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Artigo científico defende como moralmente aceitável matar um recém-nascido

Haleth

Sweet dreams
Sério, estou em choque ao cubo com esse artigo. Saiu no Público, e lá tem link pro tal artigo científico. Me belisquem porque eu acho que acordei no mundo errado. (Mudei o verbo no título do post porque o título da matéria original está pouco preciso)

Artigo científico defende como moralmente aceitável a morte de um recém-nascido

Um artigo publicado na última semana de Fevereiro pelo Journal of Medical Ethics defende que deveria ser permitido matar um recém-nascido nos casos em que a legislação também permite o aborto. A polémica segue em crescendo. A autora do texto já recebeu ameaças de morte.


O artigo em causa (clique aqui para a versão html , ou aqui para descarregar uma versão pdf, ambas em inglês), aceite por aquela publicação científica ligada ao British Medical Journal intitula-se “After-birth abortion: why should the baby live?”, que se poderia traduzir como “Aborto pós-parto: por que deve o bebé viver?”. É assinado por Francesca Minerva, formada em Filosofia pela Universidade de Pisa (Itália) com uma dissertação sobre Bioética, que se doutorou há dois anos em Bolonha e é uma investigadora associada da Universidade de Oxford, em Inglaterra. A sua polémica tese é a de que o “aborto pós-nascimento” (matar um recém-nascido”) deve ser permitido em todos aqueles casos em que o aborto também é, incluindo nas situações em que o recém-nascido não é portador de deficiência”.

Esta ideia – entendida pelos leitores mais críticos do artigo como um apelo à legalização do infanticídio – é a conclusão de um debate moral que a autora, em conjunto com outro investigador que co-assina o artigo – Alberto Giubilini –, tentam fazer partindo de três princípios: 1) “o feto e um recém-nascido não têm o mesmo estatuto moral das pessoas”; 2) “é moralmente irrelevante o facto de feto e recém-nascido serem pessoas em potência”; 3) “a adopção nem sempre é no melhor interesse das pessoas”.

Os autores sustentam, assim, que matar um bebé nos primeiros dias não é muito diferente de fazer um aborto, concluindo (ao contrário dos movimentos pró-vida) que desse modo seria moralmente legítimo ou deveria ser aceite que se matasse um recém-nascido, mesmo que este seja saudável, desde que a mãe declare que não pode tomar conta dele.

Face à polémica que se gerou em torno desta leitura, o editor do jornal veio a público defender a publicação do texto, com o argumento de que a função do jornal é a de apresentar argumentos bem sustentados e não a de promover uma ou outra corrente de opinião. Porém, outros cientistas e pares de Francesca Minerva qualificam a tese do artigo como a “defesa desumana da destruição de crianças”.

“Como editor, quero defender a publicação deste artigo”, afirma Julian Savulescu, num texto que pode ser consultado online. “Os argumentos apresentados não são, na maioria, novos e têm sido repetidamente apresentados pela literatura científica por alguns dos mais eminentes filósofos e peritos em bioética do mundo, incluindo Peter Singer, Michael Tooley e John Harris, em defesa do infanticídio, que estes autores denominam como aborto pós-nascimento”, escreve Savulesco.

As reacções viscerais ao artigo incluem ameaças de morte endereçadas à autora, que admitiu que os dias seguintes à publicação e divulgação do artigo foram “os piores” da sua vida. Entre as mensagens que lhe foram enviadas, há quem lhe deseja que “arda no inferno”.

“O que é mais perturbador não são os argumentos deste artigo, nem a sua publicação num jornal sobre ética. O que perturba é a resposta hostil, abusiva e ameaçadora que desencadeou. Mais do que nunca a discussão académica e a liberdade de debate estão sob ameaça de fanáticos que se opõem aos valores de uma sociedade livre”, sublinha o editor.

O artigo afirma que, tal como uma criança por nascer, um recém-nascido ainda não desenvolveu esperanças, objectivos e sonhos e, por essa razão, apesar de constituir um ser humano, não é ainda uma pessoa – ou alguém com o direito moral à vida. Pelo contrário, os pais, os irmãos e a sociedade têm metas e planos que podem ser condicionados pela chegada de uma criança e os seus interesses devem vir primeiro.
 
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Uma reticencias por cada vez que comecei a pensar no que dizer e parei...

