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Indignação (Philip Roth)

Anica

Usuário
[align=justify]Neste romance, Philip Roth surpreende críticos e leitores com uma história que escapa completamente à temática de seus últimos trabalhos, como Homem comum e o Fantasma sai de cena, que versavam sem meios tons sobre o fim da vida e suas mazelas físicas e espirituais. O que temos agora é a experiência iniciática de um jovem de dezoito anos, Marcus Messner, nascido e criado em Newark, Nova Jersey, esbanjando vigor, ambição, ousadia e desejos irrefreáveis ao ingressar na vida adulta.

Filho único de um açougueiro kosher superprotetor, Messner busca uma faculdade do Meio-Oeste americano, bem longe de casa, o que lhe permite escapar da sufocante vigilância do pai, da medíocre universidade local onde cursara o primeiro ano e de suas funções como ajudante no açougue. Corre o ano de 1951, e os Estados Unidos enfrentam uma guerra cruenta na Coreia, conflito que paira como ameaça letal sobre o agora segundanista de direito em risco de ser convocado para lutar no front, caso não consiga se destacar nos estudos acadêmicos e no curso para o oficialato. Furtando-se, pois, a vícios, prazeres e uma vida social universitária, o personagem-narrador se entrega aos estudos de forma a jamais tirar menos que 10 em todas as matérias.

Entretanto, um poderoso obstáculo se interpõe nos planos de Messner: seu próprio temperamento, irredutível a convenções hipócritas, como assistir a preleções obrigatórias sobre a Bíblia na igreja evangélica do campus e participar do mundinho das fraternidades. Isso sem contar a irrupção anárquica do sexo e do amor em sua vida, na figura tão adorável quanto enigmática de sua colega de classe Olivia Hutton.

Indignação demonstra com sutil maestria as vias insuspeitas que conduzem eventos e escolhas aparentemente banais na vida de um jovem a resultados de uma gravidade desproporcional. Roth exibe neste romance curto, mas de enorme densidade humana, social, política e literária, um inconformismo explosivo de adolescente em busca de seus próprios caminhos na vida, alguns dos quais poderão incitar a ira vingativa de uma sociedade conservadora gerida por mentes tacanhas.[/align]

Para saber mais sobre o autor, clique aqui.
 
Mais sobre o livro:

[align=justify]“Só é ditoso aquele que tem a consciência tranquila, e não é ferido pelos golpes da desgraça.” “Não consideremos feliz nenhum ser humano enquanto ele não tiver atingido, sem sofrer os golpes da fatalidade, o termo de sua vida.” “Não é lícito aos mortais evitar as desgraças que o destino lhes reserva.”

Os trechos acima têm algo em comum. Todos eles são falas que encerram tragédias gregas clássicas (Electra, Édipo-Rei e Antígona, pela ordem). São meio que lições finais que o autor das peças reservava para o público. Um ensinamento que podia se tirar de toda aquela desgraceira que havia ocorrido no palco. E lá iriam os atenienses para casa, depois do teatro, ruminando como eram as coisas da vida.

Indignação, o novo livro de Philip Roth, pega emprestado o recurso de que os gregos tanto gostavam. Depois de contar a história de Marcus Messner, o autor resume tudo o que relatou com uma frase do gênero. “As escolhas mais banais, mais casuais, até cômicas de alguém podem gerar resultados desproporcionais.”

Marcus Messner, o garoto da história, na verdade, não tem nada de personagem de tragédia grega – exceto pela tragédia que vive. É apenas um menino recém-saído da adolescência e entrando na vida adulta. Filho de um açougueiro judeu de classe média, tenta levar uma vida menos dura do que a de seus pais. É o primeiro de sua família a conseguir ir para uma faculdade.

E, durante a maior parte do livro, a história que você lê é apenas essa: a de um garoto conhecendo a vida. Mas, o que você não sabe, ou pelo menos demora para se tocar, é que todos aqueles acontecimentos simples, quase banais, estão formando uma cadeia cada vez maior. E levando o personagem cada vez mais para perto da tragédia.

