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O Evangelho Segundo Jesus Cristo (José Saramago)

Anica

Usuário
Li há pouco tempo e ainda não tinha comentado sobre ele aqui. Vou copiar e colar o post que acabei de colocar no Hellfire.

Agora que eu perdi meu medo de Saramago, vamo que vamo né. Li há uns dias e acabei não comentando aqui porque foi na semana de surto-adeus-ao-hellfire, então acho que é melhor eu deixar registrada minhas impressões antes que eu esqueça o que de fato achei (o que acontece com frequencia, acredite. O pior é que minha memória tende a amar ou odiar as coisas depois de um tempo, sem muito meio termo). E para o caso de estar com pressa e não querer ler o post até o fim para saber o veredito, eu gostei muitão, mas acho que Ensaio Sobre a Cegueira ainda é superior (o que não quer dizer muita coisa fora que se alguém pedir para eu indicar algum do Saramago, eu indicarei Cegueira, hehe).

Do começo: publicado em 1991 quando eu ainda brincava de Barbie e achava que Stephen King era a coisa mais cool no mundinho dos livros (cofcof), O Evangelho Segundo Jesus Cristo relata a história de Jesus (ah, sério?), desde a gravidez de Maria até o momento da crucificação (o legal de falar sobre esse livro é que é meio difícil lançar algum spoiler há,há).

Acredito que o charme da obra fique por conta da humanização de Cristo. Por humanização quero dizer “tirar qualquer aura de perfeição que a Bíblia passa no Novo Testamento”. Aliás, uma coisa interessante nessa construção da figura humana de Jesus está no fato de que Saramago coloca a fase “milagreira” do Messias para depois da metade da obra. Boa parte é primeiro focada em Maria e só com a morte de José (gente, e eu que nunca tinha pensado no que diabos acontece com José!) Jesus passa a ser a personagem principal, digamos assim.

A relação dele com Maria Madalena (aqui Maria de Magdala) também é outro ponto que contribui para o desenvolvimento da “humanidade” de Jesus: ele sente e age como um homem qualquer. Ele ama Maria, uma prostituta, mas não consegue viver na casa dela porque a vizinhança zoa direto com ele, sendo a escolha do casal queimar a casa e se mandar. Ele não abre mão do amor como muitos homens fariam facilmente, mas mesmo assim mostra que sente… hum… orgulho? É, digamos que orgulho, como um sujeito qualquer.

Outro detalhe interessantíssimo é a questão dos milagres, e como são apresentados. Nesse caso deixarei uma citação do livro, até para vocês terem um gostinho do ótimo senso de humor do Saramago, do momento da transformação da água em vinho:

Se não fosse a voz do povo, representada, no caso, por uns servidores que no dia seguinte deram com a língua nos dentes, teria sido um milagre frustrado, pois o mordomo, se desconhecedor estava da transmutação, desconhecedor continuaria, ao noivo convinha, evidentemente, abotoar-se com o feito alheio, Jesus não era pessoa para andar dizendo por aí, Fiz uns milagres tais e tais, Maria de Magdala, que desde o princípio participara do enredo, não iria pôr-se a fazer publicidades, Ele fez um milagre, ele fez um milagre, e Maria, a mãe, ainda menos, porque a questão fundamental era entre ela e o filho, o mais que aconteceu foi por acréscimo, em todos os sentidos da palavra, digam os convidados se não é assim, eles que voltaram a ter os copos cheios.

Sério, muito bom. E não bastasse isso, ainda tem a figura do Pastor (ok, aqui eu posso revelar spoilers então não vou me prolongar muito sobre a personagem), que rende ótimos diálogos com Cristo e cuja frase “Não aprendeste nada, vai.” fica ecoando na memória mesmo após terminar a leitura. E sim, tem a conversa com deus e o diabo na barca, que na verdade foi a primeira coisa que ouvi falar sobre o livro (lembro que meu irmão estava lendo esse trecho na praia, em um ano novo qualquer).

Resumindo, é um livro fenomenal embora não seja tão bom quanto Ensaio Sobre a Cegueira. A cada livro que leio mais e mais vejo como era bobagem minha essa “Saramagofobia”, achando que não seria capaz de acompanhar uma narrativa só porque o sujeito não usa dois pontos e travessão para os diálogos, até porque no fundo é só isso que faz a obra dele parecer mais “difícil”. O Evangelho… é simplesmente imperdível.
 
Essa foi a primeira obra que li de Saramago - então, imagina como fiquei confuso de início. Para mim, ainda é uma das que mais gostei. E olha que li até uma boa quantidade de livros dele: Ensiao sobre a cegueira, A viagem do elefante, As intermitências da morte, Ensaio sobre a lucidez, Todos os nomes, A jangada de pedra, A caverna, Memorial do convento e, como já tinha dito, O evangelho segundo jesus cristo.