É assinado por Francesca Minerva, formada em Filosofia pela Universidade de Pisa (Itália) com uma dissertação sobre Bioética, que se doutorou há dois anos em Bolonha
Bom, no imperio romano, os bebes não eram considerados pessoas e podiam ser mortos...
Me parece uma tentativa de trazer essa tradição de volta...

Manu M. disse:
O artigo afirma que, tal como uma criança por nascer, um recém-nascido ainda não desenvolveu esperanças, objectivos e sonhos e, por essa razão, apesar de constituir um ser humano, não é ainda uma pessoa – ou alguém com o direito moral à vida.
Curioso, alguém só tem direito a vida depois que absorve os primeiros conceitos da sociedade?
Parece que eles estão tentando empregar o "penso, logo existo". E, se o bebê não consegue expressar suas vontades direito, ele não pensa, né? ¬ ¬
 
Ainda vou ler a matéria.
Mas achei interessante como as pessoas se horrorizam com a sugestão da autora, mas acham normal ameaçá-la de morte. HUhuahauhua.
:rofl:


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Lida.
Só não concordo com aquela parte de matar o bebê mesmo que seja perfeitamente saudável.
Tipo, eu até entendo a lógica, mas é tenso, né?

E não vejo nenhuma razão para tanto bafafá; a mulher é livre para exprimir suas ideias, e nós somos livres para não concordar com elas.
É só um artigo científico. Se fosse, digamos, um projeto de lei, daí eu entenderia reações mais coléricas como essas noticiadas.
 
A pessoa escreve um artigo científico devidamente argumentado, e vem gente fazer bafafá com o melhor argumento sendo ameaçar a autora de morte? Realmente, eu tenho medo desse mundo. Leis pró-infanticídio são uma realidade beeeem distante e só pouquissímos extremistas acreditam nisso. Mas e como é que se vai discutir aborto no início da gestação num país como o Brasil, por exemplo, se o nível da discussão vai por aí?
 
Mel, me desculpe, mas o melhor argumento não foi ameaçar a autora de morte. Não deixe o mau jornalismo te deixar com má impressão. Nenhuma fonte contrária à autora foi consultada, apenas o "conhecimento geral", que em termos valorativos no jornalismo significa "ninguém", rs. Generalização é péssima por si só, no jornalismo então, nem se fala.

Mas acabei ficando com gastura de falar do assunto. Não é caso pra apologias à censura, cada um fala o que pensa e depois que se aguente com o peso das próprias palavras. Eu cá sei o que digo, e pra já só sei dizer que estou perplexa pelo fato de um pensamento desse naipe [matar a criança depois de nascida] ser cogitado. E não o bastante, ele ainda vem devidamente estruturado e exposto cientificamente, quer dizer, uma pessoa gastou meses de estudo pensando, criando argumentos e amadurecendo a ideia de que não há problema moral algum em matar um recém-nascido?

Não consegui te acompanhar com "leis pró-infanticídio são uma realidade beeeem distante". Eu sei que essa pesquisa não é projeto de lei, mas toda mudança moral no meio de uma sociedade tem seu começo. E não consigo entender a argumentação filosófica da pesquisadora como um elemento anti-infanticídio. Por mim, esse tipo de pensamento não deveria ser nem próximo nem distante, tinha que ser inexistente mesmo.
 
...E se o artigo científico virar projeto de lei? O legislador poderá embasar seu projeto no artigo em questão. Corre-se o risco . Vamos ter que lotar as tribunas com faixas e cartazes com os dizeres “Direito a vida desde a mais tenra idade”. Ameaçar a autora de morte não seria coerente por parte de quem defende o direito a vida. A humanidade e suas contradições.
 
As reacções viscerais ao artigo incluem ameaças de morte endereçadas à autora, que admitiu que os dias seguintes à publicação e divulgação do artigo foram “os piores” da sua vida. Entre as mensagens que lhe foram enviadas, há quem lhe deseja que “arda no inferno”.

Ah, por favor, né?
A mulher publica um trabalho desse e esperava o que?, que a maioria das pessoas lesse, colocasse o polegar e o indicador no queixo e dissesse: "Hummm, interessante! Vamos debater esse assunto."

Não é caso pra apologias à censura, cada um fala o que pensa e depois que se aguente com o peso das próprias palavras.

