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O insignificante

O INSIGNIFICANTE



Meu pai, meu ingênuo pai, patético homem hediondo, me olhou nos olhos e me disse: podre filho. Podre. Podrezinho. Tua mãe morreu e tu tem seis; vai, vai lá, vai lá e dá um beijo nela; arruma o rosto dela; por que essa expressão tão sóbria? Ela deve ter um sorriso grande. De orelha a orelha. Vai, vai lá; vai e me deixa em paz. Um minutinho só. Eu quero pensar. Não me obriga a te expulsar. Não, não te quero aqui. Não, não te quero. Não estou chorando; não choro para fora; engoli as lágrimas ontem de noite. Vai lá, filho, vai lá; vai com os teus irmãos. Tu que foi o último; tu que ela amou mais. Eu amei só o outro; vivi só enquanto ele viveu; não antes, não depois. Ele era podre, pobrezinho. Não sabia mamar. Pobrezinho. Se cagava e não chorava. Pobrezinho. Quando tu nasceu, chorou. Eu saí da sala. Era injusto. Tu entende? Ele era mais bonito. Tu entende? Tu nasceu feio. Muito feio. Teu rosto era estranho. Ainda é estranho. Tu concorda? Essa tua cara de joelho. Ele era bonito, filho. Nasceu com cabelo. Chorou sem fazer som. Eu disse: chora. Chora. Chora. Chora, filho. E ele de boca aberta não chorava. O que que eu posso te dizer meu filho? Ela morreu. Sim, morreu. Vai lá. Vai lá e arruma o rosto dela.

Feliz aniversário, filho. É um grande dia. Não fica triste. Não, não vai. Não vai. Não fica triste. Arruma esse teu rosto, vai. Por que essa expressão tão séria? Vai, arruma esse teu rosto. Tu devia abrir um sorriso grande. De orelha a orelha.
 
Morte de filho e mãe durante o parto?

Hoje eu fiquei pensando no que seria mais traumatizante: a relação mãe e filho, filho de um estupro, ou a relação pai-filho, filho da mãe morta no parto.

Ok, pelo menos os filhos órfãos de mãe não precisam usar tarja preta nos olhos quando aparecem nas fotos.

Fazer amor sem amor. Fazer filhos escapulidos, sem amor. Pais biológicos, pais de criação. Pais e filhos.
 
[- o texto foi publicado há alguns meses (12.2010)
de modo que me pergunto se ainda é tempo de comentário -]

1. os adjetivos em trocadilho - "podre" e "pobre"
fazendo oscilar os significados da própria vida (no microconto,
nascimento e morte) entre "perecível" e "escassa"
- para ficarmos em apenas dois dos núcleos de sentido abertos
através da simples (ou nem tão simples) alternância do "d" para o "b" -
parecem atualizar formalmente um leitmotiv de ordem temática ou de conteúdo (leia-se aqui todas as ressalvas possíveis em torno da separação implícita em meu comentário entre forma e conteúdo - estou certa de que não se separam, no entanto, precisei "forçar" uma separação apenas para fazer-me entender numa tal minúcia).

2. diria o mesmo, ainda sobre este microconto, do uso do ponto e vírgula - o ponto e vírgula harmoniza-se com a economia de palavras que caracteriza a dicção do pai; pontua pausas que são também aberturas.

3. a expressão "cara de joelho" resolve mais facilmente do que o necessário a estranheza descrita nesse rosto. lança o rosto que se abriu para o feio, para o informe, para o perecível, numa resolução demasiado ligeira ("cara de joelho" é expressão senso-comum - diz, mas diz a respeito de 'qualquer' bebê, de 'todos' os bebês - isto é, a perda com esta expressão é a perda da 'singularidade', a expressão por ser usual, gasta, leva para a 'generalidade'), de modo que produz fechamento ao que ao longo das linhas anteriores veio bravamente sendo perfurado - o feio, o estranho, o disforme, o perecível (traços de uma singularidade - o que não quer dizer: traços de uma identidade).

*usei aspas quando o que gostaria
era marcar em itálico,
*vale?

sem mais -

cordialmente,
c.
 
Carmela: na verdade isso era um rascunho de um fragmento de um conto maior que eu não escrevi e muito provavelmente não vou escrever. A ideia original era tratar de um bebê que havia nascido incapaz de qualquer comunicação com o mundo externo, ele nasce sem os sentidos (tato, audição, paladar, visão, olfato), e sem a fala, e o propósito seria tratar das tentativas de comunicação da família com ele, da coisificação dele por parte da família, das memórias do pai que considera que o filho só existiu no momento em que nasceu e que a criança que foi crescendo não era o filho dele, das especulações do irmão mais novo (esse narrador) sobre como esse outro irmão pensava, como ele relacionava as coisas, como ele vivia "preso lá dentro"... Não cheguei a trabalhar as vozes dos narradores, mas eu pretendia continuar assim colocando as memórias do pai dentro das memórias do filho-narrador. Acabei fechando o texto com alguns remendos que dessem um mínimo de sustentação ao texto como conto autônomo, e muitas das ideias iniciais se perderam nisso. Pensando agora, até dá vontade de retomar um dia.