É difícil até dizer qual seria o melhor deles, mas talvez minha preferência fique em O Evangelho, Memorial do convento e Ensaio sobre a cegueira.

E falando no "Evangelho...", uma das passagens que mais gosto é quanto há uma conversa entre Deus, o Diabo e Jesus.
 
Definitivamente esse é O livro do Velho. É absurdo a quantidade de ironia fina que se tira por página... os diálogos estão arrasadores. Se eu pudesse escolher um livro que eu queria ter escrito seria esse, sem dúvida!
 
Gosto bastante do Evangelho. Três passagens em especial: a da diferença entre D'us e o Diabo, a parte em que são citados os mártires e quando Jesus faz coisas não muito recomendáveis pra um homem santo, sozinho.
Como disse o Ramalokion, ironia fina, e da mais pura.
 
Acabei de ler esse livro. Fiquei me perguntando, se a igreja ficou escandalizada com O Código da Vinci, como foi a reação geral ao Evangelho na época em que foi lançado. Eu sabia que era polêmico, mas não pensei que fosse tão ousado. Como já disseram aí, ironia fina. E várias passagens memoráveis.

O Pastor e todo aquele diálogo na barca nos faz perguntar se ele e o deus retratado por Saramago não deviam estar em lugares contrários, afinal

É preciso ser-se Deus para gostar tanto de sangue.


Impressionante.
 
Se bem me lembro cá em Portugal, na altura em que o livro saiu, um político conservador defendeu que o livro e (se calhar o autor também), devia ser banido devido ao conteúdo :timido:! Uns anos depois esse "moralista" teve de engolir meia dúzias de sapos quando Saramago foi laureado Nobel!
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Tenho vindo a ler vários de Saramago, amor especial para "O ano da morte de Ricardo Reis" e o "Memorial do Convento".
 
terminei de ler esse livro anteontem. putz. comecei a lê-lo antes de caim, mas parei no começo e parti pra caim. por caim ser um livro menor, ficou mais fácil ler

já que o saramago não dividiu o livro em capítulos, ficou difícil voltar a ler do ponto em que parei. êita, mas que desorganização dos diabos! mas depois devorei o livro

a primeira parte foi a que mais gostei, da vida da família de jesus, a saga de maria e josé. não foi só uma interpretação da bíblia, mas uma história novinha em folha, só usando personagens conhecidos.

o tempo de jesus depois da morte de seu pai humano e sua estadia com o Pastor foi muito boa. depois disso a história começa a desandar. jesus passa a ser mais o filho de deus do que um ser humano. as viagens com maria de magdala foram o último traço de humanidade. a conversa com deus e o diabo na barca, pra mim, foi tedioso. os milagres, um tanto bestas, mas o aprendizado deles foi interessante. pontos como o exorcismo e os porcos e a morte da figueira fizeram muito sentido do jeito que foram interpretados

jesus até se parece como um super herói, sem saber a real extensão de seus poderes. um homem aranha conflitando com suas responsabilidades. e que responsabilidade!

depois que eu li o evangelho segundo jesus cristo, eu entendi melhor o final de caim. jesus não frustra os planos de deus. com uma crise de consciência, saramago resolve fazer uma ficção em que deus se dá mal, e consegue com caim
 
lhrodovalho disse:
o tempo de jesus depois da morte de seu pai humano e sua estadia com o Pastor foi muito boa. depois disso a história começa a desandar. jesus passa a ser mais o filho de deus do que um ser humano. as viagens com maria de magdala foram o último traço de humanidade. a conversa com deus e o diabo na barca, pra mim, foi tedioso. os milagres, um tanto bestas, mas o aprendizado deles foi interessante. pontos como o exorcismo e os porcos e a morte da figueira fizeram muito sentido do jeito que foram interpretados

Eu já achei o contrário, gostei muito dessa parte, a que ficou mais marcada na memória, até porque eu gostei das passagens que tem o Pastor e essa parte mostra toda a relação e os conflitos entre ele e Deus.
 
o pastor, na parte da barca, fica mais assistindo do que participando ativamente. na parte em que o pastor convive com jesus e o rebanho ele mostra muito mais seu ponto de vista conflitante com o de deus. e de um jeito bem persuasivo. pois é proibido fornicar com animais, mas não é proibido sacrificá-los.
 