Exatamente. Acredito mesmo que todo mundo tem o direito de defender a ideia que quiser.
Agora, esse papo de "piores dias da sua vida"? Isso quer dizer que ela ficou ofendida e sem dormir porque desejaram que ela ardesse no inferno?
Ela realmente não imaginou que as reações iriam ser desse tipo?

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já pensou se ela escreveu isso just for teh lulz como o swift com o modesta proposta?
 
Bom, no imperio romano, os bebes não eram considerados pessoas e podiam ser mortos...
Me parece uma tentativa de trazer essa tradição de volta...

Eragon, isso não é uma crítica a você, nem estou dizendo que é seu pensamento.

Isso posto, quero dizer que eu realmente não entendo quando alguém utiliza um pensamento desses como justificativa: "na antiga Roma era assim"; "no antigo Egito isso era considerado normal" etc.
A humanidade, supostamente, não tinha que evoluir? =/

já pensou se ela escreveu isso just for teh lulz como o swift com o modesta proposta?

Hmmm, é.
Mas precisa ser uma pessoa com um senso de humor bem extravagante, hein?

E se for isso, aí sim que ela não pode reclamar das ameaças de morte e danação. :lol:


E quanto aos que concordam ou acham plausível a ideia da mulher, eu só consigo pensar na frase "pimenta, nos olhos dos outros, é colírio."

Muito bacana o blablabla intelectual e tals mas, pergunta inevitável: e se fosse seu filho? ou um sobrinho ou um irmãozinho?
Lembrei daquele trecho de "A Estrada" de Cormac Mccarthy em que o pai decide que mataria o filho com um tiro se o menino estivesse em risco de ser pego pelos canibais (fui até pegar o livro pra citar melhor):

"Você consegue fazer isto? Quando o momento chegar? Quando o momento chegar não vai haver tempo. O momento é agora. Amaldiçoe Deus e morra. E se não disparar? Você poderia esmagar esse crânio adorado com uma pedra? Há um ser dentro de você sobre o qual você não sabe nada? Será possível?"
 
A humanidade não evolui, ela muda. A gente acha que ela evolui por conta da tecnologia, mas ela apenas muda.
 
Ah, por favor, né?
A mulher publica um trabalho desse e esperava o que?, que a maioria das pessoas lesse, colocasse o polegar e o indicador no queixo e dissesse: "Hummm, interessante! Vamos debater esse assunto."

Ué, debater o assunto é justamente o que se pretende com um artigo. Ela deveria saber que haveriam reações exageradas? Deveria. Mas isso não deixa de ser assustador. Porque o certo é todo mundo pegar seus facões e suas tochas e dizer QUEIMEM A BRUXA pra, depois, discutir o assunto. É muito coerente.

Não vou lá dizer que concordo com o artigo porque, né, você está a 9 meses com a criança na barriga e, no final, decide que não quer mais, então "vamos matar". Não faz sentido. Mas não consigo deixar de pensar que boa parte das pessoas que criticam a ideia são as mesmas que batem os filhotes de gatos e cachorros contra a parede porque não podem cuidar deles e ninguém quer adotar... I can't see the difference.
 
Ué, debater o assunto é justamente o que se pretende com um artigo. Ela deveria saber que haveriam reações exageradas? Deveria. Mas isso não deixa de ser assustador. Porque o certo é todo mundo pegar seus facões e suas tochas e dizer QUEIMEM A BRUXA pra, depois, discutir o assunto. É muito coerente.

E existe coerência em ela ser a favor de matar bebês (aborto pós parto) e ficar assustada quando a ameaçam de morte? :confused:
Depois, duvido que alguém faça algo pra ela além de ameaçar e rogar pragas.
Acho mais é que ela está posando de "incompreendida".
Ou os jornalistas que estão colocando lenha na fogueira.

Não vou lá dizer que concordo com o artigo porque, né, você está a 9 meses com a criança na barriga e, no final, decide que não quer mais, então "vamos matar". Não faz sentido. Mas não consigo deixar de pensar que boa parte das pessoas que criticam a ideia são as mesmas que batem os filhotes de gatos e cachorros contra a parede porque não podem cuidar deles e ninguém quer adotar... I can't see the difference.

:sim: Também não vejo diferença nenhuma no que se refere a respeitar vidas.

Mas pelo jeito a autora do artigo respeita bastante a própria vida, né? :lol:

Acho que o mais incomoda nessa postura da autora do artigo é constatar que uma pessoa como ela, que trata de um assunto desses, morte e assassinato, de maneira assim, tão banal, não vai respeitar a vida animal ou vegetal ou mesmo a dos outros humanos que convive com ela.