Eu não gosto da parte do "cara de joelho", mas mais por causa da cadência da fala que quebra e fica meio inorgânica do que pelo significado em si.
 
O miniconto tem uma energia muito forte ( algo que causa impacto no leitor) e acho que devia manter esse fragmento desse jeito mesmo, os remendos funcionaram bem se vc não contasse que era parte de um texto maior ninguém descobriria.
 
Rodrigo,

se escrevi a partir de seu texto, foi porque algo nele me impeliu a tanto -
escrever sobre um texto é sempre violentá-lo de algum modo, e a quem escreve, essa violência, essa profanação, é um árduo desafio - como escrever, mesmo sobre o que amamos, sem tornar já aquilo mesmo que amamos outra coisa? sem destruir o objeto amado? como escrever sobre um texto sem fechá-lo, sem interpretá-lo - sem aniquilá-lo com a interpretação? um texto sobre o qual escrevemos - estou com susan sontag - não deve ser interpretado. reli o texto de sontag que se chama "contra a interpretação" ontem, estou com ele fresco na cabeça. é um texto que pensa a tarefa da crítica, onde sontag discute o papel reacionário que a crítica pode assumir ao se colocar como "tradutora" de uma determinada obra, de um determinado filme, de um determinado texto. segundo sontag, apenas quando o homem se afastou dos mitos e passou a experienciar o mundo segundo a lógica cientificista é que ele passou a desaprender a potência da arte, aquilo que ela realiza, e passou a precisar traduzir, explicar, aquilo que ela diz, aquilo que ela significa. para sontag, esse homem antigo sabia que a arte não diz, não significa, mas sim, realiza. então sontag aponta algumas saídas para a crítica que se quer não reacionária, e dentre elas, está a sugestão de deter-se sobre aspectos formais, descrever mais a obra, procurando com isso ampliar os nossos sentidos - ouvir mais, enxergar mais, sentir mais. nada de explicar o que aquilo quer dizer, sobre o que aquilo "realmente" trata, a "verdade" daquilo, e, sim, tornar aquilo mais visível, mais audível, mais palpável. declarar apenas um juízo de gosto - gosto e não gosto - me parece pouco perto do que podemos nos propor diante de um texto - mas isto - ultrapassar o juízo de gosto - nos solicita, nos obriga a pensar, nos faz ler mais de uma vez o texto e nos desafia a tentar aprender, tatear, uma fala a partir daquele texto. enfim, digo tudo isso, porque tua resposta me pareceu trazer uma justificativa, e você não precisa justificar os porquês. o texto está aí, ele é uma trama, um tecido, tem vida própria para além do que você planejou, e é maravilhoso que seja um fragmento, um esboço, algo inacabado, porque conserva, com mais evidências, os rastros do trajeto; porque conserva fissuras por onde você mesmo e também nós, leitores, podemos penetrar. por último, gostaria de dizer que este foi o primeiro texto que comentei aqui nesse fórum, porque deve fazer uma semana que me cadastrei aqui. eu o escolhi, ou ele me escolheu, dentre vários que li. um critério molecular, por assim dizer, me levou a ele, para que vc entenda o que quero dizer com critério molecular, permita-me publicar aqui um trecho do que diz Gilles Deleuze também ainda válido para as ocasiões em que temos que exercitar a reflexão crítica:

