihi:
Mas o ficar ruim é beeem subjetivo (especialmente se a pessoa já está propensa a achar ridículo), ao passo que traduzir sempre, todo e qualquer título, é uma postura objetiva e coerente.
Todos os livros do mercado são traduzidos, diariamente, e ninguém fica lá procurando o nome original na contracapa para ver se fizeram direitinho o trabalho.
A sua relação com o "Infinite Jest" é diferente porque você curte o autor. Só isso.


Eu tenho esperanças de que o Galindo não vá cometer um absurdo desses.
 
...Mesmo porque, nós estamos propondo traduzir o título literalmente. Mas, de acordo com o contexto do livro, essa ou aqueloutra solução pode ser sempre uma saída... Como o "Graça Infinita" de contextos religiosos-profanos que a Izze disse (não digo que esse seja o caso do livro; estou apenas apontando correlações possíveis).

Afinal de contas, nós não podemos apenas pegar esse trecho da fala do Hamlet. A palavra "jest" aparece mais vezes na peça... Na mesma cena, o primeiro coveiro, um pouco antes da já citada fala do Hamlet, diz: This same skull, sir, was Yorick's skull, the king's jester.

No ato III, cena I, Claudius pergunta: "Have you heard the argument? Is there no offence in 't?", e Hamlet responde: "No, no, they do but jest, poison in jest; no offence i' the world.". Um pouco mais na frente, no mesmo ato, cena II, o Hamlet faz uma referência que comumente é ligada a essa do Yorick: "And let those that play your [referindo-se aos atores] clowns speak no more than is set down for them."

E isso só no caso de Hamlet, onde a referência é mais explícita. Em King Lear, ato V, cena III, você tem a Reagan dizendo: "Jesters do oft prove prophets." Em Romeo and Juliet, ato II, cena IV, o Mercúrio diz: "Sure wit, follow me this jest now till thou hast worn out thy pump, that when the single sole of it is worn, the jest may remain, after the wearing solely singular.", no que o Romeu responde: "O single-soled jest, solely singular for the singleness." Em King Henry V, ato I, cena II, Henry diz: "His jest will savour but of shallow wit".

Enfim.
 
O problema é justamente que Infinite Jest, o título, foi apenas retirado como homenagem/fetiche/seiláoque. Ou seja, não precisaria levar em questão na sua tradução o Shakespeare's Thing.

Como é um produto de entretenimento, Graça daria sim uma aura (ahn ahn) religiosa. Teria que ser algo que prende e ao mesmo tempo denuncia algo irrelevante como: Galhofa Infinita - ficaria irônico, não? Sim, traduzir título é legal e tudo mais. Mas a escolha para o termo Jest vai dar todo o tom de como o livro poderá ser recebido

Galhofa, Piada, Gracejo, Palhaçada (eu acho essa uma ótima opção, sério)
 
Bobeira Infinita! \o/

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Enfim, gostei do "Infinita Alegria" proposto pelo Gigio. Acho que fica bem pro livro. E, na real, alguns títulos parecem toscões, e eventualmente gerações a frente parecem fodinhas ou parece bizarro pensar outro título. Imagino amigos reclamando via telegrama quando traduziram "The Godfather" para "O Poderoso Chefão".
 
The Powerpuff Boss!!!

Vamos pressionar o Caetano para falar logo o título no twitter. OU OU OU MEU DEUS TIVE UMA IDEIA.
 
E vamos em busca de um dicionário de sinônimos, google tradutor, gírias e o escambau.

Zoeira sem fim , Ilimitada Anétoda, Piada
 
Menos mal que ele não esteja cogitando manter o original, apesar de ter achado a ideia interessante (wtf!). :sim:
 
Eu acho que ele só cogita, porque em Portugal ficou A piada infinita.

De qualquer forma, se o editor dele for o Conti mesmo, será traduzido, creio eu.
 
Caetano soltou no twitter que está: "Poor Tony Krause sat on the insulated toilet in the domesticated stall all day and night, alternately swilling and gushing. He held his high heels up at !9OOh. when the library staff checked the stalls and turned off all the lights and left Poor Tony in a darkness within darkness so utter he had no idea where his own limbs were or went. He left that stall maybe once every two days, scampering madly to Brooks in cast-off shades and a kind of hood or shawl made pathetically of brown men's-room paper towels." lá pra página 298
 
Estava lendo agora, pela segunda vez, e ele não perde o tato nem escrevendo sobre a morte da mãe. =/
 
OK. Eu não aguentei :lol:

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Nah, nah, nah... não me venha o Sr. Galindo com invencionices. Autor é autor, tradutor é tradutor, editor é editor. Apoio notas a mais, mas tudo preto no branco. Wallace mandaria bilhete muito malcriado pro seu Galindo if he would've fucked with the mechanics of the book.

From: David Wallace
To: Joel Lovell, Harper's [redacted] (Office [redacted])
This is pretty much the best I can do, I think. I feel shitty sticking a lot of what you wanted in FN’s, but I didn’t see any work to work it into the main text w/o having to rewrite whole ¶s and throw the thing’s Styrofoamish weight off.
The deal is this. You’re welcome to this for READINGS if you wish. What I’d ask is that you (or Ms. Rosenbush, whom I respect but fear) not copyedit this like a freshman essay. Idiosyncracies of ital, punctuation, and syntax ("stuff," "lightbulb" as one word, "i.e."/"e.g." without commas after, the colon 4 words after ellipses at the end, etc.) need to be stetted. (A big reason for this is that I want to preserve an oralish, out-loud feel to the remarks so as to protect me from people’s ire at stuff that isn’t expanded on more; for you, the big reason is that I’m not especially psyched to have this run at all, much less to take a blue-skyed 75-degree afternoon futzing with it to bring it into line with your specs, and you should feel obliged and borderline guilty, and I will find a way to harm you or cause you suffering* if you fuck with the mechanics of this piece.)
Let Me Know,
Dave Wallace
* (It may take years for the oportunity to arise. I'm very patient. Think of me as a spider with a phenomenal emotional memory. Ask Charis.)
 
