Anica
Usuário
Li há pouco tempo e ainda não tinha comentado sobre ele aqui. Vou copiar e colar o post que acabei de colocar no Hellfire.
Agora que eu perdi meu medo de Saramago, vamo que vamo né. Li há uns dias e acabei não comentando aqui porque foi na semana de surto-adeus-ao-hellfire, então acho que é melhor eu deixar registrada minhas impressões antes que eu esqueça o que de fato achei (o que acontece com frequencia, acredite. O pior é que minha memória tende a amar ou odiar as coisas depois de um tempo, sem muito meio termo). E para o caso de estar com pressa e não querer ler o post até o fim para saber o veredito, eu gostei muitão, mas acho que Ensaio Sobre a Cegueira ainda é superior (o que não quer dizer muita coisa fora que se alguém pedir para eu indicar algum do Saramago, eu indicarei Cegueira, hehe).
Do começo: publicado em 1991 quando eu ainda brincava de Barbie e achava que Stephen King era a coisa mais cool no mundinho dos livros (cofcof), O Evangelho Segundo Jesus Cristo relata a história de Jesus (ah, sério?), desde a gravidez de Maria até o momento da crucificação (o legal de falar sobre esse livro é que é meio difícil lançar algum spoiler há,há).
Acredito que o charme da obra fique por conta da humanização de Cristo. Por humanização quero dizer “tirar qualquer aura de perfeição que a Bíblia passa no Novo Testamento”. Aliás, uma coisa interessante nessa construção da figura humana de Jesus está no fato de que Saramago coloca a fase “milagreira” do Messias para depois da metade da obra. Boa parte é primeiro focada em Maria e só com a morte de José (gente, e eu que nunca tinha pensado no que diabos acontece com José!) Jesus passa a ser a personagem principal, digamos assim.
A relação dele com Maria Madalena (aqui Maria de Magdala) também é outro ponto que contribui para o desenvolvimento da “humanidade” de Jesus: ele sente e age como um homem qualquer. Ele ama Maria, uma prostituta, mas não consegue viver na casa dela porque a vizinhança zoa direto com ele, sendo a escolha do casal queimar a casa e se mandar. Ele não abre mão do amor como muitos homens fariam facilmente, mas mesmo assim mostra que sente… hum… orgulho? É, digamos que orgulho, como um sujeito qualquer.
Outro detalhe interessantíssimo é a questão dos milagres, e como são apresentados. Nesse caso deixarei uma citação do livro, até para vocês terem um gostinho do ótimo senso de humor do Saramago, do momento da transformação da água em vinho:
Sério, muito bom. E não bastasse isso, ainda tem a figura do Pastor (ok, aqui eu posso revelar spoilers então não vou me prolongar muito sobre a personagem), que rende ótimos diálogos com Cristo e cuja frase “Não aprendeste nada, vai.” fica ecoando na memória mesmo após terminar a leitura. E sim, tem a conversa com deus e o diabo na barca, que na verdade foi a primeira coisa que ouvi falar sobre o livro (lembro que meu irmão estava lendo esse trecho na praia, em um ano novo qualquer).
Resumindo, é um livro fenomenal embora não seja tão bom quanto Ensaio Sobre a Cegueira. A cada livro que leio mais e mais vejo como era bobagem minha essa “Saramagofobia”, achando que não seria capaz de acompanhar uma narrativa só porque o sujeito não usa dois pontos e travessão para os diálogos, até porque no fundo é só isso que faz a obra dele parecer mais “difícil”. O Evangelho… é simplesmente imperdível.
Agora que eu perdi meu medo de Saramago, vamo que vamo né. Li há uns dias e acabei não comentando aqui porque foi na semana de surto-adeus-ao-hellfire, então acho que é melhor eu deixar registrada minhas impressões antes que eu esqueça o que de fato achei (o que acontece com frequencia, acredite. O pior é que minha memória tende a amar ou odiar as coisas depois de um tempo, sem muito meio termo). E para o caso de estar com pressa e não querer ler o post até o fim para saber o veredito, eu gostei muitão, mas acho que Ensaio Sobre a Cegueira ainda é superior (o que não quer dizer muita coisa fora que se alguém pedir para eu indicar algum do Saramago, eu indicarei Cegueira, hehe).
Do começo: publicado em 1991 quando eu ainda brincava de Barbie e achava que Stephen King era a coisa mais cool no mundinho dos livros (cofcof), O Evangelho Segundo Jesus Cristo relata a história de Jesus (ah, sério?), desde a gravidez de Maria até o momento da crucificação (o legal de falar sobre esse livro é que é meio difícil lançar algum spoiler há,há).
Acredito que o charme da obra fique por conta da humanização de Cristo. Por humanização quero dizer “tirar qualquer aura de perfeição que a Bíblia passa no Novo Testamento”. Aliás, uma coisa interessante nessa construção da figura humana de Jesus está no fato de que Saramago coloca a fase “milagreira” do Messias para depois da metade da obra. Boa parte é primeiro focada em Maria e só com a morte de José (gente, e eu que nunca tinha pensado no que diabos acontece com José!) Jesus passa a ser a personagem principal, digamos assim.
A relação dele com Maria Madalena (aqui Maria de Magdala) também é outro ponto que contribui para o desenvolvimento da “humanidade” de Jesus: ele sente e age como um homem qualquer. Ele ama Maria, uma prostituta, mas não consegue viver na casa dela porque a vizinhança zoa direto com ele, sendo a escolha do casal queimar a casa e se mandar. Ele não abre mão do amor como muitos homens fariam facilmente, mas mesmo assim mostra que sente… hum… orgulho? É, digamos que orgulho, como um sujeito qualquer.
Outro detalhe interessantíssimo é a questão dos milagres, e como são apresentados. Nesse caso deixarei uma citação do livro, até para vocês terem um gostinho do ótimo senso de humor do Saramago, do momento da transformação da água em vinho:
Se não fosse a voz do povo, representada, no caso, por uns servidores que no dia seguinte deram com a língua nos dentes, teria sido um milagre frustrado, pois o mordomo, se desconhecedor estava da transmutação, desconhecedor continuaria, ao noivo convinha, evidentemente, abotoar-se com o feito alheio, Jesus não era pessoa para andar dizendo por aí, Fiz uns milagres tais e tais, Maria de Magdala, que desde o princípio participara do enredo, não iria pôr-se a fazer publicidades, Ele fez um milagre, ele fez um milagre, e Maria, a mãe, ainda menos, porque a questão fundamental era entre ela e o filho, o mais que aconteceu foi por acréscimo, em todos os sentidos da palavra, digam os convidados se não é assim, eles que voltaram a ter os copos cheios.
Sério, muito bom. E não bastasse isso, ainda tem a figura do Pastor (ok, aqui eu posso revelar spoilers então não vou me prolongar muito sobre a personagem), que rende ótimos diálogos com Cristo e cuja frase “Não aprendeste nada, vai.” fica ecoando na memória mesmo após terminar a leitura. E sim, tem a conversa com deus e o diabo na barca, que na verdade foi a primeira coisa que ouvi falar sobre o livro (lembro que meu irmão estava lendo esse trecho na praia, em um ano novo qualquer).
Resumindo, é um livro fenomenal embora não seja tão bom quanto Ensaio Sobre a Cegueira. A cada livro que leio mais e mais vejo como era bobagem minha essa “Saramagofobia”, achando que não seria capaz de acompanhar uma narrativa só porque o sujeito não usa dois pontos e travessão para os diálogos, até porque no fundo é só isso que faz a obra dele parecer mais “difícil”. O Evangelho… é simplesmente imperdível.