Irritado com o pai, o açougueiro, que é absolutamente paranoico com a segurança do menino, Marcus se muda de Nova Jérsei para Ohio. (Não fosse por isso, Marcus poderia ter se salvado, saberemos mais tarde.) Na nova universidade, conhece uma garota linda e, digamos, bastante desinibida. (Se isso não tivesse acontecido...) Por causa dela, Marcus briga com um colega de quarto e se muda (Se ele soubesse...) E assim por diante, até que, uma hora, a tragédia realmente acontece. E você, como um ateniense de 25 séculos atrás, larga o livro e fica ruminando a última frase que acabaram de lhe ensinar. Até os atos mais tolos podem gerar acontecimentos desproporcionais.

E esse talvez seja o grande mérito do livro de Roth. O livro realmente faz você pensar. De uma maneira sutil, no meio da história das descobertas sexuais e da indignação de um adolescente revoltado com a vida, vão surgindo temas para lá de importantes. Religião, guerra e família, só para citar três. E, em todos eles, Roth tem muito o que dizer.

Mas é como em uma tragédia grega. Se você quiser, dá para dispensar tudo isso. E aproveitar só a trama central. O rei que não sabia ter casado com a própria mãe. A moça que não pode enterrar o corpo do irmão. O matricídio cometido por Orestes. Ou, no caso de Indignação, a vida de um adolescente tentando descobrir um mundo que o machuca. E também desse jeito a leitura é para lá de recomendada.

Serviço

Indignação, de Philip Roth. Companhia das Letras, 176 páginas, R$ 36.[/align]

Fonte: Gazeta do Povo
 
E mais (sério que ninguém leu ainda? o_O):

Quando Philip Roth lançou "Indignação", no ano passado, a crítica se dividiu em duas leituras. Uma dizia que, com essa novela curta, o autor se distanciava dos temas de seus livros anteriores. Outros leitores relatavam justo o contrário: que as obsessões de sempre estavam de volta, embora em nova roupagem.

De fato, "Indignação" (Companhia das Letras, tradução de Jorio Dauster) não parece uma continuação das obras passadas de Roth, como "Homem Comum" ou "O Fantasma Sai de Cena". Nathan Zuckerman, personagem-narrador e alter ego do escritor presente em nove livros (cinco com tradução ao português), não está lá. Mas é o mesmo Philip Roth, obcecado pelas relações humanas fracassadas, a começar pela estabelecida no berço de uma típica família judaico norte-americana.

Marcus Messler é o narrador dessa história. O ano é 1951. Os Estados Unidos estão mergulhados no clima de repressão que antecedeu a revolução sexual, sem perder de vista a Guerra da Coréia, então no seu segundo ano. A palavra em voga então é conflito. Nesse ambiente, um garoto de pouco menos que 19 anos narra sua trajetória que vai culminar (e aqui está o ponto alto do enredo) com a sua morte. Impossível não relacioná-lo à Brás Cubas.

Estudioso, bom filho, exemplo de disciplina, Marcus acredita que a tranquilidade na vida depende, acima de qualquer coisa, do seu desempenho na Universidade de Winesburg. O que significa, além de todo empenho com as notas, manter-se em equilíbrio no meio mais conservador de Ohio. Para Marcus, a lógica é muito simples. A universidade é a única forma de manter-se distante de dois pesadelos do destino: voltar a ajudar os pais no negócio da família (um açougue kosher em Newark) ou a guerra, onde a morte é algo certo. São duas maneiras de morrer.

O talento descritivo de Roth não é novidade, mas sempre surpreende. Uma passagem exemplar é a que o personagem-narrador descreve sua experiência numa família de açougueiros. "Cresci cercado de sangue - sangue e sebo, afiadores de facas, máquinas de fatiar e dedos amputados em parte ou por inteiro", diz Marcus, para em seguida reconhecer que jamais gostou, ou sequer se acostumou com isso.

A imagem dos pais sempre cobertos de sangue; a memória de um avô que ele não conheceu, mas de quem herdou o nome, e que tinha metade de um dedo amputado; o cheiro das carcaças de animais abatidos - é a fuga disso tudo que motiva o personagem de Roth. E nesse contexto, a relação de superproteção da família ganha um peso difícil de suportar. Marcus aceita aprender o ofício de açougueiro como quem aceita uma fatalidade, sem se deixar levar pelo "prazer" que pode existir ali. Não aprende a gostar, nem mesmo a ser indiferente ao seu meio.

O pai de Marcus é um personagem importante na trama. Se é possível dizer que "Indignação" é um livro sobre o inevitável, muito desse fado parece antevisto pelo patriarca. O homem beira a loucura com sensações premonitórias. Não consegue conter uma preocupação sem limites com o despreparo do único filho para os perigos da vida. E nem enxerga que o menino cresceu.

