RE: Como fazer leitores e influenciar pessoas?
guilherme disse:
Pessoalmente acho que o estado da leitura é um reflexo do estado geral de saúde da sociedade...
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coraliejones disse:
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Quanto a "ideologia de vida que incentiva e aceita o prazer e a exploração intelectual", que quer dizer?
Mavericco disse:
O interesse pela leitura, de certa forma, acaba sendo passado por osmose. Eu não sei direito como é isso (então, sim, chuto que seja assim), pois aprendi a gostar meio que abiogeneticamente....
Olha, estudei em escola pública e me graduei numa universidade pública aqui em São Paulo, e vivendo nesses dois mundos distintos acho que posso dizer que entendi o que o Guilherme quis dizer com "ideologia que incentiva e aceita o prazer e a exploração intelectual".
As pessoas que vivem perto de onde vivo, os meus colegas da escola e mesmo familiares em geral não têm a leitura como hábito. Aqui, se você lê e estuda mais que os outros você é o diferente, o nerd cdf. Cresci lendo quase sem ter com quem conversar sobre o que lia (exceto minha mãe, que foi quem me incentivou a leitura, e um ou outro amigo aqui e acolá). Ninguém dá muita bola pra leitura, e não a enxerga como forma de transcender o próprio mundinho onde vivem; enxerga como algo maçante e que não agrega nada útil.
Na faculdade, era coisa comum cruzar com alguém com livro na mão, de qualquer assunto imaginável; e você sentia que o pessoal lá fazia disso um hábito (que eu aliás não consegui manter - diabos, como eles conseguiam estudar, trabalhar/estagiar e ainda terem tempo pra ler?!). Fiquei surpreso ao saber das histórias que alguns colegas (que davam aulas de reforço particulares) contavam sobre alunos que estudavam em colégios caríssimos e mal sabiam interpretar enunciados e resolver problemas simples - eram exceção, mas eu achava que isso nem existia nesses colégios.
Enfim, acho que se a pessoa cresce num meio em que ela tem condições financeiras (=boa educação)
E cresce cercada por pessoas que lêem (=influência), é mais fácil a pessoa enxergar o valor da leitura e também ter prazer com ela, mas remova apenas um desses fatores e a coisa começa a desandar. Tirando os dois então, como parece ser o caso geral no Brasil... Pra superar, só com a inexplicável vontade de correr atrás mesmo, e isso me parece mais difícil se a pessoa já é adulta, "formada".
guilherme disse:
Esses argumentos pró-best seller são semelhantes a argumentar que as pessoas que hoje assistem Faustão amanhã assistirão a TV Educativa.
Não é assim que funciona.
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Como eu disse, acho que depende mais da vontade mesmo, então uma coisa é uma pessoa que já lê diversos tipos de livros pegar um best-seller pra relaxar, outra coisa é a pessoa pegar um best-seller já sabendo que ele é uma leitura mais fácil que um Machado de Assis etc... O primeiro tipo de pessoa vai continuar lendo best-sellers e também obras mais... requintadas. Mas achar que a
maioria do segundo tipo de pessoa vai pular do best-seller pra algo mais aprofundado, num país como o nosso que em geral mais do que ignora, até despreza a leitura e o enriquecimento intelectual...sei lá, isso me parece ingênuo, ou então eu é que perdi a fé nas pessoas mesmo.
Resumindo: eu acho que se você quer influenciar pessoas a lerem, funciona melhor com crianças, que são mais receptivas a isso e também precisam desse estímulo desde cedo, caso contrário fica cada vez mais difícil, quanto mais velha a pessoa mais dependerá da força de vontade dela própria em buscar isso.