Tem uma coisa meio... "limpa" demais, um desejo de "higienização" nessa história que é, isso sim, assustador.

...o feto e um recém-nascido não têm o mesmo estatuto moral das pessoas

Esse "estatuto moral", foi definido por quem? Quando?

Existe possibilidade de outros tipos perderem esse "estatuto moral"?
Tipo, alguém que, depois de um acidente tenha ficado paralítico? Ou cego, ou surdo?
Os velhos, que já não podem trabalhar e ser produtivos e úteis à sociedade?
Uma criança que, aos oito anos descobre sofrer de dislexia?
Hemofílicos? Diabéticos? Depressivos?
Os viciados em drogas?
Homossexuais, talvez?
Os pobre que não têm emprego ou não ganham o suficiente para sustentar a família, e os filhos dessas famílias que precisam da ajuda do Estado? (Modesta Proposta, oi?)

No mais, esse artigo me fez lembrar de uma história que um amigo meu contou, sobre um conhecido dele, formado em filosofia (com mestrado na Europa e tudo) que foi pego no sítio desse meu amigo matando passarinhos com estilingue.
Questionado sobre como tinha coragem de fazer aquilo ele (o filósofo) respondeu que animais não têm consciência, então não tem nada de mais serem mortos a pedradas. =/
 
Sei lá parece que às vezes a mulher dormiu assistindo Gattaca e o sonho emendou no filme...
Mas a única pergunta que faço, uma vez que a justificativa é, digamos, econômica (o custo geral, não apenas financeiro, é mais alto em criar o filho do que em dar cabo dele recém-nascido), é: e se matarmos um Shakespeare, um Pasteur, um Mozart, uma Simone Weil?
Porque, por mais racional que seja a argumentação, é baseada em uma mera suposição e há tantas variáveis que podem mudar a vida de uma pessoa que o cálculo prévio chega a ser ingênuo.
Isso para evitar entrar na argumentação moral (que a ciência costuma não reconhecer, infelizmente).
 
Wall of text: incoming.

Bom, acho que no sentido lógico, a ideia faz sentido. (Aborto pós-parto equivale ao aborto pré-parto.) A questão é que as pessoas abominam a ideia de matar uma criança, e são indulgentes com a ideia de matar uma hipótese (que é o que um feto é). Niguém quer saber que sujou as mãos, por isso matar num ambiente controlado, de preferência sem a imagem da morte, com o convencimento de estar fazendo algo socialmente valoroso, é bem mais fácil. Claro que eu sei que abortar um feto ou um embrião é muito menos significativo do que matar uma criança, mas de certa forma, no fundo da questão, é uma vida (e ignorando aqui tanto as ideias imbecis dos religiosos quanto as ideias cínicas dos licenciosos sobre quando começa a vida). Eu sei que eu me sentiria muito mais confortável em abortar um feto (ainda mais que o feto não estaria dentro de mim, pro homem a ideia é ainda menos traumática, é quase como remover um furúnculo) do que em matar alguém que estivesse vivo na minha frente. Aliás, a primeira parece uma escolha razoavelmente justificável, em determinadas situações, e a segunda parece absolutamente abominável em quase todos os cenários possíveis que eu consiga imaginar sentado de frente pra um monitor.

A minha questão é que a gente tenta cada vez mais achar as soluções mais fáceis, menos traumáticas, mais "lisinhas" pra todas as situações pelas quais a gente tiver que passar. E alguma coisa lá de dentro soa um alerta de que isso não é bom.