Última edição:
entrevista com o caetano sobre a tradução:

CONTINENTE Uma das questões que você pôs em evidência no blog foi o título. Um boa tradução do título é importante para cativar os leitores ou David Foster Wallace já tem nome pra fazer as vendas da edição?
CAETANO GALINDO Nem sei se a questão é essa. Um editor que se dispõe a lançar um livro com esse grau de abrangência, pretensão, dificuldade, provavelmente sabe muito bem que não é o lucro financeiro direto que vai salvar o dia. É um projeto pra editoras sérias, que querem investir no peso do acervo, na lista de autores, na respeitabilidade. Não acredito que o livro vá vender demais. Mas, ao mesmo tempo, Os detetives selvagens, de Roberto Bolaño, parece que vendeu bem e o Ulysses, de James Joyce, também. Eu não entendo nada mesmo disso, pra que que eu vou dar palpite então? Mas o título sempre influencia. Por isso que eu nunca reclamo que a decisão final do título seja mais editorial que tradutória.

CONTINENTE David Foster Wallace é pouco traduzido por aqui. Que outras obras você acha que deveriam seguir à tradução do Infinite jest?
CAETANO GALINDO Breves entrevistas... já foi lançado pela mesma Companhia das Letras, em tradução do José Rubens Siqueira. Agora tem esse volume de ensaios com tradução dos “Danieis”, Galera e Pellizzari. Claro que ainda é pouco. A ideia da editora é fazer esse Infinite jest e, na sequência – o contrato já foi assinado – o Pale King também. Oblivion, o último livro que ele publicou em vida, é simplesmente sublime. Quem sabe fica esse para o futuro...

CONTINENTE Tu pode explicar um pouco a imersão no personagem David Foster Wallace? Porque traduzir não é só converter as palavras, mas fazer transparecer o estilo. O que você precisa saber dele pra traduzir o texto?
CAETANO GALINDO A minha sorte é que quando sentei pra traduzir Infinite jest, eu já tinha lido tudo o que ele escreveu. E relido boa parte. Já tinha estudado a técnica dele sozinho e em conversas com amigos – os “Danieis”, o André Conti... –, já tinha dado aulas sobre ele – uma disciplina só sobre o escritor e quatro disciplinas de tradução baseadas na análise de um conto dele. Eu sabia onde estava pisando. O “estilo” ou “os estilos” David Foster Wallace me saem com alguma facilidade. Eu tenho uma bela familiaridade com as excentricidades, as obsessões e as características dele.

CONTINENTE Mas o que principalmente te atrai nele?
CAETANO GALINDO Tem a coisa técnica, de estrutura geral da narrativa. Tem a prosa, uma estranha mistura de oralidade e todo tipo de registro, num fluxo que funciona às mil maravilhas, mas que, se observada sob a perspectiva da análise sintática tradicional, por exemplo, muitas vezes é toda “errada”. E tem o interesse humano. Às vezes, me parece que ler David Foster Wallace é menos como ler Joyce – que é a comparação que sempre surge – do que como ler Thomas Mann, Tolstoi... Você lê – entre outras razões – pra saber o que ele pensava de certas coisas. A postura humana e ética dele é extremamente interessante. Me mudou como pessoa, pra sempre.

CONTINENTE Você tem medo de soltar muitos detalhes do enredo no blog ou faz parte do esquema?
CAETANO GALINDO Não há assim tantos “segredos”. O livro é – nesse sentido, de trama – muito mais uma questão de “como” que de “o quê”. Mas eu me seguro sim. Eu sou um leitor tradicional. Odeio que me contem coisas que eu não precisava saber.

CONTINENTE Pra quando você prevê o final da tradução? Tem deadline? Como você encaixa o trabalho de tradutor com as outras atividades? Tem meta diária?
CAETANO GALINDO Devo – nos dois sentidos – entregar até junho/julho. Como que eu encaixo? Ora, quando dá. Posso passar duas, três semanas, sem tocar no livro – em período de provas na universidade, de defesa de orientando, quando estou fechando algum texto meu pra publicação em revistas acadêmicas ou, agora, por exemplo, porque sou membro da banca de seleção para o mestrado em estudos literários. No entanto, tenho metas mensais. Até setembro eu estava adiantado, o que me garantiu o fechamento de outubro. Novembro, a não ser que eu alopre totalmente na semana que vem, deve dar atraso.

CONTINENTE Esse é o segundo catatau que você traduz. Depois de muito tempo trabalhando em cima de Ulysses, qual foi o sentimento de vê-lo saindo das suas mãos – de alívio ou de pai que não quer ver o filho ir embora? Acha que vai acontecer algo assim com o Infinite jestou é menos intenso?
CAETANO GALINDO O Ulysses foi uma incrível satisfação. Chorei, mesmo, quando mandei o email com o texto final. Chorei quando o livro chegou. Mas feliz. Sempre. Foram dez anos de trabalho, ali. Infinite jest vai ser um alívio diferente. De não ter ficado louco, de ter dado conta do prazo.

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