"Hay sensibilidades sustanciales, existen los que tienen una sensibilidad sustancial. Yo sueño con hacer alguna cosa sobre la sensibilidad filosófica. Es así que encontrarán los autores que cada uno amará. No estoy diciéndoles que sean spinozistas, porque me importa un bledo. Lo que no importa un bledo es que ustedes encuentren lo que les hace falta, que cada uno de ustedes encuentre los autores que les hacen falta, es decir, los autores que tienen algo para decirles. Lo que a mí me atormenta en filosofía es esa elección. Es igual que cuando se habla de una sensibilidad artística, por ejemplo de una sensibilidad musical. La sensibilidad musical no es indiferenciada, no consiste solamente en decir: Amo la música. Quiere decir también que extrañamente, en cosas que yo mismo no comprendo, tengo algo que ver particularmente con tal: “ah, para mí es Mozart. Mozart me dice algo”. Es curioso eso. En filosofía es lo mismo. Hay una sensibilidad filosófica. Allí también es una cuestión de moléculas, si aplicamos todo lo que acabamos de decir hace un momento. Nos encontramos con que las moléculas de alguien serán atraídas, serán ya, en cierta forma, cartesianas. Hay cartesianos. Bueno, comprendo, un cartesiano es alguien que leyó bien a Descartes y que escribe libros sobre Descartes. Pero eso no es muy interesante. Al menos hay cartesianos a un nivel mejor. Consideran que Descartes les dice algo al oído a ellos, algo fundamental para la vida, incluida la vida más moderna. Bueno, a mí, tomo mi ejemplo, realmente Descartes no me dice nada, nada, nada, nada…Se me va de las manos, me embola. Sin embargo, no voy a decir que es un pobre tipo, es evidente que tiene genio. Bueno, de acuerdo, tiene genio, pero yo, por mi cuenta, no tengo nada que hacer con él. Jamás me dijo nada. Bueno ¿y Hegel?…¿Cómo se explican estas cuestiones de sensibilidad, qué es eso, qué quieren decir estas relaciones moleculares?
Yo abogo por relaciones moleculares con los autores que leen. Encuentren lo que les gusta, no pasen jamás un segundo criticando algo o a alguien. Nunca, nunca, nunca critiquen. Y si los critican a ustedes digan: “De acuerdo” y sigan, no hay nada que hacer. Encuentren sus moléculas. Si no las encuentran, ni siquiera pueden leer. Leer es eso, es encontrar vuestras propias moléculas. Están en los libros. Vuestras moléculas cerebrales están en los libros. Yo creo que nada es más triste en los jóvenes en principio dotados que envejecer sin haber encontrado los libros que verdaderamente hubieran amado. Y generalmente no encontrar los libros que uno ama, o no amar finalmente ninguno, da un temperamento…y de golpe uno se hace el sabio sobre todos los libros. Es una cosa rara. Nos volvemos amargos. Ustedes conocen la especie de amargura de ese intelectual que se venga contra los autores por no haber sabido encontrar a aquellos que amaba…el aire de superioridad que tiene a fuerza de ser tonto. Todo eso es muy enojoso. Es preciso que, en última instancia, sólo tengan relación con lo que aman."

enfim.
dito isto, espero mesmo que de algum estímulo para retornar ao texto ou para dar-lhe ponto final, os comentários aqui tenham valido...

c.
 
Carmela, eu não me senti invadido ou ofendido ou perscrutado ou qualquer outra coisa. Eu escrevi a respeito do conto talvez mais pra mim do que pros outros. É algo que eu faço muito, muito pouco, parar pra pensar em um texto meu (ou até textos alheios, livros inteiros, etc) como uma construção e não como um jorro de expressão. Parar pra me perguntar: o quê?, pra onde vai?, essas coisas. Talvez faça um ano ou um pouco mais que eu só escrevo textos que cabem em pequenos fôlegos e que não me obrigam a me debruçar sobre eles depois pra ver onde eles comunicam e onde falham. E eu sinto falta de parar pra pensar a respeito do que eu escrevo. Esse texto em particular partiu de uma ideia maior, mas também saiu de um fôlego só. Não lembro quando eu escrevi, e isso é estranho, porque eu normalmente consigo lembrar exatamente de onde eles surgem. Sei que o primeiro parágrafo, que era um guião pro que o conto ia tratar eu acabei excluindo quando postei.

Engraçado, sobre a questão crítica, que a minha visão converge em vários pontos pro que tu postou, mas eu ainda uso insistentemente e não abro mão do termo significado/significar/significação¹. Até comentei coisas relacionadas aqui no Meia, no tópico da Metamorfose. Nunca me aprofundei muito em leituras sobre crítica literária e grande parte do que eu sei sobre filosofia surgiu no ano passado em uma cadeira sobre. Mas se a carga não foi grande, acho que foi ao menos bem aproveitada. A ideia desse conto surgiu naquela época, quando eu fiz um bloco de notas sobre empirismo/inatismo², e eu pensei obsessivamente a respeito por alguns meses, mas nunca coloquei nada no papel até esse conto e depois nunca fui adiante.