Eu sou contra o aborto. Mesmo em caso de estupro, mesmo em caso de má-formação do feto. Como ideia, acho condenável, sim. Mas, obviamente, dentro da história de vida de alguma pessoa em particular, que se sinta incapaz de viver com um filho gerado por um estupro, ou que tenha que escolher a entre certeza da vida da mulher ou carregar nove meses um bebê que não vai viver, ou que tenha uma história de vida não tão traumática, mas ainda assim com as suas complicações, dentro de uma dessas histórias pessoais, ou alguma outra que envolvam variáveis que a gente nem pensa a respeito (ou mesmo coisa "menores", como a imaturidade dos pais, a diferença de valores, etc), não acho que haja uma forma de decretar que alguém que faça um aborto está definitivamente errada, ou é definitivamente uma pessoa ruim. O problema é que as regras e as leis, etc, são feitas pras pessoas "normais", que tenham mais ou menos o mesmo nível de consciência social, ou de entendimento de mundo, que as demais, que tenham as mesmas capacidades que quase absolutamente todos os pares, etc, e entender as situações que fujam da normalidade, ou tentar quantificar a validade ou não de uma vida, ou de uma vida em relação a outra, de uma vida em relação ao conforto de outras duas, de uma vida inconsciente em relação ao sofrimento de dois pais por nove meses, etc, é extremamente difícil. Da mesma forma que, por exemplo, quando a gente ouve de alguém que reagiu a um assalto e matou o assaltante, a gente às vezes vibra, e acha bem feito, e etc, foda-se que era a vida de alguém, era algum filho da puta que devia tá assaltando pra comprar drogas (e provavelmente era mesmo), e a gente assume que ele *merecia*. E às vezes ignora todas as relações daquela vida, os valores, como se formaram. Etc. Na real a gente pensa só na gente.

Mas voltando ao aborto, algumas são situações impossíveis, sim, mas eu não me convenço que fingir um desvio seja sempre a melhor escolha. A vida não é fácil e essas coisas. Sei lá, suck it up, dude.

Viajei.
 
Bom, eu, na minha ignorância de não acadêmico, discordo das idéias do artigo. Porém, toda discussão é válida, ainda que nos pareça absurda. É no conflito de opiniões que vamos evoluindo.
 
Gente, existem filósofos que argumentam que a realidade não existe (apenas na mente de Deus, por exemplo), que as pessoas não têm consciência (mais precisamente, que seria impossível provar que você não é um zumbi) ou não têm livre arbítrio (você é tão capaz de escolher o que faz quanto uma pedra é de cair). Vejam bem, eles são capazes de argumentar até a própria inexistência, faz parte dos riscos do trabalho ir até situações absurdas, desagradáveis ou chocantes. Não estou dizendo que concordo com a pesquisadora, mas defendo o trabalho dela. Qual seria alternativa? Todos seriam obrigados a não pensar no assunto e pronto?

Mas a pesquisadora também não é nenhum monstro que se diverte pensando essas coisas. Ela parte de um problema real, de situações que já são citadas como justificativas para um aborto, mas que poderiam ser detectadas tardiamente, por exemplo:

Isso poderia acontecer no caso de uma mulher que perde seu parceiro após descobrir que está grávida, e portanto acredita que não será capaz de assumir o cuidado da possível criança por conta própria.

Ou no caso de doenças graves que dificilmente são percebidas durante a gestação:

Um exemplo é o caso da Síndrome de Treacher-Collins, uma condição que afeta 1 de cada 10 mil nascimentos, causando deformação facial e problemas psicológicos relacionados, em particular deficiências respiratórias com potencial risco de morte.

Ela reconhece que todos bebês têm potencial para se tornarem adultos realizados:

Poderia ser afirmado que "mesmo admitindo as avaliações mais otimistas sobre o potencial das crianças com síndrome de Down, não se pode dizer que esse potencial se iguala ao de uma criança normal" [citando Kushe e Singe]. Porém, na verdade, pessoas com síndrome de Down, como também pessoas afetadas por muitas outras disfunções graves, frequentemente são avaliadas como sendo felizes.

Mas o seu argumento central é que o direito das outras pessoas envolvidas, direito de escolher o que desejam para suas vidas, tem prioridade:

No entando, criar tais crianças pode ser um peso insustentável para a família e a sociedade como um todo, quando o estado provê economicamente pelo seu cuidado. Sob esses fundamentos, o fato de que um feto tenha o potencial de se tornar uma pessoa que terá uma vida (ao menos) aceitável não é uma razão para a proibição do aborto. (...) Portanto, os direitos e interesses das pessoas de fato envolvidas deveria representar a razão preponderante em uma decisão sobre o aborto ou o aborto pós-natal.

Não é tão diferente da argumentação utilizada para defender o direito de aborto. Mas uma questão sensível. O Peter Singer, que ela cita, foi um estudioso prestigiado que caiu em desgraça há uns vinte anos, defendendo esse tipo de conclusão.

Bem, quem não concorda, pode cantar com a Marina: Philosopher my arse.