Publicado em 1991, O Evangelho segundo Jesus Cristo é uma das obras mais conhecidas do escritor português José Saramago. Mostrando um Cristo humanizado, o livro acabou se tornando polêmico em países cuja população é em sua maioria católica - incluindo aí Portugal. Como consequência, o autor for perseguido em sua própria terra, sendo que após o então Subsecretário de Estado de Cultura vetar a participação do livro em um prêmio literário português, Saramago decide se exilar na Ilha de Lanzarote, onde permanceu até sua morte.

É como uma homenagem atrasada ao autor que faleceu em junho deste ano que trazemos agora o Meia Palavra Explica: O Evangelho segundo Jesus Cristo. A seguir, opiniões da equipe e colaborações de leitores sobre uma das obras que melhor ilustram a falta que Saramago fará para os que gostam de Literatura.

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lhrodovalho disse:
o pastor, na parte da barca, fica mais assistindo do que participando ativamente. na parte em que o pastor convive com jesus e o rebanho ele mostra muito mais seu ponto de vista conflitante com o de deus. e de um jeito bem persuasivo. pois é proibido fornicar com animais, mas não é proibido sacrificá-los.

Bom, não tenho certeza se nessa parte ele tem uma participação ativa (já faz uns oito anos que li esse livro, realmente não me lembro)
mas é uma passagem que ficou marcada pra mim principalmente porque Deus se revela cruel e egoísta, e que fica acentuado quando o Pastor pede perdão a Deus e ele nega.
 
que isso! quando jesus convive com o pastor ele leva cada corte! pena que ele não aprende nada...

no livro caim, deus é revelado muito mais injusto e cruel do que no evangelho segundo jesus cristo. e isso é muito batido. no começo da história, quando a narrativa se concentra em josé e maria, os costumes judeus de sacrifício de animais e de discriminação contra as mulheres são um tanto quanto primitvos e contra o bom senso, mas não dão uma impressão de crítica. me deu uma impressão de que aquilo fazia parte da natureza humana de um homem daquela época e que se eu estivesse lá possivelmente eu faria da mesma forma.
 
Eu sei que eu vou ser crucificado por dizer isso, mas esse foi o livro que me fez concluir que decididamente não gosto do Saramago. Achei tudo bem clichê, nada me tocou realmente a fundo e aquelas frases sem pontuação me pareceram muito "forçadas".

Bom, podem me apedrejar à vontade, agora. :vergonha:
 
criticar o saramago por causa da pontuação é chover no molhado.
 
Saramago era acima de tudo um grande contador de histórias. Seu estilo de escrita coloca sempre a história em primeiro plano, dando destaque especial a voz do narrador, estabelecendo uma forte relação de cumplicidade com o leitor.
 
Tatarana disse:
Achei tudo bem clichê, nada me tocou realmente a fundo e aquelas frases sem pontuação me pareceram muito "forçadas".

Bom, podem me apedrejar à vontade, agora. :vergonha:

Concordo em uma parte: o livro Evangelho Segundo Jesus Cristo é, todo, bem óbvio. Óbvio até demais. Raso até dizer chega. E uns 90 anos atrasado no tempo (poha, nietzsche!).

Só que o jeito que ele escreve, esse sim, é genial. Esse livro é de uma ironia orgásmica.

Como, pra mim, mais vale como se escreve do que "o que" se escreve, all in all, esse é um dos melhores livros que já li. O início, José e Maria na cama, já vale a leitura.

Pra não dizer que eu sou uma carola revoltada: um dos poucos ateus que eu li que demonstraram pelo menos que entendem, ou que tentaram, entender aquilo que negam, é o André Comte-Sponville. O Espírito do Ateísmo é um dos melhores livros que eu, católico professante, praticante e semi-fanático, já li.
 
isso isso isso

Sorel disse:
pra mim, mais vale como se escreve do que "o que" se escreve, all in all, esse é um dos melhores livros que já li.

falou extamente oq eu penso.
 
O escritor português José Saramago foi um dos mais importantes autores de língua portuguesa da contemporaneidade- tendo sido galardoado com o Nobel de Literatura e com o prêmio Camões. Falecido em 2010, seu último romance foi publicado em 2009.

Saramago era ateu, iberista e membro do Partido Comunista Português. Logo é de se esperar que seu O evangelho segundo Jesus Cristo não seja exatamente uma exaltação dos valores da cristandade, apesar do título. O conteúdo é justamente o esperado: um dura crítica não apenas à Igreja Católica e à cristandade como um todo, mas a todo o mundo ocidental.

Saramago conta a história já universalmente conhecida de Jesus Cristo. Com algumas modificações, é claro. Essas mudanças ocorrem especialmente no sentido de humaniza-lo, de torna-lo menos espírito e mais carne.

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