¹ Tava falando a respeito disso em uma discussão sobre cinema, esses tempos, e algo que vai um pouco ao encontro dessas ideias, caso alguém tenha interesse e muito tempo pra perder lendo abstrações:
Tchê, assim... vocês já chegaram a parar pra pensar no que torna "genial"? Obviamente depende dos critérios adotados, de como a obra dessa pessoa é recebida, como ela é percebida, como ela é significada (não foi o Godard que disse que as pessoas atribuíam significados às obras dele que ele mesmo nunca tinha visto nelas? [não é uma pergunta retórica, se alguém puder, me confirme]) pela "cena crítica", etc. Se for pensar em cinema, enfim linguagem cinematográfica que seja, até acho que o Hitchcock implementou ou transpôs diversos elementos avant garde, alguns plot devices, etc, mas mesmo assim, mesmo que ele seja competente na manipulação de elemetos cinematográficos, mesmo que ele seja capaz de montar planos "perfeitos", etc, isso é só manipulação técnica. Eu vi poucos filmes dele, mas nenhum me provocou coisa alguma. Até mesmo Festim Diabólico, que eu gostei, não tem nada que vá além de uma história bem construidinha, bem montadinha. Sei lá, pra mim chamar o Hitchcock de genial é a mesma coisa que chamar o Conan Doyle de genial, que é a mesma coisa que chamar, sei lá, o Muse de genial... ou o Fincher. Enfim. Mas com o tempo o reconhecimento vai se solidificando, a "aura" da obra vai se tornando bem maior do que a obra em si, até porque engrandece com o tempo, com o estudo, vai se tornando verdadeiramente enorme, porque não é mais um filme do Hitchcock, é o filme dele e mais incontáveis interpretações acerca. Esses "gênios" históricos já vêm prontos pra consumo. As obras já estão analisadas exaustivamente, eles já têm um selo de qualidade, podem até exigir empenho, mas já não requerem muito esforço de refletir a respeito. Claro que isso não quer dizer que sejam ruins. Até não acho o Hitchcock ruim, do que eu vi dele achei ok. Mas existem óbvias distorções entre conhecer uma obra crua e conhecer uma obra já cozida e mastigada.

Como eu disse antes, o que é apenas essencialmente cinematográfico não me interessa, assim como o que é essencialmente literário não me interessa realmente. Ok, inovações técnicas são interessantes, mas pra mim são acessórios. Um texto metaliterário não vai ter valor por ser metaliterário, mas pelos significados que ele for capaz de criar. E eu discordo que sensações não tenham significados, acho que têm, sim, mesmo que não sejam significados que possam ser racionalmente indicados. Quando eu me refiro a significação, eu me refiro a apreensão e "processamento" relacional e/ou reflexivo... Ano passado, quando eu tava estudando a respeito, a metáfora mais adequada que eu consegui pensar foi: um bebê que nasce sem qualquer dos sentidos, sem visão nem audição, nem olfato, tato, paladar, que não sinta nada externo a si e que nunca tenha sentido; ele não ouve nada, mas ele não é capaz de significar isso como silêncio, porque ele simplesmente não conhece o silêncio e ele não conhece o som; da mesma forma que tudo o que ele enxerga é o escuro, mas ele não sabe significar o escuro; enfim, não tem ponto de partida pra fazer relação. Não vai dar pra explicar aqui, mas o princípio é mais ou menos esse. É aquela questão de fluxo de consciência autor-receptor, enfim.

² Como curiosidade, apesar de ser repetição do que tá acima:
Quando trata do inatismo platônico, o texto refere-se à obra Mênon, em que Sócrates dialoga com um jovem escravo e, fazendo as perguntas certas na hora certa, faz com que o jovem escravo demonstre sozinho um difícil teorema geométrico, mesmo que ele nada soubesse de Geometria. Platão, então, indaga como isso seria possível se não nascêssemos com a razão. Neste caso, parece-me que a ideia de Platão pode ter partido de uma premissa errada. O rapaz não demonstrou sozinho o teorema, ele foi induzido a demonstrá-lo. Ele foi guiado pelas questões de Sócrates a construir um significado que permitisse a demonstração. Não significa que o jovem sabia como fazê-lo desde o início. Penso que os seres humanos nascem com a capacidade de relacionar conhecimentos, e não com “as ideias verdadeiras”. A racionalidade seria uma forma de “processar” (no sentido de efetuar um processo) a realidade, mas necessitaria de “insumos” para produzir um pensamento. Por exemplo, se nascesse um ser humano sem qualquer capacidade sensorial, ou seja, sem audição, olfato, visão, tato ou paladar, seria ele capaz de formular alguma ideia? Sem nenhuma experiência e sem nenhuma capacidade sensorial, de onde partiria o pensamento? Ele seria dotado de instintos, sentiria fome, teria necessidades fisiológicas, ou seja, seu corpo estaria em funcionamento, mas sua racionalidade poderia ser desenvolvida? Esse ser humano seria capaz de formular pensamentos mais complexos do que os de um animal irracional qualquer?
 
sim sim - sábias espirais o pensamento movimenta:
cair numa conversa sobre significação / significações do texto
partindo do título "o insignificante". e de pronto, te digo,
relacionei o título "o insignificante" com esse rosto que borra,
com essa ausência de identidade que transparece num rosto
que não se pode apreender - é um tema de que gosto - a mim,
faz lembrar pinturas de francis bacon...
 

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