This could happen in the case of a woman who loses her partner after she finds out that she is pregnant and therefore feels she will not be able to take care of the possible child by herself.

One example is the case of Treacher-Collins syndrome (TCS), a condition that affects 1 in every 10 000 births causing facial deformity and related physiological failures, in particular potentially life-threatening respiratory problems.

It might be maintained that ‘even allowing for the more optimistic assessments of the potential of Down's syndrome children, this potential cannot be said to be equal to that of a normal child’.3 But, in fact, people with Down's syndrome, as well as people affected by many other severe disabilities, are often reported to be happy.5

Nonetheless, to bring up such children might be an unbearable burden on the family and on society as a whole, when the state economically provides for their care. On these grounds, the fact that a fetus has the potential to become a person who will have an (at least) acceptable life is no reason for prohibiting abortion.

Therefore, the rights and interests of the actual people involved should represent the prevailing consideration in a decision about abortion and after-birth abortion.
 
Epá, Gigio... (lá vem o testamento)

Gente, existem filósofos que argumentam que a realidade não existe (apenas na mente de Deus, por exemplo), que as pessoas não têm consciência (mais precisamente, que seria impossível provar que você não é um zumbi) ou não têm livre arbítrio (você é tão capaz de escolher o que faz quanto uma pedra é de cair). Vejam bem, eles são capazes de argumentar até a própria inexistência, faz parte dos riscos do trabalho ir até situações absurdas, desagradáveis ou chocantes. Não estou dizendo que concordo com a pesquisadora, mas defendo o trabalho dela. Qual seria alternativa? Todos seriam obrigados a não pensar no assunto e pronto?

Sobre o exercício da filosofia, podem me chamar do que quiser, mas eu penso que nem tudo o que é bom pra se pensar é bom pra se viver, portanto, sou bastante utilitarista. Pensar por pensar, no sentido parnasiano da coisa, é muito arriscado - e eu explico. Não é raro nosso pensamento estar cheio de pré-conceitos, e uma abordagem mais livre e mais filosófica é muito positiva no sentido de fazer nosso mundo ruir e se reestruturar de novo mais saudável. Entretanto, é preciso também medir consequências e ser responsável. O lado arriscado da filosofia é esse, o de destruir o mundo alheio e não propor nada melhor ou mais adequado no lugar. Levar pessoas ao limbo existencial a troco de nada...? Ainda que se argumente a "descavernização" do outro, lembrem-se que no mito uma realidade "monocromática e bidimensional" foi trocada pelas cores e dimensões do mundo real (e o mito definitivamente aponta pra algo melhor, não pra mera consciência de que aquilo era uma caverna e ó, que pena, estamos iludidos e acabou-se por aqui.). Qual é o ponto de esmigalhar a filosofia particular de uma pessoa? Se já é ordinarice dar espelhos em miçangas em troca de ouro, sambar em cima de sua estrutura filosófica e despachar-lhes sós nas cinzas de quarta é o quê? Nota-se q detesto o niilismo, né? rs. Não estou dizendo que se deveria proibir certos tipos de pensamento, pelamordeDeus, não sou ignorante. Mas, deixemos de digressões e pulemos uma etapa. Meu ponto utilitarista é: pra quê, a troco de quê? Se o seu livre pensamento pode no fim causar extermínio massivo de judeus, índios, negros, muçulmanos, cristãos, focas, pinguins, Mata Atlântica... Sinceramente... Pra quê??? Desde quando o pensamento é mais importante que a vida?? Sério, isso não me entra na cabeça de jeito nenhum.

Qual seria a alternativa? Que se pense e se debata sobre o assunto, mas com a responsabilidade de manter isso entre pessoas equilibradas e que saibam meter rédeas em si mesmas e sejam responsáveis de valorizar pessoas, a vida, não pensamentos. É uma lógica aristotélica: saber o que se fala e a quem se fala. Um assunto delicado desses pode causar estragos irreparáveis em pessoas despreparadas e ter consequências terríveis (um dos exemplos: vai que um ser mais destrambelhado resolve realmente matar a pesquisadora? E aí?). Não sei se estou me fazendo entender, mas, pronto. Ok, ela publicou numa revista especializada e isso realmente poderia gerar discussões interessantes e possivelmente um plano de ação humanista, mas... A "irresponsabilidade" seria dos jornalistas? Pode ser que sim, sei lá. Pode lhes ter faltado tato. Só acho que esse assunto é delicado demais pra ser tratado de forma tão leviana como essa que eu li. Enfim.

