Thriller Dude disse:
A idéia do livro é boa, genial até. Só não gostei da execução. E não me entendam mal: esse Casares tem uma escrita poderosa. Mas belas frases não são, na minha concepção, suficientes para deixar um livro agradável, ainda mais quando o autor envereda num gênero que não é lá sua praia.
O gênero que ele escreve é do realismo fantástico. Parte dos livros dele representam a temática: destino + amor + realidade.
Quase sempre, quando um escritor tido como do mainstream literário resolve escrever algo mais próximo da literatura de gênero (tem até aquele prefácio em que Borges faz uma justificativa em nome de Casares, como se o argentino estivesse cometendo uma heresia ao escrever uma obra com uma trama fantástica, “novela de peripécias”), ele incorre em problemas de ritmo, em equívocos de verossimilhança e plausibilidade, questões importantíssimas até mesmo para os apreciadores do gênero fantástico.
O que seria mais inverossímel do que acreditar numa máquina que projeta às pessoas, como uma câmera de cinema, e as deixa sem alma? Qual é a grande questão abordada que não tange a realidade?
Quanto ao ritmo, é um "diário" que foi publicado por um editor qualquer. Como um diário ele nnao pode ter um ritmo correto, tem que ser algo sem revisão, tem que ser algo que ele sentiu no momento.
No caso desse livro, o que me aborreceu foi que o narrador já deixa escapar ao leitor, logo de início, que há algo de errado com os visitantes da ilha (suspense zero), embora ele fique uns 2/3 do livro insistindo que nada sabia, batendo cabeça, entrando no ridículo de achar que os visitantes pretendiam capturá-lo. O sujeito fica boa parte do livro martelando na mesma tecla, mostrando como está confuso, fazendo inúmeras descrições diferentes de seu estado de espírito desesperado. Eu pensava: "putz, dá pra mudar o lado desse disco?!". Isso é o que eu chamo de falta de ritmo e de plausibilidade. Nem um completo retardado ficaria tanto tempo batendo cabeça como esse narrador.
Calma, calma. O personagem principal não sabe o que ocorre na ilha e precisa descobrir, pois ele é um fugitivo da justiça e está preso num lugar onde nunca houveram pessoas. Ele fica confuso por pessoas que aparecem do nada e as pessoas ignoram sua existência.
Na mesma frase você diz que ele descreve DIFERENÇAS do seu estado de espírito, isso é um ganho. A paranóia é crescente, os efeitos dela causam as ilusões, as novas descobertas fecham o narrador nele mesmo. Qual problema ele tem? Ele desapareceu? Afinal todas as pessoas existem, mas talvez ele não, então o narrador descobre o contrário.
Quando o narrador finalmente se apercebe da situação ("Oh, Glória! Já não era sem tempo!"), eu já tava querendo arremessar o livro pra bem longe. Só terminei para saber mesmo do que se tratava a tal invenção.
Como assim? O suspense psicológico não mexeu com o você? De abrir mão de um futuro para viver em inanição, sem crescer, comer ou tocar e, principalmente, sem pensar. Ele abre mão de todo o livre-árbitrio que o fez ponderar suas decisões durante a história toda para se entregar à uma máquina.