Dessa forma, a ambição de Marcus é motivada pelo desejo de liberdade. "De ficar livre de um pai forte e pacato de repente acometido de um medo incontrolável com respeito ao bem-estar do filho adulto." De ficar longe de um avental coberto de sangue e da guerra, igualmente sanguinária e fatal.

Em "Indignação", Roth retoma seus fantasmas de sempre, dessa vez com o peso do imponderável, daquilo do qual não se pode fugir, nem evitar. O destino é o ponto de conflito. E a incrível inabilidade humana para lidar com ele.



"INDIGNAÇÃO"
Autor: Philip Roth
Tradução: Jorio Dauster
Editora: Companhia das Letras
176 páginas
Preço sugerido: R$ 36

Fonte: UOL
 
Acabei de ler o livro agora. Meu primeiro contato com Philip Roth, presente de uma tia-avó... Muito bom, faz a gente pensar bastante. Além da lição final, já exposta acima, segundo a qual acontecimentos aparentemente insignificantes podem mudar toda uma vida, confesso que não sei exatamente a posição do autor quanto aos atos do personagem principal. Concluí, a princípio, que, embora ele me parecesse um pouco mimado, auto-centrado e individualista demais, fez o que tinha que fazer, se recusou a participar de cultos nos quais não acreditava. Acabou morrendo (indiretamente) por defender seu ateísmo, como temia, mas não se sujeitou a convenções que para ele nada significavam. O tom de ironia do livro, resultante da motivação tanto de Marcus Messner quanto das tropas inimigas que acabaram por abatê-lo no campo de batalha, também é motivo para reflexões... Alguma indicação de outro livro do mesmo autor? Pelo que vi, este destoa do conjunto da obra dele, focada principalmente na velhice, suas fraquezas e frustrações.
 
Li a um mês atrás. Muito bom. Estou mudando o conceito que eu tinha do autor. Havia lido "O Professor do Desejo" e não gostei muito. Agora tenho que reler. Uma dica é "Um Homem Comum". Sim, é sobre a velhice. Mas é muito bom!
 
Ganhei de aniversário de uma amiga querida esse ano :)
espero ler em breve!

(não sei quanto a vocês, mas, infelizmente, os livros que ganho de presente acabam sempre ficando meio que pra trás... esse é um grande problema de quem trabalha com literatura...)
 
Gostei muito desse livro. Esse tema de descoberta do mundo, da vida me agrada. E os pontos mostrados pelo autor foram fortes, não me decepcionou o modo como o Roth conduziu a narrativa.
 
Acabei de ler semana passada o Nêmesis, que é a última parte da tetralogia. Achei bom embora não genial. Alguém sabe exatamente qual é a ligação entre esses quatro livros?
 
Olha, acho que essa organização não tem nada muito conceitual por trás. Segundo o Guardian:

Roth's fifth novel in as many years comes with a reorganised "Books By Philip Roth" page. Everyman (2006), Indignation (2008) and The Humbling have been plucked from their old home under "Other Books" and assigned, along with Nemesis, to "Nemeses: Short Novels". Perhaps these four books are now a quartet, to be published in single volume down the line. If so, they make a harsh and challenging one. Everyman, a stark, ferociously controlled account of the life and death of an anonymous New York ad man, with an emphasis on the death part, is difficult to fault. Indignation and The Humbling, on the other hand, are jaggedly assembled, red herring-littered books, held together mostly by Roth's buttonholing intensity. "The omnipotence of caprice. The likelihood of reversal. Yes, the unpredictable reversal and its power," a character rants in The Humbling (which was reviewed, a bit unfairly, as an exhibition of Harold Brodkey-like sexual grandiloquence). Individuals being destroyed by a cosmic caprice to which their errors of judgment are merely a garnish: this seems to be the tragic model in these two books.

Eu tenho o Indignation pocket, e pelo que me lembro dele tava listado em "other books" ainda. Alguns livros do Roth são categorizados de acordo com o "autor" [Zuckerman (a Companhia até lançou esse mês uma coletânea de romances curtos do Zuckerman), Kepesh, Roth], mas esse novo grupo "Nemeses: short novels" não parece ter nenhuma grande interligação entre os livros.
 

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