Mas agora, de uma forma geral sobre os argumentos dela que vc citou:

Isso poderia acontecer no caso de uma mulher que perde seu parceiro após descobrir que está grávida, e portanto acredita que não será capaz de assumir o cuidado da possível criança por conta própria.

Um exemplo é o caso da Síndrome de Treacher-Collins, uma condição que afeta 1 de cada 10 mil nascimentos, causando deformação facial e problemas psicológicos relacionados, em particular deficiências respiratórias com potencial risco de morte.

Poderia ser afirmado que "mesmo admitindo as avaliações mais otimistas sobre o potencial das crianças com síndrome de Down, não se pode dizer que esse potencial se iguala ao de uma criança normal" [citando Kushe e Singe]. Porém, na verdade, pessoas com síndrome de Down, como também pessoas afetadas por muitas outras disfunções graves, frequentemente são avaliadas como sendo felizes.

Eita... Sinceramente não acho que nenhum desses casos justifique a morte de uma criança, principalmente o aborto pós-parto. Deixo as palavras e o apud de Vinoth Ramachandra, um engenheiro nuclear do Sri Lanka que é também teólogo, com as quais concordo letra por letra, com grifos:

"Seres humanos devem ser tratados como tendo valor essencial que não foi dado (por exemplo, pelo Estado), nem deve ser tomado por seres humanos; apenas deve ser reconhecido. Não são apenas mercadorias úteis cujo valor depende do que podem ou deixamde poder obter no mercado. As implicações morais dessa visão estão muito bem expressas nas palavras do biólogo francês Jean Rostan: 'De minha parte creio que não há vida tão desgradada, deteriorada ou empobrecida que não mereça respeito e não valha a pena ser defendida com zelo e convicção... Tenho a fraqueza de crer que é honra para nossa sociedade desejar o luxo caro de sustentar a vida para seus inúteis, incopetentes ou doentes terminais. Eu quase mediria o grau de civilização da sociedade pelo esforço e vigilância que se impõe por puro respeito à vida."

Pra mim, toda a base da filosofia deveria partir desse ponto, não do "penso, logo existo". Uma pedra não pensa mas existe na mesma. E quem duvidar é só tomar uma na cabeça pra ver (rs, foi só pra descontrair).
Daí conclui-se que acho, no mínimo, indigno o argumento central dela de que "o direito das outras pessoas envolvidas, direito de escolher o que desejam para suas vidas, tem prioridade". Desculpe, mas viver numa sociedade onde o desejo egoísta pessoal se sobrepõe à vida real do outro é viver chapado num outdoor ou num campo de concentração. =)
 
Gente, existem filósofos que argumentam que a realidade não existe (apenas na mente de Deus, por exemplo), que as pessoas não têm consciência (mais precisamente, que seria impossível provar que você não é um zumbi) ou não têm livre arbítrio (você é tão capaz de escolher o que faz quanto uma pedra é de cair). Vejam bem, eles são capazes de argumentar até a própria inexistência, faz parte dos riscos do trabalho ir até situações absurdas, desagradáveis ou chocantes.

Não me interessa nem um pouco saber que filósofos e pensadores estudaram décadas e o cassete-a-quatro pra chegarem a essas conclusões que, pra mim, na minha vida, são absolutamente inúteis e dispensáveis.
Lembrando também do fato de que eles não descobriram a roda, pois religiosos indianos e tibetanos (e talvez até muitos antes deles) chegaram às mesmas conclusões (e até além) milênios atrás.
A vida que a maioria das pessoas vive é essa, onde você, na maioria das vezes, pode sim decidir o que fazer (tanto o sabor do sorvete que vai tomar como dar ou não um tiro na própria cabeça) e onde um assassinato é um assassinato, não importa se você condena à morte um assassino estuprador, o chato do seu vizinho, um recém nascido ou (ao meu ver) uma ninhada de gatinhos.
Alguém, deliberadamente, acabou com uma vida e isso é um fato que pode, em alguns casos, inclusive te levar pra cadeia.
Pode, por exemplo no mundo em que vivemos, o assassino sociopata argumentar que a vida é uma ilusão, a realidade não existe, ninguém tem consciência mesmo então tudo bem matar um monte de gente?

Acho lamentável esse negócio de ficar babando ovo nas ideias de alguém só porque ele/ela não fez mais nada na vida a não ser estudar anos a fio e consegue argumentar com destreza.
("Puxa, se ele leu tanto e estudou tanto, deve saber do que está falando, né?" :dente: )
Não mesmo.
A ideia em questão se aplica à vida real? Em que isso pode melhorar os seres humanos e fazê-los evoluir?

Não estou dizendo que concordo com a pesquisadora, mas defendo o trabalho dela. Qual seria alternativa? Todos seriam obrigados a não pensar no assunto e pronto?
Mas a pesquisadora também não é nenhum monstro que se diverte pensando essas coisas. Ela parte de um problema real, de situações que já são citadas como justificativas para um aborto, mas que poderiam ser detectadas tardiamente, por exemplo:

"Obrigados a não pensar no assunto?" lógico que não, tanto é que estamos pensando e falando nisso.

Depois, me parece que situações e problemas que você citou já vêm sendo discutidos à décadas, não?
São situações em que é discutido se o aborto é ou não aplicável, justificável etc.
Caso de doenças ou má formação de fetos, por exemplo, na maioria das vezes são detectáveis ainda nos primeiros meses de gravidez.
Qual o sentido de esperar a criança nascer pra matá-la?
Mas a pesquisadora em questão não fala só disso, de problemas com o feto:

A sua polémica tese é a de que o “aborto pós-nascimento” (matar um recém-nascido”) deve ser permitido em todos aqueles casos em que o aborto também é, incluindo nas situações em que o recém-nascido não é portador de deficiência”.

E eu não acho que a pesquisadora seja um monstro, apenas que as ideias dela são retrógradas, estúpidas e toscas e que ela, a pesquisadora, é extremamente desumana e ainda racista e preconceituosa.


¬¬

É vai.
Acho ela meio monstra sim.
E babaca, por ficar choramingando que está "assustadinha" pelas ameaças que sofreu/sofre.
Além de tudo é bunda mole.
 
Sobre o exercício da filosofia, podem me chamar do que quiser, mas eu penso que nem tudo o que é bom pra se pensar é bom pra se viver, portanto, sou bastante utilitarista. Pensar por pensar, no sentido parnasiano da coisa, é muito arriscado - e eu explico. Não é raro nosso pensamento estar cheio de pré-conceitos, e uma abordagem mais livre e mais filosófica é muito positiva no sentido de fazer nosso mundo ruir e se reestruturar de novo mais saudável. Entretanto, é preciso também medir consequências e ser responsável. O lado arriscado da filosofia é esse, o de destruir o mundo alheio e não propor nada melhor ou mais adequado no lugar. Levar pessoas ao limbo existencial a troco de nada...? Ainda que se argumente a "descavernização" do outro, lembrem-se que no mito uma realidade "monocromática e bidimensional" foi trocada pelas cores e dimensões do mundo real (e o mito definitivamente aponta pra algo melhor, não pra mera consciência de que aquilo era uma caverna e ó, que pena, estamos iludidos e acabou-se por aqui.). Qual é o ponto de esmigalhar a filosofia particular de uma pessoa? Se já é ordinarice dar espelhos em miçangas em troca de ouro, sambar em cima de sua estrutura filosófica e despachar-lhes sós nas cinzas de quarta é o quê? Nota-se q detesto o niilismo, né? rs. Não estou dizendo que se deveria proibir certos tipos de pensamento, pelamordeDeus, não sou ignorante. Mas, deixemos de digressões e pulemos uma etapa. Meu ponto utilitarista é: pra quê, a troco de quê? Se o seu livre pensamento pode no fim causar extermínio massivo de judeus, índios, negros, muçulmanos, cristãos, focas, pinguins, Mata Atlântica... Sinceramente... Pra quê??? Desde quando o pensamento é mais importante que a vida?? Sério, isso não me entra na cabeça de jeito nenhum.

(...)o argumento central dela de que "o direito das outras pessoas envolvidas, direito de escolher o que desejam para suas vidas, tem prioridade". Desculpe, mas viver numa sociedade onde o desejo egoísta pessoal se sobrepõe à vida real do outro é viver chapado num outdoor ou num campo de concentração.

A Manu escreveu isso e mais.
Que é bem o que penso mas não soube expressar.
:sim:
 

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